Sem Trabalho! E Agora?
De M. Oliver
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Sem Trabalho! E Agora? - M. Oliver
1
Sem Trabalho!
e agora?
12 lições sobre carreira, crise, autoconhecimento e
como dar a volta por cima.
M. OLIVER
ISBN: 9781973250777
Conteúdo
M. OLIVER ............................................................ 2
1 Você não está sozinho – Prólogo ............... 11
2 Prepare-se para o impacto ......................... 16
Máquina sentimental ..................................................... 19
Contando a notícia às pessoas ................................... 24
Bestialidade........................................................................ 28
Sobrevivendo ao choque ............................................. 33
No olho do furacão ........................................................ 35
3 Sobre vergonha, solidão e ajuda ............... 37
Quando sentir vergonha é justo e compreensível?40
Já pensou por que não somos avestruzes? ........... 42
7 perigos ............................................................................. 43
7 coisas que me ajudaram ........................................... 45
Buscando ajuda – diferentes temperamentos e personalidades
............................................................................................... 47
Perdidos na floresta ........................................................ 50
4 Como a história do trabalho nos trouxe aqui
53
Trabalho do passado ..................................................... 56
Trabalho do futuro .......................................................... 58
Educação X Trabalho? ................................................... 65
Problemas da comunidade .......................................... 69
Panorama do trabalho .................................................. 75
5 Repense as finanças .................................... 79
Aperto de cinto nos lugares certos .......................... 81
Oportunidade para ser melhor .................................. 84
Impulsos e oportunistas ................................................ 86
A disposição mental vencedora ................................. 88
6
Seu ponto de vista muda abruptamente ..... 91
A dor que reordena prioridades ................................ 93
Uma nova sensibilidade à dor alheia ....................... 96
Aqueles 5 conselhos do que não fazer ................. 100
Não, você não está ficando louco........................... 103
7 Retrospectiva involuntária ......................... 106
Pensamentos à beira da morte ................................ 107
Sobre desejos e material de construção ............... 116
Colocando o passado na balança ........................... 120
Voltando à praia sem se afogar ............................... 131
8 Mantenha mente e corpo sãos ................. 133
Como manter a mente focada ................................. 135
Como cultivar harmonia com seu corpo .............. 138
Seres integrais ................................................................ 141
9 GET-UP ....................................................... 144
Galvanize .......................................................................... 146
Extraordinária .................................................................. 149
Tenacidade ...................................................................... 151
Utilizar ................................................................................ 154
Possibilidades .................................................................. 156
GET-UP .............................................................................. 159
10
Como procurar trabalho ...................... 162
Revise seu currículo ...................................................... 164
Pessoas, pessoas e mais pessoas ............................ 167
Redes de contatos......................................................... 168
Imagem Profissional ..................................................... 171
Negociação ...................................................................... 175
Pensar antes de agir ..................................................... 180
Preparação contínua .................................................... 185
Buscado trabalho: guia rápido de sobrevivência190
Portais de anúncio de empregos ............................ 191
Fontes mais confiáveis de oportunidades de trabalho
192
Ativando sua rede de contatos ................................ 194
Oportunidades invisíveis ............................................. 197
11
Quem não te deixa sozinho ................. 203
Deus Fala. Escutamos?................................................. 204
Conhecendo a fidelidade ........................................... 206
Sobre uma reta maneira de pensar ........................ 211
Como se sentirá meu criador?.................................. 217
Firmando minha vida na rocha ................................ 218
Despreparado e sem fé ............................................... 220
12
Existe vida após a crise .........................222
Os efeitos de um trauma no longo prazo............ 224
Limites Auto Impostos ................................................. 228
É possível esquecer ....................................................... 231
É possível lembrar ......................................................... 233
Uma razão para continuar ......................................... 234
Este livro é dedicado aos peregrinos, em busca de uma
cidade permanente.
1
VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO – PRÓLOGO
"Solidão, isolação, são coisas dolorosas e além da resistência
humana" Julio Verne
Às vezes não sei se o louco sou eu ou se são os outros
Albert
Einstein
Você já fez algo simplesmente por curiosidade? Não por ser útil nem
prático; não por ser necessário nem bonito. Só curiosidade, aventura,
descoberta. Algumas coisas provocam; nos fazem sentir mais vivos. Este livro é
assim, uma busca curiosa por expressar minha perspectiva sobre uma vivência
compartilhada com tantas pessoas ao longo da história.
Por isso mesmo, é um livro egoísta. É a visão de um ponto de vista único.
Você não irá encontrar um compêndio organizado de conceitos acadêmicos.
Mas um pouco desse egoísmo me parece inseparável de um relato tão
pessoal, onde busco ser autêntico e detalhado na minha reação e visão do que
vivi. Por isso, peço licença para ser visceralmente genuíno.
Tinha vontade de escrever uma espécie de tratado sobre a perda de
emprego. Quisera seguir um método científico organizado, buscar mais sobre
quem já passou por essa experiência antes. Meu passado acadêmico me
impulsionava nessa direção. Mas este livro é, na verdade, mais uma espécie de
diário e confessionário. É quase um relatório de uma experiência, bem menos
ordenado. É uma expressão de uma ferida pulsante em processo de cura. É
minha dor fotografada por dentro, um drama-monólogo pincelado de
pensamentos e cercado de fé. Ao mesmo tempo é uma coletânea de
conselhos, porque com o tempo fui aprendendo o que mais funcionou para
mim e que espero funcione para você.
Não sou escritor e não sei escrever tão bem quanto achava que sabia,
quando comecei. Não sou especialista em recursos humanos, mesmo tendo
sido chefe e subordinado. Não sou cientista na área de comportamento,
embora leia e me fascine o assunto. Na verdade, me sinto aliviado ao escrever.
Ao princípio pensava que só saber de minha experiência, descrita em primeira
mão, já seria útil para muitas pessoas. Agora percebo que ficou aqui algo que
pode consolar muitas pessoas e impulsioná-las a voos mais altos.
Paradoxalmente, percebo que sei menos do que sabia quando parti. Há
algo no fato de confessar sentimentos, escrevendo-os no papel, que nos
expõe. Alguns dizem que é uma forma de terapia que pode prevenir a
depressão. Eu sinto que ficam evidentes as falhas de minhas ideias, o exagero
do drama pessoal, a debilidade de meus atos. Passei a avaliar mais
profundamente o que passei, lapidar pensamentos mais lúcidos. As facetas
ainda opacas são a expressão de uma experiência em progresso.
O que esperar deste livro então? Conhecimento, de um certo tipo:
experiência. Um conhecimento tácito. Um pouco de achologia, que felizmente
está de moda, afinal todo mundo tem uma opinião sobre tudo. Muito senso
comum com uma ótica diferente desse dia-a-dia corriqueiro. Uma injeção de
ânimo para sua vida ocupada, para superar sua crise, para preparar-se para a
vida ou para alguém que você conhece e que sabe que precisa desta energia.
Você não está sozinho! É a mensagem que permeia quase todas as
páginas. Eu também estou aqui. Foi o que percebi, ao perder o emprego, o
quando todos estamos na mesma situação. Todos buscamos sentido, todos
queremos sobreviver e ter conforto, todos queremos estar seguros e alegres.
Queremos estar cercados de pessoas queridas. Quando passamos por uma
crise, podemos nos sentir sozinhos e deprimir-nos. Foi graças a Deus que eu
percebi que não estamos sós. Quero que você receba este consolo.
Quem sabe por isso nos sentimos atraídos a saber da vida dos outros, a
escutar estórias, assistir filmes. Talvez as outras pessoas se sintam como nós,
não é? Somos todos de carne e osso, todos nascemos e morremos, todos
sofremos. Nossas ideias podem divergir, mas nossas experiências nos unem
em sentimentos compartilhados. Tantos se sentem sós no mundo
individualista de hoje. Este livro é uma mão estendida, de solidariedade e de
conselho.
Quero transportá-lo até o momento em que eu recebo a notícia de
demissão e incitá-lo aos mesmos sentimentos que me tocaram. Este vale é
normalmente um caminho duro e cheio de provas. Tantos de nós o
experimentamos, de tantas formas. Neste sentido, este livro é uma história, a
minha, segundo minhas observações. É uma jornada segundo o que senti e
pensei, uma reflexão sobre o que queremos na vida.
Você encontrará uma vívida descrição do momento em que perdi o
emprego. Será que todos nos sentimos da mesma forma nesse exato
momento? Creio que não. Você experimentará comigo um pouco desse
momento, revivido e avaliado da melhor maneira que minha atual maturidade
emocional me permitiu.
Perder o emprego me levou a ver minha vida e as pessoas de uma forma
diferente. Raiou uma sensibilidade com o sofrimento alheio que não havia
antes. Falo sobre esta mudança de perspectiva e como ela afetou minha
maneira de pensar. Quero que você ganhe algo dessa experiência, mesmo não
havendo estado lá. Provavelmente você encontrará algo de suas vivências ali,
rabiscado com pensamentos e conselhos.
Você também vai encontrar pensamentos sobre minha retrospectiva
pessoal. Nesses momentos de crise, como evitar buscar o momento culpado
pela sua queda? É difícil não colocar as coisas na balança para ver o que valeu
a pena e quais foram os tropeços. Você vai observar coisas que pode
aproveitar e outras que poderá evitar. Quero lhe mostrar como reagi e como
refleti de forma construtiva sobre os erros e acertos do passado.
No meio da leitura, você encontrará um pouco de mim e provavelmente
um pouco de você mesmo. Encontrará um pouco de todos os outros, porque
não vivemos isolados. A crise revela os desafios comuns da vida, que dividimos
todos os humanos. O momento da queda nos revela um caminho ao mesmo
tempo solitário e cercado de gente que sente muito parecido.
Espero que você não precise de nenhum dos conselhos financeiros que
chego a abordar. Mas, como em geral as finanças pessoais são um assunto
pouco dominado e pouco ensinado, delineio algumas medidas de prudência
bem simples. Sem dúvida, gerenciar bem o dinheiro é um dever de cada um.
Com esta área bem resolvida, fica muito mais fácil enfrentar desafios e crises.
Quem pode prever uma crise com precisão? Ainda sim sabemos com
certeza que ocorrem. Para muitas pessoas, a saúde é outro embaraço
frequente no momento da crise. Farei uma ponte entre o trabalho, a saúde e o
cuidado com o corpo. Deixo minhas observações e experiências no cuidado
do corpo, seu impacto pessoal e profissional. Espero que lhe ajude a olhar
além dos remédios e além do comércio relacionado à vida saudável.
Quero lhe oferecer a minha experiência, como um lampejo para a sua, ou a
de alguém que você estima. Mostrarei como foi minha busca por um novo
emprego; as tarefas, sentimentos e considerações desta etapa. Quero ajudá-lo
a abrir algumas portas para pensar em novas ideias e novos caminhos. Afinal,
alguma vez já paramos para pensar em como realmente queremos gerar
renda e o que é o trabalho?
Espero lançá-lo em uma reflexão sobre o mercado de trabalho atual. O
que está acontecendo com os empregos de hoje e como será o mercado de
trabalho no futuro? Todos percebemos mudanças na forma de trabalhar e nos
empregos disponíveis. A tecnologia é causa de mudanças. Ou serão as novas
prioridades sociais que poderiam estar afetando o trabalho. Podem ser ainda
as novas formas de produção que estão afetando a sociedade e a tecnologia?
Dedicarei um espaço amplo para aprofundar sobre a busca de um novo
trabalho. Desde o processo de planejamento até a negociação final, veremos
os pontos mais interessantes e as principais armadilhas a evitar. Tem coisas
que ninguém conta sobre o processo de recolocação profissional, muitas vezes
porque não se percebem lições tão relevantes do ponto de vista do
trabalhador. Falo muito sobre pessoas e sobre redes de contato, que fazem o
mundo do trabalho girar. Será impossível não falar das dicas mais poderosas
para turbinar seu currículo e polir sua presença on-line. Com uma visão de
preparação contínua e um guia rápido de sobrevivência, espero aumentar
tremendamente suas chances de recolocação.
GET-UP será um resumo de uma frase de força e impacto, para motivar o
seu dia a dia. O objetivo é condensar, de alguma forma, todo o conteúdo do
livro em uma expressão poderosa e fácil de levar com você todo dia. Assim
você terá um efeito muito mais duradouro e resultados mais expressivos de
sua leitura. Vamos ressaltar a importância da flexibilidade, diferenciação,
persistência e de ter objetivos claros.
Quero compartilhar com você o consolo que Deus me deu nesse tempo. É
impossível separar a Deus de nossas vidas, porque nos cercou com
demasiadas evidencias de seu cuidado. Toda experiência de vida é uma
experiência em relação a quem Deus é para nós. Eu aprendi sobre sua
fidelidade e espero que as lições que vi possam lhe confortar.
Finalmente, você verá como eu passei a olhar para o futuro ao invés de
ficar preso nos problemas do presente. Falaremos sobre o que você espera
encontrar no seu futuro, sobre os efeitos que os objetivos têm sobre a mente e
a vida humanas. Algumas coisas da crise você levará consigo para sempre.
Outras parecem ficar esquecidas no tempo e talvez seja melhor que fiquem
assim. Mas há uma razão para continuar. Você não está sozinho. Muita gente
está
aqui,
e
eu
estou
aqui
com
você.
2
PREPARE-SE PARA O IMPACTO
"Sua dor é o quebrar da concha que encerra o seu
entendimento" Khalil Gibran
"Cada dia deveria ser uma aventura fantástica para
nós, porque estamos em meio ao plano de Deus para
os séculos" John MacArthur
Quando saí de casa para ir à universidade, tive a oportunidade
de viver por vários anos com meus avós paternos. Eles sempre
foram pessoas muito verdadeiras, corretas e cheias de amor.
Isso fica evidente em todo os seus filhos. Todos eles estudaram,
progrediram na vida, são trabalhadores, pais amorosos e
responsáveis. Poder conhecer assim de perto avós tão bons é
uma oportunidade que nem todo neto possui. Eu fui muito feliz
de poder passar por isso.
Anos depois, meu avô foi diagnosticado com câncer. Embora já
fosse um senhor de alguma idade, foi inesperado. Isso porque
ele era muito saudável, se alimentava bem, era lúcido e fazia
sua caminhada matinal quase todos os dias. Como alguém que
tinha trabalhado no campo, não era a pessoa mais
comunicativa e por muito tempo tinha dores no estômago. Mas
era um homem cheio de amor e que sofria ao ver a maldade
no mundo.
16
Quando soube da notícia, logo fui visitá-los. Mas tudo ocorreu
muito rápido e o câncer avançou com velocidade. Talvez tenha
sido melhor, com menos sofrimento. Quando estive no
hospital, passei uma noite cuidando dele. Conversamos sobre a
vida, a morte e a eternidade; sobre o Deus da eternidade e seu
filho Jesus, salvador dos homens. Ele não estava nada bem, mas
orou comigo e chorava assim como fazia quando nos
reuníamos em casa às vezes para ler a bíblia juntos. Não falei
muito, respeitei sua vida, sua fé e sua experiência. Mas fiz o
possível para assegurar-me de dizer tudo o que precisava
dizer-lhe. No dia seguinte, ajudei uma das enfermeiras a levá-lo
ao banheiro. Me impressionou muito o senso de humor que
tinha nestes momentos, tipicamente sarcástico como sempre,
ria de si mesmo, de como estava mal, sem força nas pernas.
Não demorou muito tempo até que perdesse todas as forças.
Quando ele faleceu, eu não fui ao funeral nem ao enterro. Acho
que nunca ninguém tinha me dito que era uma falta de
respeito agir assim. Mas sinceramente não me senti capaz e
nem pensei que valesse a pena. Não queria ver meu avô morto,
não sei se aceitava. Pensei que todo o tempo que tínhamos
para passar juntos tinha sido antes de sua morte. De que
adiantaria estar lá, chorando, agora? Afinal sabia que ele tinha
vida eterna. Tampouco gostava de como alguns parentes o
tratavam e detestaria vê-los no funeral. Mas ninguém em minha
família nunca me recriminou. Assim são as pessoas na minha
família paterna, muito respeitosas e discretas.
Levou anos para eu entender o porquê de não ter ido. Só
depois de tanto tempo entendi que na verdade quem precisava
de minha presença não era meu avô, senão que minha avó,
17
meu pai e tios. Me arrependi de não ter estado lá para eles
durante esse momento tão duro e me senti tremendamente
egoísta. Não é fácil enfrentar a realidade da mudança, situações
inevitáveis que nos alcançam e não existe nada mais a fazer,
senão responder ao momento presente. Nem sempre
encontramos as capacidades para responder bem. Eu fiquei em
um tipo de choque, paralisado, revoltado, fraco, desanimado.
Outras pessoas podem ter impulsos de ação, ira ou aparente
indiferença. A realidade é que não sabemos como vamos
reagir, até que a mudança nos alcança.
Todos os que aceitamos um emprego algum dia, sabemos que
não será para sempre. De alguma forma sabemos que tudo o
que começamos nesta vida não será constante. Haverá
mudanças, isso nós supomos logo de início. Assim como todos
os que nascemos sabemos que um dia morreremos. Ainda
assim, a realidade nos apanha de surpresa, e por algum tempo
ficamos nos sentindo sem rumo. O impacto da mudança
provoca um choque que repercute em toda a nossa percepção
da realidade. A mudança é imposta sobre nós em um momento
bem determinado no tempo e divide o nosso antes e depois.
Somos deixados com o agora, o hoje; para lidar com ele, senti-
lo, vivê-lo.
Eu perdi meu emprego, e agora? É uma pergunta que nos faz
pensar sobre o futuro seu e meu; o que fazer a partir do agora.
Neste capítulo quero refletir sobre esse agora, o choque inicial,
o momento quando recebemos a notícia e o que sentimos,
pensamos e queremos nesses momentos. A experiência de
cada um é diferente assim como cada emprego é diferente,
cada pessoa é diferente e cada chefe é diferente. Vou dividir
18
com você meus primeiros momentos e espero que isso o ajude
a se preparar, caso nunca tenha passado por isso. Caso esteja
vivendo este momento, minha expectativa é aprofundar seu
aprendizado e oferecer algum consolo. Mas se você já superou
tudo isso, talvez lhe sirva para repensar desde uma outra
perspectiva.
Máquina sentimental
Você sabe quando tudo fica em câmera lenta? Acontece algo
notável, que capta toda a sua atenção, e é como se tudo ficasse
em câmera lenta. Malcon Gladwel é um escritor muito
interessante e seus trabalhos são muito originais e atuais. Em
um de seus livros ele fala sobre esta reação em policiais, que
têm que atirar em situações de confronto. Os policiais
descrevem o momento como sendo câmera-lenta e que a
periferia de seu campo de visão fica borrada, sendo os policiais
capazes de ver o lugar exato onde a bala atravessa o oponente.
Muitas vezes nunca mais esquecem.
Eu já vivi esta sensação mais de uma vez, sempre dirigindo meu
antigo Astra. Foi o primeiro carro que tive; comprado a prazo e
usado. Ótimo carro, nunca me deixou na mão, exceto pelo
pequeno detalhe de tender a sair de traseira nas curvas. Por
duas vezes sai derrapando de lado na estrada, ao final de uma
curva, e vi tudo em câmera lenta. Sentia cada movimento do
carro e imaginava coisas como: lá está o barranco aonde
provavelmente vou bater e se eu estiver bem posso ligar para
meus pais dali mesmo. Graças a Deus, em ambas vezes retomei
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o controle do carro.
Para mim, o momento da demissão foi assim, em câmera lenta.
Em meu caso, foi rápido e nem pude falar nada nem me
levantar de minha cadeira. Foi impactante. Fiquei hipersensível
a tudo o que acontecia, lembro das palavras: Vou terminar seu
contrato, aqui está a carta explicando. Minha profissão tem
muito de percepção e relações humanas, então lembro
claramente da expressão misturada de coragem e receio de
meu chefe. Uma mistura de dureza factual e pena na sua voz.
Lembro como ele saiu rápido, escapando de qualquer
confrontação. Uma atitude compreensível nessas horas pois é
difícil prever como pode reagir alguém nessa situação.
Minha reação inicial foi de estupefação. Eu sempre soube que
essa era uma possibilidade real e que a crise econômica não
estava fácil. Os clientes também não estavam dando retorno
em um período de crise crescente e a estratégia da empresa
em geral era um desastre. Mas fazia pouco mais de um ano
que havia saído de meu emprego anterior, onde havia estado
por quase dez anos. Saí com a determinação de estar
comprometido com esta nova empresa no longo prazo. Por