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Mágoas
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E-book109 páginas1 hora

Mágoas

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Sobre este e-book

Magoas chegou a ser criado como conto, mas a cada nova ideia de história, batia a vontade de voltar a essas páginas. Aí vieram muitas revisões e a expansão para chegar nesse livro que está em suas mãos.
Nessa trama somos direcionados pela visão e reflexões do protagonista Adam, diante de uma situação dolorosa com o pai. No decorrer da leitura, nós vamos aprendendo que toda história pode ter dois lados, que toda narrativa pode ter diferentes significados e que consequências de pequenos atos podem gerar uma mágoa difícil de cicatrizar mesmo com o passar do tempo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mai. de 2022
ISBN9781005294144
Mágoas

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    Mágoas - Fernando de Matos e Silva

    Prefácio

    Após escrever vários contos que foram compilados em Relatos, nasceu um ímpeto em continuar a criar mais contos dentro de um universo compartilhado, mas no meio do processo o autor se viu preso em uma de suas próprias histórias.

    Magoas chegou a ser criado como conto, mas a cada nova ideia de história, batia a vontade de voltar a essas páginas. Aí vieram muitas revisões e a expansão para chegar nesse livro que está em suas mãos.

    Nessa trama somos direcionados pela visão e reflexões do protagonista Adam, diante de uma situação dolorosa com o pai. No decorrer da leitura, nós vamos aprendendo que toda história pode ter dois lados, que toda narrativa pode ter diferentes significados e que consequências de pequenos atos podem gerar uma mágoa difícil de cicatrizar mesmo com o passar do tempo.

    Espero que o leitor consiga embarcar no âmago dos sentimentos dos personagens assim como eu embarquei enquanto Fernando me mostrava seus primeiros esboços de ‘Mágoas’.

    Boa Leitura.

    Ass. André Rosa.

    Capítulo 1

    ‘Filho... Sei que talvez você não queira me ver por tudo o que aconteceu anos atrás quando você era mais jovem. Sei que talvez você tenha demorado para decidir se abriria ou não a carta depois de ver que eu era o remetente. Talvez essas palavras não sejam o suficiente para te fazer mudar de ideia e vir me ver, mas por favor pense a respeito. De forma alguma eu quero que pense que estou fazendo isso com o intuito de me desculpar por todos os anos horríveis que te fiz passar. Eu reconheço meus erros e sei que um tempo com você não vai apagar as coisas horríveis que cometi. Se puder vir, traga fotos de meus netos. Faz muitos anos que não tenho notícias deles. Já devem estar enormes... Bom filho... Estou te aguardando, mesmo sabendo que você pode decidir não vir. Acho que ainda deve se lembrar de onde eu moro. Abraços de seu pai.’

    Eu só podia sentir desgosto ao terminar de ler a carta. Como depois de todos esses anos ele tem coragem de continuar mandando isso pra mim?

    - Amor? Terminou de ler? – Perguntou minha esposa Suzi.

    Ela me olhava atentamente como se soubesse que eu mentiria a respeito da carta. Naquela situação seria difícil me esquivar dela.

    - Não era nada importante querida. – Respondi secamente. Claro que ela percebeu que era algo importante quase de imediato. Ela sabia bem como ler minhas reações.

    - Era seu pai né? – Questionou.

    Ela me conhecia ao ponto de, pelo meu semblante, já saber quem era o remetente da carta.

    - Sim... Era o Bill. – Eu já o chamava pelo nome há tantos anos que nem conseguia me lembrar de quando foi que parei de chama-lo de ‘pai’.

    - Eu acho que você deveria ir – Então ela havia lido a carta.

    - Sabe o que acho disso né? – E como ela sabia...

    Não era a primeira carta que Bill me enviava. A cada três meses chegava uma nova. Já era assim há mais de três anos. Ainda me lembro da primeira carta que Bill tinha me enviado. Dizia basicamente a mesma coisa desta última, mas em outras palavras. A minha reação à primeira carta havia sido tão abrupta que simplesmente a amassei e joguei no lixo antes que minha esposa tivesse a chance de perguntar o que era. Ainda consigo explicar o que havia sentido naquele dia. A sensação era de que eu tinha levado um soco no estômago. Depois de tudo o que aconteceu no passado, saber que Bill tinha a audácia de me enviar uma carta dessas me deixava enjoado. Eu tentava compreender o motivo disso, mas sem sucesso. Posso parecer estar agindo como um filho ingrato, mas esse meu comportamento não surgiu por acaso. Foi Bill quem causou tudo isso, e por conta disso eu não sentia um pingo de remorso quanto a maneira que eu agia com ele. Acredito que os sentimentos são regados conforme as vivências, aumentando a pureza dos sentimentos, mas comigo não foi bem assim. Ao invés de regar meus sentimentos, Bill simplesmente pisou neles. E disso eu não podia esquecer.

    - Adam... Você não o vê há mais de 10 anos. Não acha que já passou da hora de você tentar dar uma chance ao seu pai ao menos uma vez? – Ela estava sendo dura.

    - Suzi... Eu tenho meu emprego aqui. Tenho você, as crianças. Não posso deixar vocês pra simplesmente ir ver um cara que sempre me ignorou como filho.

    - Você tem uma relação boa o suficiente com seu chefe pra poder pedir ao menos uma liberação pra visitar seu pai. – E então finalizou. – Ao menos cinco dias Adam... Se não quer ir por você, vá por mim e pelas crianças. – Ela queria muito que eu fosse. Bill já havia nos visitado de surpresa anos atrás, quando minha esposa ainda estava grávida de nosso primeiro filho.

    Foi uma visita que ela considerou agradável, pois Bill tinha sido muito gentil com ela. Ele chegou a passar alguns dias conosco. Diferente de Suzi, toda vez que eu o via, sentia raiva por tudo o que ele havia feito. Ele foi embora da minha casa depois de uma discussão acalorada que tivemos.

    - Você acha mesmo que pode vir na minha casa desse jeito?! Sem nem sequer avisar?! – Estava gritando com ele.

    - Filho... Eu não avisei porque sabia que recusaria. – Respondeu com calma. – Queria muito poder conhecer a futura mãe de meus netos.

    - Você... – Estava tentando encontrar palavras. – ...Não tem o direito. Não tem o direito de querer ser o avô bonzinho depois de tudo o que fez eu e a mamãe passar.

    Bill tinha problemas terríveis com bebidas. Quando eu era mais jovem, ele me proibia de fazer praticamente tudo. Era minha mãe quem me deixava sair pra brincar, e isso era só quando ele estava fora trabalhando. Uma vez a mamãe havia me dado um Atari de presente. Fiquei alguns meses me divertindo com esse vídeo game já que não podia sair pra brincar tanto quanto gostaria. Por muito tempo o Atari foi meu refúgio, até meu pai chegar um dia bêbado em casa, completamente alterado. Nesse dia ele discutiu feio com minha mãe, e logo depois chutou meu Atari na parede em uma crise de raiva. Aquilo havia me despedaçado por dentro. Foi o melhor presente que eu já havia ganhado e meu pai fez aquilo. Isso é apenas uma das lembranças ruins que tenho em relação ao Bill. Hoje, estava tentando ser um bom avô depois de tudo que havia me feito passar.

    - Adam. – Disse – Eu sei dos meus erros. E pode ter certeza que o quanto você me culpa nem se compara com o quanto eu me culpo todos os dias.

    - Bill – Falei quase sem dar ouvidos – Saia da minha casa...

    Suzi ouvia tudo do nosso quarto, pois eu havia pedido pra que ela não interferisse. Claro que, depois desse dia ela passou a interferir. Ela havia ficado bastante aborrecida comigo porque eu tinha dito que iria apenas conversar com Bill, e depois de alguns minutos já estava gritando com ele. Não me arrependo da forma que agi e compreendo o aborrecimento de Suzi.

    - Certo filho... – Respondeu com pesar. – Vou respeitar sua decisão... Se um dia mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

    E então ele arrumou as malas e se foi. Já haviam se passado 15 anos desde sua visita inusitada.

    Naquele dia Suzi me fez prometer que jamais agiria daquela maneira, então prometi sem pestanejar. Tentei ao menos me colocar em seu lugar enquanto a ouvia falar o quanto estava entristecida com minha atitude. Sei que aquilo foi complicado pra ela, pois ela havia me conhecido como um cara sereno e sempre externou o quanto gostava dessa minha característica. Me ver agindo daquela forma deve mesmo ter sido uma

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