Primavera

De Naiara

Primavera é o livro II da Tetralogia das Estações. É uma história fictícia para a qual eu desejei um tom poético, um tempo fabuloso intrinsecamente ligado ao real. Um romance-blues onde a música é parte indissociável da obra. Assim como Lucas e João, Beatriz é uma personagem contemporânea, mas esta carrega um ar sutil de uma mulher estilo norte-americana da década de 1940, trazendo consigo referências no seu jeito de vestir-se ou em objetos de sua casa como sua vitrola sempre tocando blues, que expressa sua característica psicológica e sua filosofia. Apaixonado pela filosofia e pela literatura, o jovem poeta planeja sair de sua cidade natal para viver sua sonhada liberdade. Alguns meses antes, porém, conhece Beatriz, que chega numa lúdica Caieiras por motivos desconhecidos e encontra em dois moradores da cidade um rio poético navegável. Juntos fazem desse relacionamento um poema e a poesia dos dias transforma os laços entre eles cada dia mais intransponíveis. O livro tem a introdução do Ator e Filósofo Filipi Gradim e Fotografia do Filósofo e Poeta Lucas Bertolo.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 10 de set. de 2016

Pré-visualização do livro

Naiara

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Primavera

1ª Edição

Edição Naiara Paula Eugenio

Rio de Janeiro

2016

Primavera, de Naiara Paula

Por Naiara Paula

Introdução de Filipi Gradim

Foto de capa de Lucas Bertolo

ISBN: 978-85-918520-2-4

1.Literatura brasileira. 2. Romance. 3. Drama.

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Primavera, de Naiara Paula

Introdução

Toda obra de arte é um labor árduo e singular: para cada parto

um novo filho. No caso da Literatura, exige-se que o escritor

abuse de todos os ingredientes e aditivos que estão ao seu

dispor: imagens, descrições, nomes, sensações, lembranças.

Nunca, em hipótese alguma, ele deverá abusar das virtudes do

pudor – esta é sua ética. Não é tudo o que ele ocultará de seus

leitores; tão somente o suficiente para que sobre alguma

margem de dúvida, de mistério e de esperança. Primavera

experimenta esse tipo de atitude romanesca: o gosto por guardar

segredos. A lúdica interiorana cidade de Caieiras, em São Paulo,

configura o cenário bucólico em que esse segredo é aquecido

através de um encantamento durante a Primavera. Beatriz,

recém-chegada de viagem, conhece Lucas e João, dois nativos

da cidade. Beatriz e Lucas estreitam rapidamente os laços

quando percebem que partilham a mesma paixão pela Literatura

e pela Filosofia. Noites regadas a vinho e poesia, passeios de

bicicleta e banhos de sol pela floresta envolvem o casal de

amigos numa atmosfera idílica na qual a Primavera e seus

devires são os protagonistas. Nasce aí uma amizade

transcendental que ultrapassa os limites da cidade. Cidade que

também conduz Beatriz para dentro do amor de João. A escrita

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Primavera, de Naiara Paula

delicada e bem ritmada de Naiara mescla o poético e o prosaico

incitando-nos a ouvir o que a estação das flores tem a cantar

através de seus blues. Canta-se o que aflora, mas também o que

não pode ser cantado. Os olhos tristes e o desejo selvagem de

seus personagens cinematográficos encobrem problemas graves

como o racismo, a solidão e a liberdade, e servem de pretexto

para que nos aproximemos do segredo não só de Caieiras mas

da existência: o impulso que nos leva a correr feito rio ainda que

tudo nos force a ficar.

Filipi Gradim

Ator e filósofo

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Primavera, de Naiara Paula

Prefácio da Autora

Antes de tudo, quero agradecer a generosidade e a amizade de

Filipi Gradim, que com sua astúcia de filósofo-ator me cedeu seu

tempo e suas letras para a introdução deste livro; e de Lucas

Bertolo, que com sua inteligência e sensibilidade de filósofo-poeta

acolheu meu amor me doando imaginação para compor essa

obra-canção.

Primavera, o segundo livro da Tetralogia das Estações, é uma

história fictícia para a qual eu desejei um tom poético, um tempo

fabuloso intrinsecamente ligado ao real, persistente morosidade

acompanhada de uma luz solar amarela, ou um dia agradável à

beira do rio. Uma imagem próxima da realidade do coração. Um

romance-blues onde a música é parte indissociável da obra.

Assim como Lucas e João, Beatriz é uma personagem

contemporânea, mas esta carrega um ar sutil de uma mulher estilo

norte-americana da década de 1940, trazendo consigo referências

no seu jeito de vestir-se ou em objetos de sua casa como sua vitrola

sempre tocando blues, que expressa sua característica psicológica e

sua filosofia.

Acredito que nesse livro exista um túnel transitável entre os

tempos, os corpos, os pensamentos e as vidas das pessoas. Existe

também um outro túnel, mas sobre esse eu não vou lhes dizer,

apenas pedir que entrem nele e descubram o que há do outro lado.

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Primavera, de Naiara Paula

TETRALOGIA DAS ESTAÇÕES

LIVRO 2 - PRIMAVERA

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Primavera, de Naiara Paula

É manhã em Caieiras.

Música: Mississippi River Blues - BIG BILL BROONZY.

Beatriz vem chegando pela rua com sua bicicleta até a frente da

biblioteca da cidade. Os olhos de Lucas, de dentro da biblioteca,

a encontram chegando.

Beatriz, ajeita a bicicleta do lado de fora antes de entrar. Ela

entra. Lucas ainda a acompanha com olhos fixos e suaves. E

João, o funcionário, os percebe. Lá dentro, Lucas continua a

observá-la sereno. Ele está sentado em uma poltrona com um

livro na mão e, ela, despercebida, sem muitos alardes. Ele se

concentrou nela. Ela caminha mais adentro, e os olhos de Lucas

sempre a acompanhava. Ela passa por ele e vai até os livros.

Narração sobre cena: era uma vez numa cidadezinha... Ah!

Acho que os contos de fadas já não começam mais assim...

Vejamos outro... Existia uma floresta mágica... Não, não,

desinteressante desse jeito. Quer saber? Vou lhes contar

exatamente como aconteceu...!

Ela chegou para mim junto com a Primavera. Tinha uns olhos

tristes. Sua pele preta refletia como mágica a luz do sol. O rosto

e o corpo redondos e cheirava a blues à beira do Mississipi. Ela

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Primavera, de Naiara Paula

estava lá. Com aqueles olhos e aquele sorriso de metade do

rosto, gostoso, do qual eu nunca mais me esqueceria. Ela usava

um vestido florido e comprido que cobria seu corpo até os

joelhos e ela se escondida entre os livros como se quisesse ser

confundida com eles. E João! Eu percebi que ele a percebeu –

risos.

Eu nunca tinha visto ela antes. Eu estava sentado lá e ela deixou

tudo cair. Eu sorri. E pensei que se não fosse ela seria eu. Eu a

ajudei. Ela disse obrigada, e que vivia causando desastres.

Tinha um sotaque do Rio de Janeiro. Nunca vi tanto chiado

numa palavra só. E eu buscava entender o que uma carioca

estaria fazendo no meio do nada de Caieiras com aquele olhar

perdido. Só podia estar perdida. Ela mal me olhou e saiu

apressada. Eu? Ah! Eu