O ser e a linguagem em Drummond: uma leitura hermenêutica da poesia
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O ser e a linguagem em Drummond - JOSÉ MOZART TANAJURA JÚNIOR
1. A FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA E A POESIA NO EXISTENCIAL DA LINGUAGEM
1.1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA DE MARTIN HEIDEGGER
1.1.1 O que é fenomenologia?
Heidegger⁶, ao iniciar o seu tratado filosófico, busca fazer uma profunda investigação acerca do Ser, questão central e precípua de seu pensamento reflexivo. Assim, propõe-se a investigar o sentido do ser, por muito tempo esquecido pela tradição filosófica, a partir do método fenomenológico que visa a interpretar o ser como ele é, explicando não somente o sentido do ser do ente, mas também o próprio ser na medida em que este se lhe apresenta no ente. É muito mais do que a máxima de Husserl, considerado o fundador da fenomenologia, ir às coisas mesmas
.
Para tal intento, o filósofo de Ser e tempo decompõe o vocábulo fenomenologia em sua gramática: Fenomeno + logos. Isso o leva a uma tentativa de conceituação inicial e externa ao sentido mais profundo do termo, o qual se designa como ciência dos fenômenos
. Ademais, Heidegger faz um percurso etimológico acurado, inclusive com uma análise a partir da origem grega de seus termos originários e derivados. Há uma inferência do termo fenômeno relacionado a expressões de cunho filosófico, próprias do método fenomenológico, tais como mostrar-se
, aquilo que se mostra em si mesmo
, o que se revela
. A bem dizer, Heidegger, em Ser e tempo, analisa o mostrar-se a partir de expressões como aparecer
e aparência
, visto que, para se compreender o que vem a ser fenômeno, é necessário entender tais expressões. Sendo assim, verifica-se uma certa reserva para a palavra fenômeno quanto ao que designa, tomando-a por mostrar-se
e diferenciando-a de vocábulos como aparecer
, parecer
e aparência. Para o filósofo, os vocábulos aparecer
, parecer
e aparência
são, na verdade, uma modificação privativa de fenômeno. Preliminarmente, esses vocábulos não se incorporam à manifestação, termo que não diz respeito a um mostrar-se a si mesmo, um anunciar-se de algo que não se mostra. Nessa discussão, tem-se, portanto, a afirmação heideggeriana: Manifestar-se é um não mostrar-se
(HEIDEGGER, 2002b, p. 59). Manifestar-se é um anunciar. Com efeito, o fenômeno independe de uma manifestação, mas a manifestação depende de um fenômeno, pois ela só se realiza no mostrar-se de alguma coisa. Há, portanto, uma distinção entre fenômeno e manifestação. O fenômeno é um modo privilegiado de encontro, um mostrar-se em si mesmo.
Dando continuidade à investigação do que vem a ser fenomenologia, Heidegger passa a analisar o termo logos, o qual, sendo polissêmico, tem o seu entendimento estabelecido na dimensão do discurso, enquanto significado básico que lhe é atribuído. Em termos concretos, afirma-se que logos apofântico é um deixar ver, tendo o caráter de fala, de expressividade em palavras, visualizando algo e acontecendo na linguagem. O logos pode caracterizar um discurso verdadeiro ou falso em seu exercício. Heidegger assim assevera: "porque o logos é um deixar e fazer ver, por isso é que ele pode ser verdadeiro ou falso. Tudo depende de se libertar de um conceito construído de verdade, no sentido de concordância" (HEIDEGGER, 2002b, p. 63).
O deixar ver
propiciado pela verdade, cujo descobrir se dá pelo logos, provoca o ato de desvelamento do que está encoberto por um conceito aparente ou falso, cujo velamento no ente do ser simplesmente dado não permite o mostrar-se do ser deste ente.
Desse modo, afirmamos que o logos não é um lugar primário da verdade, pois pode apresentar para uma verdade ou falsidade em seu modo de deixar e fazer ver.
Examinados os termos constituintes da composição do vocábulo fenomenologia
, Heidegger amplia o significado do termo que, aparentemente, se denomina de ciência dos fenômenos. Fenomenologia é um deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo
(HEIDEGGER, 2002b, p. 65). Com efeito, a fenomenologia dá acesso ao Ser do ente, trata-se de um modo de desvelamento das coisas, um mostrar-se a si mesmo. Nesse processo de mostrar-se do ser, há, naturalmente, um desvelar-se de si mesmo por parte do ser. Assim, somente a fenomenologia, enquanto desveladora de fenômenos ligados ao Ser, pode construir um mecanismo reflexivo para a ontologia heideggeriana. Em outras palavras, em seu conteúdo, a fenomenologia é a ciência do ser dos entes – é ontologia
(HEIDEGGER, 2002b, p. 68).
O mostrar-se do fundamento ôntico é tarefa primeira no discernimento do caráter científico da ontologia, assim como o seu caráter fundante, conforme o próprio Heidegger ressalta em sua investigação fenomenológica. A ontologia, enquanto ciência do ser, procura caracterizar o seu modo de conhecimento. Desde a concepção clássica filosófica, o ser e suas determinações se mostravam anteriores aos entes, ou seja, eram a priori. Entretanto, não se tem muito claro o sentido deste a priori do ser em relação ao ente. A anterioridade do ser diz respeito a uma determinação temporal, pertencente à própria dinamicidade do mundo circundante, evidentemente não de acordo com o sentido do chronos, mas uma temporalidade enquanto existencial filosófico amplamente discutido no pensamento heideggeriano. Daí a necessidade de construção de um modo de acesso ao Ser por intermédio da