Alice no País dos Espelhos
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Sobre este e-book
Lewis Carroll
Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), better known by his pen name Lewis Carroll, published Alice's Adventures in Wonderland in 1865 and its sequel, Through the Looking-Glass, and What Alice Found There, in 1871. Considered a master of the genre of literary nonsense, he is renowned for his ingenious wordplay and sense of logic, and his highly original vision.
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Alice no País dos Espelhos - Lewis Carroll
Alice no País dos Espelhos
Translated by Monteiro Lobato
Original title: Alice through the looking glass
Original language: English
Os personagens e a linguagem usados nesta obra não refletem a opinião da editora. A obra é publicada enquanto documento histórico que descreve as percepções humanas vigentes no momento de sua escrita.
Cover image: Shutterstock
Copyright © 1872, 2021 SAGA Egmont
All rights reserved
ISBN: 9788726621594
1st ebook edition
Format: EPUB 3.0
No part of this publication may be reproduced, stored in a retrievial system, or transmitted, in any form or by any means without the prior written permission of the publisher, nor, be otherwise circulated in any form of binding or cover other than in which it is published and without a similar condition being imposed on the subsequent purchaser.
This work is republished as a historical document. It contains contemporary use of language.
www.sagaegmont.com
Saga is a subsidiary of Egmont. Egmont is Denmark’s largest media company and fully owned by the Egmont Foundation, which donates almost 13,4 million euros annually to children in difficult circumstances.
O problema de xadrez de Alice
O peão branco (Alice) joga e vence em nove lances
Capítulo I
A Casa do Espelho
Duma coisa Alice estava certa: de que o gatinho branco nada tinha que ver com aquilo. A culpa era tôda do gatinho prêto. Isso porque enquanto o gatinho prêto estava reinando na sala, o gatinho branco estêve nas unhas de sua mãe Diná, a sofrer uma lavagem de cara.
Diná lavava os seus filhotes assim: agarrava um dêles pela orelha e o fixava com uma das patas ao chão; com a outra esfregava-lhe a cara, a começar pelo focinho. E êles se submetiam a essa toalete muito quietos, rosnando apenas, pois sabiam que a esfrega era para bem dêles.
O gatinho prêto havia passado a manhã na sala, sôlto, brincando, e ainda lá estava aos pinotes, enquanto Alice, meio adormecida em sua poltrona, falava sòzinha, com os olhos semi-abertos fixos no tapête onde jazia um novêlo de lã quase todo desenrolado.
— Olá, seu maroto! murmurou ela agarrando o gatinho pelo pescoço e beijando-o para mostrar a sua contrariedade. Depois, voltando-se para Diná, disse: — Olhe, é preciso dar melhor educação aos seus filhos, ouviu? Ainda está em tempo…
Alice tomou do chão o novêlo de lã, que pôs no colo, ao lado do gatinho prêto. Ia enrolá-lo de novo, trabalho que não rendia, porque Alice não parava de falar consigo própria e distrair-se, achando graça na atenção com que o gatinho acompanhava aquêle serviço. Às vêzes procurando ajudá-la êle a atrasava ainda mais.
— Sabe que dia é amanhã? perguntou-lhe a menina. Não sabe! Nunca sabe nada, êste bobinho. Pois teria sabido, se tivesse estado comigo à janela. Teria visto as crianças amontoarem na rua lenha para uma fogueira — o que quer dizer que estamos em vésperas de São João. Teremos uma bela fogueira amanhã, vai ver.
Enquanto falava ia enrolando a lã em redor do pescoço do gatinho, que de súbito se debateu e fêz de novo cair o novêlo.
Sem erguer-se da poltrona Alice começou a ralhar com o maroto.
— Eu devia ficar zangada, sabe? Você é o tipo do atrapalhador de serviço. Que faria se eu abrisse a janela e o atirasse na neve, hein? Olhe, nem mais um pio, está ouvindo?
E com o dedo indicador erguido:
— Vou passar em revista tôdas as suas más ações de hoje. Em primeiro lugar você miou muito quando Diná o esfregava, de manhã. Não negue. Ouvi perfeitamente. Que diz? Como? A pata de Diná esbarrou em seu olhinho direito? É? Mas de quem foi a culpa? Por que ficou de ôlho aberto? Não venha com essa escapatória, que não aceito. Vamos agora à segunda má ação. Você puxou o gatinho branco pelo rabo quando êle estava a beber o seu pires de leite. Quê? Estava com sêde? Êle também estava — e havia chegado primeiro. Agora, a terceira má ação: desenrolar o meu novêlo de lã. Três culpas, Kitty, e ainda não foi punido por nenhuma! Estou juntando os castigos para quarta-feira.
Depois, pensando nas suas próprias reinações, continuou:
— Suponha-se que êles juntem os meus castigos. Que fariam no fim do ano? Com certeza me mandariam para a cadeia. Ou — deixe-me ver — suponha-se que cada castigo consista em me deixarem sem jantar. Então, no dia do castigo somado, eu teria de ficar sem cinqüenta jantares, pelo menos…
E para o gatinho:
— Está ouvindo o bater da neve na vidraça, Kitty? Gosto dêsse barulhinho. Parece que a neve está beijando os vidros do outro lado, não? Será que a neve beija assim as árvores e os campos porque os ama? Depois ela os recobre duma camada branquinha, talvez dizendo: Durmam, queridos, durmam bem até que o verão retorne.
E quando tudo renasce de novo ao calor do verão, Kitty, as árvores e os campos se vestem de verde e dançam — dançam tão lindo quando o vento sopra!… Oh, eu quero que seja assim! concluiu Alice deixando cair o novêlo para bater palmas de alegria. Quero que as árvores realmente comecem a dormir no outono quando as fôlhas entram a amarelar!…
Depois:
— Kitty, você sabe jogar xadrez? Não se ria. Estou falando sério. Pergunto porque quando eu estava a jogar xadrez inda há pouco você olhava para o tabuleiro, como quem entende do jôgo. E quando eu disse: Xeque!
você rosnou. Realmente, foi um belo xeque, Kitty, e eu teria ganho a partida se não fôsse aquêle bispo negro com o qual não contei. Faz de conta, Kitty…
Impossível tomar nota da metade das coisas que Alice dizia quando vinha com um dos seus faz-de-contas. Justamente na véspera havia ela tido uma séria disputa com sua