Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas
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— José Maurício Arruti, na orelha
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Devir quilomba - Mariléa de Almeida
1
Encruzilhadas teóricas
Exu tava curiando na encruza,
Quando a banda linda lhe chamou.
Exu no terreiro é rei,
Na encruza ele é doutor.
— Ponto de umbanda
Este capítulo percorre as abordagens teóricas propostas pelos feminismos e pela filosofia da diferença, inspiradores das análises e criações conceituais realizadas ao longo dos próximos capítulos.
A fim de ressaltar as convergências entre esses campos teóricos, a imagem da encruzilhada evoca significados atribuídos pelas práticas religiosas afro-brasileiras, que a concebem como lugar de intersecções e multiplicidade, distanciando-se, portanto, das formas binárias de pensar os processos históricos. Nesse sentido, são valiosas as análises de Leda Maria Martins (1997, p. 26), pesquisadora das congadas em Minas Gerais, ao considerar que a cultura negra é uma cultura das encruzilhadas
, espaço onde reina Exu Elegbara, orixá que é senhor das portas, encruzilhadas e fronteiras:
A encruzilhada, locus tangencial, é aqui assinalada como instância simbólica e metonímica, da qual se processam vias diversas de elaborações discursivas, motivadas pelos próprios discursos que a coabitam. […] Operadora de linguagens e de discursos, a encruzilhada, como um lugar terceiro, é geratriz de produção sígnica diversificada e, portanto, de sentidos. (Martins, 1997, p. 28)
À luz dos sentidos sugeridos pela encruzilhada, explicitam-se as consonâncias entre a filosofia da diferença e os feminismos, especialmente no que diz respeito às críticas que realizaram à concepção masculinista, branca e heteronormativa de sujeito universal e racional, valorizado pelo Iluminismo e cujas formulações ainda ressoam na contemporaneidade.
No âmbito da filosofia da diferença, autores como Foucault, Deleuze e Félix Guattari, cujos enfoques balizam diversas análises deste trabalho, têm destacado o caráter contingente do conhecimento, indicando que o discurso científico não reflete a realidade, mas, ao contrário, institui o próprio real por meio de um conjunto de regras e relações de poder.¹⁷ De igual modo, suas narrativas destacaram a importância de levarmos em consideração como o desejo, os afetos e o corpo influem tanto na produção de conhecimento como nas práticas políticas. Na medida em que criticam a ideia de identidade, concebida em termos de essência e fechamento, as linhas da filosofia da diferença procuram evidenciar multiplicidades. Assim, a noção de diferença ganha centralidade, conforme apontou a historiadora feminista Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, para quem
pensar em diferença, dentro do pós-estruturalismo, é entender a diferença em sua positividade, e não como reflexo do eu ou do mesmo, não como referente ao outro. Diferença como singularidade, livre da representação […]. Falar em diferença é questionar o sentido único, logo é abrir-se a múltiplas interpretações e sentidos. (Murgel, 2010, p. 19)
Preocupações semelhantes têm sido explicitadas pelas teorizações feministas, já que o paradigma do sujeito universal exclui as mulheres, associando-as às emoções, à natureza e ao corpo, considerados atributos menores em comparação com a razão, a cultura e a mente, atributos masculinos.¹⁸ Conforme apontou Rago (1998, p. 24-5), as epistemologias feministas, compreendidas como campos conceituais por meio dos quais operamos na produção de conhecimento, têm realizado críticas radicais sobre o caráter particularista, ideológico, racista e sexista do paradigma epistemológico dominante nas ciências humanas, tributário do Iluminismo. Nessa perspectiva, destacam-se as teorizações interseccionais,¹⁹ discutidas pelos feminismos negros, latinos e indígenas, cujas preocupações em articular as múltiplas dimensões da experiência humana tanto evidenciam as relações de poder que sustentam as subordinações construídas sob hierarquias de classe, raça e gênero, entre outras, como tornam visíveis as múltiplas possibilidades de singularização. Essas análises também têm colaborado para a ampliação dos sujeitos dos feminismos.
Valendo-se das intersecções, das porteiras e das fronteiras, este capítulo descreverá as bifurcações teóricas que trataram das relações entre espaço, afeto, subjetividade e política, inspiradoras das análises em torno dos territórios dos afetos. Seguiremos pelas encruzilhadas: apresentação do acontecimento, ou seja, a visibilidade das mulheres quilombolas na cena política contemporânea, e as linhas analíticas propostas pelos feminismos e pela filosofia da diferença sobre as dimensões de história e experiência, espaço e subjetivação, governo, racismo e