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A Princesa De Ferro
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E-book320 páginas4 horas

A Princesa De Ferro

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Sobre este e-book

A princesa do reino de Kahlmer foi sequestrada e o rei está disposto a tudo para encontrá-la, declarando guerra contra a Ordem Suprema. Alheia a tudo isso, no Oriente a Cavaleira Inominável acaba encontrando um ser poderoso na misteriosa floresta Xuanpooh que lhe revela o seu destino: derrotar a Rainha Negra.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de dez. de 2015
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    A Princesa De Ferro - Tatiane Grellmann

    mascara-fundo-branco

    Capítulo 1

    mascara-fundo-branco

    Helstrig

    Já era noite quando um homem de cabelos negros, semblante grave e com véstias reais andava impaciente sem direção em um dos salões do castelo Helstrig. Consumido pela ansiedade, sua vontade era de entrar em seu aposento e obter notícias sobre sua esposa que estava em trabalho de parto. A última notícia que teve de Lhiannan, sua Rainha, não foi otimista. Disseram que ela estava enfraquecendo e corria risco de morrer.

    Uma serva saiu do quarto. Caminhava em passos receosos demais na opinião do monarca. Ele ficou em silêncio, esperando que a mulher falasse. Porém, nada foi dito. Apenas abaixou os olhos, num ar de lamentação, e fez um gesto negativo com a cabeça.

    Aldrich II não conseguiu acreditar. Entrou no quarto ignorando os protestos de um de seus Conselheiros e velho amigo. Tinha necessidade de vê-la. Não poderia perdê-la.

    Viu muito sangue nos lençóis que ainda estavam sendo trocados. Algumas servas choravam em silêncio. Agora ela era apenas um cadáver de uma mulher pulcra. Lhiannan era a mulher mais bela que o Rei e todo seu reino já haviam visto.

    Ele se aproximou da cama com passos pesados, sentou-se ao lado dela. Acariciou a face pálida, afastando uma mecha escarlate de seu rosto e colocando atrás da orelha levemente pontuda. Encostou sua testa no rosto da mulher, ignorando as palavras de consolo que as pessoas a sua volta falavam. Só queria entender porque o dia que deveria ser o mais feliz de sua vida tornou-se o mais triste. Lágrimas silenciosas percorriam o rosto do Rei e se escondiam em sua barba espessa.

    Lembrou-se da primeira vez que a viu, de quando ela disse que era filha da Rainha das Fadas e Musa da História e que o achava detestável. Lembrou-se de achar aquilo inconcebível. Não conseguia entender como ela poderia detestá-lo sem conhecê-lo. Depois, recordou de outros encontros que tiveram por insistência do Rei. Uma tentativa de tentar compreendê-la.

    —Musa? —O monarca indagou o ser que estava a sua frente. A mulher de cabelos cor de fogo e olhos mesclados entre o verde e azul estava sentada à beira do lago que havia perto do castelo.

    —Sim. No reino de Anwnn não temos títulos como vocês. Nossa posição de Musa apenas esclarece que somos aquelas que representam uma das paixões mortais.

    —E quantas existem? — Ele se aproximou daquele ser que tanto o fascinava.

    —Somos nove: música, dança, astronomia, poesia lírica, poesia épica, tragédia, comédia, retórica e história. Entretanto, não é possível compreender só pelo nome o quão importante elas são para vocês e o quão devastador é ter uma dessas paixões doentes.

    —Por que está aqui?

    —Por quê?

    A mulher, que começou a molhar os pés no lago e que, até então, se perguntava a mesma coisa, via a confusão que fizera com aquele homem desde a primeira vez que se viram.

    —Isso não importa, não voltarei mais.

    Ela se levantou e o ar majestoso daquele ser fez o Rei perder a fala por um breve momento. Porém, quando fez menção de ir embora, Aldrich se colocou em seu caminho e segurou uma de suas mãos. O gesto a fez corar e ficar irritada com a ousadia daquele mortal.

    —Não vá, por favor. Fique mais um pouco.

    Aquele homem não tinha o hábito de pedir nada, mas só o fato de pensar em nunca mais vê-la o fez estremecer.

    —Não temos permissão para ficar em seu mundo por tanto tempo. Minha mãe ainda não perdoou o que vocês fizeram para as minhas irmãs da última vez. —Disse severa.

    —Mas isso ocorreu há nove séculos!

    —Para vocês isso é uma eternidade, mas para nós é como se tivesse sido ontem.

    —Vocês não deveriam viver com as mágoas do passado. Deveriam pensar em como conquistar o seu futuro e sua felicidade, Princesa.

    —Não sou uma princesa!

    —É a filha de Hérmia, a Rainha das Fadas. Se morasse aqui, o seu título de equivalência seria o de princesa.

    —Com certeza suas princesas não são netas de deus algum como nós somos. Não seja prepotente a ponto de pensar que somos iguais.

    —Podemos ser diferentes em alguns aspectos, mas compartilhamos coisas como a curiosidade. Você poderia nunca mais ter aparecido para mim. Porém, quis saber porque eu vim aqui todos os dias desde que te vi pela primeira vez. —Ele ousou dar um passo mais perto da Musa, esperando que esse gesto não a afugentasse. —Você é neta da Deusa do Amor. Compreende, então, o que sinto por você e sei que é capaz de ter sentimento semelhante ao meu.

    —Está se valorizando demais.

    —Temo que a coisa mais valiosa neste momento sejam os seus lábios.

    Aldrich colou seus lábios nos lábios dela esperando que aquilo que sentia fosse suficiente para reacender a vitalidade extinta, mas nada aconteceu. Lhiannan havia abandonado sua condição de Musa e tudo que se referia a ela, como sua imortalidade, para experimentar o amor mortal que o Rei lhe ofereceu.

    Um choro em particular fez com que ele saísse de seu martírio. Era um choro agudo e desesperado. Procurou pela fonte e viu uma serva que se concentrava em algo em cima de uma mesa. Ele se aproximou e percebeu que ela limpava um recém-nascido ainda sujo de sangue.

    —Uma menina... —Disse o Rei para si.

    A mulher terminou de limpar o bebê e o Rei pediu para segurá-lo. A criança chorava a plenos pulmões e ele começou a embalá-la, acalmando-a aos poucos.

    —Você já sente falta dela também? —Falou na língua das fadas.

    A menina abriu os olhos e ele teve uma surpresa ao notar que eram os mesmos olhos de Lhiannan, como também seu cabelo claro e ruivo.

    —Minha pequena... És divina.

    Sentia seu coração dolorido ser preenchido por um sentimento acolhedor ao ter a filha em seus braços. Suas feições se acalmaram e toda sua atenção estava focada naquele pequeno ser que o olhava meio sonolento.

    Pensou no nome que os dois haviam discutido dias atrás e agora sabia qual seria o nome de sua filha. Aproximou-se novamente do leito de sua mulher e mandou todos saírem. Alguns hesitaram, mas sabiam que jamais poderiam recusar uma ordem real.

    —Você nos deu uma linda menina, Lhiannan.

    Segurava a mão da esposa com uma das mãos enquanto que, com a outra, segurava o bebê em seu colo.

    —Marinne é o nome que você escolheu por tanto amar as águas dos lagos e o mar. Nossa Marinne será a Helstrig mais bela de toda a história e direi a ela sempre quão generosa você foi e o quanto a amou.

    —Ela sabe disso.

    O Rei, ao procurar pela dona da voz, deparou-se com uma mulher de cabelos dourados como o ouro, lisos e olhos iguais aos de sua esposa. A ninfa vestia uma túnica branca e púrpura. Correntes prateadas rodeavam seu antebraço esquerdo. Seu rosto, extremamente belo, transmitia um ar racional e uma atitude pensante.

    —Lembro de você quando fui para Anwnn conversar com a Rainha. É uma das Musas.

    —Sou Meliann, a Musa da Retórica.

    —Por que está aqui?

    A Musa, que até então observava o Rei, olhou para o rosto da ninfa que havia falecido.

    —Lhiannan era a minha tia e filha de Hérmia. Observávamos o relacionamento de vocês para saber se estavam preparados para evoluírem em suas paixões. A morte dela foi uma fatalidade e não conseguimos obter resultados conclusivos. Há muitos séculos não perdíamos alguém tão próximo. A morte dela reavivou esse sentimento de perda e o silêncio da dor.

    Meliann andou para perto do Rei, ficando alguns passos de distância.

    —O que eu vim fazer? Vim solicitar o corpo de Lhiannan e a sua filha.

    —Você enlouqueceu? Marinne não irá contigo! — O Rei se alterou e o bebê começou a chorar. Ele a embalou tentando protegê-la e tentou acalmá-la. — Jurei a sua Rainha que zelaria por Lhiannan e nossos descendentes.

    —Não pense que somos cruéis ou algo similar. Minha avó e eu estamos cientes das verdades que habitam o seu coração. Entretanto, a morte prematura de minha tia era algo que não havíamos pensado, já que nós não morremos. Marinne tem nosso sangue e crescerá aprendendo a lidar com nossos poderes. Vocês não têm ideia de como somos e como influenciamos seus comportamentos. Um dia ela crescerá e sua beleza poderá tomar proporções épicas. Sendo metade ninfa e metade humana, ela terá poder sobre as paixões mortais. Este poder estará relacionado à magia que há em seu sangue. Os dois crescerão juntos.

    —Ela não sairá daqui! Esse não é só o meu desejo, mas é.... Era o de minha esposa também. Marinne é minha primogênita e herdeira. Não perderei as duas mulheres mais importantes da minha vida em um só dia. E, como Rei de Kahlmer, a proíbo de levar minha filha, a Princesa Marinne Lhiannan Anwnn Helstrig, para longe de mim. Fiz um acordo com sua Rainha e irei cumprir. Minha filha será protegida por mim e por minha família. Se vocês tentarem levá-la a força, considerarei isso uma quebra em nosso acordo e tomarei medidas contra sua Rainha.

    A ninfa o olhava como se estivesse medindo suas palavras. O homem estava com feições coléricas e segurava de maneira superprotetora a menina que não parava de chorar em seus braços.

    —Levarei suas palavras à Rainha. Talvez haja uma maneira que torne possível que minha prima cresça em seu mundo sem sofrer tanto por sua descendência. Se sim, enviaremos madrinhas para cuidar dela por nós.

    —Madrinhas?

    —Sim, são fadas que protegem os mortais a nosso mando. Acredito que três será o bastante para a Princesa. E tenha cuidado com o que sente perto de Marinne. Ela sente o que está sentindo e no momento você está inseguro, por isso ela não para de chorar. Não iremos tirá-la à força, Rei de Kahlmer. Esperava apelar para seu bom senso. Pois bem, agora com relação ao corpo de Lhiannan, nós o solicitamos. Temos certos rituais com nossos mortos. Gostaríamos que fosse a Anwnn e nos permitisse sepultar minha tia de modo que seu espírito fique em paz. Pense na mãe de sua esposa antes de recusar o meu pedido.

    Aldrich olhou para a menina que não parava de chorar e suspirou, tentando se acalmar. Aos poucos a meio-ninfa foi sossegando no colo de seu pai, mexendo os braços de maneira preguiçosa.

    -Está bem, podem sepultá-la em Anwnn. Mandarei arrumarem tudo para partirmos. E essas madrinhas? Quero conhecê-las antes de permitir que cuidem de minha filha. Se eu não gostar delas, nenhuma terá permissão para ficar em Kahlmer. Fui claro?

    A ninfa sorriu como se a ameaça do Rei não fosse algo que devesse ser levado a sério. Assentiu com a cabeça e, assim, partiram em direção a Anwnn.

    mascara-fundo-branco

    Capítulo 2

    mascara-fundo-branco

    O Orgulho

    Algumas décadas depois...

    —Silêncio! — Exigiu o monarca de Kahlmer.

    Silenciaram seus dez Conselheiros, que cochichavam sobre o que os dois Cavaleiros de Prata revelaram. Helladios e Leohad estavam ajoelhados diante do Rei, junto a outros dois kahlmerianos. Um vestia roupas simples, em contraste com a extravagância do outro que estava um pouco mais afastado dos cavaleiros.

    A Duquesa Dahmu e seu marido, o Duque Haldur, a Condessa Lauranna, cuja família viera do oriente, e os demais nobres estavam sob a vigilância de alguns soldados.

    —Diga-nos mais uma vez o que aconteceu. —Ordenou o Rei.

    Os traços nobres herdados de seu pai, Aldrich II, e a mesma perseverança fizeram com que Aldrich III fosse conhecido por suas conquistas e por sua cólera. Era implacável com os injustos e severo com as leis.

    —Eles vieram pela noite, Vossa Majestade.

    Leohad tomou a palavra novamente. Seu semblante mostrava cansaço e depressão. O rosto nobre ainda continha hematomas da última batalha. Seus olhos claros estavam mais carregados naqueles dias.

    —Estávamos todos nos reunindo e montando acampamento. Faltavam dois dias para chegarmos as terras do Duque Markiachi. Helladios foi ver se Vossa Alteza precisava de alguma coisa e depois continuou seus afazeres.

    —É verdade as palavras de Leohad, Helladios?

    O cavaleiro de cabelos negros e longos confirmou. Diferente de Leohad, ele mantinha uma expressão mais austera.

    —Sim, Vossa Majestade. Fui lá para saber se Vossa Alteza precisava de mais alguma coisa ou se havia alguma outra ordem a ser dada. Mas ela disse que não precisava de mais nada e que eu deveria continuar com meus afazeres.

    —E depois?

    —Depois aconteceu o que o Sir Leohad disse. Fomos emboscados por mercenários. Eram muitos, como se soubessem quantos éramos e que estaríamos pela região naquele momento. Não, tenho certeza de que sabiam. Seu poderio bélico foi preparado para nos segurar ou nos derrotar.

    —E a Princesa?

    —Vossa Alteza estava em seu aposento. Quando fomos em sua direção, para protegê-la, a vimos fora de sua tenda, já ensanguentada. Ela lutava contra um inimigo que não estava visível.

    Leohad, que retomara a palavra, ficou ligeiramente emocionado e hesitou em continuar. Respirou fundo e, quando ia continuar, Helladios o fez por ele.

    —Ainda lutando, ofegante, Vossa Alteza conseguiu subir em um cavalo. Foi, então, que notei sua lentidão. Penso que estava sob o efeito de alguma substância que afetou seus sentidos. Derrotei o meu oponente e corri o mais rápido que pude em sua direção, foi quando os homens de mantos negros apareceram e começaram a atacar nossos homens e os mercenários.

    —A Ordem Suprema?

    —Sim.

    —Como pode ter certeza? — Perguntou o Rei.

    Helladios, que até então estava de cabeça baixa, olhou para o Rei, para o Conselho de Kahlmer e para aqueles três nobres, demorando o olhar em uma mulher que vestia roupas brancas com ornamentos prateados.

    Seus olhos se encontraram com os olhos acinzentados da Duquesa Dahmu. Lembravam rios da prata mais límpida e seus cabelos negros, com enfeites cintilantes, lembravam o manto noturno do céu.

    O rosto celestial daquela mulher lhe trazia uma segurança e esperança. A Duquesa sempre causou esse efeito. Sua presença era piedosa, acolhedora e apaziguadora. A nobre lhe deu um leve sorriso, incentivando—o a continuar.

    —Duns Occam estava lá, Vossa Majestade.

    O Rei ficou surpreso e os demais Conselheiros cochicharam entre si novamente. A Duquesa olhou para seu marido, preocupada. O homem tentava lhe passar segurança.

    Suas diferenças eram evidentes. Enquanto ela era delicada como um cristal, Haldur era forte, com traços dos povos do Norte e um olhar de convicção. Os cabelos eram loiros como o sol e longos. O azul de seu olhar era vibrante, sua barba longa acabava numa trança e sua presença inspirava coragem, vigor e proteção àqueles em volta.

    Porém, a reação da mulher à esquerda de Dahmu foi diferente dos demais. Ela, que parecia entediada, até então, se limitou a dar um sorriso lacônico.

    —Para lutar comigo ele não aparece, mas para sequestrar crianças nobres...

    —Lauranna. — Pediu a nobre de branco. — Não fale assim de Vossa Alteza.

    —Que diabos, Dahmu! O fato é que ele não passa de um covarde.

    A Condessa usava roupas muito decotadas e sensuais para os padrões de Kahlmer. Tão bela quando Dahmu, a nobre tinha um aspecto sombrio.

    Sua aparência exótica era acentuada por sua descendência oriental. A cor dos seus olhos era amarelada e com uma fenda que remetia aos olhos de um gato. Os cabelos escuros e sem brilho lembravam o cabelo de um cadáver e a morbidez da pele reforçava esse aspecto. Seu semblante parecia o de uma pessoa irritadiça, sarcástica e com segundas intenções. A presença desta nobre lembrava os desafetos e negócios inacabados. Incitava o desejo de retribuição, de vingança.

    O Rei permaneceu olhando para Helladios tentando assimilar as palavras ditas e pediu para que ele prosseguisse, ignorando o comentário de Lauranna.

    —Novamente consegui me desvencilhar dos meus inimigos a tempo de ver a Princesa cair do cavalo, como se tivesse perdido as forças. Neste momento, o ser invisível que lutava contra a Princesa se revelou e foi em sua direção. Era um homem com um manto de fibra grossa rubra, assim como seus olhos. Pela descrição e suas garras de metal, tenho certeza de que era o famoso Mortalha Vermelha.

    O nobre ajoelhado franziu levemente a testa quando ouviu aquele nome ser pronunciado.

    —Aquele homem —continuou Helladios— foi em direção a Princesa. Mas pausou o passo quando percebeu que havia alguém de manto parado atrás dela. Este retirou sua capa, revelando ser Duns Occam. O assassino recuou alguns passos, talvez não acreditando no que vira, e por fim, decidiu fugir, refugiando-se nas sombras da noite. O Sumo Sacerdote da Ordem Suprema pegou Vossa Alteza, que já havia perdido a consciência, e foi embora. Levou-a de nós... E eu falhei em protegê-la.

    O cavaleiro mantinha a postura, mas Dahmu sentia a dor e a culpa corroendo sua alma. Leohad também se sentia assim, porém Helladios era um homem muito leal a Vossa Alteza e vivia para ela, enquanto Leohad ainda tinha um pai nobre e terras para assumir um dia como Barão.

    —Marinne... —Sussurrou o Rei.

    Por um instante ele expôs seu sofrimento, mas logo tomou fôlego e continuou aquela reunião.

    —Muito bem, os cavaleiros estão dispensados. Mais tarde falaremos sobre o futuro de vocês.

    Os dois cavaleiros se levantaram e prestaram as formalidades reais antes de sair. O olhar do Rei repousou sobre o nobre ajoelhado e sobre o homem de véstias simples.

    —Fale arqueiro.

    —Vossa Majestade, eu sou um homem humilde e desde pequeno eu ajudo minha família. Dizem que eu já roubei, e é verdade, por isso eu fui punido e depois mandado para a guerra anos atrás. Hoje sirvo ao nobre sentado ao meu lado, o Duque Markiachi. Mas eu não sou uma pessoa ruim, Vossa Majestade! Roubei comida para ajudar minha mãe que estava doente. Eu tinha 13 anos e, por ser o mais velho, tinha que sustentar meus irmãos...

    —Eu, eu, eu... Só sabe falar sobre você? Vá direto ao assunto!

    —Sim, Vossa Majestade. Perdão. —Disse o homem nervoso.

    O nobre ao lado tentava manter-se calmo, mas não deixava de esgueirar seus olhos para o arqueiro.

    —Fui encarregado de ajudar alguns soldados que foram contratados pelo Duque para fazer um serviço. Confesso que já fiz algumas coisas que não me orgulho pelo Senhor das terras onde moro, mas só seguia suas ordens. E Vossa Majestade sabe que ordens são ordens. Dessa vez ele me pagou o triplo e a todos os que foram, além dos mercenários, para essa missão. O que eu não achava era que...

    —É mentira! —Esbravejou o homem de meia idade e sobrancelhas grossas. —Esse ladrãozinho tentou me extorquir dizendo que faltaria com a verdade se eu não lhe desse o que queria.

    —Silêncio! —Disse o Rei em voz alta. —Não ordenei que falasse. Cale-se, Duque!

    —Exijo ter um julgamento adequado! Aldrich II não tratava os nobres assim.

    —Não sou o meu pai. —Respondeu com uma voz cortante e imperiosa. —Se continuar a dizer mais alguma coisa, julgarei que discorda do seu Rei e o nobre sabe a pena para isso.

    —Perdão, Vossa Majestade. Estou ainda exausto por causa da viagem e das invasões daqueles bárbaros em minhas terras. Não estou pensando de forma clara.

    —Descanse, então, e poupe-se para quando chegar a sua hora. —O Rei voltou sua atenção para o arqueiro. —Continue.

    —Não achava que ele ia nos fazer lutar contra outros kahlmerianos. Pensamos que pudessem ser ladrões usando roupas de nossos soldados para nos enganar, mas no meio da batalha percebemos que eram soldados de Kahlmer, os Cavaleiros de Prata! Alguns soldados, como eu, foram espertos e deram no pé quando perceberam a burrada em que nos metemos. Não demorou muito para sabermos que a Princesa estava lá. —O arqueiro olhou para o Duque e proferiu as últimas palavras com um tom de deboche. —E também todo mundo sabe o acontecido entre a Princesa e o Duque, que ela o deixou a ver navios....

    —Mais respeito comigo! –Exigiu o Duque que se continha.

    Ao sentir o olhar do Rei sobre si, o nobre abaixou a cabeça e pediu desculpas.

    —Você afirma ter recebido a ordem do Duque Markiachi para atacar a comissão da Princesa?

    —Sim, Majestade.

    —Vossa Majestade não irá acreditar nas palavras desse ladrão, irá?

    —É para isso também que pedi que

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