Filosofia E Teologia No Século Xxi
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Filosofia E Teologia No Século Xxi - Jansey Franca
FILOSOFIA E TEOLOGIA
NO SECULO XXI
Jansey
2a Edição revista e ampliada
© 2003 – Primeira edição Abba Press Editora.
© 2018 – Segunda edição - Private Publisher
Tulio Jansey Coelho de Franca – Jansey Franca
Todos os direitos reservados.
ISBN – 978-1521793220
Em memória de Dr. Shedd.
Prefácio
O livro Filosofia e Teologia no Século XXI, que o prezado leitor tem em mãos, não se compara facilmente com qualquer outro livro que jamais li. Confesso humildemente que ao aceitar a incumbência de prefaciar esta obra inédita, não imaginava a dificuldade que teria de sintetizar tanta informação e reflexão sobre a filosofia e a teologia, sobre movimentos e posturas.
Manusear um livro assim pode espantar qualquer curioso que pensa que Sócrates foi um jogador de futebol e Logos
é apenas uma marca de automóvel. Mas aquele estudioso que aceita o desafio de buscar algum conhecimento do pensamento que rege nas renomadas escolas do Ocidente, encontrará neste tomo bem mais informação do que esperava.
O Pr. Tulio Jansey Coelho de França é um autodidata no sentido clássico da palavra. Ele desenvolve temas interessantíssimos, tais como a origem da religiosidade. Perguntas fundamentais pedem respostas. Quem sou?
Donde vim?
Para onde vou?
Por que existe alguma coisa?
são apenas umas poucas indagações que todo pensador levanta.
A filosofia surgiu na Grécia. Questionou a mitologia. Tentou, por meio do raciocínio explicar o mundo visível. A figura mais notável foi Sócrates que desafiou seus contemporâneos com a conhecida frase, Conheça a ti mesmo!
. Seguido por Platão e Aristóteles, a corrente de pensamento enraizado na reflexão humana, à parte da revelação divina, foi lançada para o mundo. Surgem movimentos que aparecem no livro de Atos, tais como os Estoicos e Epicurianos. Os céticos acrescentam sua postura com aquele questionamento investigativo. Será que o que penso corresponde a verdade?
O autor traça as posições de teólogos famosos e outros menos conhecidos. Filósofos renomados como Descartes, Kant, Hegel, sempre apresentados com o cerne do seu pensamento e sua influência sobre o pensamento humano e teológico. Muitos outros nomes aparecem nestas páginas que nunca são comentados nos jornais e revistas, enquanto os que marcaram profundamente a história como Nietzsche e Kierkegaard recebem análises esclarecedoras.
Teólogos modernos tais como R. Bultmann, Paul Tillich e suas raízes em Schleiermacher ganham espaço também. O autor se sente bem em casa discorrendo sobre o modernismo, pós-modernismo e o neomodernismo.
Elogios para K. Barth e J. Moltmann podem surpreender alguns, mas em geral encontramos críticas à teologia contemporânea. Retira-se a filosofia e nada sobra da Teologia!
seguramente surpreenderá os professores de Filosofia e Teologia nos seminários brasileiros.
A Nova Era, G-12 e maldições não impressionam bem o Pr. Tulio. O Neo-Pentecostalismo se parece demais ao Espiritismo. A Neo-Reforma precisa deixar de apenas repetir frases e doutrinas; o Cristianismo requer vivencia dos dois mandamentos centrais.
Não acredito que qualquer leitor que lê com cuidado este livro deixará de aproveitar bastante, mesmo que não abrace todas as posições ou endosse todas as afirmações do autor. Para qualquer pessoa que deseja ser bem informado sobre a filosofia e a teologia em geral, e especialmente sobre os estragos que essas disciplinas têm causado, este livro é altamente recomendável.
A Deus toda glória!
RUSSEL SHEDD
INTRODUÇÃO à SEGUNDA Edição
Passados 13 anos desde que publiquei esse livro, resolvi reler e rever alguns passos. Afinal, tanta coisa mudou, e eu também. Lembro que começava esta passagem introdutiva, onde eu queria explicar que meu intuito não seria - ainda - aquele de criar uma nova teologia, falando do material de Tim LaHaye e Jerry Jenkins, que hoje sequer faz parte de minhas leituras, e tão menos de minha escatologia.
Continuando a introdução, reportava a base de uma aula de escola bíblica dominical que ministrei há 15 anos na Primeira Igreja Presbiteriana de João Pessoa, lição na qual eu dividia o mundo em seis áreas distintas considerando o crescimento e o envolvimento eclesiásticos destas áreas, com a finalidade de demonstrar como o cristianismo vinha gradativamente perdendo força e crescimento e, enquanto no resto mundo a igreja era perseguida por fatores externos, no Brasil era perseguida por fatores internos.
Assim, demonstrei que a igreja brasileira sofria uma perseguição da parte dos próprios membros e líderes, por meio de líderes que se degladiam, pastores que ocultam pecados, adultérios, mentiras, porfias, chocarrices, dissensões, facções, intrigas, misérias, contendas, fofocas, irmãos que falam mal uns dos outros, brigas com líderes, insubmissão, ganância, inveja, e toda sorte de maledicências e, infelizmente, depois de 13 anos ainda nada mudou.
O intuito daquela introdução era demonstrar o que hoje é universalmente conhecido, ou seja, que a igreja perdeu o poder representativo e exemplar que possuía no passado, não mais respondendo às questões essenciais da existência humana, porém, realmente lidando com os problemas existenciais do Homem, e procurando lhe dar um orientamento para o presente, sem qualquer esperança futura.
A inércia da igreja e sua visão materialista fortaleceram movimentos científicos e o ateísmo. De fato, o ateísmo tem se tornado sempre mais forte, especialmente porque foi tirada do ser humano a esperança de crer no amanhã, de se renovar e de prosseguir. A humanidade não tem mais confiança em si mesma, e o mundo é o que sempre foi, ou seja, alguns que dominam sobre a massa dos fracos. Portanto, todo e qualquer problema hoje é uma tragédia pessoal, e como se vive sempre em torno de problemas nesta vida, chega um momento que alguém não suporta mais, e a igreja não serve mais de amparo.
É, portanto, que fiz questão de demonstrar na primeira edição que todo cristão é um teólogo, porque a teologia não pode ser apenas um direito dos instruídos, mas é um acontecimento prático que mete em ação a fé. Quero dizer, quando fazemos teologia colocamos em conceito o modo cristão de existir. Ora, se o conceito permanece no papel, a teologia se torna mais inútil que qualquer outro material de autoajuda. Um cristão deve, desde cedo, perceber que é um teólogo.
Esta percepção irá ajudar cada membro do corpo de Cristo a perceber que suas ações pesam e influenciam a conduta dos demais membros, e este foi o intuito do presente livro. Eu quis demonstrar a origem de nossa vida litúrgica, de nossas ideias e perceber o que podemos esperar para o amanhã. Por ora, infelizmente, ainda nada de bom surgiu forte o suficiente para mudar o rumo desta correnteza que hoje deságua na igreja. Reanaliso algumas passagens desse livro e acrescento algumas informações com o intuito de construir um futuro melhor para a teologia, e para embasar os próximos volumes que estou publicando.
O único lamento desta revisão é a ausência de Dr. Shedd, hoje não mais conosco. Gostaria muito de saber o que ele diria das mudanças que realizei, e gostaria de revê-lo escrever um novo prefácio. O respeito entre nós sempre foi recíproco e, mesmo ele não se ladeando aos rumos que minha teologia adotou, com muita alegria ele leu e comentou Teoagonia (JANSEY. Teoagonia – Teologia da angústia. AllPrint, São Paulo, 2015). Contudo, confiemos que Cristo nos dê o entendimento e a força de transformar a presente dispensação, e oremos para que a mudança venha de modo não apenas a melhorar nossas igrejas, mas nossa sociedade.
Ao Cristo, Jesus, meu único amigo.
Capítulo 1
Gênesis
Instinto e razão, marcas de duas naturezas. A razão manda em nós muito mais imperativamente do que um amo, pois desobedecendo a um somos infelizes e, à outra, somos tolos. O pensamento faz a grandeza do homem.
.(Pascal, B.; Pensamentos. Artigo VI, § 344 - 346)
PANORAMA DA FILOSOFIA
1 - Das Origens à Modernidade
O desconhecido sempre fascinou a mente humana. É o desconhecido a mãe de toda teoria. Nascimento, morte, vida além, Deus, doença e Universo são alguns dos assuntos mais trabalhados pela humanidade, cheios de mistério, por sua vez, repletos de enigmas. Nascimento e morte merecem destaque, não por qualquer virtude a mais, porém por instigarem a reflexão humana e foi com base neles que o Homem pôde desenvolver teorias e modos de explicar o universo que o cerca. As dúvidas sobre a vida e a morte trazem Deus ao centro do pensamento humano e, exatamente por isso, alguns dizem que Deus é fruto da invenção humana, do mesmo de que a vida seja uma existência efêmera e passageira.
Inicialmente o pensamento era descentralizado, muito mais ligado às descobertas que a qualquer conhecimento empírico, tanto o é que, na própria história do conhecimento, observa-se que este se dá por acontecimentos, sendo a casualidade mestra de todo questionamento. Porém, não é nosso esforço aqui analisar a construção do conhecimento humano, mas adentrar no mundo filosófico para compreender a explicação do Mito desenvolvida pelos Naturalistas.
É inerente ao Homem indagar a morte, questionar a vida, a religiosidade. As perguntas ecoadas na sociedade são sombra da inquieta alma humana, e aqui deve-se tomar consciência que as reflexões partem do singular para o geral. O pensamento surge da explicação de um contexto individual que, com o agrupamento de usos e costumes, cultura e trabalho, se torna coletivo e social. Todavia, o importante não é a origem, mas o que isso pode ensinar, a saber, o que a sociedade reflete é a objetividade de um subjetivismo anterior. Em linhas gerais, a sociedade acaba adotando o que foi anteriormente raciocinado pelo unico (STIRNER, M. L’unico e la sua proprietà, Milano, 1999, pg. 22).
Com os agrupamentos sociais, inicia-se a comunidade em forma cooperativa, participativa e hereditária. Quando o ser humano resolve organizar-se em conjunto, divide tarefas, desenvolve algumas e aos seus filhos, outrora nômades, deixa legado. O fatalismo (nascer, trabalhar e morrer) torna-se a ideia mais difundida.
Pode-se dizer que as organizações evoluíram debaixo da tutela deste ideal, isso porque a necessidade de desenvolver-se ao máximo antes da morte, trouxe um grande espírito criativo e uma alta taxa de natalidade, principalmente pelo sexo livre, já que existia apenas agrupamento e nenhuma prática normativa social.
No crescimento social se deve observar a necessidade do mal. O mal necessário para o desenvolvimento social. Ao contrário do que raciocinam tantos, o mal se tornou um bem necessário para o crescimento social (JANSEY. Teocentrico - Tratado teológico-jurídico, Polonia, 2018), pois defeitos da natureza humana como a inveja, a cobiça, a ganância ou o orgulho, condicionaram o Homem a ir além das próprias perspectivas. A competitividade do mercado de hoje, por exemplo, não é outro se não reflexo do que a cobiça vem infligindo à sociedade. Com isso não se afirma que o mal é um bem social, mas que faz parte da natureza humana.
As perguntas inerentes à existência nascem na preocupação do homem conhecer a si mesmo, e isso remonta suas origens, e das origens pergunta-se quais?
. Tentativas de elucidar a vida existiam de forma satisfatória, muito mais após atribuir a existência à algo superior, à ideia de regência do cosmos. Explicações biológicas para nascer e morrer eram constantes, mas, um mistério despertou a criatividade e fez aparecer o maior fenômeno de todos os tempos.
O referido mistério era saber o que aconteceria depois da morte; o fenômeno era crer que apenas o corpo morria. Nascia, assim, a religião. Na busca desta resposta, a humanidade criou diversas formas de crenças, deuses, fórmulas, e até modos de morrer. As formas rudimentares de adoração e veneração incluíam os astros e a natureza. Depois o Homem passou a adorar monarcas, acreditando serem encarnações de um deus, como no Egito antigo. Das religiões antigas apenas o Judaísmo se destacava das demais, caminhando além da utopia (ou demonologia - Existe um forte consenso entre estudiosos que as primeiras formas divinas do passado eram, na verdade, os anjos caídos que se manifestavam entre os homens), respondendo à pergunta que a humanidade não podia responder.
Os livros de história narram bem a evolução social do homem. Contudo, fiz questão de demonstrar, muito sucintamente (Deve existir clara consciência na pessoa que lê esse material que evidentemente estou fazendo um grande salto para explicar de forma muito panorâmica parte da história pré-socrática da filosofia), nos parágrafos anteriores, a origem do sentimento religioso, ou a que se detém o Mito. A representação religiosa através do Mito não é casual, mas um sentimento intrínseco ao Homem. Por isso, toda e qualquer civilização antiga tem seu modelo religioso, seja por forma mitológica, seja por adoração à natureza, seja um culto tribal aos mortos... não importa, são todas interpretações do coração humano ao infinito. Logo, não quero analisar o que é certo ou errado, mas, demonstrar que a mitologia tem suas raízes na tentativa do Homem explicar o mundo que o cerca.
A religiosidade não traz, somente, explicações quanto vida e morte, mas, também, traz explicações quanto a tudo que existe porque, em termos gerais, a vida é o começo e a morte é o fim, logo, uma religião explica o começo e o fim de todas as coisas, e eis o motivo pelo qual cada religião apresenta uma idéia da constituição do universo, da criação do homem e do fim de tudo que há.
O fenômeno Religião
não é algo simples como pensaram alguns filósofos e teólogos. Feuerbach apresenta tal problematicidade em seu livro "A Essência do Cristianismo", que talvez seja uma das mais felizes percepções do sentimento religioso já feitas. Portanto, a mitologia não é um acaso na história, mas é formulada ao longo de todo um processo explicativo, chegando a ser, por séculos, a defesa mais convincente do mundo visível e seus fenômenos. Não apenas nos impérios Grego e Romano, onde é mais conhecida e difundida por conta do domínio Romano sobre as demais nações, mas também outros impérios demostraram seres e narrativas mitológicas, como os Vikings, babilônicos, Fenícios, etc.. Contudo, nossa percepção se deterá na mitologia Grega, pois na Grécia surge a Filosofia, que é onde pretendo chegar.
Para os gregos mitológicos, a Grécia, chamada Hélida, era o centro do mundo e acreditavam ser a terra um disco circular, atravessado de leste a oeste, e dividida em duas partes iguais pelo Mar, que era como os gregos chamavam o Mediterrâneo. Em torno da terra corria o rio Oceano, cursado do sul para o norte na parte ocidental da terra e contrária do lado oriental, firme e constante, de onde o Mar e todos os rios da terra recebiam as águas. Na parte setentrional da terra habitavam os felizes hiperbóreos, desfrutantes de uma eterna primavera e felicidade, sem envelhecimento, trabalho e guerra, porém protegidos por cavernas que lançavam ventos fortes do norte e que os faziam prisioneiros, de onde não saiam e ninguém podia entrar por conta de tais ventos, os quais lançavam fortes nevascas na Hélida.
Na parte meridional morava um povo muito feliz e virtuoso, chamado etíope, favorecidos pelos deuses, que em certas ocasiões chegavam a descer do Olimpo para partilhar das festividades locais. Na parte ocidental da terra havia um lugar abençoado, os Campos de Elíscos, para onde eram levados todos os mortais favorecidos pelos deuses, os quais não provavam da morte e gozavam a vida eterna da bem-aventurança. Os Campos de Elíscos, também, se permitiam conhecer por Campos Afortunados, ou Ilha dos Abençoados. Os deuses do Olimpo regiam tudo como bem lhes fosse plausível, governados pelo pai de Hércules, Zeus, deus dos deuses, filho de Saturno e Réia, oriundos do Caos, progenitores da vida.
Desde a narrativa mitológica que se imaginava o vir do , a palavra de ordem ter nascido da desordem, que é a ideia básica da teoria física do Big Bang, ou seja, que após a explosão a matéria foi ocupando o espaço e dando forma à criação como hoje a conhecemos Na verdade, assim como toda a filosofia é até hoje a discussão entre platonismo e aristotelismo, a criação é uma discussão entre Logos e Caos, Ordem e Desordem, Criacionismo e Evolucionismo.
A narrativa, por sua vez, faz parecer que os gregos não tinham muito conhecimento a respeito de outros povos. Todavia, ao serem subjugados pelos Romanos, constata-se que outros povos tinham conhecimento da existência dos gregos. Logo, duas conclusões surgem: ou a mitologia é fruto do tradicionalismo popular; ou os gregos tinham noção dos povos vizinhos e os ignorava. Não se explica a possibilidade de os gregos não terem conhecimento de seus vizinhos, pois o Egito já era uma potência desde 3.200 a.C., realizando comércio além do Mediterrâneo, através da Arábia, Palestina, Fenícia, Síria, Ásia Menor e, por fim, Grécia, além de Mesopotâmia, Armênia, Pérsia e Irã, com províncias do Cáucaso. Mesmo assim, a ideia mitológica do Mundo era incompreensível, já que a Grécia é vizinha da Ásia Menor e da Síria, as quais mantinham comércio com o Egito através da Palestina.
Bem, de todo modo, como dito anteriormente, na mitologia a formação do Mundo se deu através do Caos, ideia que foi refutada pelos filósofos, mas que é a base dos conceitos de física teórica. Não obstante, os deuses escarneciam dos humanos, perseguiam, tiravam deliberadamente suas vidas, podiam manter relações sexuais e, pasme, podiam ser derrotados e até mortos. Os deuses não permitiam questionamentos ou correções no modo com que governavam o mundo dos mortais. Assim, a mitologia não admitia dogmas. Criar dogmas seria estabelecer normas de conduta, moldar o caráter dos deuses, os quais amavam o modo fanfarrão de ser.
Em tal ambiente surge a Filosofia, onde o mundo visível e seus fenômenos eram explicados, pelo homem grego, em um apelo ao sobrenatural, ao mistério, e onde os deuses, com sarcasmo, se divertiam atormentando a vida dos mortais. Deve-se perceber que apesar de existirem narrativas, como a Ilíada e a Odisséia, o Mito fazia parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Portanto, o Mito era a visão que os indivíduos tinham do Mundo, na maneira própria de vivenciar a realidade. É por isso que os deuses não se prestavam ao questionamento ou à correção, pois o pensamento mítico pressupõe adesão e aceitação, nem se justifica, nem se fundamenta.
Nesse sistema indiscutível, a reflexão não era bem-vinda (e ainda hoje não é em nenhum tipo de religião). Qualquer outra perspectiva não seria aceita e deveria ser excluída. Cogitar os oráculos, os sacerdotes, os deuses, o mundo divino, enfim, o pensamento mitológico, já representaria uma transformação social. Portanto, a Filosofia foi um rompimento total com a tradição passada nas gerações da Grécia antiga. Logo, foi, também, uma transformação cultural, expressa nas artes, na poesia, na literatura, no comportamento e nas ideias. A chegada da Filosofia foi impactante por contrariar toda prática e toda a crença da sociedade grega. Entende-se, de imediato, sua importância e destaque na história, já que além de ideias, reflexões ou sistemas, a Filosofia representou uma libertação, desvencilhando a mente humana dos paradigmas mitológicos.
Para determinar, então, o que a Filosofia é, pode-se afirmar ser uma nova perspectiva de explicar, compreender e elucidar o mundo visível e seus fenômenos, onde a razão humana encontra-se no centro. A Filosofia, porém, não tem o objetivo de gerar conhecimento para fins práticos ou produtivos, ela é a admiração do conhecimento. Em síntese, não produz respostas, mas, como todo bom conhecimento, aprofunda indagações, como bem expressa uma famosa brincadeira, que diz: a filosofia é uma ciência com a qual e pela qual o mundo permanece tal e qual
. Arte pela arte, saber pelo saber.
Combater o mito e interpretar o mundo pelo homem é o grande contributo da filosofia, algo que Kant demonstra mais especificamente, onde os objetos (o mundo existente) só têm função através do homem. Este conceito, todavia, de finalidade através do homem será perfeitamente trabalhado no conceito de Outro de Sartre. Porém, ao mesmo tempo o Homem não tem mais que viver para explicar o que existe, mas o que existe, existe em prol do Homem. Neste jogo de definições, são os olhos de quem nos guarda que acaba nos definindo, e vice-versa.
Olhando, novamente, para a passagem do pensamento mítico ao pensamento filosófico, tem-se noção do impacto que causa a Filosofia na sociedade grega. Pode-se afirmar que a Filosofia surgiu por uma insatisfação com a explicação dada pelo Mito para o mundo e seus fenômenos. E como não podia ser diferente, o alvo dos primeiros filósofos foi a physis, a tentativa de elucidar os acontecimentos naturais e físicos com explicações lógicas e racionais. Estes ainda são conhecidos como naturalistas ou physiólogos, pois se detiveram nos conhecimentos teóricos da Natureza.
Aristóteles foi o grande responsável por relembrar os conceitos trabalhados pelos primeiros filósofos em seu livro Metafísica
. Isto porque inicialmente a filosofia era uma escola dialética, de debater teorias, e não de formular conceitos. Em verdade, era uma série de debates, discussões e argumentações entre os primeiros filósofos e demais pensadores. Tales, natural da cidade de Mileto, precursor da escola Jônica, é considerado, pela maioria dos estudiosos, como o primeiro filósofo e também autor da teoria da causalidade.
Alguns fundamentos são relevantes no início do pensamento filosófico, como o , ou elemento primordial, que surgiu para evitar uma constante regressão na teoria da causalidade, ou o , que expressa diretamente a ideia de ordem e harmonia, também, de beleza. O , que literalmente significa discurso, todavia, ganha diferentes interpretações ao longo do pensamento filosófico. De todo modo, os princípios estabelecem a base dos sistemas filosóficos que se firmam em suas definições.
O primordial é a criticidade, ou seja, é necessário que o indivíduo tenha um caráter crítico, para que questione tudo e qualquer coisa. Neste aspecto, merece destaque a Escola Italiana, pois muito mais abstrata, acabou por prenunciar a Lógica e a Metafísica, onde os maiores expoentes foram Pitágoras de Samos e Parmênides, da escola de Eléia. Duas outras escolas são reconhecidas, que compreendem a segunda fase do conhecido pensamento pré-socrático, agora sob influência de Anaxágoras e Empédocles.
A primeira é a Escola Eleática, fundada na influência do pensamento de Parmênides e as divergências que causa, combatida por Heráclito, mas defendida por Zelão, gerando, assim, dois pensamentos distintos: o Monismo (a defesa de Parmênides de que tudo é um, antidualista) e o Mobilismo (também conhecida por pluralista, onde tudo tem o seu oposto necessário, unidos dentro do próprio pluralismo, idéia de Heráclito). A Escola Atomista, que é a segunda, merece destaque, onde Leucipo é considerado o fundador e Demócrito seu principal pupilo. Basicamente esta defende o argumento de que tudo é composto por átomos que se atraem e se repelem constantemente, e entre eles há o vazio, gerando os acontecimentos naturais e o movimento. E este é o nascimento da física teórica.
Todas as Escolas constituem a gênese do pensamento empírico, e mais tarde voltam a ser analisadas cuidadosamente por muitos pensadores, e os conceitos que aqui trabalho são muito sucintos, servindo apenas para delinear um curso histórico. Seus pensamentos, por mais que aterradores na época, fixaram-se em observações e reflexões que geraram e produziram conhecimento necessário para respostas que satisfizessem a curiosidade humana, formando a base da Filosofia que seria, em Sócrates, elevada ao mais alto patamar.
Assim, a Grécia Naturalista já constituía uma parafernália de conhecimento, mas, a chegada de Sócrates divide todo o pensamento humano em