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Utopia, ética, religião: A construção de um novo mundo
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Utopia, ética, religião: A construção de um novo mundo
E-book193 páginas2 horas

Utopia, ética, religião: A construção de um novo mundo

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Sobre este e-book

O livro Utopia, ética, religião tem como objetivo provocar respostas concretas ao agravamento socioambiental promovido pelas recentes investidas do pensamento hegemônico. Seu fio condutor é a reflexão sobre a importância do pensar utópico como resposta transformadora na superação da atual crise socioambiental e como esse pensar dialoga com as espiritualidades.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de dez. de 2021
ISBN9788528306460
Utopia, ética, religião: A construção de um novo mundo

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    Pré-visualização do livro

    Utopia, ética, religião - EDUC – Editora da PUC-SP

    Capa do livro

    PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    Reitora: Maria Amalia Pie Abib Andery

    EDITORA DA PUC-SP

    Direção: José Luiz Goldfarb

    Conselho Editorial

    Maria Amalia Pie Abib Andery (Presidente)

    Ana Mercês Bahia Bock

    Claudia Maria Costin

    José Luiz Goldfarb

    José Rodolpho Perazzolo

    Marcelo Perine

    Maria Carmelita Yazbek

    Maria Lucia Santaella Braga

    Matthias Grenzer

    Oswaldo Henrique Duek Marques

    Frontispício

    © Arlindo M. Esteves Rodrigues, Luiz Eduardo W. Wanderley. Foi feito o depósito legal.

    Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP

    Utopia, ética, religião : a construção de um novo mundo / orgs. Arlindo M. Esteves Rodrigues, Luiz Eduardo W. Wanderley. - São Paulo : EDUC, 2019.

        1. Recurso on-line: ePub

    Disponível no formato impresso: Utopia, ética, religião : a construção de um novo mundo / orgs. Arlindo M. Esteves Rodrigues, Luiz Eduardo W. Wanderley. - São Paulo : EDUC, 2019. ISBN 978-85-283-0629-3.

    Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.

    Acesso restrito: http://pucsp.br/educ

        ISBN 978-85-283-0646-0

       1. Utopias. 2. Religiões. 3. Ética política. 4. Religião e sociologia. I. Rodrigues, Arlindo Manuel Esteves.II. Wanderley, Luiz Eduardo Waldemarim.

    CDD 321.07

    291

    306.6

    172.1

    EDUC – Editora da PUC-SP

    Direção

    José Luiz Goldfarb

    Produção Editorial

    Sonia Montone

    Revisão

    Cemear Produções Artísticas

    Editoração Eletrônica

    Gabriel Moraes

    Waldir Alves

    Capa

    Waldir Alves

    Administração e Vendas

    Ronaldo Decicino

    Produção do ebook

    Waldir Alves

    Revisão técnica do ebook

    Gabriel Moraes

    Rua Monte Alegre, 984 – sala S16

    CEP 05014-901 – São Paulo – SP

    Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558

    E-mail: educ@pucsp.br – Site: www.pucsp.br/educ

    Prefácio

    Luiz Eduardo W. Wanderley

    O tema utopia é enriquecedor, com larga ressonância na história da humanidade. Pessoas diversas, intelectuais, cientistas, escritores, individualmente, ou participando de grupos, classes, movimentos, sindicatos, partidos, governos, trouxeram contribuições teóricas e práticas relevantes sobre o seu sentido e aplicação concreta na realidade.

    Entre as diversas significações, ela comparece como fantasia, quimera, projeto cuja realização é impossível, mera imaginação. Costuma ser aplicada, também, como ideal, a visão de uma sociedade mais perfeita, faz parte de todas as crenças religiosas, teorias morais e legais, sistema de educação, criações poéticas, em uma palavra, de todo conhecimento e obra que visa oferecer modelos para a vida humana (Rudzki, 1963, p. 226).

    Em outra concepção, ela comparece como escolha, experimento, alternativa, alguma opção a fazer. Um autor, que faz um histórico sobre as utopias, diz que ela se refere à totalidade da ordem humana... não pensa simplesmente na transformação das relações sociais, mas na transformação de relações más em boas... Acredita que a humanidade pode recomeçar tudo desde o começo. Não se interessa pelo melhor, pergunta sempre pelo bom(Szachi, 1972, p. 13).

    Szachi apresenta uma classificação da diversidade das utopias: escapistas e heroicas; de tempo; de lugar; de ordem eterna; monásticas; negativas; da política. Para ele, sem utopia, não há progresso, movimento, ação. Em outro momento, ele aduz que a utopia é uma antecipação. Há séculos que o homem se acha obcecado por dois grandes sonhos: o sonho de começar de novo sua vida social e de romper com tudo aquilo que foi e é; o sonho da felicidade colhida sem esforço na realidade dada. Os homens sonharam com asas, os homens sonharam com raízes, às vezes os mesmos homens tiveram os dois sonhos, embora em situações de períodos diversos de sua vida" (ibid., p. xxxvi).

    Kant escreveu que [...] qual possa ser o grau mais elevado no qual a humanidade tenha de parar, e quão grande possa ser o abismo que ainda necessariamente venha separar a ideia e a sua realização, são perguntas que ninguém é capaz ou deve, responder. Porque a questão depende da liberdade, e a liberdade é justamente aquilo que é capaz de ultrapassar todo e cada limite dado (Kant, 1965, p. 312).

    Considerando os processos de globalização hegemônica mundial, hoje dominante, tais como domínio do mercado, do capital financeiro, das empresas multinacionais, inovações tecnológicas, instituições influentes Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Fundo Monetário Internacional, Acordo Multilateral de Investimento, encontros em Davos, eles geram crises estruturais e parciais em todos os continentes, e basicamente nos chamados países emergentes. Nesse contexto, as utopias irrompem como alternativas necessárias.

    Num outro sentido, irrompe a globalização contra-hegemônica, ou uma outra globalização, com propostas de especialistas importantes na esfera da ciência e de práticas concretas, com sugestões utópicas, e a atuação valiosa de movimentos sociais de mulheres, negros, indígenas, ecológicos, direitos humanos, em paralelo a ONGs, conselhos, associações, grupos políticos, propondo uma governança regional e global, nova cidadania, uma democratização de visibilidade social, controle social, cultura política.

    Uma proposta ampla surgiu com o Fórum Social Mundial, espaço aberto de encontro, espaço de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo e inúmeras propostas locais, nacionais, regionais. Por exemplo, Coordenadora das Centrais Sindicais do Mercosul, Fórum e Declaração Sociolaboral, Protocolo de Integração Cultural; no âmbito brasileiro, a Câmara Regional de Desenvolvimento do Grande ABC, o Grito dos Excluídos, a Central Única dos Trabalhadores, o Movimento dos Sem Terra, o Movimento dos Sem Teto, entre outros. Nesse sentido, o presente livro aponta ideias, sugestões, com o foco na realidade latino-americana e brasileira, centradas nas parcerias e antagonismos entre a sociedade política e a sociedade civil.

    Um ângulo aqui selecionado foi o da religião. Tanto no passado longínquo, no cristianismo, no protestantismo, e em outras religiões em curso em diversos países, predominaram muitas vezes, conflitos enormes. Por uma face, irromperam os ortodoxos, os fundamentalistas, os conservadores radicais. Apesar de algumas contradições e desvios, não raro eles apoiam a globalização hegemônica. Por outra face, setores progressistas apoiam o Estado laico, o diálogo entre secularização e religiosidade, com interrogações e ideias brilhantes como no Concílio Vaticano II, dando sustentáculo à globalização contra-hegemônica.

    Nessa perspectiva, segmentos expressivos têm sugerido e realizado opções inovadoras, ora em defesa da modernidade, ora criticando-a, alguns apoiando a pós-modernidade. No continente latino-americano, irromperam projetos e realizações utópicos, apoios ao inédito viável (Paulo Freire), ações em andamento como o ecumenismo (Departamento Ecuménico de Investigaciones – DEI), as libertações (teologia da libertação), novas pastorais sociais (Comissão Pastoral da Terra), as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, a defesa dos pobres e seu protagonismo.

    O presente livro traz contribuições que colaboram na construção de um outro mundo mais humano, justo, livre, igualitário. As redações dos capítulos foram provenientes de autores com experiências diversas e inovadoras.

    Referências

    Kant, I. (1965). Crítica da Razão Pura. New York, St. Martin’s Press.

    Rudzki, J. (1963). Swietochoski. Varsóvia, WP.

    Szachi, J. (1972). As utopias ou a felicidade imaginada. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

    Apresentação

    Arlindo M. Esteves Rodrigues

    A sociedade vive uma grave crise socioambiental. Seja pelos ataques aos direitos sociais conquistados, seja pelas alterações climáticas, hídricas e fertilidade do solo. Mudanças essas que colocam em risco a possibilidade de a Terra proporcionar condições de sustentar a vida, principalmente a humana.

    O resultado social dessa crise é o aumento dramático de concentração de renda e poder nas mãos de uma minoria. A Oxfam, uma importante organização não governamental, confirma esse resultado em seus relatórios: 1% da população detém mais que 50% da riqueza mundial, um cenário ainda mais pessimista do que aquele apontado por Ladislau Dowbor e Carlos Lopes, quando pautaram na obra Crises e Oportunidades que estamos destruindo o planeta, para o proveito de um terço da população mundial.

    Para Manfredo Oliveira, essa concentração é consequência de uma sociedade cuja economia e administração tomaram o lugar da religião, como princípio organizador da vida social. Nessa dinâmica, o Capital assumiu o papel de condutor das decisões, sempre buscando sua expansão com políticas de diminuição dos custos, desregulação do mercado trabalhista e flexibilização das leis ambientais.

    Mesmo o Estado teve a sua capacidade de regulação reduzida drasticamente, pois o Capital, representado pelas transnacionais, tem mobilidade global, para além dos estados nacionais.

    A sociedade desse domínio é paradoxa, pois, mesmo produzindo, somente em grãos, um quilo por pessoa por dia, há 800 milhões de pessoas passando fome.

    Ladislau Dowbor nos alerta para outra contradição: a concentração de renda. É gerado, por ano, um total de 70 trilhões de dólares, montante do PIB mundial. Esse montante, dividido de uma forma justa, proporcionaria uma renda de 7 mil reais para cada família de quatro pessoas. Situação bem diferente dos números apontados pelos relatórios da Oxfam.

    O cenário de injustiça tem se agravado com a preponderância do setor financeiro. O reino do capital produtivo se metamorfoseou em capital rentista, o Deus dinheiro se libertou da dependência do trabalhador para se multiplicar.

    O consumo de mercadorias perdeu sua influência nas decisões econômicas, pois o dinheiro armazenado em contas bancárias gera rendimentos sem passar pelo ciclo investimento-produção-venda de produtos.

    O capital aprendeu que escondido em paraísos fiscais, gera dividendos sem a preocupação de contribuição social, libertos do pagamento de impostos. Certamente, foi esse o atrativo que levou um terço da riqueza mundial a estar aprisionado em paraísos fiscais, gerando rendimento totalmente improdutivo socialmente.

    O Brasil ilustra o domínio da lógica rentista. Em 2017, mesmo com a situação econômica crítica, apenas três dos maiores bancos privados brasileiros, Itaú, Bradesco e Santander, tiveram crescimento de 15%, confiscando R$ 53,8 bilhões dos R$ 6,51 trilhões produzidos no país, projeção do PIB de 2017 pela FGV em fevereiro de 2018. Apenas três instituições se apropriaram de 1% de toda riqueza nacional.

    Mesmo a produção de alimentos não consegue fugir do rentismo. Para o capital financeiro, esses são commodities e sua importância seduz os grandes grupos. Por isso, esse mercado é controlado por apenas 16 conglomerados. Esse seleto grupo mundial domina o volume de derivativos de 500 trilhões de dólares, bem superior aos 70 bilhões de dólares produzidos em bens e serviços no mundo.

    Outra lógica de civilização está sendo produzida. Isso se dá a partir do domínio do capital financeiro associado à crescente automação e à presença da inteligência artificial em processos produtivos e nas soluções de problemas socioambientais.

    Uma hipótese para essa nova civilização está descrita pelo historiador israelense Yuval Noah Harari no artigo The meaning of life in a world without work. Nele, Harari afirma que até 2050 surgirá uma nova classe social: os inúteis, pessoas não apenas desempregadas, mas desempregáveis. Para não enlouqueceram e obterem sentido na vida, irão se refugiar em ambientes virtuais. O autor sugere a transposição da vida real para jogos virtuais religiosos ou de consumo.

    Essa distopia de Harari é um dos futuros possíveis, porém as condições econômicas e sociais para a fuga descrita não estarão disponíveis para as camadas sociais mais pobres, principalmente nos países não desenvolvidos. Assim, as consequências sociais dessa distopia levarão a sociedade à barbárie.

    Ao mesmo tempo em que há um ataque à construção de uma sociedade que proporcione uma vida digna para todas as famílias, esse modelo de civilização degrada a base que sustenta a vida na Terra, a Natureza. A qual, para o Capital, está reduzida a seu papel de insumo, recurso natural, e que deve ser esgotada para maximizar o retorno do investimento na sua captura nas reservas naturais.

    A falta de compromisso desse processo com a perenidade ambiental deixa para trás um rastro de destruição, desertificação, solos inférteis e extinção das espécies. A chegada da fase de extinção em massa tem sido alertada pelos números e tabelas dos relatórios da WWF – World Wide Fund for Nature.

    A associação do desmatamento resultante desse rastro com a dependência de combustíveis fósseis no atual modelo econômico está provocando as mudanças climáticas. A crise ambiental provocada por esse novo estado climático aumenta o processo de desertificação, reduz a fertilidade dos solos e quebra o ciclo hídrico, isto é, elimina-se a capacidade do planeta suportar vida, inclusive a humana. Esse risco, já elaborado no primeiro parágrafo, torna a transformação socioambiental urgente e fundamental.

    A elite dominante busca impor a percepção de que essa crise é temporária, a concentração da riqueza é fruto do merecimento de uma minoria privilegiada e a tecnologia resolverá todos os problemas gerados pelas crises socioambientais.

    Nesse processo, o principal argumento hegemônico é de que não há alternativa e de que chegamos ao fim da história. Nesse contexto ideológico, a palavra utopia é definida como fantasia, sonho inalcançável, delírio, entre outros significados que, no fundo, estimulam um comportamento conformista. Essa opção ideológica reforça a resignação da imobilidade social construída pelo pensamento hegemônico, pois, para essa ideologia, não há como abrir cadeado da gaiola de ferro do capitalismo.

    Contudo, há outra definição ideológica da palavra utopia. No caso, ela está associada à indignação e à esperança de transformações. Nesse cenário, utopia significa o farol que ilumina a sociedade em busca de seus sonhos. Como, também, a construção da sociedade desejada, como nos ensinou Paulo Freire, menos malvada. Assim a mão única difundida pelo pensamento hegemônico ganha alternativas, surgem bifurcações possíveis.

    Esta coletânea nasceu, incialmente, para celebrar os 500 anos do livro Utopia de Thomas More. Evoluiu, então, para esta publicação cujo objetivo é provocar respostas concretas ao agravamento socioambiental promovido pelas recentes investidas do pensamento hegemônico.

    Seu fio condutor é a reflexão sobre a importância do pensar utópico como resposta transformadora na superação da atual crise socioambiental e como esse pensar dialoga com as espiritualidades.

    A espiritualidade nos ajuda a quebrar o ciclo de destruição quando nos ensina olhar os demais seres desse pequeno planeta com compaixão, resgatando o seu sagrado. Nesse sentido, resgatar a espiritualidade das culturas tradicionais e dos nossos ancestrais é importante na construção daquele farol que sinaliza a sociedade desejada, justa, ecológica e solidária. Essa é a contribuição proposta por esta obra, apresentar um

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