O Juízo Final: conciliações entre ciência e religião em Paul Tillich e Rudolf Bultmann
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O Juízo Final - Uésio J G Santos
Uésio Santos é doutorando em História da Ciência na Western University, no Canadá; Mestre em Teologia pela PUC-SP; Pós-graduado em Metodologia do Ensino de História e Geografia; e em Tecnologia da Informação; Bacharel em Teologia; Bacharelando em Ciência da Computação; Licenciado em Informática, História e Geografia. Leciona disciplinas como História Geral e do Brasil, História do Cristianismo, Filosofia, Teologia e Língua Inglesa. Atuava como Gestor de TIC no Ministério da Justiça até 2021
Ao Professor Dr. Renold J. Blank
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus por me ter trazido até aqui. A minha querida esposa Alina por sua presença sustentadora em um momento tão significativo. Aos meus alunos da Faculdade Teológica Batista Paulistana, com os quais tive a oportunidade de discutir muitos dos conceitos aqui expressos. Aos colegas da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo pelos momentos de problematização e discussão quanto a questões ora fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço também à Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção pelo apoio financeiro. Finalmente, ao professor Renold J. Blank por ter compartilhado tanto conhecimento e experiência de pesquisa neste tema.
A todos, meu muito obrigado!
O objetivo de Deus não pode ser nem a vingança nem o estabelecimento de compensação justa, pois Deus manifestou-se como aquele que, com amor, pode mudar todo culpado, de tal modo que ele será, então, apropriado para a justiça divina, e ainda como aquele que usa da sua clemência em profusão e conforme a parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-16), ao invés de compensar justamente, presenteia excessiva e injustamente.
HERBERT VORGRIMLER
PREFÁCIO
O objetivo do presente trabalho é realizar uma análise crítica quanto ao conceito de Juízo Final desenvolvido por Paul Johannes Oskar Tillich e Rudolf Karl Bultmann. Analisar-se-á, especificamente, os conceitos de transmitização e demitização. Primeiramente, será destacado que estes dois conceitos, anteriormente mencionados foram, na verdade, uma reação à teologia liberal do século XIX. Segundo esta teologia, todo conhecimento deve ser submetido ao crivo da razão cientifica, a fim de validá-lo ou não. Todo o estudo gira em torno da comparação, em termos de evolução, entre Lutero e Calvino e, por conseguinte, entre Tillich e Bultmann. O objetivo, com isso, é mostrar a evolução ou devolução quanto à compreensão do Juízo Final desde a Reforma Protestante. Fica claro que não houve grandes mudanças, tanto em Lutero quanto em Calvino, no conceito de Juízo Final. A leitura dualista do ser humano e da história foi conservada pelos Reformadores. A fé continuou sendo interpretada como obediência inflexível às normas da lgreja. Os encontros entre o humano e o Divino continuou obedecendo mais à ritos judiciais-formais que a relações familiares. O Reino de Deus Continuou sendo uma realidade a ser construída por Ele apenas, sem a necessária participação do homem. Essa realidade adentrará a história humana e não será um desdobramento dela. Tillich e Bultmann, por outro lado, representaram, sob muitos aspectos, uma revolução quanto à interpretação dos dogmas escatológicos. Uma importante ressignificação foi o conceito de história e Reino de Deus. A história é o local onde o Reino de Deus está sendo plantado e desenvolvido, local da ação transformadora de Deus. A história do Reino de Deus é e será o desenvolvimento da história humana, na medida em que esta vai-se convertendo a partir do interior de suas estruturas. Nesse sentido, a escatologia de Bultmann e Tillich reflete e deve ser estudada à luz de suas percepções sobre a origem e o fim da história. Não é oferecido um norte quanto à compreensão que o homem deve ter sobre o futuro da sua existência após a morte. Antes, segundo estes teólogos, a história da vida humana e do mundo, bem como o seu fim, não comporta aspectos atemporais ou extramundanos. Finalmente, conclui-se mostrando que os postulados lançados por estes dois teólogos dialéticos foram fundamentais para a construção de novas teologias, pensamentos e reflexões quanto a compreensão do significado do termo Juízo Final, como é o caso do Evangelho Social e a Teologia da Libertação. Ainda que estes pensamentos tenham se fundamentado em princípios da teologia dialética eles, em muitos aspectos, superam a teologia dialética quanto ao conceito de Juízo Final. Destaca-se a abordagem sobre Deus, enquanto sujeito determinante e participante da história humana. Segundo os teólogos dialéticos Deus é participante, não determinante. Para estas duas novas teologias, em especial a Teologia da Libertação, Deus tanto participa da realidade histórica do Seu povo quanto a direciona, efetivamente, no sentido de guiá-la ao seu objetivo final. A Teologia dialética concebeu um Deus vivo, mas inerte, preocupado, mas incapaz de se mover. Para a Teologia da Libertação, Deus tanto é vivo quanto é ativo e participativo. Tanto é capaz quanto está disposto e, efetivamente, age em favor do ser humano.
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
INTRODUÇÃO
PARTE I - PRINCIPAIS CONCEPÇÕES ESCATOLÓGICAS NA TRADIÇÃO PROTESTANTE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 - AS ESCRITURAS EM LUTERO
1. MODO DE INTERPRETAÇÃO DE LUTERO
1.1 A BASE PSICOLÓGICA
1.2 AUTORIDADE DAS ESCRITURAS
1.3 INTERPRETAÇÃO LITERAL
2. O VALOR DA RAZÃO EM LUTERO
3. COMPREENSÃO DE JUÍZO FINAL EM LUTERO
CAPÍTULO 2 - AS ESCRITURAS EM CALVINO
1. MODO DE INTERPRETAÇÃO EM CALVINO
1.1 BREVIDADE, CLAREZA E INTENÇÃO DO AUTOR.
1.2 INTERPRETAÇÃO LITERAL E NÃO LITERALISMO.
1.3. VALORIZAÇÃO DA TRADIÇÃO EXEGÉTICA DA IGREJA.
1.4. INTERPRETAÇÃO CRISTOLÓGICA E O TESTEMUNHO INTERIOR DO ESPÍRITO SANTO.
1.5. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA E GRAMATICAL.
2. O PAPEL DA RAZÃO NA COMPREENSÃO DA REVELAÇÃO EM CALVINO
3. COMPREENSÃO DE JUÍZO FINAL EM CALVINO
CONCLUSÃO
PARTE II - A ESCATOLOGIA NA TEOLOGIA DIALÉTICA
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 - O ENFOQUE ESCATOLÓGICO EM PAUL TILLICH
1. O REINO DE DEUS COMO RESPOSTA AO SENTIDO DA HISTÓRIA.
2. O JUÍZO COMO PROCESSO HISTÓRICO.
3. O JUÍZO FINAL COMO MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DE DEUS E FIM DA HISTÓRIA.
CAPÍTULO 2 - A DEMITIZAÇÃO DE BULTMANN E A ATUALIZAÇÃO DAS ESCRITURAS
1. CONCEPÇÃO ESCATOLÓGICA EM RUDOLF BULTMANN.
2. O CONCEITO DE JUSTIÇA E O JUÍZO DO HOMEM.
3. O JUÍZO DO MUNDO.
CONCLUSÃO
PARTE III - NASCIMENTO DE UMA ESCATOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 - ELEMENTOS NOVOS EM TILLICH E BULTMANN EM RELAÇÃO À TRADIÇÃO PROTESTANTE DE LUTERO E CALVINO
1. UMA INTERPRETAÇÃO BÍBLICO-EXISTENCIAL.
2. AS CATEGORIAS MITOLÓGICAS SÃO SUBSTITUÍDAS POR EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS E EXISTENCIAIS.
3. O JUÍZO FINAL FUNDAMENTA-SE NA ESPERANÇA E NO AMOR DE DEUS.
4. AUSÊNCIA DE MEDO EM RELAÇÃO À MORTE E JUÍZO FINAL.
5. O JUÍZO FINAL TRANSFORMA-SE EM INCENTIVO PARA UMA PRÁTICA CRISTÃ LIBERTADORA.
6. O JUÍZO FINAL É O MOMENTO DA PLENIFICAÇÃO DE TODO O COSMO.
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
INTRODUÇÃO
A proposta do presente trabalho é, realizar um estudo crítico sobre o conceito de Juízo Final durante o século XX, desenvolvido na teologia dialética, tendo como enfoque os teólogos dialéticos Paul Johannes Oskar Tillich e Rudolf Karl Bultmann.
O protestantismo liberal ou a teologia protestante do século XIX fundamenta-se em dois princípios Kantianos¹: a) a remoção da religião da esfera especulativa; b) a redução do cristianismo aos limites da razão. Partindo destes postulados, muitos teólogos empenharam-se em adequar os dogmas da fé cristãos com base nas estruturas racionais e empíricas do homem moderno. Foi uma tentativa de fazer com que o cristianismo fizesse sentido para o homem moderno a partir da adequação da realidade cristã à razão científica. As verdades bíblicas, por exemplo, precisavam ser enquadradas dentro do modo de pensar do homem moderno, a fim de que tenham sentido reais e significativos.
A teologia dialética, neo-ortodoxia, existencialista ou da crise por sua vez é, então, uma reação contra a postura racionalista do protestantismo liberal em relação às verdades do cristianismo.
Para que se possa compreender os postulados e ideias da teologia dialética quanto ao Juízo Final serão necessárias análises de fundo histórico e suas diversas conotações no decorrer dos séculos XIX e XX. Será feita uma análise dos conceitos de Juízo Final e justiça divina presentes na Tradição Protestante, destacando as duas figuras mais importantes da reforma protestante: Martinho Lutero e João Calvino. Daremos destaque a alguns teólogos dialéticos, dentre eles estão, Paul Tillich, o qual advoga o princípio da correlação. Segundo este princípio, toda