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Efeito Espiral
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E-book465 páginas6 horas

Efeito Espiral

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Sobre este e-book

UM MORADOR DE RUA RETIRA INOCENTEMENTE UM DOSSIÊ DA CENA DE UM CRIME NUM BECO DO BROOKLIN-NY. ESSE FATO OCASIONA VÁRIOS INCIDENTES ENVOLVENDO UM POLICIAL AFASTADO, E UM JORNALISTA DO NEW YORK TIMES. UM POSSÍVEL ENVOLVIMENTO DE AGÊNCIAS DO GOVERNO AMERICANO, QUE DESENVOLVE UM PROJETO SECRETO PARA RESOLVER UMA QUESTÃO APOCALÍPTICA. UM IMPROVÁVEL PERSONAGEM REVELA A UM EX-JORNALISTA DO WASHINGTON POST UM GRANDE FURO DE REPORTAGEM SOBRE DOIS PERSONAGENS HISTÓRICOS: STEVE JOBS E ALAN TURING. TUDO ISSO CERCADO DE QUESTÕES ATUAIS COMO REALIDADE VIRTUAL, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, E UMA INCÔMODA QUESTÃO DE VIVERMOS OU NÃO EM UMA SIMULAÇÃO DE COMPUTADOR, ENTRE OUTRAS QUESTÕES QUE DIZ RESPEITO À ATUALIDADE GLOBAL E FUTURA.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de dez. de 2020
Efeito Espiral

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    Efeito Espiral - A P Stal L

    EFEITO ESPIRAL

    (REVELAÇÃO )

    AUTOR

    A.P.STAL L

    1

    "Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons, de todas as coisas exteriores que vemos não passam de ilusões e enganos de que ele [um demônio enganador] se serve para

    surpreender minha credulidade.

    Considerar-me-ei a mim mesmo como não tendo mãos, nem olhos, nem carne, nem sangue, como não tendo nenhum dos

    sentidos, mas acreditando falsamente

    possuir todas essas coisas. Permanecerei

    obstinadamente apegado a esse

    pensamento, e se, por esse medo, não estiver em meu poder atingir o conhecimento de nenhuma verdade, pelo menos estará em meu poder fazer a suspensão de meu juízo."

    René Descartes (Meditações metafísicas)

    2

    O QUE É, JÁ EXISTIU; E O QUE HÁ DE SER, TAMBÉMJÁ EXISTIU; E DEUS PROCURA DE NOVO O QUE JÁ SE PASSOU

    (ECLESIASTES 3:15 )

    3

    Se olhássemos mais de perto para um único ser humano, compreenderíamos imediatamente que ele próprio é um holograma singular; contido em si mesmo, gerado em si mesmo, conhecível a si mesmo. Ainda se removêssemos este ser de seu contexto planetário, compreenderíamos rapidamente que a forma humana não é diferente de uma mandala ou de um poema simbólico, pois dentro de sua forma e fluxo vive a informação inteligente a respeito de diversos contextos evolutivos, psicológicos, sociais e físicos, dentro dos quais ele foi criado.

    Dr. Ken Dychtwald - O P aradigma Holográfico .

    4

    Capítulo 1

    Nova York, NY...

    Brooklin – NY, 20:04 hs, numa atípica noite de inverno novayorquina sem neve, mulher sai do apartamento onde trabalha, desce os degraus de entrada do pequeno edifício. Por cima de seu uniforme de empregada, uma discreta blusa de lã de cor cinza, e um leve tênis branco nos pés, no ombro direito uma bolsa tira colo, e na mão esquerda uma pequena sacola com alça. Já com seus cinquenta e poucos anos, no rosto além de traços hispânicos, um semblante pensativo, alternando com um leve sorriso, e com uma aparente pressa.

    Segue pela calçada em direção à estação de metrô do Brooklin, na Jay Street, uma pequena caminhada de alguns minutos.

    Nesse pequeno trecho, passa por alguns cruzamentos, e por já ter feito o mesmo trajeto inúmeras vezes , segue quase que automaticamente o caminho. Sente uma vibração, tira de sua bolsa seu celular e lê uma mensagem de texto: - vovó, estamos te esperando!

    Ela sorri, e na parada de um cruzamento, tecla uma carinhosa resposta: - Já estou a caminho! Amo muito vocês!...Guarda o celular na bolsa e assim que o sinal abre, segue agora com passos mais apressados.

    5

    Mais à frente, encostado numa parede próximo a uma loja de conveniências, um morador de rua ali da região, com a aproximação dela, abre um sorriso, e ela corresponde. Por trabalhar há muito tempo no Brooklin , conhece muita gente ali, e esse morador de rua, Jimmy, já era conhecido seu de longa data.

    Assim que passa, ele a observa por alguns instantes, e percebe algo estranho. Para se certificar de sua

    suspeita, o desconfiado rapaz se posiciona melhor na calçada, pois, o transitar de pedestres por ali, acaba por atrapalhar sua visão. Então, por curiosidade, e por não estar fazendo nada, resolve andar na mesma direção da mulher para se certificar.

    Observando melhor pôde confirmar o que suspeitou inicialmente: um homem parece estar seguindo sua conhecida. Por morar na rua praticamente a vida toda, Jimmy aprendeu a fazer uma leitura quase sempre precisa das pessoas. E sua desconfiança fazia sentido, pois, mais a frente este mesmo suspeito, sinaliza (com um pequeno aceno), para outro homem que se encontra uma quadra à frente deles. O preocupado rapaz acelera os passos, e para não ser percebido, cruza a rua. Com isso, seu ângulo de visão melhora consideravelmente, e sem ser percebido.

    Logo à frente, quase uns vinte metros, o outro sujeito encostado próximo a um beco, discretamente desencosta da parede e parece tirar algo do bolso, que por estar escuro, Jimmy não consegue distinguir com precisão.

    Assim que a mulher se aproxima do beco, o perseguidor emparelha-se a ela e fala algo. Num

    6

    reflexo rápido ela vira o rosto na direção dele. É a deixa que o comparsa precisa para puxá-la com violência.

    Sem chance alguma de reação, é arrastada pelos dois para dentro do beco atrás de umas latas de lixo. Tenta reagir, seu olhar expressa medo e dor, se debate com as pernas no momento em que é arrastada, grita desesperada, porém seu agressor abafa com sua mão a possibilidade de gritos, e encosta algo pontiagudo em seu pescoço, provavelmente uma pequena faca, e friamente sussurra: - Fique quieta e tudo ficará bem!

    Seu comparsa pega a bolsa, e começa a vasculhar, parece procurar algo específico.

    Do outro lado da rua, Jimmy fica impaciente e aterrorizado. –É uma armadilha! – O que eu faço? O que eu faço? Depois de alguns segundos fazendo essa mesma pergunta, decide cruzar a rua, não com a intenção de enfrentá-los, sabe muito bem que não tem chance alguma, mas pode de alguma forma atrapalhá - los, pensa consigo. Em sua travessia rápida, o fluxo de carros não o impede. Quase é atropelado, uma freada e um xingamento, e ele segue.

    Chegando até a entrada do beco ele grita com tom de autoridade: - Ei! Ei! O que estão fazendo?

    Os bandidos olham ao mesmo tempo para o início do beco e veem a silhueta dele. Neste momento, o home m que vasculha a bolsa acha um pequeno objeto, olha para seu comparsa, e balança a cabeça positivamente.

    A pobre mulher tenta sem sucesso se debater e gritar.

    7

    Guardando o objeto no bolso de seu sobretudo, tira uma arma de um coldre, e fala: - Deixe esse idiota comigo! – Termine o serviço!

    A pobre vítima, achando apenas estar sendo assaltada, vê a arma, ouve o que um de seus algozes diz, e mesmo com uma faca no pescoço se debate e grita abafado, pois, agora uma certeza cruel a domina: - Vou morrer!!! – Meu Deus, não permita que isso aconteça! – Por favor, meu Deus! – Meu netinho me espera!!! Por favor Deus!...Uma oração triste, silenciosa, porém abafada pelo mal que a segura.

    Com a arma na mão, e com seu objetivo alcançado, o homem corre em direção à pessoa que gritou na calçada. E o bandido que fica, com a faca, friamente conclui o serviço: corta de um lado a outro, o pescoço da pobre e inocente vítima, que aos poucos vai esvanecendo e perdendo suas forças.

    Ele a solta. Seu corpo escorrega lentamente.

    No chão, a pobre senhora ainda se debate, mas a vida se esvai lentamente, o sangue em sua garganta causa

    uma mistura de engasgo e afogamento........e um

    último, triste e solitário pensamento insiste em

    permanecer: - Nunca mais verei meu neto! – Josh, a vovó te ama!... Uma última lágrima escorre pelo rosto já sem vida...

    8

    Minutos antes...

    Brooklin-NY, 19:35 hs, Helena Hernandes termina suas tarefas domésticas do dia e da semana. Está feliz, pois, vai para sua casa, encontrar-se com sua filha e seu neto que vieram passar uns dias de visita. Realiza suas tarefas como doméstica no apartamento localizado em Brooklin Heigts, 115 Willoughby Street.

    Hoje exclusivamente, termina mais tarde, por ter feito um amigável acordo com seu patrão de não comparecer no sábado, trabalhando algumas horas a mais na sexta, e durante a decorrida semana.

    Essa porto riquenha de origem humilde gosta do que faz, já trabalha nessa mesma casa há vários anos. Seu patrão, ex-jornalista, sempre ocupado, escrevendo, e pesquisando, pelo que a mulher sempre observava.

    Após limpar a cozinha, coisa que habitualmente deixa por último, enxuga suas mãos, sai desse cômodo e segue por um pequeno corredor onde passa pelas portas de um quarto à esquerda e mais um, logo à direita. Paredes de uma cor entre o bege e o marrom , alguns pequenos quadros distribuídos na parede entre as portas e a distância até a biblioteca. Ela caminha de forma suave para não fazer barulho no piso revestido de madeira estilo floorest.

    Assim que chega à porta da biblioteca, observa seu patrão sentado em uma poltrona de costas para a

    9

    janela. A luz é suave, pois somente o abajur logo ao lado da poltrona está ligado. Na janela, uma cortina branca de um tecido quase transparente balança suavemente, e nos dias ensolarados deixa a pequena biblioteca toda iluminada. A janela retangular com

    vidros verticais, muito comum nesse tipo de construção do Brooklin, encontra-se semiaberta, e uma brisa fria equilibra a temperatura dentro desse cômodo que sem dúvida alguma é o preferido do ex- jornalista.

    Na poltrona de couro marrom, com as pernas cruzadas, Bill Carter desliza o dedo na tela de um tablet. Cabelos ralos e barba, ambas grisalhas, um rosto comprido com aparentes rugas, e nariz afilado, sempre com um semblante tranquilo e simpático, já no auge dos seus 56 anos.

    Assim que percebe a presença de Helena, cessa o que está fazendo, tira seus óculos que utiliza somente para leitura, e pede de forma atenciosa e educada para que ela entre e sente.

    Embora estranhar um pouco o pedido, e meio a contragosto por estar com saudades de seu neto Josh, atende prontamente o pedido, e com alguns passos chega até a escrivaninha que fica no centro, e a frente da parede do fundo da biblioteca, uma parede com várias prateleiras e cheias de livros dos mais variados temas.

    - Já terminei meu serviço sr. Carter!...Fala Helena, com seu sotaque porto riquenho meio cantante. – Como combinamos, hoje vou para casa! Minha filha e meu neto me esperam!

    10

    - Ok Helena!.... Aquiesce o patrão simpaticamente, balançando a cabeça em concordância. E com um suave sorriso, a observa por alguns instantes, fato que a deixa um pouco constrangida.

    - O senhor... ela se retém um pouco: - O senhor deseja algo?

    Após alguns segundos, e olhando fixamente em sua fiel empregada, Carter pergunta: - Há quantos anos você trabalha comigo Helena?

    - Este ano completam dezesseis anos sr. Carter, se não me engano!

    - Uau! Uma vida!.... Exclama o patrão, agora com um ar mais nostálgico, como se recordasse ou sentisse saudades dos anos que se passaram.

    A tímida senhora ainda estranhando um pouco aquela conversa, pois, em suas memórias recordava-se de raros momentos, onde ele a chamou para conversar sobre coisas que não tinham relação com o trabalho. E um pensamento começa a incomodá-la: - será que ele vai me despedir?.... Expressa um simpático sorriso para não parecer rude, e resolve perguntar: - Está tudo bem sr. Carter ?

    Com a pergunta, o semblante do simpático homem lentamente muda, e ele se levanta e caminha elegantemente em direção a escrivaninha. Helena o observa com um olhar atento e curioso. Sua silhueta esguia cruza o curto espaço entre a poltrona e sua mesa preferida. Ele senta na cadeira, e abre uma gaveta. Retira um envelope grande amarelo, e

    11

    visivelmente com muitos papéis em seu interior, e um pendrive. Coloca-os sobre a mesa e os observa, como se relutasse em prosseguir, os observa por alguns instantes, e então conclui: preciso de um favor seu! ... Empurra os dois objetos na direção de Helena , arrastando-os na bonita mesa, e faz um sinal com a cabeça para que os apanhe.

    Com um semblante sério, porém tranquilo, Carter fala com a serenidade de sempre: - Quero pedir que você não fique preocupada com o pedido que irei fazer, ok!?

    Mais um balançar de cabeça, só que agora a mulher não consegue esconder uma pequena preocupação.

    - Por favor, não fique preocupada!...Fala Carter percebendo o desconforto, e continua: -Está tudo bem, e em ordem, mas preciso fazer esse pedido a você. ... Diz isso olhando dentro dos olhos da humilde e fiel mulher que por tantos anos o serviu, e continua: - Você conhece Amanda Jhones? Minha ex-colega do Times, já esteve algumas vezes aqui?

    - Conheço sim sr. Carter!

    - Ótimo!... Exclama sorrindo o jornalista aposentado, e prossegue: - Por favor Helena, não estranhe a forma como vou te pedir este favor, pois, como falei está tudo bem, ok!.... Reforça, e a observa esperando sua confirmação, e continua: - Se algo acontecer comigo, eu quero que você faça com que isso chegue até ela!

    Helena tenta fazer uma análise rápida da expressão com que Carter faz o pedido, e comenta: - Se o senhor diz que não devo me preocupar, tudo bem!.... Com que

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    tipo de coi... antes de terminar a frase, Carter a interrompe, e com uma certa veemência comedida, pede a ela que não faça essa pergunta, e reforça, sempre de maneira gentil e educada: - Como já disse, está tudo bem!

    Ela mais uma vez concorda com a cabeça apenas e, um leve e incômodo silêncio segue, ela lentamente se levanta. – Tudo bem sr. Carter, sem problemas! Agora se o senhor me permite, vou para casa, pois já está ficando muito tarde!

    Ele ainda sentado, a olha com um simpático sorriso, e acena positivamente a cabeça, e deseja-lhe um bom fim de semana. Ela agradece, e sai da biblioteca em direção a seu quarto. Carter a observa reclinando- se para trás em sua confortável poltrona, cruzando as pernas, e agora só, não disfarça sua preocupação com a pequena missão que dera à sua fiel empregada.

    Helena, mais uma vez passa pelo pequeno corredor e pela cozinha. Seu quarto fica nos fundos. Ela veste seu casaco, pois, a temperatura externa deva estar em torno de cinco graus Celsius. Coloca o envelope dentro de uma sacola de uma marca de sapatos, olha para o pendrive e não coloca na sacola, mais sim em su a bolsa, apaga a luz e sai.

    Quando abre a porta do apartamento, se retém por alguns segundos pensando se está esquecendo algo. – Nada!... Conclui. Cruza a porta e a tranca por fora. Mais uma vez ela para por uns instantes, pensando na conversa, no pedido de favor, e nos objetos que estão com ela.

    13

    Desce quatro lances de escada, abre a porta do prédio, despede-se simpaticamente do porteiro, e mais alguns degraus da entrada, e sai em direção à estação do metrô. – Vou ver meu netinho querid o!!!

    Capítulo 2

    James Reed, apenas conhecido por Jimmy, pelas pessoas que, de certa forma convivem com esse jovem afro-americano, provavelmente novayorquino, como ele mesmo diz, pois, não tem certeza disso. Provavelmente pelo fato de suas primeiras lembranças serem de um orfanato.

    Passou toda sua infância e adolescência numa instituição. Tendo uma noção de família (pai, mãe e irmãos), somente dos funcionários desse orfanato, e de outras crianças que compartilhavam com ele a me sma condição .

    Muitas e muitas vezes, Jimmy observou pela janela do quarto que dividia com mais trinta crianças de idade próximas à sua, colegas irem embora, por terem a sorte que ele acreditava um dia ter, de ser adotado.

    14

    Os anos foram passando e Jimmy foi ficando, muitos foram adotados, mas muitos ficaram. Para a maioria de adolescentes, que vivem em orfanatos, isto é algo muito triste e até certo ponto traumático, pois, o simples fato de estarem nesse ambiente, já se sentem na condição de rejeitados. E essa rejeição partiu justamente de pessoas que tinham pelo menos, a obrigação moral de não fazer isso.

    Assim que atingiu a maioridade, com apoio do estado, morou em quartos alugados, e trabalhou em funções como ajudante em supermercados, e auxiliar de estacionamento, engraxate, e outros subempregos .

    Um período em que ficou desempregado, foi influenciado por amigos, a praticar pequenos delitos. Certo dia, após terem assaltado um minimercado com uma arma de brinquedo, levaram dinheiro, bebidas e cigarros. Talvez pelo fato de estarem um pouco embriagados, resolveram assaltar uma mulher que andava sozinha numa rua deserta, próximo onde dividiam os despojos de seu delito.

    Tentaram surpreender a mulher, enquanto um a distraiu pela frente, dois foram por trás. Já tinham cometido alguns assaltos utilizando essa mesma arma de brinquedo, e até então com sucesso. Entretanto, existem muitas pessoas que sabem muito bem distinguir uma arma de verdade de uma réplica, ou um brinquedo. Esse era o caso dessa mulher,

    principalmente pelo fato dela ser policial, e estar armada, com uma arma de verdade...

    O resultado custou muito caro para Jimmy, pois, passou mais de dois anos preso. Os comparsas

    15

    nunca mais os viu. E a experiência foi bem traumática para esse pobre jovem afro-americano sem pai e nem mãe. Foi tão traumática, que ele jurou para si mesmo, que por pior que fosse a condição humana ou subumana que por ventura viesse a passar, jamais voltaria para lá. E assim o fez.

    Embora hoje esteja na condição de sem teto, e viver de lucros de pequenos bicos, pois, emprego nunca mais conseguiu, provavelmente pelo fato de ser ex- detento. Jimmy se dá muito bem com seus vizinhos do Brooklin, e conseguiu um tipo de respeito dos moradores. Uns até o elogiam, o chamam de gentil e educado.

    Claro que não é uma unanimidade, mas, quem não gosta dele, normalmente é por puro preconceito.

    Capítulo 3

    - Ei, ei, o que estão fazendo!!!!...Grita Jimmy com voz de autoridade, na frente do beco onde sua conhecida Helena fora emboscada por dois sujeitos mal - encarados .

    16

    Esticando o pescoço e pronto para correr, ele tenta ver o que está acontecendo, apenas para se certificar, mas sabe que ela está em sérios apuros.

    Assim que vê uma sombra vindo do beco em sua direção, sai em disparada sentido Duffield Street, e antes de dobrar a esquina, olha para trás e lá está o mesmo homem estranho que passara na sua frente minutos antes e perseguia Helena. E com algo que o faz correr ainda mais rápido: uma arma na mão.

    A cena: um homem branco, bem vestido, correndo atrás de um negro com roupas de morador de rua no Brooklin, automaticamente leva as pessoas que se encontram no caminho da perseguição a fazerem pré - julgamentos que não favorecem de forma alguma o rapaz. E ele com toda sua vivência de rua já tinha se atentado para esse detalhe que não o colocava numa posição de vítima, mesmo com seu perseguidor estando armado.

    Depois de correr quase uns trinta metros na Duffield St., Jimmy entra num pequeno beco, ao lado de um restaurante italiano, próximo ao Starbucks. Sabe exatamente onde está indo. No fim do beco uma cerca de tela de uns dois metros de altura. Ele a escala, e um rotweiler com toda fúria vem em sua direção, latindo e rosnando ferozmente. Até agora tudo dentro do planejamento rápido em sua cabeça, pois, assim que passa a cerca, anda colado à parede, uns cinco passos de costas, quase escorregando num estreito encontro do muro com a parede do restaurante. A uma altura de mais ou menos um metro e oitenta do chão. Altura qu e o defende do raivoso rotweiler .

    17

    O cão de guarda até tenta algo, pulando e latindo ferozmente, mas o rapaz entra num pequeno vão, que sai atrás do restaurante.

    O perseguidor de Jimmy chega até a cerca, olha o cão que agora vem em sua direção, e a grade os separam de um ataque.

    O homem calmamente guarda sua arma no coldre, coloca um cigarro na boca, o acende com seu isqueiro, dá uma tragada, solta a fumaça olhando para o cão, e segue em direção à saída do beco.

    Com a certeza de que o bandido desistiu da caçada, Jimmy após subir no muro de um estacionamento que tem sua entrada para a outra rua, toma um pouco de fôlego, mas sabe que com a correria que ocorrera, logo a polícia chegará.

    Após alguns minutos, sai pelo muro do estacionamento, na Bridge St. Ele está a uma quadra do ocorrido com Helena. Caminha de forma rápida, evita correr para não levantar suspeitas até a esquina da Willoughby St., e olha em direção ao beco onde ocorreu o assalto. Aparentemente não há movimentação suspeita.

    Entra na Willoughby, do outro lado da rua, contrário ao beco, para se certificar se pode entrar lá sem perigo.

    Aparentemente está tudo limpo. Somente a movimentação de pessoas passando pelas calçadas, e seguindo suas vidas normalmente. Ele cruza a rua, agora com mais cuidado para não ser atropelado, e vagarosamente chega à frente do beco. Certifica- se

    18

    mais uma vez, e então entra. Dando pequenos passos com cautela, porém sabendo que não tem muito tempo.

    Evita até em pensar no pior, mas, se realm ente aconteceu o pior com sua conhecida, a última coisa que quer, é que a polícia o encontre ali, num beco escuro, com um cadáver...

    Assim que adentra mais alguns passos, vê pés, calçados com sapatos brancos. Sente um gelo percorrer sua espinha dorsal. Suas mãos suam . Adrenalina, medo, terror, um coquetel de sentimentos num copo só.

    Aos poucos, com a aproximação, o corpo de Helena vai aparecendo por inteiro no seu campo de visão.

    Seu corpo retorcido no chão do beco, envolto por uma poça de sangue, e um visível corte em seu pescoço , deixa bem claro para o rapaz que sua amiga se fora. Assassinada friamente por dois inescrupulosos bandidos, ladrões provavelmente. Mas por quê? Porque ela? Uma empregada doméstica! Esse questionamento perturba por alguns instantes a mente de Jimmy, mas como já concluíra anteriormente: um negro, morador de rua, num beco escuro com um cadáver, era algo que não poderia terminar bem para ele.

    Antes de sair da cena do crime, dá uma última olhada em sua conhecida, com um olhar de pena misturada com revolta. Assim que vai se virar para sair do beco, vê a bolsa caída próxima às latas de lixo. Hesita por alguns instantes, olha para o cadáver, olha novamente para a bolsa. Dentro de sua cabeça inicia-se uma

    19

    pequena batalha: entre a moral, a curiosidade e a necessidade.

    Primeiro quem ganha é a curiosidade: ele se agacha, toma o cuidado de cobrir a mão com a manga de sua blusa, para evitar um problema de impressões digitais, e remexe a bolsa, vê dinheiro, e fica surpreso, pois, fica claro que ela não fora vítima de um assalto comum.

    A moral tenta fazer um discurso em sua cabeça, mas quem ganha o embate é a necessidade: ele apanha o dinheiro, o olha, observa Helena estática e inerte. Hesita por instantes, e balançando negativamente a cabeça, em sinal de contrariedade, sussurra olhando para ela: - Me desculpe!!... E divagando, lembra de uma famosa frase: a ocasião faz o ladrão! E lembr a também que alguém num tipo de contraponto corrigiu: a ocasião faz o furto, o ladrão já nasce feito. Uma ligeira, porém, séria crise de consciência.

    Guarda o dinheiro no bolso de sua blusa, e leva um susto: o celular dentro da bolsa toca bem na hora em que ele vai se levantar. (Josh ligando!) é o que aparece na tela. Logo atrás da bolsa, quase entre uma lata de

    lixo e a parede, ele vê um objeto que o faz lembrar de algo que já tinha visto momentos antes do acontecido : a sacola que estava numa das mãos de Helena .

    Ao longe, ouve uma sirene, provavelmente da polícia. O medo toma conta de seu corpo novamente, pega a sacola num impulso, e sai andando. Agora com pressa.

    Chegando na saída do beco, toma o cuidado de ninguém estar olhando, e segue andando normalmente

    20

    no fluxo de pedestres, como se nada tivesse acontecido.

    Capitulo 4

    Diante de um cenário paradisíaco, com areias brancas e um oceano cor de esmeralda, o homem caminha sossegado, calça branca com a barra dobrada até a canela, e uma camisa também branca aberta, e na cabeça para proteger sua calva cabeça de um sol

    tropical, um chapéu estilo panamá. A brisa, a paisagem, gaivotas voando, tudo perfeito. Até que avista ao longe, um guarda sol, e debaixo dele, uma atraente mulher, trajando um comportado maiô, e junto a ela uma

    criança, um garotinho. O homem fica intrigado com o fato de estarem somente eles nesse paraíso de estilo caribenho, e tenta se aproximar dos dois, mas estranhamente, quanto mais caminha, mais longe parece estar essa mulher que depois de concentrar seu olhar parece ser sua amada esposa. Quando percebe isso, ele acelera o passo, mas não chega, parece que o chão está se movendo, não parece real. Estranhamente começa a ouvir uma música, ela começa baixo, e vai aumentando, parece familiar também. – Estranho, uma música aqui no meio de uma praia deserta!.... Pensa consigo. A música continua aumentando e a atraente mamãe e seu suposto filhinho longe, muito longe, mas

    21

    a música parece estar cada vez mais forte, cada vez mais forte a ponto de incomodar o homem. Ele para de caminhar, e quando não suporta mais a altura da música...

    Ele acorda!

    Era um sonho, apenas um sonho. No seu mais íntimo ele fica triste, enquanto a música que é o toque de seu celular não para, até que com certa dificuldade ele consegue pegar o incômodo telefone no criado mudo. Talvez pelo fato de estar acordando, derruba o abajur que quebra, e um cinzeiro que não tem o mesmo fim, por ser de um vidro mais resistente. Já não era a primeira vez que tinha esse tipo de sonho, mas das outras vezes os cenários eram diferentes.

    - Alô!...A voz sai grossa e meio falha. Parte do problema vocal, era devido ao fato de estar acordando, e parte, talvez a maior, era porque já nos seus quarenta e oito anos, fumava mais de uma carteira de cigarros por dia.

    Quando percebe quem está do outro lado da linha, expressa um leve sorriso de canto de boca, e comenta : - Nossa, que estranho!

    Sua ex-esposa na linha, parece não dar importância ao comentário e pergunta: - Podemos conversar?

    Ele, com certa dificuldade, vai se levantando aos poucos, e responde que sim. No momento em que se ajeita na cama ouve o barulho de latas de cerve ja vazias, e garrafas caindo no chão de seu desorganizado quarto, percebe então, que está com

    22

    uma dor de cabeça terrível. Enquanto escuta com o aparelho apoiado no ombro e na orelha, vasculha,

    debaixo dos travesseiros, no chão, e seus olhos correm por todo o quarto atrás de algo. Não presta muita atenção, mas, quando ouve as palavras: Peter, e FBI , segura o aparelho com a mão direita, e fala: - Cal ma Helen, repita tudo para mim e agora de maneira mais clara por favor!

    A mulher do outro lado da linha agora demonstrando muito estresse em sua voz, e uma visível irritação, fala de maneira enfática: - Nosso filho Peter, estava na faculdade, e foi levado por agentes do FBI.

    O ex-repórter do Washington Post tenta digerir o que acabara de ouvir sobre seu filho, e enfim encontra o que procurava, sua carteira de cigarros, estava sentado sobre ela. Apanha um, totalmente torto e amassado, coloca-o na boca, e agora seus olhos correm atrás do isqueiro, quando observa melhor o estado em que se encontra o cigarro, desiste da procura. Enquanto suas lembranças o levam há vinte anos atrás, quando ainda era um jovem jornalista, ávido por grandes furos, e grandes reportagens, e também muito mais preparado para emergências dessa natureza. Ele pede para que ela se acalme, embora ainda esteja tentando processar o acontecido, pois, com ressaca o raciocínio se torna um pouco mais lento. Tentando passar tranquilidade à sua ex-esposa, ele fala de forma bem séria que irá resolver o problema.

    Após desligar o telefone, e ponderar alguns instantes ali sentado em sua bagunçada cama sobre diversas coisas, decide fazer um forte café. Saindo do quarto,

    23

    passa pela sala, e na cozinha deixa a cafeteira fazendo o serviço, resolve tomar um banho, pois, percebe que seu cheiro não está dos melhores.

    Durante o banho, faz a barba, e os devaneios rodeiam sua cabeça como abutres em volta de caça morta. Aproveita para se barbear, quando termina, se olha no espelho. Observa detalhadamente sua imagem: totalmente calvo, rugas, marcas do tempo, olheiras, olhos vermelhos. Fica imaginando como aquele jovem bonito e popular dos tempos do colegial se tornou essa decadente imagem. – Afff! O mundo é cruel, mas o tempo é muito mais!!!

    Com a toalha enrolada em sua cintura, beberica o café, faz careta, pois, está mais forte que o planejado. Voltando ao quarto, tenta achar uma roupa limpa em meio à bagunça, enquanto procura, liga para um ex - colega, que ainda mantém algum contato esporádico.

    - Howard Scott? É você mesmo? Pensei que estivesse morto, ou tivesse mudado para um país tropical!

    - Bom dia pra você também Frank! ... (Apanha uma camisa no guarda roupa, resolve cheirá-la, faz careta, pois está malcheirosa, e continua a procura em meio à bagunça).

    Risos... – Diga, a que devo a honra? A propósito, como você está?... A pergunta parece vir em tom de deboche, e longe de ser de preocupação com seu ex-colega, e Howard desconsiderando o tom da pergunta, responde que está tudo bem.

    24

    - Que bom! Mas em que posso ajudá-lo amigo? ...O irônico Frank faz essa pergunta sabendo que Howard não ligara para ele, por motivo de saudade. Com

    certeza algo aconteceu, ou vai acontecer! E a forma como pergunta também passa a impressão de estar ocupado ou apurado, motivo que faz Howard ir direto ao ponto.

    - Meu filho foi levado hoje por agentes do FBI!

    Um pequeno silêncio do outro lado, até que: - Ok!, e o que você precisa exatamente?

    Não estranhando a frieza do amigo, Howard continua: - Pode me passar seu contato do FBI, ou você poderia fazer a gentileza de tentar descobrir o que está acontecendo Frank? Seria um grande favor pra mim, Helen me ligou hoje muito abalada!

    Mais uma vez, um irritante pequeno silêncio, com exceção de um barulho de redação de jornal ao fundo...- Tudo bem, eu verifico pra você! Só que estou até o pescoço aqui agora, mas até a tarde eu te ligo, pode ser?

    - Ok! Pelos velhos... (antes de terminar a frase, o telefone é desligado). Howard olha para o aparelho e o desliga. Agora que a ressaca está passando, e a consciência da sobriedade começa a falar alto, ele faz uma autoanálise, e fala pra si mesmo: - Que droga! Sou um idiota mesmo!.... Pensa em beber, mas lembra do desespero de sua ex-esposa no telefone minutos antes, e imagina que tem a obrigação de se manter sóbrio, também pelo fato de seu filho estar no centro do problema.

    25

    Capítulo 5

    Na universidade de Stanford, especificamente na área de botânica da faculdade de ciências da terra, um recém-chegado professor, John Whitaker faz algumas análises para preparar algumas aulas. Entre as pausas que faz, toma um chá, e entra no Messenger para ver se algum colega está on line, até que recebe um olá de um desconhecido.

    Ele logo se apresenta como Alan Morcon, e diz ser aluno da universidade de Columbia. O jovem professor não vê mal em responder, e os dois começam a teclar.

    Logo descobrem que tem muitas coisas em comum, inclusive a preferência sexual, Whitaker resolve perguntar: - Nós já tivemos a oportunidade de nos conhecer pessoalmente?

    - Infelizmente ainda não!.... É a resposta que surge na tela de seu I phone.

    A conversa avança, e o professor começa a se interessar de verdade pelo tal rapaz. Até que ele, que já tinha revelado ser da mesma área do professor resolve comentar: - Eu realizei algumas pesquisas aqui no laboratório da empresa que trabalho, descobri algo interessante, e ao mesmo tempo preocupante!

    - Ah é, e o que foi?...Pergunta de forma displicente o professor, mais interessado num affair do que resultado de pesquisa.

    26

    O rapaz detalha para ele uma simulação realizada em laboratório, que com o resultado obtido, poderia ser algo preocupante para o mundo, embora também achasse pouco provável, mas mesmo assim, seria interessante realizar uma análise mais criteriosa.

    O professor totalmente cético pede para que ele mande um detalhamento da simulação, com o resultado.

    Assim, os dois se despedem, e o professor fala que vai analisar com carinho o e-mail, e afirma que assim que fizer isso, entrará em contato com seu novo e interessante amigo virtual, entretanto, seu interesse vai muito além de resultado de pesquisa, pois, a foto que aparece no perfil do desconhecido é de um jovem muito atraente.

    Quando finalmente o rapaz fica off line, o professor embora animado, imagina consigo: - Mas que estranho!

    Ele volta às suas atividades normais, e até esquece naquele momento do e-mail. No fim da tarde, quase indo embora, resolve abri-lo. Assim que começa a ler, percebe que aparentemente parecem existir algumas incoerências, o que seria perfeitamente normal, por se tratar de um aluno e não um expert da área.

    Entretanto, quando aprofunda na leitura, algo chama sua atenção de verdade, pois, embora tenha sido usada uma metodologia não muito ortodoxa, o resultado final é realmente estranho e muito preocupante. Motivo que o intriga a ponto de desistir de ir embora, e até seu paletó que estava no jeito para ser vestido volta para o cabideiro.

    27

    Perdendo totalmente a noção de tempo, e os compromissos que tinha naquela noite, o intrigado professor segue todas as linhas de raciocínio que conhece e que ainda desconhece sobre a pesquisa do estranho amigo virtual.

    Quase amanhecendo o dia, ele debruçado sobre papéis, com os olhos vermelhos e totalmente exausto por ter passado a noite em claro, à base de café e red bull, e em torno de um simples e-mail de um aluno de uma universidade do outro lado do país.

    A perplexidade do resultado que ele confirma de forma tão exaustiva, o deixa tão preocupado, que às cinco da manhã, ele liga para seu antigo mentor e professor da universidade de Harvard, professor Haylock.

    Em Cambridge, exatamente às duas da manhã, hora local, o telefone na residência dos Haylock toca. U m senhor com seus quase sessenta e cinco anos acende a luz do abajur ao lado da sua cama, coloca seus óculos apenas para se certificar da hora. Com a confirmação, e com uma certa irritação, tenta imaginar: - No mínimo explodiu a terceira guerra mundial para alguém me ligar uma hora dessa!.... Resmunga .

    Com uma mistura de irritação com preocupação, o velho mestre diz: - Alô!

    - Bom dia professor Haylock, aqui é Whitaker!

    O professor olha para sua janela e vê que está escuro, e responde: - Whitaker? Você sabe que horas são aqui em Cambridge?

    28

    Do outro lado da linha, o jovem professor afoito, sem dar muita importância ao comentário continua: - Desculpe o incômodo, eu sei que é muito cedo, mas tem algo que está me consumindo e eu preciso muito compartilhar com o senhor!

    - Está te consumindo? Se for ácido não posso fazer nada Whitaker!

    Depois de uma noite em claro, e meio atônito com

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