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Colômbia Espelho América 26
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E-book188 páginas2 horas

Colômbia Espelho América 26

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Sobre este e-book

Devagar o Brasil descobre a América vizinha. A de língua espanhola. Já há algum progresso. Modesto, talvez. Promissor, quem sabe. A Argentina não é mais apenas futebol e tango. O Chile não se resume a abastecer salmão na mesa do brasileiro. A Venezuela não se limita à herança de Chávez. Os empresários e as empresas brasileiras sabem. Por isso avançam. Investem. Conquistam mercado. Atraem admiração, pelo espírito empreendedor. Os brasileiros viajantes - filhos de um povo cada vez mais atirado para o mundo - , turistas, aventureiros, ousados emigrantes, também sabem. Descobrem. É pouco ainda, muito pouco. Aqui, uma contribuição em dois planos de tempo e espaço. Uma viagem de descoberta de 26 anos atrás, presentificada de significados para agora, século XXI. Retratos de introdução a dois mundos. A Colômbia e instantâneos de sua gente, seu filho ilustre Gabriel García Márquez, sua rica imaginação popular, seus épicos, seus dramas e dores. Mas também cores. Caribe. E o sonho de toda a América Latina, ali cultivado em vislumbres de altos ideiais, corroído pelo manto sombrio de grandes pesadelos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de jun. de 2013
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    Colômbia Espelho América 26 - Edvaldo Pereira Lima

    2013

    DE VOLTA PARA O FUTURO, AQUI

    Há 26 anos idealizei, escrevi e publiquei um livro de viagem pela Colômbia, coedição das editoras Perspectiva e Edusp, hoje esgotado. Colômbia Espelho América nasceu com um propósito público e um segundo, restrito.

    O primeiro visava contribuir para que o leitor brasileiro conhecesse o país vizinho, então presente na mídia nacional apenas sob o signo das notícias de guerrilha e narcotráfico. Causava-me estranheza o fato do Brasil viver de costas para seus vizinhos sul-americanos, como que ignorando-os, mas aberto para a Europa distante, do outro lado do Atlântico. Ou seduzido pelo American Way of Life, tão presente na nossa sociedade pela força avassaladora do cinema de Hollywood, da música popular e da literatura, sem falar nas práticas do marketing, da gestão de empresas, do consumo de massa. Aproximava-se 1992, quando seriam comemorados os 500 anos de descoberta das Américas por Cristóvão Colombo, parecendo-me então que eu poderia pegar carona na movimentação cultural que isso iria provocar, ajudando um pouco a tentar diminuir nosso fosso de defasagem cultural com relação a eles. Como já havia residido na Costa Rica e viajava por toda a América Latina a trabalho, sabia que a recíproca não é verdadeira. Havia um interesse acentuado da América espanhola pelo Brasil, interesse não correspondido, naturalmente.

    Planejei a viagem editorialmente, montando a pauta da minha narrativa de maneira a oferecer ao leitor um panorama introdutório de aspectos culturais, sociais, humanos, históricos e geográficos, com um pouco de política também, tendo como eixo meu deslocamento pelo país, de Bogotá à costa caribenha, passando por pontos absolutamente cativantes, como Villa de Leyva. Um dos conteúdos relevantes seria o mundo de Gabriel García Márquez. Outro seria o de Simón Bolívar, o maior herói da história política da Colômbia.

    Agreguei a isto um tema subjacente, pois vislumbrava que a Colômbia espelha os ideais - assim como as fragilidades - do longo sonho da integração latino-americana. Foi lá que Bolívar mais fincou seu desenho de uma América Latina independente dos antigos impérios europeus, unida em suas próprias forças. Foi de lá que surgiu esse extraordinário mago das letras, García Márquez, capaz de representar as complexidades paradoxais do mundo latino-americano em romances e novelas igualmente admirados na Europa e em todo o mundo a ponto de lhe concederem o Prêmio Nobel de Literatura de 1982. E foi para lá que espanhóis dos tempos coloniais, corsários e piratas franceses e ingleses se dirigiram para formar em Cartagena um longo capítulo épico que simboliza a espoliação de riquezas de que a América Latina foi vítima.

    O segundo propósito, mais restrito, dirigia-se especialmente à comunidade acadêmica. Visava demonstrar, atrelado à Tese de Doutorado que então desenvolvia na Universidade de São Paulo, o emprego do livro-reportagem em narrativas de não ficção centradas em viagens.

    Tantos anos depois, volto a publicar o livro, este, com um título ligeiramente diferente. Acrescento este breve texto de introdução, preservando, porém, a totalidade do seu conteúdo narrativo da versão anterior.

    Justifico.

    A volta à edição de 1987 é revestida de uma característica singular: possibilita ao leitor uma viagem no tempo pelos seus dois assuntos integrados – a Colômbia, em si, o ideal de uma América Latina unida -, além de oferecer uma perspectiva dinâmica da mudança – sutil ou visível - do Brasil com relação aos vizinhos, nessas quase três décadas. De quebra, faz pensar um pouco sobre como também mudou a própria Colômbia.

    Simultaneamente, o livro pode ter outra utilidade na esfera acadêmica, agora, que é ilustrar algo desse formato narrativo de não ficção que denomino Jornalismo Literário de Viagem, diferenciando-o do tradicional gênero literário ficcional de viagem.

    Do final dos anos 1980 para cá, o Brasil se transformou num grande país de viajantes. O crescimento populacional, o desenvolvimento econômico, a sofisticação crescente da sociedade brasileira, o avanço formidável da indústria turística e também a emigração substancial de brasileiros nos tornou uma nação com respeitável presença no mercado internacional de viagens. O turista brasileiro é dos mais desejados no mundo, hoje, não só porque viaja muito explorando todos os recantos turísticos possíveis do planeta, como também porque gasta bem no exterior, muito mais do que povos tradicionais nessas andanças viageiras por todas as partes.

    Como resultado, a mídia focada em viagens viveu um boom explosivo nos últimos anos. Quando fui editor de uma publicação especializada na década de 1980, a revista Panrotas, dirigida para o mercado profissional de viagens, havia poucas publicações concorrentes de qualidade, pouquíssimas voltadas para o consumidor final. Hoje, não só o mercado especializado é bem servido, como proliferam nas bancas os mais diversos títulos de publicações de dar água na boca – pelo menos quanto ao aspecto visual – que chegam diretamente às mãos dos potenciais turistas e viajantes.

    Da mesma forma, explodiu no mercado editorial a publicação de livros de viagens. O catálogo brasileiro desse segmento é respeitável. Publica-se muito. Consome-se muito, imagino, pois se assim não fosse as editoras não continuariam a publicar consistentemente nesse campo.

    Apesar disto, a tendência predominante dos autores brasileiros é produzir guias de viagens, livros de dicas e receitas de como aproveitar melhor os destinos turísticos. Fora algumas raras boas exceções, os autores nacionais de viagens não têm explorado em formatos de não ficção nem o riquíssimo arsenal narrativo nem o legado que a tradição do Jornalismo Literário oferece nesse campo. Pois mais do que tudo, o Jornalismo Literário de Viagem coloca na mente e na emoção do leitor a vivência simbólica e sensual de destinos distantes, talvez, exóticos, quem sabe. Há um certo quê de aventura e da jornada arquetípica exploratória do desconhecido que move nos nossos desejos inconscientes aquela vontade de romper barreiras, sair da zona de conforto de nossas vidas, singrar sete mares, descobrir os nativos estranhos. Ou os hábitos mais chocantes de nossos semelhantes que vivem um pouco além da linha do horizonte mapeado na segurança doméstica dos nossos sofás, com um olho esticado até as coloridas tentações eletronicamente caleidoscópicas da internet, digamos.

    Mesmo na era do turismo de massa, das extraordinárias máquinas voadoras de nosso tempo que nos fazem chegar rapidamente a qualquer recanto do planeta - se temos dinheiro e disposição -, das mídias sociais que banalizam tudo, revelando territórios longínquos que se tornam cada vez mais familiares, o frisson da viagem persiste. Transforma-se, adapta-se, pois pertence ao mundo profundo de anseios humanos universais, duradouros, contínuos. Viajar é também conhecer, descobrir, apaziguando, se temos sorte, a inquietante pergunta dupla que não se cala, fazendo-nos nos mover para fora e para dentro: Quem somos nós? Quem sou eu?

    As viagens continuam e continuarão. As narrativas de viagens também. Mesmo que toscamente. Tanto improvisadas em blogs de voo de superfície quanto produzidas em livros pensados em profundidade, como vemos em alguns exemplos de mercados livrescos avançados, como o inglês, o norte-americano, o espanhol.

    E a Colômbia?

    Bem, depois de publicar a primeira versão deste livro, não só visitei o país algumas outras vezes, nos anos seguintes, como também meu caminho e o de outros elos integrantes do mundo colombiano se encontraram, às vezes de modo inesperado.

    Na minha função de docente da Universidade de São Paulo, tornei-me amigo, há muitos anos, do colega professor universitário e jornalista colombiano Raul Osório Vargas. Veio fazer pós-graduação na USP. Mal chegou, ficou agradavelmente surpreso de descobrir que um docente da USP escrevera esse livro não acadêmico de viagens sobre seu país, evitando a leitura estereotipada dos relatos jornalísticos centrados na violência. Raul ficou por aqui uns anos, trouxe sua esposa Shirley, sua filha Camila, fez Mestrado e Doutorado. Tiveram um filho brasileiro. Trabalhamos juntos em projetos profissionais em ensino superior, Raul fixando residência aqui. Um dia resolveu voltar para a Colômbia.

    Já fazia um bom tempo que eu não visitava o país quando no final de 2011 recebi um convite arquitetado por Shirley, então docente da Universidade EAN, em Bogotá, para proferir aulas e palestras nessa instituição, numa semana de eventos acadêmicos especiais. Voltada especialmente a cursos de graduação e pós na área de negócios e administração de empresas, a EAN procura dar um cunho humanista-cultural à sua abordagem. Busca também oferecer uma visão internacional dos negócios, algo muito apropriado para um país em ascensão no mundo globalizado de nossos dias. Daí a importância que dão ao aprendizado de línguas estrangeiras, assim como da cultura de outros países.

    Fiquei sensibilizado quanto ao interesse pelo português e pelo Brasil. Nessa minha primeira visita à EAN e noutras que aconteceriam em 2012, tive como aquilatar esse olhar aberto, tanto me apresentando em diversas turmas de aulas de português quanto realizando palestras especiais, em português ou espanhol, sobre temas brasileiros que chamavam público, de fato. Uma dessas palestras focalizou a história da ascensão da Embraer no altamente competitivo mercado aeronáutico global, um caso de sucesso brasileiro que desperta muita atenção. O Brasil superou seu complexo de vira-lata em muitos setores, deixando para trás a baixa autoestima terceiro mundista, a ponto de se projetar globalmente como potência econômica ascendente. Isso causa admiração no colombiano. A pergunta explícita é como esses brasileiros conseguiram fazer isto, indo brigar de igual para igual com os gringos? E a implícita é o que podemos aprender com eles, para conseguirmos, nós também, nosso lugar ao sol na mercado globalizado?

    A admiração colombiana pelo Brasil não está restrita ao ambiente universitário ou empresarial. Um sinal popular: um dos mais famosos jogadores de futebol colombiano da atualidade é Radamel Falcao García Zárate, ou simplesmente Falcao. Assim batizado em homenagem a Paulo Roberto Falcão, o grande astro do Internacional de Porto Alegre da década de 1970 e da Roma na década seguinte.

    O interesse brasileiro pela Colômbia também é maior, agora. Pelo menos na esfera empresarial. Investimentos brasileiros estão presentes aqui e ali. No aeroporto de Medellín, descubro por acaso a presença do Viena, restaurante do qual costumo frequentar algumas unidades, em São Paulo. Nas ruas de Bogotá, boa parte dos ônibus urbanos têm carrocerias Marcopolo, a tradicional indústria de Caxias do Sul. Na área petroquímica há presença brasileira, assim como muitos de nossos cantores e cantoras populares têm discos em espanhol à venda pelo país e como as novelas da Rede Globo têm exibição certa na televisão local, dubladas ao espanhol. Sem falar na Avianca, a empresa aérea de bandeira da Colômbia, segunda mais antiga do mundo em operação, hoje propriedade de um grupo empresarial liderado pelo boliviano naturalizado brasileiro Germán Efromovich, atuando no mercado internacional agora como parte de uma aliança estratégica com a TACA de El Salvador e no mercado doméstico verde e amarelo com filial própria, a Avianca Brasil.

    Visito o moderno Centro Cultural García Márquez, em Bogotá, ali testemunhando outro exemplo do novo interesse brasileiro pelo país do escritor: o Ministério do Turismo distribui um livreto em formato de história em quadrinhos promovendo nossas atrações turísticas. Brasil: El Que Viene, Se Vuelve Fanático (Brasil, Quem Visita Se Apaixona, em tradução livre minha).

    Convém ao Brasil atrair turistas colombianos, sim, como convém a empresas brasileiras de foco internacional investirem na Colômbia. Seu mercado doméstico é o segundo maior e mais importante da América do Sul, atualmente, após o Brasil. Maior do que o argentino, o chileno. O Brasil é um sonho de consumo acessível para muitos colombianos que viajam, especialmente motivados pelos grandes eventos esportivos até 2016. O Rio de Janeiro, o samba, o carnaval, a alegria do povo, a música, a cultura e a culinária atraem, mesmo.

    A Colômbia já tem mais músculos no cenário internacional, ficou para trás a debilidade dos anos 1980. Seu café rivaliza – ou até mesmo supera, acho – com o brasileiro na preferência internacional, graças em especial a uma genial ação promocional ancorada na figura fictícia de Juan Valdez, símbolo dos cafeicultores do país. A violência complicadíssima de se entender, para um estrangeiro, devido aos inúmeros grupos de narcotraficantes, paramilitares e guerrilheiros em múltiplas disputas armadas de interesses diversos continua, mas parece ter de fato diminuído significativamente, embora ainda governo e guerrilha não tenham chegado, quando escrevo, a um acordo de paz definitivo, O país se desenvolve, vai superando tropeços. O turismo cresce, chegam mais visitantes estrangeiros. Em novembro de 2012, entro e saio pelo novíssimo terminal internacional do Aeroporto El Dorado, de Bogotá, inaugurado como parte de um processo de modernização que tira a cidade do sufoco provocado pelo expressivo aumento do tráfego aéreo nos últimos anos. A modernização deverá se completar em julho de 2014, com o término de obras no terminal doméstico, podendo transformar o El Dorado no terceiro mais movimentado aeroporto da América Latina, em passageiros.

    Os visitantes estrangeiros não ficam mais restritos às inegáveis atrações de Cartagena, no Caribe. Podem também visitar a 48 quilômetros de Bogotá a Catedral de Sal de Zipaquirá, a Primeira Maravilha da Colômbia, um dos mais impressionantes feitos arquitetônicos colombianos, uma catedral subterrânea construída numa mina de sal. Como faço com Raul, Shirley e o filho do casal nascido no Brasil, Gabito, apelido carinhoso que dão ao nome Gabriel. Claro, você adivinhou. O pai é fã. O nome é homenagem ao notável escritor, infelizmente impossibilitado de exercer seu ofício quando preparo este original, vítima de Alzheimer.

    Também visitam Medellín, terra do mundialmente famoso artista plástico Fernando Botero, cidade que rivaliza com Bogotá

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