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Um Patife Inesquecível: Série Clube Infernal, #1
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Um Patife Inesquecível: Série Clube Infernal, #1
E-book299 páginas5 horas

Um Patife Inesquecível: Série Clube Infernal, #1

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Sobre este e-book

Devlin é um reconhecido canalha que acabou de resgatar a sobrinha órfã.

Willa fora educada num colégio muito especial e deveria educar a criança.

O encontro de ambos poderá ser o início de algo devastadoramente provocante no ton de sociedade londrina.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento19 de abr. de 2021
ISBN9781071597262
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    Um Patife Inesquecível - Chasity Bowlin

    Um Patife Inesquecível

    Série Clube Infernal, Livro 1

    Dedicatória

    Quero dedicar este livro ao meu maravilhoso marido.

    Jonathan, nunca deixas de me dizer diariamente que me amas, que estás orgulhoso de mim, que sou bela e, depois ainda fazes melhor e mostras-me também que assim é. Obrigada por seres melhor do que qualquer herói que eu pudesse criar.

    Prólogo

    O Estúdio estava num caos. O pai tinha sido enterrado nessa manhã, o testamento lido à tarde e, ao mesmo tempo que a noite caía, ele procurava em cada pedaço de papel uma sugestão ou alguma pista sobre onde poderia encontrar Alice. Com a cabeça apoiada na mão, Devil sentou-se no chão cheio de correspondência, faturas e livros de contabilidade. O plastrão tinha desaparecido, o casaco há muito que fora despido e a camisa fora das calças pelos recentes esforços, Devil alcançou o decantador de brandy e bebeu diretamente do mesmo.

    Era o melhor brandy que alguma vez provara e provavelmente tinha custado uma fortuna a seu pai. Mas, na verdade, os objetos e os luxos sempre tinham sido mais importantes para o pai do que os seus próprios filhos. A cólera assolou-o, alimentada por décadas de negligência e sofrimento. Devil atirou o decantador com toda a força estilhaçando-o contra a cornija de mármore da lareira. Enquanto os cacos brilhavam e resplandeciam, alguma coisa prendeu-lhe a atenção. Um resto de uma carta estava enterrado nas cinzas, tendo caído para além do alcance das chamas.

    Levantando-se rapidamente utilizou o atiçador para o recuperar. Era uma carta escrita pelo punho de Alice, mas o seu conteúdo permaneceria um mistério para ele. O que restava, porém, era talvez a parte mais importante – a morada dela. O endereço de uma pensão em Spitalfields era demasiado miserável para a sua irmã e, no entanto, fora para lá que a frieza do pai a tinha relegado.

    Devil não se incomodou com o plastrão nem com a sobrecasaca. Simplesmente agarrou no casaco descartado e saiu disparado de casa como se os cães do Inferno o perseguissem. Chamou uma carruagem que passava e atirou uma moeda ao cocheiro quando chegaram àquela ignóbil morada.

    Era pior do que temia. O edifício era velho, terrivelmente inclinado de um dos lados. As janelas não tinham vidraças, apenas persianas que deixavam entrar mais ar do que protegiam do frio. Ao bater à porta, uma mulher que só podia ser uma prostituta abriu-a.

    «O que quer?»

    «Estou à procura de Alice», respondeu Devil.

    A mulher cacarejou. «Se lhe disseram que ela valia o seu dinheiro, Sir, mentiram. Agora se quiser um bom serviço, aqui a velha Meg vai tratá-lo muito bem.»

    «Alice é minha irmã. Preciso de a encontrar. Se me mostrares o quarto dela pago-te bem», disse-lhe.

    «É o irmão dela? Bem, chega mesmo a tempo... ou talvez não mas, seja como for, ela nem vai perceber que cá está. Vamos lá, então».

    Devil seguiu a mulher pelas escadas acima, sem compreender o significado da estranha declaração. Mas, no momento em que a porta para aquele casebre se abriu, percebeu. O cheiro a doença invadiu-o, algo a que estava demasiado familiarizado após os seus anos na Índia. Ao entrar no quarto, encontrou a irmã deitada numa enxerga fina, no chão. Conseguia ouvir um rato a mastigar qualquer coisa, a um canto. O rosto estava pálido, o cabelo deslizava pelo seu corpo suado e os olhos fixavam-se no teto. Uma rapariguinha sentou-se a seu lado, o tecido do fino da camisa de noite agarrou-se aos seus punhos esquálidos.

    «Alice... Alice, sou eu, Devil. Vim para te levar para casa.»

    Um gemido suave brotou dos lábios gretados de uma mulher que outrora fora elogiada como uma grande beleza. «Demasiado tarde», silvou. «Salva-a. Salva o meu bebé».

    Devil olhou para a rapariguinha agarrada a ela. Era impossível não perceber que era filha de Alice. Os caracóis escuros, os grandes olhos azuis – era quase uma réplica de Alice, quando criança. «Vou tomar conta de ambas».

    Alice abanou a cabeça. «Dói, Devil. Quando respiro. Quando me mexo. Estou farta de tudo isto.»

    «Arranjo-te um médico», insistiu.

    «Não há tempo», disse ela. «Promete-me que tomas conta da Marina».

    «Prometo. Cuidarei dela... Cuidarei de ti, Alice, se me deixares», disse ele e a sua voz partiu-se quando as lágrimas brotaram dos seus olhos.

    A sua irmã estendeu a mão pálida, caindo sobre a dele, segurando-a ali com uma força que os surpreendeu a ambos. A respiração saiu áspera dos seus pulmões e ela abanou dolorosamente a cabeça. Depois, os olhos fecharam-se.

    «Alice?» O nome escapou-lhe dos lábios num grito de pânico. Mas não houve resposta. Ele tinha entrado naquele quarto a tempo de ela dar o último suspiro.

    A Miss deitou-se, pressionou o rosto contra a almofada ao lado da mãe, e chorou com uma espécie de agonia quase animalesca. Podia não compreender a morte, podia não compreender a sua permanência mas, compreendeu que a sua mãe tinha desaparecido.

    Devil agarrou-a levantando-a até ele. Ela gritou e pontapeou lutando contra ele com uma ferocidade que desmentia a sua leveza. Ele, simplesmente puxou-a para mais perto de si. E agarrou-a a ele com toda a força que podia. «Tomarei conta dela. Cuidarei de ti.», prometeu. «Seja qual for o custo. Prometo».

    CAPÍTULO UM

    Wilhelmina Marks estava sentada na sala de estar de uma casa elegante em Park Lane, de frente para a exuberante vegetação de Hyde Park. O relógio na lareira marcava o compasso do tempo e indicava uma e meia da tarde. Tarde. Muito tarde, decidiu. Não era um bom sinal.

    O seu olhar percorreu a sala enquanto esperava. Tinha estudado arte o suficiente, durante sua notável educação na Darrow Scholl for Girls, para saber que estava, de facto, na presença de peças excelentes. Uma delas parecia ser um verdadeiro Ticiano. Se não fosse, certamente era uma cópia muito boa. Poderia muito bem estar a perder tempo, mas pelo menos tinha coisas impressionantes para ver. Desviou o olhar para o lado, tentando estudá-lo disfarçadamente. Estava tão concentrada na tarefa que, quando a porta se abriu e o seu possível empregador entrou, nem se apercebeu.

    É o quadro original. Ou, pelo menos foi o que me disseram. Se não, bem ... não foi a mim que enganaram. Terá sido ao meu bisavô e parece que não demos pela falta do dinheiro.

    Embora não tivesse sido muito pontual, Lord Devil possuía uma graça assaz felina, pensou Wilhelmina enquanto se levantava. Permitiu que os seus olhos passassem do Ticiano para o homem que acabara de entrar na sala. E não pela primeira vez, pensou que poderia ter cometido um erro terrível em ter ido àquela casa.

    O seu cabelo escuro estava despenteado. Na verdade, tudo nele estava desarranjado. Mesmo assim, deixou-a sem fôlego. O seu olhar foi atraído para a tonalidade escura da pele dele, bronzeada pelo sol, apesar da moda atual preferir uma tez mais pálida. Era uma prova, supôs, do prolongado exílio em locais mais exóticos. As roupas dele, apesar da aparência desarrumada, tinham sido irrepreensivelmente confecionadas e ajustavam-se ao corpo na perfeição. Talvez com demasiada perfeição, dada a forma como realçava a largura dos ombros e a larga extensão do seu peito, descendo para uma cintura e ancas magras. As coxas musculosas, sem dúvida um resultado direto dos seus aclamados dotes de cavaleiro, esticavam o tecido das calças escandalosamente justas.

    Encontrando a voz depois de se ter apercebido que tinha estado em silêncio demasiado tempo, Wilma disse: «Perdoai-me meu Lorde. Estava a admirar o quadro com tanta atenção que não o ouvi entrar. É uma obra de arte encantadora.»

    Ele olhou para ela por um instante, depois olhou para trás, o seu divertimento aparente. «Nunca tinha reparado. Esforçar-me-ei para ser mais atento».

    O seu tom era sedutor. Demasiado sedutor para um patrão e a futura precetora. Entre isso, a sua aparência e o seu atraso, não estava a correr nada bem. As primeiras impressões são extraordinariamente importantes e ele parecia inclinado a confirmar todos os negros boatos que se sussurravam sobre ele.

    «Diga-me, Miss Marks», continuou, «está preparada para trabalhar numa casa escandalosa?»

    Wilma não se deu ao trabalho de fingir ignorar o que ele queria dizer. Douglas Ashton, Lorde Deveril, mais conhecido como Devil, nos jornais de escândalos, era tema de intensas conversas e maior especulação por tais publicações. Parecia que não importava o que fazia, fosse mau, bom ou indiferente, as pessoas (e as matronas da sociedade em particular) estavam ávidas por discutirem interminavelmente o assunto.

    «O escândalo pouco me importa, meu Lorde», respondeu-lhe. Afinal, o seu próprio pai era suficientemente notório, mas ela não achou que fosse necessário mencioná-lo, por enquanto, se é que alguma vez o iria transmitir. Ele certamente não o diria. De qualquer forma o pai nunca fizera qualquer concessão para reconhecer a sua existência. Mesmo a sua inscrição na Darrow School tinha sido feita por Effie, não por ele. Apenas o tinha permitido para não ter de discutir acerca da sua existência. Pondo de lado os pensamentos angustiantes acerca do pai, disse: «Não me importo nada com as opiniões dos outros, apenas com as minhas. Preocupo-me, no entanto, com a moralidade».

    As sobrancelhas escuras dele levantaram-se imperiosamente e um sorriso frio assomou aos seus lábios bonitos. Se alguma vez houvera uma razão para não assumir a posição oferecida, aqui estava. Ele era demasiado bonito e seguro da sua própria beleza para a paz de espírito dela.

    «Essa é uma declaração ousada, Miss Marks. E qual é a sua opinião sobre mim? Serei o diabo que dizem que sou... ou talvez alguma coisa ainda pior?» o seu tom era de zombaria e, no entanto, havia nele uma nota que parecia sugerir que a opinião dela era, de alguma forma importante.

    Willa manteve um tom e expressão neutros. Fazia parte do seu treino, afinal de contas; manter-se imperturbável mesmo face a este tipo de ultraje. «Vós sois um homem, meu Lorde. Não um diabo. Independentemente da alcunha com que os coscuvilheiros vos tenham catalogado. Mas, digo-vos que tenho alguma apreensão quanto a esta posição. Tinha-as antes de vir para cá e permanecem... cada vez mais exacerbadas».

    Ele caminhou mais para dentro da sala, os seus largos ombros parecendo preencher todo o espaço. «Estou a ver, Miss Marks. Continue. Estou bastante fascinado. Até arriscaria dizer que estou absolutamente encantado».

    Se ele pensava que ela não lhe daria a sua opinião honesta, apesar da natureza do seu relacionamento, estava redondamente enganado. Willa era completamente honesta. «A sua reputação não se baseia meramente em mexericos infundados, meu Lorde. É um mulherengo, conhecido não só pela magnitude do seu deboche mas, também pela frequência e intensidade com que persegue esses propósitos. E pela bebida. E pelo jogo. E as lutas, duelos e corridas de cavalos e de faetontes, para cima e para baixo, em ruas pejadas de peões... todas estas coisas são prosseguidas com, arrisco-me mesmo a dizer, um entusiasmo sem precedentes». A última foi proferida num tom zombeteiro e carregado de reprovação.

    A sua expressão, antes divertida tinha-se fechado, tornando-se ilegível. «A senhora é inesperadamente cândida, Miss Marks... especialmente, para quem procura emprego».

    Estava bastante enganado quanto a isso. Ela não estava ali para ser entrevistada por ele para um emprego mas, para o entrevistar para saber se consentiria em trabalhar para ele. Afinal de contas, era formada pela Darrow School. «Vim aqui hoje, na esperança de ver algo em si que me fizesse questionar a veracidade de tudo o que ouvi. Mas, tal não aconteceu. Esperei durante vinte e cinco minutos depois da hora marcada. E, quando chegou...». Estendeu a mão gesticulando de alto abaixo, da cabeça aos pés dele, como se as palavras não fossem sequer necessárias.

    «Oh, não, Miss Marks. Não pare agora. A sua honestidade é... bem, refrescante não é a palavra correta. Mas é, pelo menos, única e acho-me, tudo menos aborrecido na sua presença».

    As sobrancelhas dela dispararam para o teto com o tom mordaz dele, por isso continuou. «Muito bem. As suas calças estão amarrotadas, as suas botas estão enlameadas. O casaco é o mesmo com que o vi ontem quando passei por esta casa para determinar exatamente que morada procurava, para não chegar atrasada. Concluindo, não se encontra apresentável para me receber e, isso diz muito acerca do seu carácter».

    «Há explicações perfeitamente razoáveis para tudo isto, Miss Marks» replicou em tom de mofa. «Certamente, não será tão rápida nos seus julgamentos».

    Wilhelmina sorriu friamente mas, quando falou houve uma certa acidez no seu tom. «Também há marcas de rouge no seu plastrão atado à pressa e consigo sentir o cheiro de brandy – e de perfume um pouco enjoativo –, de onde estou. Algumas coisas falam por si, meu Lorde. Agradeço-vos a oferta de emprego mas, devo respeitosamente declinar. Bom dia, meu Lorde.

    *

    Devil piscou os olhos, confuso com a mulher à sua frente. Teria mesmo recusado? Não, não tinha recusado. Porque ele ainda não lhe tinha oferecido a maldita posição. Quem diabo pensava ela que era?

    «Isso é um pouco prematuro, Miss Marks. Ainda não sabe se a quero contratar», desdenhou.

    Ela então riu-se, o som musical e titilante arrepiando-lhe os nervos, ao mesmo tempo que intensificava a dor de cabeça alimentada pelo brandy. Quando ela parou, os seus lábios ainda estremeciam de alegria e havia uma luz demasiado perversa para uma precetora, que brilhava nos seus lindos olhos verdes. «Claro que me quer contratar, Lorde Deveril. Sou graduada pela Darrow School. Não existem melhores precetoras em toda a Inglaterra. E não apenas isso, pois somos famosas por aceitarmos casos difíceis, crianças que, de outra, forma poderiam ser consideradas indomesticáveis. Pensou sinceramente que me estava a entrevistar, em vez do oposto? Meu Deus. Está fora de Inglaterra há bastante tempo».

    Devil observou-a enquanto ela reunia a sua pequena retícula e o xaile simples que tinha usado por cima do vestido sem graça. Ia-se embora deixando-o exatamente na situação em que tudo começara –, com uma criança aterrorizada que chorava descontroladamente se algum homem se atravesse a entrar no quarto onde se encontrava e que gritava e atirava coisas às criadas. Apenas a cozinheira, com as suas bochechas rechonchudas, caracóis prateados e bolos de limão, conseguia chegar perto da criança.

    Apesar da sua reputação, não tinha andado a divertir-se e a jogar como muitos pensavam. Tinha-se dedicado durante as últimas semanas a encontrar o homem responsável pela morte da irmã, o homem que a tinha deixado doente e sozinha naquele casebre, sem ninguém para cuidar da filha e sem um vintém sequer para comprar pão. Essa missão tinha-o levado, por necessidade, a alguns lugares dissolutos. Mas, parecia que Miss Marks já tinha formado uma opinião sobre isso e sobre ele.

    «A minha sobrinha é um caso particularmente desafiador, Miss Marks. Eu pensei que, antes de partir tão apressadamente iria, pelo menos querer conhecer a criança que poderia ser sua protegida». Gritou ele, desafiador.

    Ela voltou-se então para ele. «A sua sobrinha, Lorde Deveril, tem três anos, creio eu. Quão desafiante poderá ser?»

    Ela ficou intrigada, percebeu ele. Havia uma luz nos seus olhos que não existia antes e uma tensão que irradiava dela que lhe comunicava a verdade, independentemente do que ela dissesse. A ideia de Marina constituir um desafio despertou-lhe a curiosidade. «Muito, ao que parece. Mas, se sente que não está à altura...»

    «Estou mais do que à altura do desafio, Lorde Deveril», disse veementemente. «Não se engane pensando que as minhas razões para não assumir o cargo têm alguma coisa a ver com as minhas capacidades ou com os desafios particulares da sua jovem sobrinha».

    «Bem, então não há mal nenhum em conhecê-la, pois não?». Devil puxou a sineta e um lacaio entrou imediatamente. «Mande a cozinheira trazer a Marina para aqui».

    «Sim, meu Lorde», disse o lacaio fazendo uma vénia apressada e escapulindo-se da sala.

    Miss Marks olhava-o boquiaberta, de uma maneira muito parecida com a de um peixe e pouco atraente. É a cozinheira que cuida da criança?

    Ofendido com o tom dela, ele respondeu: «A minha cozinheira é a única de quem Marina não tem tanto medo, Miss Marks. É assim tão crítica com todas as suas acusações?»

    Com aquela pergunta um tanto provocadora, os lábios dela cerraram-se e, embora a sua expressão não fosse necessariamente deslumbrante, estava mortificada.

    Apesar de tudo, permaneceu lá, xaile e retícula nas mãos, obedientemente esperando para conhecer a criança.

    O silêncio constrangedor e totalmente miserável espalhou-se entre eles enquanto ela passava por ele para estudar mais uma vez uma pintura que ele estava a começar a desprezar cada vez mais. Passado um momento, enquanto ela olhava para Ticiano e ele para ela, ouviu uma batida suave na porta.

    «Perdoai-me Vossa Senhoria», ouviu-se a voz jovial e aguda da gorda cozinheira que o mimara desde criança. «Trouxe a pequena para conhecer a nova precetora!»

    «Entre, Sra. Farrelly», respondeu ele. «Embora a contratação de Miss Marks como precetora ainda não esteja decidida».

    A cozinheira caminhou pela sala de estar dentro com Marina na sua anca, o cabelo escuro da criança caindo numa cascata de caracóis selvagens sobre os seus ombros, o rosto firmemente escondido no amplo peito da mulher mais velha. Aos três anos de idade, Marina ainda não tinha dito uma palavra a Devil, a não ser para gritar se ele tentasse tocar nela. A Sra. Farrelly insistia que a criança conseguia falar, mas não o fazia frequentemente.

    «Marina, esta é Miss Marks», disse ele, como se a criança não o quisesse mandar para o diabo. «Ela pode ser a sua nova precetora... se achar que está à altura da tarefa». Olhou de relance para Miss Marks mas percebeu que, de momento, as suas alfinetadas não tinham nenhuma importância. A sua atenção estava concentrada apenas em Marina e, a Miss observava-a do seu poiso celestial ao colo da Sra. Farrelly. Pareciam dois tigres a tirarem as medidas um ao outro.

    «Olá Marina», disse Miss Marks.

    Marina, tipicamente, soltou um grito que quase o derrubou. Para seu horror, enquanto agarrava a cabeça e rezava para que a morte o levasse rapidamente, Miss Marks juntou-se a ela. Enquanto Marina gritava, Miss Marks gritava com ela. Após longos momentos de sofrimento, Marina parou abruptamente. Olhou para Miss Marks, não com o terror que normalmente reservava para os adultos mas, com curiosidade e alguma confusão.

    «Eu também consigo gritar», disse Miss Marks à criança, a voz um pouco áspera dos esforços vocais. «Mas, é terrivelmente alto e, no fim, fico com dores de garganta. Prefiro apenas dizer o que quero. O que queres, Marina?».

    «A mamã», disse a Miss e depois deixou-se cair mais uma vez de encontro ao peito da Sra. Farrelly. Lamentou-se novamente mas, já não gritava. Era muito pior. Soluçava como se estivesse de coração partido. E devia estar. A sua mãe tinha desaparecido e a morte era um conceito impossível de explicar a uma criança tão pequena».

    «Ai tendes Lorde Deveril». Ela não é impossível, de maneira nenhuma. Está de luto. Agora, se me dão licença, tenho de ir encontrar-me com amigas, para tomarmos chá. Tenha um bom dia», disse Miss Marks. «Adeus Marina».

    E a megera foi-se embora.

    CAPÍTULO DOIS

    Willa caminhou suavemente ignorando a ligeira picada das lágrimas, quando regressou a Darrow School. A criança estava a sofrer e não havia ninguém naquela casa que soubesse como ajudá-la. Mas, em nome da sua própria reputação, da sua sanidade e da sua virtude, não podia. Lorde Deveril não era homem de confiança e, entrar de boa fé em sua casa, para viver debaixo do mesmo teto, mesmo que fosse por causa daquela criança, acabaria com ela arruinada. Ela tinha-lhe dito que não se preocupava com as opiniões dos outros e, embora isso fosse certamente verdade atá certo ponto, preocupava-se com a sua reputação e com a sua empregabilidade. Afinal, tinha de o fazer. E os céus sabiam que ele constituía uma ameaça para ambos!

    Mesmo imundo, desmazelado, possivelmente ainda bêbado e completamente cheio de si próprio, o homem era mais bonito que o próprio Lúcifer. Não foi apenas o título de família que lhe valeu a alcunha de Devil. Poderia facilmente ter sido um anjo caído, com o seu cabelo espesso, negro de carvão e pestanas pecaminosamente longas. Tentou recordar o que sabia sobre a família. Houve um escândalo sobre o avô, por ter casado com uma rapariga cigana. O seu contributo para a geração atual podia observar-se claramente na beleza exótica dele.

    Marina era a viva imagem do tio, se de facto, ele fosse seu tio. Na sociedade abundavam os rumores de que ela era uma das muitas crianças bastardas de que ele era pai. Embora Willa supusesse que, se de facto Devil fosse realmente o pai da criança, simplesmente tê-lo-ia dito. Ele era infame por dizer sempre a verdade, por mais condenável que fosse,

    «Para de pensar sobre isso. Nem sobre ele. Nem sobre ela. Não se pode salvar todas as crianças e, certamente não se pode salvar uma que vive debaixo do mesmo teto que um velhaco notório que a seduziria p0or mero capricho!» As palavras mal foram murmuradas mas, aparentemente, falar consigo própria fora de Hyde Park ainda era uma gafe, como evidenciado pelos olhares desconfiados de outros peões.

    Respirando fundo para se acalmar, Willa optou por tirar da mente Lorde Deveril e a sua bela mas muito perturbada jovem sobrinha. Regressaria a Darrow School, tomaria chá com Effie e escreveria uma carta a Lillian, para os ermos selvagens da Escócia e não dedicaria mais nenhum pensamento à questão.

    Marchando pela rua, com passos decididos e talvez um pouco entusiásticos demais para uma verdadeira senhora, chegou à Darrow School em Cavendish Place em tempo recorde. Era uma morada chique para uma escola só para raparigas, especialmente uma que educava e preparava raparigas como ela. Bastardas.

    Era uma palavra feia mas ela tinha-a ouvido com demasiada frequência enquanto crescia. Quando esteve em Millstead Abbey School,

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