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Crônicas De Domária
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Crônicas De Domária
E-book194 páginas2 horas

Crônicas De Domária

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Sobre este e-book

Um anel muito antigo cruza o caminho de um jovem ladrão ambicioso, desencadeando uma série de eventos misteriosos sobre o mundo de Domária. Amaldiçoado, ele ruma em busca de vingança, enquanto sua condição física e mental decai. De forma inusitada, um grupo de aventureiros inexperientes é reunido e lançado à própria sorte para investigar. Será o início de uma era de escuridão sobre os homens?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de out. de 2015
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    Crônicas De Domária - L. C. Lopes

    CRÔNICAS DE DOMÁRIA

    LIVRO 1 - O DESPERTAR

    L.C. LOPES

    Capa e diagramação: Marina Avila

    Ilustração: Slava Gerj

    Revisão: José Mauro Pinheiro

    Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

    Bibliotecária responsável: Ana Lúcia Merege – CRB-7 4667

    L 864 Lopes, L. C.

    Crônicas de Domária : o despertar / L. C. Lopes. – Rio de Janeiro : Edição do autor, 2015. – (Crônicas de Domária; 1)

    1. Ficção brasileira I. Título II. Série

    CDD 869.93

    Índice para catálogo sistemático:

    1.Ficção : Literatura brasileira 869.93

    A Deus, minha esposa, família e amigos,

    fontes da minha inspiração.

    Prólogo

    Há muito tempo, Domária era uma terra de gigantes. Os domínios dessas criaturas percorriam toda a extensão conhecida hoje pelos povos e além, em meio a terras exóticas e intocadas. Esses seres reinavam sozinhos, com grande brutalidade e selvageria, mas em perfeito equilíbrio com a existência.

    As montanhas frias e isoladas do norte eram o lar dos grandes dragões. O Everhorn, a montanha mais alta do continente, os Picos da Desolação e a montanha sombria de Khalamar-Duril, com suas cavernas profundas e entremeadas, desenhavam os covis das temíveis criaturas. Sem medo, eles eram os senhores sobre toda a terra e viviam milhares de anos sem qualquer ameaça à sua soberania.

    A abundância de chuvas e o calor intenso do sul favoreciam o crescimento de florestas e selvas fechadas, com grande variedade de formas de vida. Aos poucos, essas matas foram abertas e devastadas por outras criaturas primitivas, que batizaram a fértil e selvagem região de U’ginoth. No seu hábitat perfeito, esses seres multiplicaram-se e desenvolveram-se com grande rapidez. Esses eram os ferozes e monstruosos orcs.

    A leste, o vazio desconhecido do Q’umar, o Grande Deserto, completava as cercanias das pacíficas pradarias, montanhas e florestas centrais. Nestas terras, viviam os primeiros povos. Essas pequenas criaturas chamavam-se anões, elfos e humanos, e subsistiam meio à tribulação, dotados de grande vontade e sabedoria. Sua força física e agilidade eram muito menores do que dos gigantes, porém, com grande perseverança e engenhosidade, expandiram seus reinos sobre o mundo antigo.

    Essas raças travaram grandes batalhas, principalmente contra seus grandes rivais ao sul. Os exércitos, ainda rústicos, venciam e perdiam as batalhas pelas terras, mas não eram páreos para as grandes bestas, que carregavam grandes temores e lendas. Ano após ano, as provisões e domínios dos povos eram destruídos e espoliados, causando grande tristeza.

    Uma benção era tudo que esses pequenos seres precisavam. Em um momento perdido no passado, essas criaturas foram favorecidas por um presente dos deuses chamado pelos antigos de magia. Ninguém ao certo sabe como ela apareceu pela primeira vez, mas ela veio a cada um deles através de formas diferentes e misteriosas. De forma ainda rudimentar, as tribos antigas começaram a defender-se dos perigos de Domária por meio do poder manifesto dessas dádivas e dos heróis que a carregavam.

    Assim, as três raças gravaram seus nomes na história. Apesar de pequenas e frágeis, elas conquistaram seu espaço em meio aos gigantes, colossos e feras da terra, cada qual conforme a sua honra e fama:

    Os anões eram os reis da montanha e senhores da forja do aço, do cobre, do bronze, e de todo tipo de metais. Eles estabeleceram-se em grande número a oeste, nas Montanhas de Ferro. Thelrim, sua morada, também era chamada de Cidade sob a Montanha, e era conhecida nos quatro cantos do continente como a Fortaleza Invencível. Ali eles prosperaram, minerando pedras preciosas do coração da montanha para adornar as coroas dos grandes reis e enfeitar a nobreza. Além disso, armas de qualidade magnífica nasciam de seus grandes foles, alimentados pelo calor das profundezas.

    Os elfos, mestres da natureza, tinham como coração do seu reino, Elensil, a estrela da floresta. Suas matas repousavam ao sul das Terras Altas de Eth, lar dos bárbaros, e a norte das planícies de Eldânia, dos homens civilizados. Eles eram o povo mais longevo sobre Domária, e buscavam incessantemente o conhecimento antigo, ao mesmo tempo em que preservavam seus recursos com sabedoria. Além disso, foram os primeiros a dominar e ensinar a arte milenar da magia através da sua escrita para todos os seus descendentes.

    Finalmente, os humanos, com sua grande versatilidade e força de vontade, eram proficientes nas artes da guerra, da fé e da diplomacia. Seu aprendizado era mais célere e suas vidas, mais agitadas, tendo em vista sua determinação e seus dias mais curtos sobre a terra. Sua capital, Eldânia, tornou-se a maior das cidades, e centro das rotas de comércio dos reinos. Sedentos pela glória, rapidamente aprenderam as técnicas e os segredos dos outros povos, o que beneficiou o grande crescimento de suas muralhas e exércitos. Sua organização e estratégia fizeram com que se tornassem exímios defensores perante os invasores selvagens do sul.

    Contudo, a benção superabundante desencadeou a maldição. Não era mais como no início dos tempos. O domínio dos sortilégios ocultos e as vitórias sucessivas nas batalhas tornaram os reinos orgulhosos. A busca pelo domínio, mais acirrada. A sede de glória não aplacada tornou vicioso o ciclo.

    Poderosos aventureiros com a promessa de glórias infindáveis fizeram expedições para encontrar tesouros e conhecimentos perdidos e assassinar criaturas milenares. Muitos se perderam. Outros foram longe demais na busca pelo poder e conhecimento e se exilaram. Errantes, viraram nômades em uma terra desconhecida.

    Um preço alto começou a ser cobrado pela ascensão dos povos. O aparecimento de sinais na terra e nos céus, aberrações e pestes eram um presságio dos tempos. Em princípio, todos sentiram, mas ninguém sabia o motivo de tais infortúnios.

    Rumores circulavam as tavernas, salões e palácios de cada reino. Uns acreditavam que o fim da era dos povos havia chegado. Outros falavam em conflitos internos, alimentando a ideia de uma conspiração secreta para o domínio e destruição dos reinos. Ainda houve aqueles que creram que algo muito, muito antigo despertara na escuridão.

    De alguma forma, todos estavam certos.

    A dissidência entre aqueles que acreditavam em seus próprios poderes começou a crescer e tornar-se incontrolável. Seitas e clãs surgiram com promessas de salvação, poderes ilimitados e de riquezas àqueles que os seguissem. Rumo ao desconhecido, alguns enlouqueceram e desapareceram. Figuras vis e corruptas utilizaram poderes ocultos em benefício próprio e causaram grande desolação e miséria.

    O equilíbrio de forças havia sido rompido. Misteriosamente, Domária parecia reagir aos ensejos dos povos, provocando uma cadeia de eventos catastróficos. Alguns estudiosos e religiosos defenderam que o abuso da utilização da magia evocava poderes desconhecidos e incontroláveis que deveriam ser evitados. Os povos que ansiavam pelo controle sobre a criação invocaram seu destino.

    Terremotos, erupções vulcânicas, e tempestades destruidoras irromperam, balançando a fundação dos reinos erguidos durante séculos a fio. Criaturas e rebeldes atacaram os reinos com maior frequência e fúria. A tensão entre as raças foi inevitável, fazendo anões, elfos e humanos culparem uns aos outros pelas perdas e casualidades. O caos total estava formado.

    Em um momento de penúria e desespero, foi reunido o Concílio Maior, composto pelos eminentes e sábios dos povos. Assim foi formado o Triângulo de Domária: a aliança que uniria os povos para lutar pelo seu destino. O objetivo era interromper a decadência e garantir o futuro de todos.

    Três ações foram tomadas a partir de então: a criação de poderosos artefatos para debelar as ameaças de Domária; a proibição sumária da utilização de magia nos reinos amigos; e, por fim, o início de uma grande cruzada para exterminar os oponentes e estabelecer as fronteiras da aliança. Essas ações foram assinadas por Thordin, rei dos Anões, Erin, alto representante élfico, e Eldar, rei dos homens, como o Tratado de Domária.

    Valorosos heróis foram nomeados pelos reinos para a Grande Peregrinação. A estes heróis, foram conferidas armas incríveis e o comando de exércitos que lutaram ao seu lado para repelir as forças das trevas e da terra. A grande cruzada se estendeu por longas décadas, mobilizando gerações inteiras para reconstituir a ordem abalada.

    Alguns colossos foram derrotados em batalhas épicas. Os mais poderosos foram banidos, ou aprisionados, pois não podiam ser mortos. Nem mesmo as grandes armas ou conhecimentos dos reinos podiam abatê-los. A terra ficou marcada e saciou-se do sangue derramado dos heróis, rebeldes e gigantes.

    Aos poucos, a paz reestabeleceu-se. Uma nova ordem foi refeita, propiciando o estabelecimento dos reinos. Os povos desfilaram o orgulho e a glória pelas praças das cidades e salões dos palácios. As frágeis raças provaram a sua força sobre a natureza, persistindo sobre Domária.

    A história era cantada pelos trovadores para todos que quisessem contemplar a glória da aliança. Ironicamente, elas também mantinham a lembrança amarga de dias difíceis. As cicatrizes na terra e nos reinos foram grandes. Algumas cidades desapareceram, outras nasceram das cinzas da antiga civilização.

    Com o tratado em vigor nos reinos aliados de Domária, o ensino e o uso da magia tornaram-se proibidos. A conclusão era que esses poderes evocavam forças incontroláveis e incompreensíveis que deveriam ser evitadas a qualquer custo. Apenas aqueles que se arriscassem a serem presos ou punidos severamente poderiam ousar desfrutá-los. Houve aqueles que fugiram para manter secretamente a tradição arcana e foram caçados impiedosamente durante sua vida.

    Muito tempo passou. Os feitos viraram contos, os contos viraram histórias, as histórias viraram mitos, os mitos viraram lendas. A aliança continuou a existir, mas os reinos foram se isolando em seus próprios interesses. Antigamente, a união era o pilar para todos subsistirem. Hoje, sem grandes conflitos e dependências, nada impedia cada reino de seguir seu próprio caminho.

    No ciclo eterno do destino, novamente a sede pelo progresso e poder suscitou velhas questões. O tratado, obsoleto, começou a demonstrar fragilidade. Erros ou acertos? Fatos ou ficção? Será que o passado se repetiria ou seria apenas uma fugaz lembrança de tempos sombrios?

    A balança começou a pender para o outro lado. A magia simplesmente não podia ser contida. Dessa forma, a chama do desejo e do desconhecido novamente atraiu os povos como uma mariposa na escuridão. Assim, tudo começou.

    Capítulo I

    Pegadas na escuridão

    Uma leve garoa caía sobre os arredores da cidade antiga de Durunthir. A brisa fria da manhã espalhava as gotículas de chuva pelas janelas dos casebres, dando àquele dia cinzento um clima melancólico e adverso.

    A cidadela foi fundada pelos anões há muitos séculos e foi arrasada antes da Grande Peregrinação. Encravada no cerne de uma pequena montanha, ela foi invadida impiedosamente por exércitos de kur’daks, uma tribo sanguinária de orcs do oeste, que não deixaram ali nenhum sobrevivente. Eles espoliaram completamente a cidade, passando a viver durante algum tempo por ali.

    Uma batalha sangrenta desencadeou-se por meio da vingança de Tiris, rei de Eldânia na época. Após os exércitos aliados massacrarem os invasores, a montanha foi retomada sob a égide dos humanos. Porém, desacostumados à vida em cavernas, eles fundaram uma cidade a alguns quilômetros do sopé da montanha e doaram as terras aos heróis que a reconquistaram. O pequeno distrito foi batizado com o mesmo nome da montanha, em homenagem à aliança dos povos.

    Com o passar do tempo, as minas de Durunthir tornaram-se uma fonte de riquezas para os senhores da região. Artefatos antigos, minérios e pedras preciosas eram extraídos em troca de alimentos, armas e outras benesses para a pequena cidade. Apesar da riqueza, a corrupção e a desigualdade aumentavam como resultado da ganância dos senhores. A cidade era dividida entre uma parte nobre, pertencente à linhagem dos burgueses e conquistadores da cidade e uma parte pobre, quase miserável, legada aos trabalhadores braçais, imigrantes e forasteiros.

    Não muito longe dali, homens caminhavam em seus farrapos na lama de uma pequena estrada de terra batida. Cumpriam seu ritual diário em direção às minas da região. Alguns quilômetros de caminhada na garoa fria, com sacos de pano, mochilas e equipamentos pesados eram a pena para ganhar o pouco salário para sustentar suas miseráveis famílias.

    Estes condenados eram ladrões, brigões e outros fora-da-lei do local, obrigados a prestar serviços à comunidade em troca de uma baixíssima recompensa. Era pior do que a cela de uma prisão. Mal dava para se alimentar.

    Andarion era um nome bonito, de alguém que poderia ter nascido em berço de ouro. Ele era um jovem de cabelos negros, olhos castanhos, cansados e barba rala por fazer. Tinha uma boa aparência, exceto pelas pobres roupas, nada sofisticadas. Vestia-se com um capuz preto de saco de pano, camisa e calça encardida e uma longa manta preta, que era a sua única proteção contra o frio e a chuva.

    O jovem era um dos delinquentes. Os transgressores caminhavam diariamente com uma pesada algema feita de madeira, traspassada por um grande ferrolho e uma tarraxa que era apertada firmemente pelo capataz. Cabisbaixo, ele ia andando sem vontade em uma marcha forçada, olhando as próprias pegadas na lama formada após a chuva da noite passada.

    Sua mente fugiu daquele instante. Lembrou-se que deixou o único pedaço de pão velho e algumas frutas secas para sua meia-irmã mais nova, Andariel, enquanto ela ainda dormia. Em um instante, recordou-se do que o levou até aquele trabalho degradante e desagradável: sua rotina de furtos na cidade.

    — Roubo para sobreviver – disse ele, quando foi preso ao tentar furtar uma joia de valor inestimável da casa de Miklos, senhor da cidade. – Eles roubam de nós o tempo inteiro. Só fiz o que achava justo.

    Um jovem de poucas palavras é uma descrição precisa para o comportamento de Andarion. Nunca chegou a conhecer o pai. Enquanto escondia-se debaixo da cama, presenciou o assassinato de sua mãe pelas mãos de um soldado, ainda bem jovem. Dela, antes da morte, recebeu um broche que simbolizava um grande mistério.

    Desde então, o jovem passou a cuidar de sua pequena meia-irmã. Com alguns recursos deixados por sua mãe, sustentou-se durante alguns meses. Mas logo veio o inverno, a escassez e a fome. Tentou algum tipo de trabalho nas tavernas, fazendas e até mesmo nas casas dos senhores, mas era muito novo, e ninguém queria um jovem fraco e magrelo nos seus aposentos. Restou uma última alternativa. Roubar.

    Seu primeiro roubo foi um misto de emoções: fome, raiva e medo. Tinha muito medo de algo dar errado. Esgueirou-se à noite pela porta dos fundos de uma taverna e furtou um pão inteiro e um pernil de javali. Mal conseguia carregar. Não sentiu culpa nem remorso, apenas indiferença e vingança. No começo, surrupiava uma fruta, uma broa, algumas moedas, mas com o tempo tornou-se uma profissão, movida pelo talento. Uma coisa era certa aos olhos dele: roubar era muito melhor do que trabalhar.

    Andariel vivia a maior parte do tempo trancada em casa por recomendação do irmão, que temia pela sua segurança na parte baixa da velha e suja cidade. Saía apenas para as aulas diárias em

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