Singela Perfeição
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Singela Perfeição - Ivanlins Costa
SINGELA PERFEIÇÃO
"Alguns amores não voltam pelo
simples fato de nunca terem ido."
___________________________
Ivanlins Costa
Copyright © 2015, por Ivanlins Costa
Todos os direitos reservados
- É PROIBIDA A REPRODUÇÃO –
Capa: Ivanlins Costa
Revisão: Cecília Sobrinho
E. Rodrigues
Ruan Araújo
Tamires Monike
1ª Edição/2015
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem
autorização por escrito do autor.
Costa, Ivanlins
Singela Perfeição / Ivanlins Costa – Guarulhos, SP/
2015
1. Literatura
2. Romance
3. Boy’s Love (Homoafetivo/homossexual)
2 | P á g i n a
Para o mais singelo dos amores a quem tive a
oportunidade de conhecer. E.M
3 | P á g i n a
4 | P á g i n a
O começo do fim anteposto ao início
do começo
...
Apesar de ter vivido toda uma vida, eu sabia
que algo em mim faltava. Havia um buraco enorme
em mim e o meu coração ainda tocava no vazio. Eu
tinha impregnado um sentimento de culpa enorme,
e nunca foi bom conviver com esse sentimento. Eu
5 | P á g i n a
havia ferido o Renato de forma inadmissível, e aquilo
não era certo, e há muito tempo tudo me corroía por
dentro.
Naquele dia eu estava disposto a consertar
tudo o que eu havia feito. Decidi que ia tentar voltar
no tempo e desfazer esse grande erro do passado.
Saí de casa, embora desnorteado, sem nem saber
por onde começar minha procura por uma solução.
Mas solução para quê? Eu não fazia ideia do que
teria acontecido nos últimos dez anos. E somente
alguns acontecimentos recentes me davam uma
projeção muito malfeita do provável.
Peguei meu carro, e saí dirigindo sem um
rumo naquela noite tempestuosa. O asfalto era
quase invisível, e a única coisa mais ou menos
nítida que eu podia ver, eram os faróis dos carros.
Eu estava atordoado, desencontrado de mim mesmo,
em busca de respostas e soluções as quais eu não
fazia a menor ideia de onde tirar. Minha mãe me
ligou inúmeras vezes preocupada, pois eu nunca
saía àquela hora de carro. Eu não atendi nenhuma
vez, até que ela deixou gravada uma mensagem na
minha caixa postal.
"Gabriel, para aonde você foi? Estou ficando
preocupada! Estou com um pressentimento ruim.
Por favor, volte para casa."
6 | P á g i n a
Ignorei a mensagem, e segui viagem, de
encontro a coisa alguma. Não fazia ideia do que
poderia encontrar. Continuei dirigindo até perceber
que precisava abastecer meu carro. Parei em um
posto de gasolina pequeno, numa rua deserta e
escura. Além do meu carro que acabara de chegar,
havia um outro carro abastecendo. Olhei rápido
para o rapaz que conduzia o veículo e minhas vistas
escureceram. Era ele, eu tinha certeza!
7 | P á g i n a
8 | P á g i n a
...
9 | P á g i n a
10 | P á g i n a
Capítulo I
É uma cálida noite. Nada ouço além do lufar
do vento sobre a janela semicerrada. A solidão mais
uma vez interrompeu por sobre o meu peito.
Encontro-me em frangalhos, perdido, desencontrado
em mim mesmo. Não sei o que eu fiz ou o que deixei
de fazer. Só sei que algo me falta, há um imenso
abismo por sobre meus olhos nesse instante.
Num lampejo, me vem imagens desconexas
de cenas que preferiria apagar da minha memória.
Cenas estas que adoram me fazer companhia
11 | P á g i n a
esporadicamente. Geralmente é assim: eu sozinho,
silêncio. Perfeita situação para atiçar meus
pensamentos mais obscuros. Por que ele fugiu de
mim? Em que eu errei? Eu ainda o amava, quer
dizer, ainda o amo...
Ainda o amo, é verdade. Apesar de todo esse
tempo sem uma ligação, apesar de todos esses anos
sem contemplar seu sorriso, sentir o seu toque, falar
sandices no seu ouvido. 10 anos se passaram e
ainda estou preso a ele. 120 meses da mais pura
forma de isolamento.
Parece que tudo aconteceu há alguns
minutos atrás, mas já se passou 1 década. Muito
tempo. Tempo esse no qual meu coração não
conseguiu encontrar mais ninguém. Ninguém como
ele. Ninguém com o mais perfeito encaixe. Ninguém
com as qualidades que só ele portava. Tentei por
várias vezes me permitir, tentei admirar outros
sorrisos, mas sem sucesso. Até hoje, somente o seu
me interessa, apesar de nem ao menos saber se
aquele sorriso ainda é o mesmo.
Como se fosse ontem, ainda me lembro do
nosso primeiro encontro... Até hoje não entendo
porque me recebeu trajando somente cuecas. Disse
que havia sido o calor, mas... sei lá, vai ver tinha em
mente segundas, terceiras, milésimas intenções. Eu
como sempre, nada pontual, toquei a campainha de
sua casa dez minutos atrasado – preciso de algumas
aulas de pontualidade com um britânico – ele abriu
12 | P á g i n a
a porta, e logo de cara me deixou sem reação com
seu lindo sorriso. Que sorriso... exalava perfeição.
- Oi amor, você chegou rápido.
- Haaa, não minta tanto, cheguei atrasado.
Te avisei que não era pontual.
- Deixe de besteira. Entre.
A impressão que eu tinha é a de que nos
conhecíamos há anos. Talvez essa fosse a realidade.
Nossas almas, de forma alguma, eram recém-
conhecidas. A nossa sintonia não era tão recente...
Nosso primeiro contato íntimo: um abraço. Tão
caloroso, me trazia a linda sensação de segurança.
Parecia que ele me protegia. Confesso que nosso
primeiro beijo não deu muito certo - Huunnfffrr,
maldito aparelho o que ele usava - tivemos que
tentar por horas até encontrarmos uma forma ideal
de nos beijarmos.
Como eu estava nervoso naquele dia... Meus
olhos estavam vermelhos, a ponto dele perceber e
achar estranho. Não havia dormido na noite
anterior. Minha ansiedade não permitiu. Além disso,
o calor que fazia havia me deixado assim.
Queria muito deitar por sobre seu peito.
Queria sentir suas texturas, até que não resisti e
acabei pedindo para o fazer. Nos deitamos e
começamos a conversar.
13 | P á g i n a
Nos beijamos por um longo período, até que
nos faltou ar – ele beijava tão bem - . Ele então, me
fez um pedido estranho.
- Renato, promete que não vai achar
estranho se eu pedir-te uma coisa?
- Prometo, Gabriel. Pode pedir.
- Haa, deixa para lá. Não sei se é certo pedir
isso no primeiro encontro.
- Não seja tolo e peça logo. Rsrsrsrs
- Passe sua língua nos meus mamilos?
Ele ficou vermelho, mas eu amei a ideia.
Essa é a melhor forma de dar prazer a alguém. A
sensação de ver-lhe arrepiado quando assim o fiz, foi
inenarrável. Por pouco ele não caiu da cama se
contorcendo de... talvez tesão.
Novamente silêncio, e nós nos beijamos.
Mordi seus lábios, suas orelhas, seu pescoço. Me
empolguei, ele também. Eu estava extremamente
excitado e ele correspondia. Propus que tirássemos a
camisa, e mais tarde ele propôs que tirássemos a
calça. Não imaginei que ele fosse mais assanhado
que eu. Seu corpo era escultural. Tenho a plena
certeza de que foi esculpido por uma força divina e
endereçado a mim. A todo instante tudo aquilo
parecia tão meu. Suas formas, a modelagem dos
seus cabelos – que um dia foram lisos - , seu olhar
que sempre pedia mais. Talvez realmente fosse. Se
14 | P á g i n a
bem que, analisando o que hoje acontece, não era
nada meu.
Depois de muitos beijos, abraços e amassos,
percebi que as horas haviam se passado. Maldito
tempo que passava tão rápido quando eu tinha sua
companhia. Eu precisava ir embora, mesmo contra
minha própria vontade. Seus pais chegariam logo
mais, e eu, ainda precisava passar na casa de uma
tia, antes de retornar para casa. Do mesmo modo,
ele não queria que eu fosse. Alguma coisa nos
acorrentava.
- Gabriel, eu tenho mesmo que ir embora?
- Haaa, acredite que eu queria ficar aqui
nesse quarto com você pelo resto da vida, mas...
- Okay,Okay. Entendi. Vou indo então.
Tchau.
- Hey, não se esqueceu de nada?
- Bobo...
Ele me jogou contra a parede e me beijou. Me
senti extremamente vulnerável naquele momento.
Meu corpo lhe pertencia. Ele podia fazer o que
quisesse comigo. Seu beijo tão doce fez com que eu
me excitasse novamente. E o mesmo aconteceu com
ele. Ele me abraçou com uma força que até então só
meu pai tinha. Depois, nos beijamos novamente.
- Estou ficando excitado, Renato.
15 | P á g i n a
- Eu também.
- Melhor ir agora.
- Tudo bem. Até mais.
- Até.
- Psiu. Te amo.
- Eu também.
Sai de lá abobalhado. Sorrindo feito um leso.
Quase fui atropelado e ainda fui xingado. Nem dei
importância. Nada tiraria a minha sensação. Nada
quebraria aquele encanto. Queria chegar em casa
logo, para deitar, dormir e sonhar. Sonhar com ele.
Ele que ultimamente ocupava os meus pensamentos
por todo dia, e que agora me deixou. Mas, por quê?
Logo quando cheguei em casa liguei para ele.
Não queria atrapalha-lo pois sei que o mesmo
precisava estudar. Mas não resisti. Logo, no
primeiro toque, ele atendeu. Pareceu esperar a
minha ligação.
- Gabriel?
- Oi meu amor. Está tudo bem?
- Sim, sim! Só senti saudades e resolvi ligar.
Atrapalho?
- Nunca, meu anjo!
16 | P á g i n a
- Gabriel, gentil como sempre. Quer
conversar um pouco?
- Pode ser! Sobre o que quer falar?
- Não sei. Sobre o que aconteceu hoje talvez...
A propósito, leu a crônica que te mandei?
- Li sim. E como sempre, mais uma vez você
me emudeceu, assim como uma avó velha que num
supetão é surpreendida pelo neto e por uma
pequena fração de tempo seus sentidos cessam. E
assim como o mais mudo dos mudos que só
consegue balbuciar, balbuciarei. A palavra AMOR
ganhou um novo sinônimo hoje, tão poderoso
quanto a palavra por si só. Quer saber qual é?
- Sim, diga-me.
Eu já estava encantado e com os olhos rasos
d’’água do outro lado da linha. Sabia que ele me
deixaria sem palavras quando completasse o que
estava falando.
- Nós
, sim, nós
! No momento em que
nossos lábios se tocaram, que nossos corpos se
conectaram e as nossas respirações coadunaram-se,
fizemos do NÓS
, a mais singela forma de amor.
Meio sem sentido isso, não acha? Não sou tão bom
com as palavras. Mas, quis dizer que foi perfeito,
apesar de singelo.
- Tem todo sentido, meu anjo. Me deixou sem
o que dizer, como sempre. Fico feliz que tenha sido
17 | P á g i n a
tão perfeito para você quanto para mim. Obrigado
por tornar meus dias melhores.
- Eu que agradeço, bebezão.
- Te amo.
- Eu também. E que seja eterna nossa
singela perfeição.
- Que seja eterna.
- Boa noite!
- Boa noite meu amor. Durma bem.
Demorei um pouco a dormir. Tudo voltava
em minha mente como um flashback. Havia sido
tudo tão perfeito. Tinha medo de que aquilo
acabasse. Mas não queria pensar nisso. Queria que
durasse para sempre. Ou que pelo menos durasse o
necessário.
No dia seguinte, fiquei aflito por não ter tido
nenhuma notícia dele. Tentei ligar inúmeras vezes,
mas o celular se mantinha fora de área. Havia
chovido o dia todo na cidade, talvez o sinal tivesse
caído. Pensei em ir até sua casa, mas não
concretizei meu pensamento. Peguei meu livro
favorito e reli pela quinta vez. No começo da noite,
Cléo, minha melhor amiga, me ligou e me chamou
para sairmos. Então, fui.
18 | P á g i n a
A Cléo era a única pessoa que me entendia.
Ela sabia exatamente o que eu pensava e antes
mesmo que eu fizesse algo, ela já adivinhava. – Acho
que se eu fosse hétero, rolaria alguma coisa entre
nós -, bobagem, somos amigos, quase irmãos. Ela
sempre soube me dar sábios conselhos, sempre
soube me guiar em alguma direção. Nem me lembro
como nos conhecemos, mas isso não importa.
Naquela noite fomos numa cafeteria e falamos da
escola e sobre planos para o futuro. Não quis falar
do Gabriel com ela, pois, certamente ela iria querer
um relatório completo sobre nós, e eu havia selado
com ele um pacto de confiabilidade e sigilo.
Retornei para casa quase meia-noite, e liguei
para o Gabriel. Ele não havia deixado nenhuma
mensagem. E aquilo era muito estranho. Me
atendeu na terceira tentativa. Estava com a voz de
sono.
- Amor, por que sumiu o dia todo? Senti sua
falta.
- Oi bebezão, desculpa. Fui dormir muito
tarde noite passada. Aproveitei a tarde para
descansar um pouco e depois das 18hs voltei a
estudar. Está tudo bem?
- Sim meu lindo! E com você?
- Melhor agora ouvindo sua voz!
19 | P á g i n a
Por um momento tive a vaga impressão de
que ele havia aprontado alguma coisa, mas
rapidamente tirei esse pensamento mais que bobo
da minha cabeça. Fiquei em silêncio por alguns
segundos.
- Amor, ainda está aí?
- Oi, meu anjo. Estou sim.
- Tenho que voltar a estudar. Lembre-se que
tenho que recuperar o tempo que perdi brincando
durante todo o ensino médio. Queria que estivesse
aqui comigo. Estou precisando do conforto do seu
abraço.
Nesse momento, sua voz mudou de tom.
Estava agora num tom de choro. A voz arranhava na
garganta e quase não saia. Fiquei apreensivo.
- O que aconteceu, meu amor?
- Nada. Só alguns problemas.
- Me conte. O que aconteceu?
- Nada, meu anjo. Discuti com minha mãe.
Só isso. Coisa boba.
De repente ouvi a porta do quarto dele se
abrindo, e era Dona Eva, sua mãe, adentrando. Ela
era extremamente conservadora e de família
bastante tradicional, além de ser evangélica. Ouvi
meu nome sendo pronunciado, mas não ouvi o que
20 | P á g i n a
ela havia dito por completo, pois o Gabriel havia
abafado o telefone com a mão. Depois de algum
tempo ele retornou. E agora, com voz ainda mais
chorosa.
- Amor, vou desligar agora.
- Gabriel, o que aconteceu? Porque sua mãe
falou meu nome?
- Não foi nada meu lindo. Amanhã
conversamos na escola. Boa noite.
- Tudo bem! Até amanhã.
- Amo-te meu bebezão. Lembre-se sempre
disso.
- Também te amo Tintinho. Durma bem.
Fui dormir preocupado naquela noite. Pela
primeira vez tive medo do dia seguinte. Estava
ansioso para chegar na escola e ao mesmo tempo
tinha receio do que poderia acontecer lá.
Meu celular despertou às 5:30, mas acordei
15 minutos atrasado. Mal tomei café e saí correndo
para não chegar depois do horário na escola. Gabriel
me esperava no portão, com um sorriso que só ele
tinha. Coadunamos nossos corpos e entramos. Seu
sorriso me tranquilizou, era o que eu precisava para
saber que estava tudo bem, e caso não estivesse,
logo iria ficar.
21 | P á g i n a
Ainda queria muito saber o que sua mãe
havia lhe falado na noite anterior, que havia lhe
deixado tão triste. Eu estava muito curioso, mas não
queria desfazer seu sorriso. Era tão sublime e me
trazia muita paz. Optei por ficar curioso. Talvez,
mais tarde eu o perguntasse o que tinha acontecido.
22 | P á g i n a
Capítulo II
A chuva ainda cai nessa noite tão nostálgica.
Mais e mais memórias de bons momentos me vêm
em mente. Toda essa solidão não me faz bem. Me
deixa triste... Mas, continuando...
Naquela mesma tarde, depois da escola, fui
até sua casa e ficamos lá por algum tempo. Evitei ao
máximo tocar em assuntos desagradáveis. Deitei
sobre seu peito por alguns minutos, e nos beijamos.
Sua fronte, embora bela, exprimia preocupação. Ele
não havia me falado o motivo pelo qual estava
23 | P á g i n a
chorando na noite anterior. Teria sua mãe lhe
ameaçado de alguma forma? Teria ela descoberto
alguma coisa? Mas,