Cada Um Com Sua Loucura
De Igor Costa
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Cada Um Com Sua Loucura - Igor Costa
CADA UM COM
SUA LOUCURA
uma comédia escrita por
Igor Costa
Todos os direitos reservados a Igor Leon Costa, inclusive os direitos de reprodução de toda ou parte da obra.
Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Lingua Portuguesa.
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O falso é às vezes a verdade de cabeça para baixo
Sigmund Freud
SUMÁRIO
Capítulo I 9
Capítulo II 13
Capítulo III 16
Capítulo IV 21
Capítulo V 24
Capítulo VI 29
Capítulo VII 32
Capítulo VIII 37
Capítulo IX 41
Capítulo X 45
Capítulo XI 48
Capítulo XII 53
Capítulo XIII 56
Capítulo XIV 59
Capítulo XV 61
Capítulo XVI 64
Capítulo XVII 67
Capítulo XVIII 69
Capítulo XIX 73
Capítulo XX 74
Capítulo XXI 77
Capítulo XXII 79
Capítulo XXIII 82
Capítulo XXIV 85
Capítulo XXV 88
Capítulo XXVI 92
Epílogo 97
Para a minha família e amigos.
Capítulo I
Será que quando Freud morreu ele imaginou o quanto de trabalho ainda restava?Pois é, vida de gênio não é fácil.
Os grandes vêm avisando desde a Grécia Antiga que o caminho do conhecimento é tortuoso, e que quem escolhe desbravá-lo tende a ser automaticamente excluído por seus contemporâneos e condenado a sacrifícios incompreendidos pelos ditos normais
. De modo que eu, Orlando Mascarenhas, psicólogo recém-formado, tento encarar a minha vinda a essa cidadezinha insossa no interior da Bahia como um preço a se pagar pela carreira notável que almejo trilhar na psicologia. Modestamente falando, é claro.
Santaluz… Ótimo, tinha de ser cidade padroeira. Mas no fim, sei que farei tantos progressos com os doidos daqui que vão rever essa fidelidade a igreja e cogitarão rebatizá-la com meu nome. Como bom discípulo de Freud, sinto-me na obrigação de dar continuidade ao seu trabalho aprimorando o estudo sobre a psicanálise. E se isso inclui uma experiência nesse pulgueiro, porque eu deveria dar as costas?
Hum, vejamos o que temos aqui. Ali tem uma igrejinha de pedra, e ao longe eu vejo um quiosque, e tem outro quiosque bem ali… Ora, a quem estou tentando enganar? Isso aqui é o inferno! Imagine que pesadelo será quando o pessoal da BBC vier filmar o documentário a meu respeito!
Orlando Mascarenhas havia acabado de chegar à cidade de Santaluz, Bahia, e se antes seu o ego poderia ser interpretado como choque cultural – afinal, sendo ele do Rio Grande do Sul, aquilo era compreensível – agora poderia se concluir que era pura crença da própria superioridade. O fato de ser branco, letrado e judeu nada tinha a ver com aquilo.
Ele ia tomado por aqueles pensamentos enquanto caminhava com seu tio Hélio pela praça da Matriz, apinhada de gente como qualquer manhã de Sábado. Orlando era jovem, bonito e de bom porte, um tanto quanto magrelo, é verdade, mas elegante, se bem que tinha um ar petulante, ressaltado pelo coletezinho que vestia. Já seu tio era um sujeito gordo e de rosto simpático, como um astro de stand up.
E então, meu sobrinho, o que achou de Santaluz?
perguntou tio Hélio.
Pobre, feia, desolada. Wi-fi péssimo. Um fim de mundo
Eu sabia que você adoraria!
Quero dizer, olhe só para essas pessoas! Veja como elas se vestem! Que existências miseráveis! E, por favor, tio, me diga que não faz esse calor aqui o tempo todo
Seu consultório vai ter ar condicionado, Orlando. Vai ter o requinte de um consultório e o bom gosto de um bordel. Olhe, dá para vê-lo daqui! Veja como está ficando bonito. Acabamento de primeira. Muito em breve você estará abarrotado de pacientes. Cidade pequena é tão cheia de gente doida. E são ávidos por novidade. Acham que psicanalista é coisa de rico e vão querer se consultar todo dia
Que seja, a ideia de vir morar aqui me deixa enojado. Sinto o meu Q.I. se esvaindo junto com meu suor
Eu já lhe contei que lá pros anos 70 funcionava um bordel nesse mesmo lugar? Oh, sim. Era muito fino, frequentado somente pela elite da época. Tinha arquitetura colonial portuguesa, e Madame Sula fazia questão que suas prostitutas fossem alfabetizadas em inglês. Até que a mulher do prefeito descobriu onde o marido andava torrando as economias da casa e tocou fogo no lugar. Não sobreviveu ninguém. Inclusive ela mesma. Coitada, cometeu o engano de usar perfume com teor etílico acima do recomendado quando acendeu o fósforo
Sinceramente, não estou interessado em nada disso, tio. E quanto aqueles peões trabalhando ali embaixo? O que é que estão construindo?
Não me disseram, mas tudo indica que será uma loja de conveniências, eu imagino. Vamos dar uma olhada mais de perto. Temos que fazer jus a herança de seu pai, não é não? É dinheiro bem gasto
Orlando e tio Hélio chegaram ao consultório, àquela altura uma bagunça de materiais de construção, com pedreiros carregando baldes e pedaços de madeira para lá e para cá, medindo, pintando e serrando.
O que me diz, sobrinho?
quis saber o tio.
O que tem nessa outra sala de frente a minha?
Ah sim, é um consultório odontológico. Não precisa se preocupar porque não haverá concorrência
Naquele momento um pedreiro que ouvia toda a conversa se adiantou.
A doutora daí estava reclamando que estávamos fazendo muito barulho e que estávamos incomodando os pacientes dela
informou O engraçado é quando concordamos em desligar a serra pra dar um sossego, ela vai e liga o motorzinho dos dentes
Foi uma resenha!
concordou um colega.
Você sabe o que estão construindo aí embaixo, meu chapa?
perguntou tio Hélio.
Não, mas espere um pouco
o pedreiro foi até a janela e se debruçou para falar com alguém lá embaixo Ô Januário, o que é isso aí que vocês estão construindo?
Rapaz, parece que vai ser um bar
Um bar?!
espantou-se Orlando.
Tem certeza, Januário?
perguntou o pedreiro.
Certeza de cem por cento eu não tenho não. Mas tenho quase certeza absoluta. Uns noventa por cento
Era só o que me faltava
resmungou Orlando.
Não há o que temer, sobrinho. Veja só, um bar. Não haverá concorrência nenhuma
Não é questão de concorrência, tio. Pare pra raciocinar um pouco. Um bar bem embaixo do meu consultório de psicanálise! Onde fica minha credibilidade? E a minha integridade?
Rejunte
disse o pedreiro.
O quê?
Vamos passar o rejunte agora. Os senhores vão ter de dar licença
Orlando e o tio desceram as