Cafetinagem acadêmica, assédio moral e autoetnografia
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Sobre este e-book
Desejo que a universidade seja um lugar que contribua com os sonhos das pessoas. Que incentive as potencialidades e que seja construída com dedicação, brilho nos olhos e, principalmente, com alegria! Que tenha relações com mais autonomia, liberdade e respeito. Para que seja possível construir uma sociedade com mais igualdade e justiça social para todos, e não apenas alguns.
Este livro é para pessoas que estão abertas a desnaturalizar o cotidiano acadêmico e suas relações. Sem idolatrias.
Nesta obra escrevo cenas e histórias para quebrar silêncios sobre as relações acadêmicas e assuntos relacionados a elas que muitos conhecem e vivem, mas pouquíssimos parecem querer discutir abertamente.
O objetivo desta obra é problematizar e desnaturalizar as relações acadêmicas, utilizando dois conceitos como ferramentas para esta aventura: cafetinagem acadêmica - enquanto face sedutora soft - e assédio moral - enquanto face violenta explícita.
Com a autoetnografia enquanto método, esses conceitos são utilizados para analisar diversas cenas acadêmicas, com inspiração provavelmente fictícia e verossímil, e situações que se passam em um universo paralelo, muito distante do que vivemos nas universidades públicas brasileiras. Qualquer semelhança com a realidade deve ser mera coincidência.
Precisamos discutir mais sobre o que produzimos e estimulamos nas relações acadêmicas, no que naturalizamos e aceitamos, no que se passa nos bastidores das universidades. Só assim poderemos eventualmente construir formas diferentes de viver, trabalhar e nos relacionarmos, na Academia e fora dela.
Como é possível desnaturalizar o que está posto? Fazer diferente? Queremos isso?
É possível construir pequenas mudanças e instaurarmos pequenas rupturas, interrupções e brechas a partir de nossas atitudes, inclusive, ao dizer não para determinadas coisas, bem como propor e construir alternativas e caminhos distintos. Desde que se deseje isso e que se esteja disposto a arcar com as consequências e responsabilidades. Construir novos caminhos não é o tipo de coisa que acontece. É preciso fazer acontecer, se esforçar para fazer acontecer.
Para construir trajetórias autônomas, inovadoras, diferentes das mais tradicionais e naturalizadas, temos que lidar com vaidades feridas e, muitas vezes, virarmos "lobos acadêmicos solitários" ou quase solitários.
A universidade somos nós! Instituições e organizações são feitas de pessoas. A universidade é, assim como qualquer outra organização, uma arena de disputas, contradições, batalhas, alegrias, tristezas, sonhos, decepções, inovações, valores e interesses diferentes sendo confrontados a todo momento.
Como podemos estimular a alegria a partir das nossas relações na Academia? O que podemos fazer de diferente para tornar a universidade um lugar de mais alegria, potência, invenção, igualdade, autonomia, onde as pessoas tenham vontade de construir e buscar sonhos? Os desafios estão postos.
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Cafetinagem acadêmica, assédio moral e autoetnografia - Igor Vinicius Lima Valentim
Cafetinagem
Acadêmica
Assédio moral e autoetnografia
Igor Vinicius Lima Valentim
Compassos Coletivos
2022
Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do Projeto UIDB/04521/2020 (Portugal).
Este trabalho foi realizado com apoio da FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, com Bolsa de Bancada para Projetos, no âmbito do Programa Jovem Cientista do Nosso Estado E-26/201.356/2021 (Brasil).
ComPassos Coletivos
livros@compassoscoletivos.com.br
Rio de Janeiro | Brasil
Conselho Editorial
Profª. Drª. Alexandra Jochims Kruel (Brasil)
Profª. Drª. Daniele Maria Oliveira de Jesus (Australia)
Prof. Dr. Igor Vinicius Lima Valentim (Brasil)
Prof. Dr. José Maria Carvalho Ferreira (Portugal)
Prof. Dr. Paulo Roberto da Silva (Brasil)
Prof. Dr. Ricardo Luiz Pereira Bueno (Brasil)
Profª. Drª. Simone Torres Evangelista (Brasil)
Primeira edição: fevereiro de 2022
Capa: @o autor
Trechos deste livro podem ser reproduzidos, desde que seja citada a fonte e que isso aconteça sem finalidade comercial e/ou lucrativa. Para a reprodução do livro completo é necessária a autorização da editora.
Para citar este livro (ABNT):
VALENTIM, Igor Vinicius Lima. Cafetinagem Acadêmica, Assédio Moral e Autoetnografia. [Edição eletrônica] Rio de Janeiro: Compassos Coletivos, 2022.
Catalogação na Publicação (CIP)
V155c
Valentim, Igor Vinicius Lima
Cafetinagem acadêmica, assédio moral e autoetnografia / Igor Vinicius Lima Valentim. - Rio de Janeiro: ComPassos Coletivos, 2022.
Inclui referências.
ISBN (edição e-book EPUB): 978-65-991339-5-4
ISBN (edição papel): 978-65-991339-6-1
1. Educação Superior 2. Universidade 3. Pesquisa Qualitativa 4. Estudos Organizacionais 5. Sociologia I. Título.
CDU 378.4
Para Elza e Genaro,
minhas eternas referências
Sumário
Título
Financiamento
Conselho Editorial
Dedicatória
Sobre a (des)organização deste livro
Academia careta
Este texto não nasceu em forma de livro
Autoetnografia
Cafetinagem Acadêmica
Implicações de uma academia cafetinada
Como não assinar embaixo da cafetinagem acadêmica
Cenas Universitárias
O início como professor efetivo em universidades públicas brasileiras
O início na UNIV
Se fosse um quartel, você estaria preso!
Se você não está comigo, você está contra mim!
Três alocações diferentes de disciplinas no mesmo semestre acadêmico!
De volta ao choque
O corpo fala, sente, transborda
Entre a cafetinagem acadêmica e o assédio moral
Considerações no espelho
Referências
Sobre o autor
Sobre a (des)organização deste livro
Este livro é para pessoas que estão abertas a desnaturalizar o cotidiano acadêmico e suas relações. Sem idolatrias.
Nesta obra escrevo cenas e histórias para quebrar silêncios
¹ a respeito das relações acadêmicas e de assuntos relacionados a elas que muitos conhecem e vivem, mas que pouquíssimos parecem querer discutir abertamente.
Construí diferentes capítulos para que os leitores e as leitoras possam lê-los em qualquer ordem que desejarem, ou mesmo separadamente.
Dito de maneira resumida, o objetivo desta obra é problematizar e desnaturalizar as relações acadêmicas, utilizando dois conceitos como ferramentas para esta aventura: cafetinagem acadêmica e assédio moral.
Em "Academia Careta", construo o que pode ser considerada ao mesmo tempo uma apresentação do livro e uma leitura crítica a respeito da Academia nos tempos atuais, em pleno século 21. Explico um pouco do que me motivou a construir essa obra e, também, de como o material, que agora se apresenta em forma de livro, foi construído desde seus momentos iniciais.
O capítulo "Autoetnografia" é dedicado a dialogar com o método utilizado para a investigação e construção desta obra. Trago alguns de seus pressupostos e aprofundo algumas de suas características, em articulação com o conteúdo específico deste livro.
O conceito de "Cafetinagem Acadêmica" é desenvolvido e detalhado no capítulo de mesmo nome. Este conceito foi introduzido em artigo anterior² e é aqui problematizado e abordado com mais calma, tempo e riqueza de exemplos.
"Cenas Universitárias" tem inspiração provavelmente fictícia e verossímil, com situações que se passam em um universo paralelo, muito distante do que vivemos nas universidades públicas brasileiras. São estabelecidas pontes com o assédio moral. Qualquer semelhança com a realidade deve ser encarada como provável coincidência.
Já "Entre a cafetinagem acadêmica e o assédio moral" usa uma lupa para discutir aspectos da vida acadêmica com o auxílio destes dois conceitos: assédio moral - enquanto face violenta explícita - e cafetinagem acadêmica - enquanto face sedutora soft.
Por fim, nas "Considerações no espelho", discuto a importância da construção de estratégias, propostas e ações para enfrentarmos os desafios vividos na Academia em prol de mundos mais igualitários, justos, saudáveis e alegres.
¹ Adams, Holman Jones e Ellis (2015, p. 103).
² Valentim (2016).
Academia Careta
A Academia é, em geral, careta e conservadora. Muito conservadora. No Brasil e ao redor do mundo. A cada dia me vejo mais convencido de que ela é um reflexo da sociedade que diariamente construímos com nossos valores, crenças e, principalmente, com nossas atitudes.
Toda generalização é imprecisa. Não estou falando de/por todos os integrantes das universidades públicas brasileiras. Não escrevo a respeito de todas e nem de alguma específica. Não tenho pretensão de ser dono da verdade
, única, que valha para todos¹, e muito menos com a qual todos se sintam representados.
Não acredito em verdades absolutas, imutáveis, e menos ainda em uma verdade única, na verdade
. O que faço neste livro, com a ajuda do método autoetnográfico, é refletir a respeito de contextos educacionais universitários e acadêmicos mais amplos a partir do que me afeta, do que vivo, sinto, ouço, vejo e reflito.
O conservadorismo no cotidiano acadêmico se mostra em diferentes aspectos e seria impossível esgotar todos aqui. Mas algumas das suas manifestações, que dialogam com este livro, são relacionadas às relações interpessoais estabelecidas, temáticas trabalhadas, métodos usados, prestígio e poder. E todas essas manifestações se interligam e se retroalimentam.
Com relação às temáticas é, muitas vezes, difícil perceber uma abertura da Academia ao novo. Quem busca estudar ou pesquisar assuntos novos, diferentes, enfrentará em muitos casos severas dificuldades. Seja aluno, professor, ou o que for. Buscar o novo e o diferente traz sempre dificuldades e desafios, em qualquer área da vida. E, no caso do mundo acadêmico, isso é muito presente, pois é sinônimo