Discurso do Método
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Sobre este e-book
Trata-se de um manual da razão, um prático "modo de usar".
René Descartes
René Descartes, known as the Father of Modern Philosophy and inventor of Cartesian coordinates, was a seventeenth century French philosopher, mathematician, and writer. Descartes made significant contributions to the fields of philosophy and mathematics, and was a proponent of rationalism, believing strongly in fact and deductive reasoning. Working in both French and Latin, he wrote many mathematical and philosophical works including The World, Discourse on a Method, Meditations on First Philosophy, and Passions of the Soul. He is perhaps best known for originating the statement “I think, therefore I am.”
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DESCARTES ESSENCIAL: Discurso do Método, Meditações Metafísicas, Paixões da Alma. Nota: 5 de 5 estrelas5/5Discurso do método Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
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Discurso do Método - René Descartes
Prefácio
René Descartes (1596-1650) nasceu na cidade francesa de La Haye, «nos jardins da Touraine», segundo a sua própria expressão, duma família nobre, cujos meios de fortuna lhe permitiram consagrar-se exclusivamente à longa e fecunda meditação que foi a sua vida, liberta de cuidados materiais.
Com pouco mais de um ano de idade perde a mãe, de quem herda «uma tosse seca e uma cor pálida, que conservei até depois dos vinte anos e que fazia que todos os médicos que até então me tinham visto me condenassem a morrer novo», e até à sua entrada para o colégio fica entregue aos cuidados de uma ama que à hora da morte, num gesto de profunda humanidade, não se esquecerá de o recomendar à solicitude de seus irmãos.
De 1606 a 1614 frequenta «uma das mais célebres escolas da Europa», o colégio da cidade de La Flèche que, autorizados por Henrique IV, os Jesuítas pouco antes tinham aberto; e nele, a precocidade do seu génio, que já levara o pai a chamar-lhe o filósofo, pela sua curiosidade nunca satisfeita, causa a admiração dos mestres, sobretudo pelo seu jeito matemático e pelo seu «método singular de disputar em filosofia». Concluídos os estudos no colégio, onde, a par das Humanidades, da Matemática e da Física, o seu espírito se ornara no cultivo das disciplinas galantes (Música, Esgrima, Equitação), indispensáveis a um gentil-homem, Descartes vai rematá-los na Universidade de Poitiers, onde, além da Medicina, estuda o Direito, cujo bacharelato e licenciatura tirará em 1616.
Mas, desiludido da cultura livresca e oficial, que não conseguira satisfazer as suas exigências de compreensão, resolve procurar a ciência em si mesmo e no «grande livro do mundo». Em 1618 parte para a Holanda, então em luta pela independência contra os Espanhóis, e alista-se como voluntário, à sua custa, no exército protestante de Maurício de Orange. O mister das armas não lhe modera, contudo, a sua paixão absorvente e o diário de Isaac Beeckman, doutor em Medicina da Universidade de Caen, com quem então trava relações de amizade, diz-nos quanto o continuavam a ocupar os problemas matemáticos e físico-matemáticos. Em 1619, no seu desejo de «ver cortes e exércitos», passa da Holanda à Alemanha, onde, depois de assistir, em Frankfurt, à coroação do imperador Fernando II, se vai juntar ao exército católico de Maximiliano, príncipe eleitor da Baviera, em luta contra a Boémia revoltada.
É então que se passa o acontecimento decisivo da sua vida espiritual, e não menos decisivo para os destinos da cultura moderna: na noite de 10 para 11 de novembro de 1619, tem três sonhos, cuja interpretação o leva à intuição duma verdade fundamental, sobre cujo conteúdo muito variam as opiniões dos comentadores, em virtude do laconismo dos termos em que Descartes se lhe refere numa nota datada dessa época: «a 10 de Novembro, quando, cheio de entusiasmo, encontrei o fundamento duma ciência admirável». A maioria das opiniões inclina-se, contudo, a interpretar esse passo como referindo-se à descoberta do seu método, embora algumas vejam nele uma alusão à descoberta intuitiva da unidade da ciência e ainda outras à da possibilidade de uma matemática universal.
De 1619 a 1628 continua pela Alemanha, Suíça, Itália e, nos dois últimos desses anos, em Paris, «a visitar pessoas de diversos temperamentos e condições, a acumular muitas experiências», em mira «a procurar por mim próprio em toda a parte a reflexão sobre as coisas que se me apresentavam e das quais pudesse tirar qualquer proveito».
Em Paris, de 1626 a 1628, sob a aparência exterior duma vida em tudo igual à dos belos espíritos da sua condição, a que não faltou mesmo a nota galante dum duelo por sua dama, Descartes ia, no convívio dos filósofos e homens de ciência, aprofundando a sua meditação, ocupando-se de astronomia com Morin, de matemática e experiências de ótica com Mydorge e Villebrissieu, de modo tal que, embora não tivesse ainda vindo a público uma única linha da sua mão, os frutos dessa meditação iam sendo conhecidos (solução dos problemas da duplicação do cubo ou das médias proporcionais e da trissecção do ângulo) e despertando na roda dos seus admiradores — entre os quais sobressaíam o Padre Mersenne, que será o elemento de ligação no longo diálogo que Descartes, em termos por vezes pouco amistosos, travará durante anos com os seus críticos, e o Cardeal de Bérulle, fundador da Congregação do Oratório — o desejo e a esperança de o verem consagrar-se à obra de conjunto e de renovação que era de esperar do seu génio.
É a instâncias do último que a isso se decide, e escolhe a Holanda para ermo da sua meditação, certo de poder, no meio da «multidão dum grande povo, mais cioso dos seus negócios do que curioso dos alheios... viver tão solitário e retirado como nos desertos mais longínquos» e falsamente esperançado em que no ambiente protestante desse país, por que se batera, encontraria a liberdade e a segurança necessárias à realização duma obra cujas teses fundamentais continham em si, implicitamente, a negação dos valores da cultura filosófica oficial e tradicional, cultura que era tanto mais arriscado atacar, embora veladamente, quanto é certo que a dogmática cristã a adotara para sua estrutura racional. E na Holanda se conserva de 1628 a 1649, mudando várias vezes de residência, vivendo primeiro em Freneker, na Frísia, em cuja Universidade se matricula em 1629, depois em Leyde em 1630, e sucessivamente em Amsterdão, Deventer, Utrecht, Santport e por fim em Egmond, onde habita de 1643 até à partida para a Suécia.
A sua atividade intelectual vai então seguir um novo rumo e entrar na fase de plena maturação. As preocupações matemáticas, que tinham começado por ser as dominantes no seu espírito, porquanto era nelas que a sua necessidade racional de clareia e de simplicidade encontravam mais farto alimento, passam para um segundo plano; e, de posse, desde 1619, dum método, para cuja descoberta as matemáticas com a evidência racional das suas demonstrações muito tinham contribuído, e a cuja fecundidade tinham até então servido de melhor testemunho, mercê dos progressos que no seu domínio, com ele, tinha conseguido realizar com êxito, vai agora pô-lo à prova num empreendimento mais ambicioso: o de explicar com ele, não este ou aquele problema de matemática ou fenómeno do mundo físico, mas os fenómenos da Natureza no seu conjunto, numa tentativa audaciosa para «estabelecer na filosofia princípios mais claros e mais certos, pelos quais seria mais fácil encontrar a razão de todos os efeitos da Natureza». O matemático e o físico cedem o passo ao metafísico; e os nove primeiros meses da sua estada na Holanda consagra-os a escrever «um pequeno tratado de metafísica cujos principais pontos são provar a existência de Deus e das almas, separadas dos corpos, portanto imortais», primeiro esboço das futuras Meditações Metafísicas.
De posse dos princípios metafísicos que serviriam de garantia racional a uma explicação de conjunto