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Estudos sobre narrador e personagem
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E-book129 páginas1 hora

Estudos sobre narrador e personagem

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Sobre este e-book

Esta obra reúne artigos/ensaios que contêm estudos acerca do modo como os narradores se posicionam em obras literárias e cinematográficas e, ainda, a maneira como as personagens se articulam nestas narrativas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de jul. de 2022
ISBN9781526003065
Estudos sobre narrador e personagem

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    Estudos sobre narrador e personagem - Laísa Veroneze Bisol (Org.)

    cover.png

    Laísa Veroneze Bisol

    Organizadora

    Estudos sobre narrador e personagem

    Autores:

    Carlos Ossanes

    Daiane Steiernagel

    Laísa Veroneze Bisol

    Leticia Sangaletti

    Sabrina Siqueira

    Samantha Borges

    Vanderléia de Andrade Haiski

    Diagramação:

    Fábio Paloschi

    Laísa Veroneze Bisol

    Editora:

    Bibliomundi

    Rio de Janeiro

    2017

    Apresentação

    Este livro digital intitulado Estudos sobre narrador e personagem reúne artigos de doutores e doutorandos que realizaram pesquisas acerca do modo como os narradores se posicionam em obras artísticas - especialmente de cunho literário e cinematográfico -, e ainda, a maneira como as personagens se articulam nos textos, tendo em vista que a figuração destas permite diferentes reflexões e são fundamentais na compreensão das histórias.

    Assim, apresentamos textos que discutem assuntos atuais abordando: a psicanálise em personagens de série televisiva em comparação com a obra literária; a constituição formal das personagens em narrativa curta, ou seja, no gênero conto; e, ainda, o posicionamento de narrador e personagem em romances da literatura brasileira e inglesa.

    Desejamos que desfrutem de uma leitura proveitosa que possa despertar ainda novas ideias.

    Laísa Veroneze Bisol

    Organizadora

    Guia de Leitura

    A editora deste livro digital disponibiliza a obra em diversas plataformas e, sendo assim, não há indicativo de numeração, tendo em vista que as quantidades de páginas alteram dependendo do tamanho e tipo do dispositivo utilizado para a leitura.

    Organizados em capítulos, o e-book apresenta, nesta ordem, os seguintes artigos:

    Livro, cinema e televisão: o processo transficcional dos personagens Norma e Norman Bates

    Samantha Borges; Daiane Steiernagel

    O narrador do conto: um estudo sobre Da casa 13: Revelação, de Jane Tutikian

    Laísa Veroneze Bisol

    A caracterização do protagonista em Leite Derramado, de Chico Buarque

    Vanderléia de Andrade Haiski

    Sobre o leite derramado: solidão e exílio no tempo e no espaço

    Carlos Ossanes; Leticia Sangaletti

    As personagens de Otelo vistas a partir de seus discursos

    Sabrina Siqueira

    Livro, cinema e televisão: o processo transficcional dos personagens Norma e Norman Bates

    Samantha Borges

    Daiane Steiernagel

    Introdução

    O livro Psicose, lançado nos Estados Unidos em 1959, teve origem na fixação de seu autor em uma notícia que leu nas páginas de jornal. Foi através de notas policiais, que Robert Bloch mergulhou na história de um suposto Serial Killer (assassino em série), que teria matado pelo menos dez mulheres em dois anos, em um pequeno vilarejo norte-americano chamado Plainfield. O acusado, um solitário de meia idade, não assumia todos os assassinatos, relatando que lembrava apenas de se sentir zonzo no momento dos possíveis ataques e, por fim, também assaltava o cemitério local à procura de corpos femininos que lembrassem sua mãe.

    A história serviu de base para a narrativa de Bloch, em uma espécie de adaptação da vida real para a ficção literária e que tem na construção de um personagem ambíguo e complexo, seu foco principal. Esse personagem fragmentado, conflitante, vai ao encontro do que defende Antonio Candido (2009) em "A personagem de ficção". Segundo o autor, o romance moderno instaura a representação de personagem sob uma nova perspectiva, a da ambiguidade. Candido destaca que na antiguidade o interior das personagens não era representado na narrativa. Já no romance moderno, esse interior é mostrado, sua subjetividade e logo as ambiguidades de sua personalidade, que antes eram ocultas. Em Psicose, o leitor tem acesso justamente à subjetividade dos dois personagens principais de maneira ainda mais aprofundada e complexa.

    A obra foi bem recebida pela crítica e em apenas um ano foi adaptada para o cinema, sendo imortalizada por Alfred Hitchcock, considerado mestre do suspense cinematográfico. O filme consolidou-se, assim, como um clássico, alimentando pelo menos mais seis adaptações para cinema e TV entre os anos de 1983 e 2012. Mas é em 2013, que Norman Bates recebe uma releitura que gera mais expectativas em seus fãs. É anunciado o seriado televisivo Bates Motel, uma adaptação de Psicose, que se centra na adolescência de Norman e traz elementos inovadores que ampliam a interpretação da história.

    Com base nesse percurso traçado por Psicose, desde sua publicação em livro, lançamento em filme, até sua produção mais recente, como seriado televisivo, destaca-se, neste artigo, a corporificação de Norma Bates, personagem central em todas as versões, mas que é materializada no seriado Bates Motel, permanecendo à sombra de Norman no livro e no filme (aqui iremos considerar somente a versão de 1960). Segundo Robert Stam (2006), as adaptações de histórias literárias para mídias audiovisuais têm sido analisadas através de uma série de preconceitos como a anti-corporalidade, ou seja, uma repulsa à corporificação de um personagem pertencente ao imaginário do leitor e que é reduzido à imagem de um ator. Em Bates Motel, Norma ganha vida e o resultado, entretanto, é positivo, pois a presença física da personagem amplia a história, oferecendo o suporte necessário para a recriação da adolescência de Norman Bates.

    A partir disso, podemos pensar na representação de Norma e Norman como uma encenação do Édipo freudiano. As tramas, especialmente a do seriado, utilizam elementos de grande potencial relativo ao conteúdo psicológico constituinte dos personagens, desde a semelhança do nome, como se fosse um a extensão do outro, a relação demonstrada nos diálogos e o comportamento superprotetor da mãe em relação ao filho. Não há separação entre Norma e Norman, indo ao encontro da teoria psicanalítica de Sigmund Freud sobre a constituição do quadro de psicose.

    Adaptação e transficção na narrativa de Psicose e Bates Motel

    O autor Robert Stam assegura, logo no início do artigo "Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade, que as adaptações de filmes a partir de romances têm sido vistas como um processo de perda, em que o romance ocupa um lugar privilegiado" (2006, p. 19). Segundo Stam, a avaliação da crítica, em geral utiliza termos negativos ligados à ideia de perda existente nesse processo, como longas páginas descritivas sobre um romance que, no filme, são condensadas em apenas um beijo, por exemplo. Ao apontar especificidades negativas de uma adaptação, entretanto, a crítica ignora ganhos possíveis que a releitura de uma história pode propor.

    Para embasar essa premissa, Stam destaca uma série de preconceitos relativos ao processo de adaptação fílmica oriundo de uma obra literária, especialmente quando o livro está no terreno do cânone. Destaca o autor:

    Em outros textos eu resumi esses preconceitos nos seguintes termos: 1) antiguidade (o pressuposto de que as artes antigas são necessariamente artes melhores); 2) pensamento dicotômico (o pressuposto de que o ganho do cinema constitui perdas para a literatura); 3) iconofobia (o preconceito culturalmente enraizado contra as artes visuais, cujas origens remontam não só às proibições judaico-islâmico-protestantes dos ícones, mas também à depreciação platônica e neo-platônica do mundo das aparências dos fenômenos); 4) logofilia, (a valorização oposta, típica de culturas enraizadas na religião do livro, a qual Bakhtin chama de palavra sagrada dos textos escritos); 6) anti-corporalidade, um desgosto pela incorporação imprópria do texto fílmico, com seus personagens de carne e osso, interpretados e encarnados, e seus lugares reais e objetos de cenografia palpáveis; sua carnalidade e choques viscerais ao sistema nervoso; 7) a carga de parasitismo (adaptações vistas como duplamente menos: menos do que o romance porque uma cópia, e menos do que um filme por não ser um filme puro). (STAM, 2006, p. 21).

    Dentro disso que o próprio autor chama de constelação de preconceitos, para esse artigo torna-se válido dar destaque ao item seis, a anti-corporalidade, ou seja, a transformação de personagens, ambientes e acontecimentos, que antes existiam apenas na imaginação do leitor, em corpos, coisas e lugares reais, atores, construções e cidades físicas. Além disso, delimita-se a análise desse ponto especialmente na corporificação dos personagens da adaptação mais recente, Bates Motel, considerando que é nessa produção que ocorrem as transformações mais significativas.

    Antes de desenvolver essa análise, é preciso deter-se um pouco mais sobre o estatuto teórico da adaptação. Como visto, Stam irá ressaltar a importância de se desconstruir o olhar preconceituoso sobre as produções adaptativas. Para isso, o autor fundamenta-se no dialogismo de Bakhtin, em sua releitura por Kristeva, através da intertextualidade e, ainda, na versão amplificada de Genette, com sua transtextualidade. O objetivo, aqui, não é conceituar sobre essas teorias, já bastante exploradas. Citá-las, porém, se faz necessário devido à sua importância no percurso analítico das relações textuais construídas ao longo do tempo e dinamizadas pela ascensão de diferentes mídias, especialmente no século XX. Segundo Stam, o dialogismo contribui para a compreensão do texto enquanto algo vivo, em movimento, em constante relação com seu contexto social e as múltiplas vozes existentes nesses espaços.

    Ao propor a consideração de textos em suas mais variadas linguagens e suportes, é possível desmistificar a avaliação hierárquica entre as possíveis textualidades. Além disso, ao trazer a linguagem para a dinâmica social, observa-se que o contexto também interage tanto na maneira como a narrativa é produzida, quanto no seu modo de recepção. Linda Hutcheon, para quem a adaptação deve ser vista tanto como um produto - ou seja, o

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