Paulo Polêmico
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Paulo Polêmico - Pinheiro Martins
CIP - BRASIL - CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
M345p
Martins, Pinheiro, 1967 -
Paulo Polêmico / Pinheiro Martins — 1. ed. — Rio de Janeiro: CELD 2016.
174p.; 21cm.; il.
Inclui índice.
eISBN: 978-85-7297-577-3
1. Espiritismo. I. Título.
14-12925
CDD 133.9
CDU 133.9
PAULO POLÊMICO
Pinheiro Martins
1ª edição: junho de 2016;
1ª tiragem, do 1º ao 3º milheiro.
Revisão:
Albertina Escudeiro Sêco
Capa e diagramação:
Rogério Mota
Produção de ebook:
S2 Books
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Sumário
Capa
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Créditos
Dedicatórias e agradecimentos
Prefácio
1. Uma velha controvérsia
Contradições entre os espíritos
Como o embuste e a fraude prosperam na História
A fabricação de textos apócrifos na Antiguidade
Cartas equivocadamente atribuídas a João
O próprio Paulo denunciou falsificadores
2. Paulo e o contexto das primeiras comunidades cristãs
Cultura e religião
O preconceito religioso e cultural entre os primeiros cristãos
Os preconceitos de Paulo de Tarso
3. A Epístola aos Efésios
Contextualizando o momento histórico[38]
O mistério do desaparecimento da Carta aos Laodiceus
Contextualizando Efésios
Para quem Efésios
realmente se destinava?
Comparando Efésios e Colossenses
A eminência de Cristo
O autor de Efésios
também copiou o Evangelho de João
Considerações finais
4. O uso político de Efésios
Ministros de Deus
Perante infiéis
Cidadãos do Céu
De cidadão do Céu a legionário da Igreja
Conclusão
5. Em Roma, sob Nero
Os cristãos romanos e a primeira perseguição
O que realmente teria acontecido?
6. A Epístola aos Hebreus
Flagrante de uma adulteração do texto de Hebreus
7. As Epístolas Pastorais
O contexto da Epístola a Tito
As Epístolas a Timóteo
Afinal, por onde andava Paulo, então?
8. Quais foram as motivações das fraudes?
Contradições insuperáveis revelam as fraudes
Excurso: uma grave adulteração no texto de I Timóteo 3,16
As falsificações visariam legitimar a nascente hierarquia eclesiástica
Adendo: as falsificações das cartas de Inácio de Antioquia
Conclusão
9. A polêmica persiste
10. Considerações Finais
Pós-escrito: Sobre a inspiração divina
das cartas de Paulo
Tábua Cronológica
Bibliografia
Dedicatórias e agradecimentos
Ao saudoso amigo Altivo Carissimi Pamphiro, que me estimulou a continuar a escrever e me pediu que compusesse, particularmente, um livro como este.
Para a querida tia Cidinha
, que, com todo o seu carinho, orientou várias gerações de trabalhadores do CELD.
&
À grande amiga professora Valéria Campos, que sempre acreditou em minha capacidade e me incentivou, com carinho, a dar prosseguimento ao meu trabalho.
Prefácio
Este livro trata de um mistério bíblico, e de um segredo que, na verdade, não é propriamente um segredo, mas de um fato desconhecido pela maioria dos cristãos. O mistério é o dos últimos anos de vida e de atividade missionária do apóstolo Paulo, após sua prisão em Roma no ano 61 de nossa era, evento que encerra a narrativa do livro dos Atos dos Apóstolos. Tem sido motivo de debate até os dias de hoje o destino de Paulo, após aquele período de detenção em Roma. Teria ele sido absolvido e, então, empreendido a tão sonhada viagem missionária à Espanha, já anunciada em sua Epístola aos Romanos? E onde estava Pedro naquela época? Os Atos dos Apóstolos nada dizem sobre sua presença em Roma, nem as cartas de Paulo fazem qualquer referência a este fato. Isto sempre me intrigou, desde que, bem jovenzinho, li o Novo Testamento, pela primeira vez. Li, reli, tresli e não achei respostas diretas, na época, para este mistério.
Continuei a pesquisa ao longo dos anos, mas a consulta a teólogos e historiadores católicos, protestantes, espíritas [1] e até mesmo ateus e agnósticos revelou a existência de uma longa e disputada controvérsia. Para a maioria, Paulo foi libertado uma primeira vez em Roma e partiu para novas missões no Mediterrâneo. O problema parece ser descobrir por onde o apóstolo andou, daquela vez. Acreditam alguns que ele primeiro passou pela Macedônia e por Creta, encontrando-se com Timóteo e Tito, antes de ir à Espanha, até que retornou a Roma em 67 e foi martirizado por Nero. Outros acreditam que ele foi direto à Espanha, deixando a igreja local aos cuidados de Pedro, então recém-chegado a Roma, no ano 63, para voltar em 64, quando foi então martirizado, junto a Pedro e outros irmãos de fé. Nem mesmo a data de sua morte, como se pode ver, é dado seguro.
O segredo
que não é segredo (pelo menos para os especialistas, que parecem esconder essa informação para não terem aborrecimentos com fanáticos religiosos) é o fato de que algumas cartas atribuídas a Paulo durante seus últimos anos de vida seriam, na verdade, falsas, e uma delas, pelo menos, sequer têm a assinatura dele. Trata-se, para começar, da Epístola aos Efésios, que na verdade é um plágio da Epístola aos Colossenses, e das chamadas Epístolas Pastorais
, isto é, aquelas escritas a Timóteo e a Tito, e que seriam, supostamente, as últimas escritas pelo apóstolo. Outra carta equivocadamente atribuída a Paulo é àquela aos Hebreus, cuja autoria, desde o princípio, foi alvo de controvérsias entre os primeiros comentaristas e teólogos cristãos, já que ela nem mesmo é assinada por quem quer que seja e seu verdadeiro autor permanece desconhecido.
Na verdade, é bem fácil, para qualquer pessoa verificar o que está sendo afirmado aqui. Basta comparar os Atos dos Apóstolos e as cartas de Paulo consideradas legítimas com as epístolas falsas e constatar que as informações destas últimas não conferem. Ninguém conseguiu conciliar satisfatoriamente, até hoje, o que o Pseudo-Paulo diz nas cartas a Timóteo e a Tito com a narrativa dos Atos e com as outras epístolas. Não surpreende que aqueles teólogos que tentaram reconstituir os últimos anos do Apóstolo dos Gentios partindo desses documentos acabassem traçando roteiros confusos e pouco verossímeis de suas derradeiras andanças, como veremos mais adiante.
Quanto à Epístola aos Efésios, é fácil compará-la com aquela escrita aos colossenses, fazendo uma leitura em paralelo e descobrir que elas seguem quase os mesmos passos, a mesma sequência de temas e argumentos, ao ponto de ser possível elaborar uma tabela comparativa das duas cartas, como eu fiz no capítulo 3. Não é razoável que Paulo tivesse plagiado a si próprio, uma vez que ele mesmo havia instruído os fiéis a copiarem suas cartas e trocar entre si as cópias escritas para as diferentes igrejas. Teria sido então desnecessário o plágio, então, uma vez que cópias da Epístola aos Colossenses já circulavam entre os cristãos de quase todo o Império Romano. Por que, então, plagiá-la e renomeá-la como Epístola aos Efésios
? Terá havido o propósito de escrever uma versão melhorada
da Epístola aos Colossenses, distorcendo algumas afirmações do apóstolo para adequá-las às circunstâncias de determinada seita ou facção na igreja? Trata-se de questão grave.
A Teologia na defesa...
Mas este livro não se limita a polemizar apenas tratando das presumidas falsificações dos textos de Paulo e dos demais apóstolos. Na verdade, aqui trato também de algumas controvérsias provocadas pelas lições que ele realmente escreveu e que têm sido alvo de acirrados debates teológicos e morais ao longo de séculos. Mostrarei que algumas dessas polêmicas são mesmo desnecessárias, por se originarem de meros erros nas cópias das cartas dos apóstolos.
Para finalizar, quero deixar claro que não pretendo ofender ninguém, nem atacar a fé de quem quer que seja, mas apenas ajudar as pessoas a compreender melhor a Bíblia e como foi escrita.
1
Uma velha controvérsia
Os leitores esperavam que a narrativa fizesse algum sentido histórico — ou seja, fosse plausível —, mas não que correspondesse aos fatos historicamente reais.
Bart D. Ehrman, teólogo norte-americano [2]
A proposta deste livro é desafiadora: trata-se de tentar esclarecer os últimos anos de vida do apóstolo Paulo e demonstrar que algumas das cartas atribuídas a ele nessa época — a Epístola aos Efésios, a Primeira e a Segunda Epístola a Timóteo, e a Epístola a Tito —, e que hoje fazem parte do Novo Testamento, são provavelmente falsas. Ou, que, se não são falsas, com certeza foram gravemente alteradas. Não se trata de descoberta nova, esteja bem entendido: a grande maioria dos historiadores do Cristianismo, e também muitos teólogos, já aceitam tranquilamente essas conclusões, desde o século XIX. [3] Entretanto, tais fatos são pouco conhecidos no Brasil e o nosso objetivo é justamente o de divulgá-los para o público.
Esta é uma hipótese que enfrenta grandes resistências entre as várias denominações cristãs, aí incluídos evangélicos, católicos, e também espíritas. Os espíritas, por exemplo, alegam que ela contraria o que os guias espirituais escreveram sobre o assunto. Citam geralmente, a respeito do assunto, o espírito Emmanuel, autor de Paulo e Estevão, romance mediúnico psicografado por Francisco Cândido Xavier. O livro é, nós o reconhecemos, uma obra muito instrutiva e edificante, mas nosso conhecimento sobre a vida de Paulo e a história do Cristianismo não pode ficar limitado ao que ele nos informa. [4] Para todos os efeitos, ele nada valeria em termos de pesquisa acadêmica sobre a história e a teologia do Novo Testamento.
Uma leitura comparativa, atenta, desses livros mediúnicos, demonstraria que eles não são uma fonte de dados históricos tão exatos como pretendem os espíritas, pois os autores desencarnados podem entrar em contradição uns com os outros a respeito de certos detalhes. O escritor e orador espírita Djalma Motta Argollo assinalou, [5] há algum tempo, este fato, que infelizmente continuou desapercebido da maioria dos espíritas. É bom darmos uma rápida olhada no que ele descobriu.
Contradições entre os espíritos
Tomemos, por exemplo, a questão da data em que Jesus teria iniciado sua vida pública, encontrando-se com João Batista. O espírito Humberto de Campos, também através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, afirma, no capítulo 3 do livro Boa Nova (publicado pela FEB), que tal evento teria ocorrido nos primeiros dias do ano 30
. Emmanuel, no livro Há 2000 anos..., através do citado médium, situa-se na mesma perspectiva cronológica. Mas já o espírito Amélia Rodrigues, escrevendo por Divaldo Pereira Franco, na obra Primícias do Reino (publicada pela Livraria Espírita Alvorada), situa a prisão de João Batista em março de 29, estabelecendo seu encontro com Jesus antes do ano 30 e contrariando, assim, os dados fornecidos por Emmanuel e Humberto de Campos.