Notícias Daqui De Dentro
De Alan Miranda
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Notícias Daqui De Dentro - Alan Miranda
PREFÁCIO
Ter Alan Miranda entre nós, percebendo o mundo que o fascina, assusta e instiga. Instigação essa que vai desde as estrelas ao gato de rua perdido, miando, com fome, sozinho, que ele leva para casa num ato de doçura presente sempre no seu tom de voz, escrita, e nas suas observações dessa vida que corre por todos os lados, de todas as formas, em todos os tempos.
Ele abre um buraco imenso em nossas almas e no tempo, nos leva pra frente e pra trás e nos convida a mergulhar nos detalhes da captação do seu olhar e no sentido lógico ou não dos vai e vem da vida. Quem vê Alan por aí nem diz que há tanta incerteza, busca, dúvida e grito para os céus, atrás de respostas. E como nada cai do céu, ele mesmo responde arrumando suas palavras, ora engraçadas, ora lavadas de lágrimas intrínsecas de desespero e prisão do que o ser humano é.
Mas, esse é o novo tempo de Alan Miranda e dos seus. Do menino pobre da maré ao brilhantismo total de uma existência que me faz pensar em quantos, quantos Alans, jogamos fora? De prestar atenção na tradução do seu olhar, seja através das lentes ou das palavras.
Estamos todos presos e nas crônicas de Alan ninguém escapa, ele nos convida com seus detalhes óbvios, reais, imaginários, no momento certo a rodar, rodar. E como tudo é passageiro e breve nessa imensidão de vida, curta essa queda, aprecie, perca-se. Tenha Alan Miranda também.
Zaca Oliveira
APRESENTAÇÃO
As crônicas e contos de Notícias Daqui de Dentro surgiram quando eu não acreditava mais. Sempre quis ser escritor, mas desisti aos 20 anos, antes mesmo de começar. Alguns anos se passaram e - o que julgava ser um último suspiro de vontade poética - recomecei a escrever aos 26 anos. De lá pra cá, veio muita coisa. Mas, este livro é focado nos meus 20 anos seguintes.
Aqui, você verá um Alan Miranda em transição, questionador, às vezes, sem se saber inocente sobre alguns assuntos. Deu até coceira de refazer alguns, mas preferi deixar como está, porque gosto mais de mim como eu era antes, inclusive. Era vestido daquela pretensão jovial de quem se acha velho e cansado antes da hora. Não me levava tão a sério quanto hoje e, como resultado, abordava questões existenciais de forma cirúrgica, que até hoje me incomodam, mas que não têm mais o sabor da irresponsabilidade literária daquela época.
Muitos dos personagens deste universo recheado de elementos autobiográficos já se foram. São lembranças fortes, que tendem a me acordar, ou me colocarem para dormir. Pessoas, animais e objetos que me acompanham até hoje, que os revisito quase todos os dias, mas que ninguém percebe. Dedico a eles, ao meu passado, aos que estão na base da minha personalidade, das minhas loucuras e traumas.
A AMADA. O AMANTE
Amava ela.
E,
por isso, tantos amores.
O gostar,
o querer era tanto que,
por si mesmo, bastava.
Às vezes, era só pensar nela
para sentir-se pleno,
completo,
pronto para a morte
ou para alguma eternidade.
Não a esqueceria nunca,
achava.
Era fácil, então,
viver várias outras mulheres de classes,
cores,
tamanhos e sapatos diferentes.
Amar alguém como ela,
que nada dentro dele deixava faltar,
o tornava seguro,
psicólogo,
professor
e pai de quem chegasse.
Ele só era lindo e perfeito
porque amava muito ela.
Não havia culpa.
O que sentia por ela
era maior que tudo,
não precisava se preocupar
ou se perder em escolhas.
Era só não dizer,
não magoar.
Com as outras havia tesão,
conversa, alegria e,
o que mais gostava,
novidade.
Mas com ela,
isto tudo e muito mais.
Não entendia
por que ser tão feliz com ela
era deixar de se divertir com outras.
Não entendia, mesmo,
e ponto.
Ela não o amava.
E por isso, a fidelidade.
Quase nada sentia.
Talvez carinho, talvez pena.
Não sabia discernir.
Ele sempre foi um cara legal,
e é sempre bom ter um destes por perto.
Gostava de ser desejada,
de ser ouvida,
olhada nos olhos,
discutir com humor
e ele fazia isto tudo.
Uma conveniente companhia,
um orgasmo no momento de tensão e,
a grande verdade,
uma boa pessoa para conviver.
E só.
Amor, paixão, não.
Amizade, sim, mas de colegas de cursinho,
nem de perto a fraternal de amigos-irmãos.
Se ele já não era interessante,
imagine o resto.
Ninguém que valha a pena para amar.
Tudo besta,
meninos crescidos,
acreditando mesmo serem alguma coisa.
Se o seu era nada,
o resto era de dar sono.
Então, não.
Não era por ele,
era por ela.
Nunca houve ninguém.
Nem haveria.
Estava só no mundo.
Veio só e assim seria nesta passagem.
Não queria dor de cabeça e,
no fim,
ele sempre seria um cara legal,
se bem tratado.
Namoraram,
casaram,
filhos e velhice.
Ele
teve vários amores.
E a venerou até a morte.
Ela
acertou na escolha
e viveu sem ser muito incomodada.
Quando ele morreu,
teve certeza de que sentia:
era pena, mesmo.
A DOR
Estou triste.
Barba por fazer,
cabelos nas alturas.
Olhos fundos.
Ando sem cueca pela casa
assustando moradores e convidados.
E choro, choro muito.
A causa?
É Themis.
Minha mãe está desesperada.
- Meu Deus! Meu filho, reaja!
Não se pode mais ficar triste e