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Perfídia
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E-book152 páginas2 horas

Perfídia

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Sobre este e-book

Detetive particular especializado em investigar adultérios se depara com a traição da esposa de um amigo. Casos antigos, contudo, colocam em dúvida se ele deve revelar esse caso. Ao mesmo tempo ele investiga um delator que vem traindo a corrupção política. A infelicidade que a descoberta da infidelidade causa tormenta o detetive na presença de antigos clientes; a falsidade de que se você não sabe logo não está acontecendo pode levá-lo à perfídia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de jul. de 2015
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    Perfídia - Everton M. Da Silva

    Everton M. da Silva

    PERFÍDIA

    Clube de Autores

    2ª Edição - 2015

    Edição do Autor

    Capa: Asè Editorial

    Imagem: Canstockphoto

    Era noite, e o ônibus atravessava a cidade intencionando sair dela. Pouco menos das duas horas ele deixara a rodoviária, sendo agora vinte minutos depois disso e sendo que levaria mais ou menos outros vinte até ele sair completamente dela, ele não perdia tempo, atravessando-a como que guiado pelo brilho que o rodeava.

    Iluminada pelas luzes artificiais dos comércios, a cidade era viva, mas estava calma por causa da falta do movimento de pessoas. Era dia útil, ou seja, um momento na semana onde àquela hora era usado para o descanso do trabalho, o que também significava uma pausa de uma vida social noturna.

    O trânsito era pouco, fazendo com que o ônibus trafegasse tranquilamente pelo lugar. Aproveitando-se disso, o motorista, querendo rapidamente chegar à rodovia, agilizava na velocidade conforme cada regra que encontrava. Não deixava nada atrapalhá-lo, mantendo uma concentração precisa, como se seu último objetivo de vida fosse sair dali. No fundo, claro, era apenas uma habitual competência.

    Se do lado de fora do ônibus estava calmo, dentro estava mais ainda. Os lugares estavam todos ocupados, os passageiros já se encontravam em sua maioria dormindo, já sem a intervenção de novos passageiros da rodoviária procurando lugares para sentar. Quase todo o ônibus estava apagado, mas não todo, pois algumas poucas luzes de teto dos acentos se encontravam acessas, o que só indicava esquecimento, coisa de passageiros que dormiam sem apagá-las, já que, curiosamente, estes estavam dormindo. Já os passageiros acordados não tinham suas luzes acessas em nenhum dos casos, estes poucos usavam o brilho das luzes de fora para iluminar o interior do ônibus, mantendo para isso as cortinas de suas janelas abertas.

    Dois desses passageiros, acordados, mais por culpa do da janela do que daquele do corredor, achavam-se na terceira fileira de poltronas do lado direito do ônibus. O da janela chamava-se Miguel, tinha por volta de trinta anos, estatura média para alta, com uma postura não velha, mas madura, aparentando ter uma inteligência considerável. Não tinha preocupação em, ou mesmo vontade, de dormir. O outro passageiro, não muito diferente em características, com exceção que lhe faltava uma inteligência a mais, acordara recentemente, demonstrando isso com o piscar de olhos, forte e lento, movimentos da cabeça e vontade de concentração. Havia dormido a pouco, de um sono já antigo, despertado na parada da última rodoviária, e já acordara de novo, enquanto Miguel nem dormira, provavelmente pela falta de tempo para fazê-lo, já que embarcara nessa rodoviária.

    Acordado, o passageiro endireitou-se na poltrona e juntou-se ao outro para olhar a paisagem lá fora, no caso, a cidade. Sem muitas opções, eles olhavam-na passando pela janela, sem de fato prestar muita atenção ao que viam. Miguel de tal modo que se mantinha com o cotovelo no braço da poltrona e a mão fechada de encontro ao rosto, como um garoto zangado porque lhe foi negado algo.

    Após algum tempo o passageiro mudou sua atenção de direção e olhou para o outro ao seu lado, calado, quieto, quase sem se mover, emergido, olhando triste para fora, concentrado, talvez sumido em pensamento que nada tinham haver com o que olhava, sem qualquer outra coisa sem intenção que pudesse tirar-lhe a atenção. Se continuasse desse jeito, não demoraria muito para que dormisse.

    O passageiro então resolveu começar uma conversa.

    — Está viajando de férias? — perguntou.

    Miguel despertou com o som vindo em sua direção e olhou para os lados, procurando, vendo então que o passageiro ao seu lado o encarava, percebendo que o som era para ele e que uma resposta era esperada.

    — Desculpa, como? — falou.

    O passageiro fez uma pausa e apontou para fora.

    — Eu disse que é bonito ver uma cidade durante a noite.

    — Não, não disse — retrucou Miguel, um pouco sério. — Você perguntou se eu estava viajando de férias.

    O passageiro se mexeu na poltrona, fitando Miguel.

    — Por que fingiu não ter escutado? — indagou.

    — Habito, eu acho — respondeu Miguel, voltando a olhar para fora. — É bonita mesmo uma cidade durante a noite, mas só se olhar durante a noite, quando está tudo escuro.

    Após falar isso, Miguel olhou a cidade, prestando atenção pela primeira vez nela, olhando as lojas, o comércio, lugares por onde talvez tivesse passado, tentando reconhecê-los.

    — Irônico, não é? — comentou ele. — De noite, logo no escuro, no mais preto das coisas, a cidade fica bonita.

    — Depende do dia, se for halloween não é irônico — disse o outro. — Conhece?

    — Dia das bruxas, eu conheço — informou. — É, há muitas bruxas nesta cidade.

    E a conversa parou. Miguel concentrou-se na cidade, fugindo, perdendo-se em pensamentos. O passageiro também permaneceu em silêncio, mas olhando Miguel por um instante. Parecendo não querer desistir, resolveu começar tudo de novo pelo mesmo caminho de antes.

    — E então? — chamou. — Está viajando de férias?

    Miguel voltou a olhar o homem e endireitou-se na poltrona, respondendo:

    — Não, eu estou indo embora mesmo.

    — Eu vou para a capital, você vai para onde?

    — Para o fundo... — Miguel hesitou, interrompendo a si mesmo, calando-se por alguns instantes para pensar. — Não sei, qualquer lugar.

    — Qualquer lugar? — repetiu o passageiro e sorriu. — Por quê? Você está fugindo?

    — Estou — disse Miguel. — Fugindo dessa vida e em qualquer lugar que me possibilite começar uma vida nova eu vou ficar.

    — Sei. Desculpa ficar insistindo, não consigo evitar a curiosidade. Mas como é que se começa uma vida nova, assim do nada?

    — Não estou começando do nada. Tenho dinheiro, algum dinheiro. Eu saio, vou até uma cidade, passo por muitas delas, encontro uma que me agrada e fico nela. Lá eu procuro um emprego ou, se ainda tiver algum dinheiro, é claro, começo algum negócio.

    — Parece fácil — comentou o passageiro.

    — Às vezes é.

    — Fugindo deve ficar mais difícil, não acha?

    — Não importa, não tenho escolha.

    — Fez algo errado?

    Surpreendendo-se com as questões que o outro lhe fazia, Miguel virou-se para ele e o encarou por um instante, olhando-o por inteiro em seguida.

    — O que é? Você é policial? — indagou ele.

    — Não, mas tenho defeitos e um deles é ser curioso.

    — Também tenho defeitos, por isso estou fugindo — relaxou. — Eu fiz e também não fiz algo errado.

    — Humm, acho que entendi — disse o passageiro, meio sínico, fazendo Miguel sorrir com a sua falta de entendimento. — Mas como se consegue fazer algo errado e não fazer algo errado? — continuou ele, aumentando o sorriso de Miguel, fazendo-o quase rir. — Isso foi o quê, ao mesmo tempo?

    Miguel finalmente riu da situação com o outro ocupante do ônibus, interessado em saber das coisas dos outros, no jargão popular, enxerido, não entendendo a conversa dele.

    — Você não quer aprender isso.

    — Não, só quero saber — respondeu o passageiro, sorrindo. — É um defeito grave esse meu.

    Algum tempo antes; ainda naquele mesmo dia.

    Era um quintal grande, cercado por muros, atrás e nos lados, e uma casa na frente. Era os fundos da casa. Onde havia um pé de manga, uma casa de cachorro despencando próxima ao muro dos fundos e uma porção de madeiras arrumadas ordenadamente de encosto ao muro da direita. No mais, era um terreno limpo e varrido, com algumas poucas folhas da árvore no chão, que por ser noite pouco se via delas.

    Ficando entre a planta e a casa, Miguel e uma fogueira ajudavam-se. Ele queimava pastas e folhas de papel no fogo, que alimentado por ele já alcançava um metro de altura. Ao seu lado, no chão e dentro de duas caixas, havia ainda mais papéis e pastas.

    Enquanto queimava tudo, Miguel mantinha-se sério e calado, onde só se ouvia o som das folhas queimando, e nada mais. Até que uma voz vinda de dentro da casa mudou isso.

    — Miguel! Miguel! — ouvia-se chamar.

    Miguel olhou para trás, na direção da porta dos fundos da casa, porta esta que estava aberta.

    — Cadê você?! — ouviu-se a voz novamente.

    Lamentando o que ouvia, Miguel não respondeu e apenas se voltou para a fogueira, continuando a fazer o que vinha fazia.

    Pouco depois um homem apareceu na porta e logo avistou Miguel. E após vê-lo, saiu da casa e caminhou em sua direção. Tinha quase a sua altura, mas era levemente mais cheio, com uma idade beirando os quarenta e cinco. Delmiro, este era o seu nome, foi um dos primeiros amigos que Miguel fizera quando chegou à cidade.

    — Aqui está você — reclamou ele, já próximo de Miguel. — Eu te chamei, não ouviu?

    — Eu não estou ouvindo muito bem hoje — respondeu Miguel, sem dar mais atenções ao outro.

    — Não está ouvindo? — repetiu Delmiro, para depois começar a falar alto e lentamente, como se estivessem próximos de algum som muito alto, numa situação onde precisasse aumentar sua voz para que fosse ouvido. — A MINHA MULHER DISSE QUE VOCÊ ESTAVA INDO EMBORA, EU VIM SABER O PORQUÊ?

    Miguel virou-se para o outro, surpreso, reagindo ao jeito desnecessário do outro falar, e não gostando da brincadeira.

    — Sei — falou ele, e retornou ao que fazia. — Ela te disse, e o que mais ela te disse?

    — Mais nada, só que você estava de partida — respondeu Delmiro, já falando normalmente. — Por quê? Era para ela me dizer mais alguma coisa?

    — Não, eu acho que não — respondeu Miguel, desinteressado.

    Percebendo a falta de vontade no amigo, Delmiro se prestou a olhar o que ele fazia.

    — O que é que você está fazendo? — indagou, olhando os papéis nas caixas, reparando numa escrita em uma delas. — Queimando seus casos, por quê?

    — Por que estou indo embora, não vou mais precisar deles — respondeu, jogando mais papéis no fogo. — Vou queimá-los, daqui a pouco vai chegar alguém para ficar com os móveis, depois vou entregar a casa e se nada atrapalhar, viajo ainda hoje.

    Delmiro percebeu pelo tom de voz que aquilo não era brincadeira, notando que o amigo de fato estava indo embora.

    — E para onde você está indo? — perguntou surpreso.

    — Não faço a mínima ideia, Del.

    — Você não pode ir embora assim de repente. O que foi que houve?

    Miguel continuou jogando mais daqueles papéis que tinha na mão para o fogo.

    — Eu me cansei desta vida, desta cidade, dos amigos, das companhias, de tudo. Cansei. Quero começar tudo de novo, do zero outra vez, apesar de que da última vez não comecei do zero — disse, e parou, ficando pensativo por um instante, e então riu ironicamente pelo nariz. — Até mesmo quando nasci já tinha algumas coisas que ganhei de pessoas que nem cheguei a conhecer — lembrou, e voltou a jogar os papéis ao fogo. — Muita

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