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O diário de uma espera especial
O diário de uma espera especial
O diário de uma espera especial
E-book201 páginas2 horas

O diário de uma espera especial

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Sobre este e-book

Trata-se de um diário escrito durante o tempo de espera por um filho do coração especial, no qual conto todas as dificuldades que passei durante tempo de espera, as dificuldades, as frustações e preconceitos que não esperava, por querer adotar uma criança com deficiência. Indignação com o descaso e a demora de algumas pessoas que estão à frente da adoção e que deveriam facilitar o processo, mas na verdade dificultam, com exceções. É claro que o importante, acima de tudo, é a fé e a superação, para no final obter êxito da guarda. Quero também incentivar outros casais a adotarem crianças com deficiência, que são sempre as últimas na fila de escolhas dos pais adotantes.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento12 de set. de 2022
ISBN9786525426198
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    O diário de uma espera especial - Adriana Duarte

    O diário de uma espera especial

    Minha longa espera começa em setembro de 2014, em conversa de família. Sempre brincávamos que iríamos adotar uma criança, mas para mim não era brincadeira, eu queria mesmo... e a vontade de adotar só foi crescendo.

    Só que eu queria algo especial. Mais que só uma criança, pois minha vida é louca. Fazia muitas coisas e tinha que mudar tudo para colocar alguém no lugar, portanto tinha que ser alguém especial, muito especial, alguém que mudasse tudo.

    Meu marido falava em adotar uma criança afro; meus filhos não tinham preferência, para eles tanto fazia. Eu adoro crianças afrodescendentes, mas tenho outras preferências; sempre pensei: se sou eu que vou me dedicar a maior parte do tempo, quero alguém com quem me identifique, por quem tenha paixão. Comecei a ver as minhas prioridades e afinidades.

    Na verdade, sempre amei crianças de todos os jeitos, mas as com Síndrome de Down me fascinam, pelo jeito carinhoso, meigo, às vezes bravo, mas sempre muito sincero. Então meu sonho começou a tomar forma, pois pela primeira vez minha gestação tinha escolha.

    Quando estamos grávidas tudo que queremos é ter uma criança linda, perfeita e com muita saúde, certo?

    Pois fui abençoada por dois filhos, um menino e uma menina, lindos, perfeitos e com saúde frágil, mas acometidos pelas doenças típicas da infância.

    Sempre tive muito carinho por crianças e pessoas com deficiência; Nesta época, era vicentina e assistíamos famílias necessitadas e excluídas, cuidávamos de pessoas com vários tipos de carências e dificuldades, eu dava catequese para crianças também com carências afetivas e outros problemas. Era seladora de capelinhas, ministra da eucaristia, coordenadora de coroinhas e da comunidade pastoral, família. Trabalhava de técnica de segurança do trabalho e vivia nessa correria, então tinha que ver as prioridades, necessidade e afinidades. Para deixar tudo isso não seria fácil.

    Então nasceu no meu coração cada vez mais a vontade de adotar uma criança com Síndrome de Down, por ser uma paixão. Gosto de crianças com outras deficiências, mas Down me fascina.

    Quando falei para minha família todos ficaram me olhando por uns instantes... Depois me chamaram de louca, então começou a malhação de Judas ou melhor, da Adriana – como estou acostumada a dizer. Você vai cuidar de uma criança assim, cheia de coisas na igreja, trabalhando, tu é louca, tu não vai largar tudo para cuidar de alguém., diziam.

    Eu tentava explicar, mas não havia jeito, não conseguia fazer ninguém mudar de ideia. Argumentava que eu queria assim, eu ia cuidar, ia mudar toda minha vida por algo que eu queria, então tinha que ser do meu jeito. Não só ter uma criança linda e perfeita, tinha que valer a pena toda minha mudança.

    Ao mesmo tempo que me achava egoísta por querer algo do meu jeito, achava-os preconceituosos e mais egoístas ainda, pois colocavam só problemas e desculpas em tudo pela criança ser diferente.

    As pessoas tem um coração muito cruel quando querem... e opiniões também; quando começavam a falar, todos queriam opinar. Agora que os filhos estão criados vão inventar moda, Para quê pegar filho para criar, só para se incomodar ainda mais com problemas, Ah, vão curtir a vida, logo vem os netos!. E meu esposo, que não estava gostando da ideia, adorava.

    Todas estas opiniões me machucavam muito. Algumas eram para nos ajudar, eu acho, queriam que vivêssemos, curtíssemos a viva, pois sempre vivemos para trabalhar e construir o que temos para nós e nossos filhos. Mas não era isso que eu queria eu queria mais, faltava algo. Meus netos vão ser meus netos, não meus filhos; curtir a viva posso curtir com mais um filho; Deus me deu muitas graças; não temos luxo, mas o suficiente para nós e para mais um filho ou filha.

    Aquela ideia foi ficando cada vez mais forte na minha cabeça e meu coração e, contra todas as opiniões, fui buscar informações para fazer o cadastro, falei com meu marido, que me deu uma resposta meio sim meio não (mas para mim era sim), tive minha conversa com Deus e disse:

    — Senhor, vou fazer toda a minha parte de humana para ajudar e trocar algumas das coisas que faço para você de uma forma mais calma, que me dará muito prazer, me ajude da sua parte de Pai ser superior, pois vou trocar Deus por Deus.

    E comecei minha luta por alguém especial, pois era assim que queria minha criança: com Síndrome de Down, um cromossomo a mais chamado amor.

    Comecei a arrumar os documentos para levar ao fórum e aí já começaram as dificuldades, pois somos naturais do Rio Grande do Sul e atualmente moramos em Araucária, no Paraná. Tive que pedir para virem cópias dos nossos documentos de lá; antecedentes criminais, fotos da família, da casa, holerites, atestados de aptidão, tudo, mas assim foi feito.

    Quando trabalhamos fora isso é bem mais complicado. Quando até no trabalho se fala em adoção todos dizem: Você não tem filhos? Já não estão grandes? Quer adotar para quê?. Pronto: vamos começar tudo de novo! Acham que vou querer faltar ao trabalho por nada, logo eu que sou muito exigente até comigo.

    Você tem que explicar tudo novamente, às vezes me sinto um monstro, não sei se eu sou diferente ou as pessoas são insensíveis.

    Não entendo por que o tema adoção dá tanto problema quando temos filhos biológicos ou quando queremos adotar uma criança especial.

    Quando comecei minha busca, além de minhas preferências, levei em conta muitas coisas, sempre pensando no melhor.

    Para conquistar o filho tão aguardado

    Veja o passo a passo da adoção¹

    1) Eu quero – Você decidiu adotar. Então, procure a Vara de Infância e Juventude do seu município e saiba quais documentos deve começar a juntar. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida. Os documentos que você deve providenciar: identidade; CPF; certidão de casamento ou nascimento; comprovante de residência; comprovante de rendimentos ou declaração equivalente; atestado ou declaração médica de sanidade física e mental; certidões cível e criminal.

    2) Dê entrada – Será preciso fazer uma petição, preparada por um defensor público ou advogado particular, para dar início ao processo de inscrição para adoção (no cartório da Vara de Infância). Só depois de aprovado, seu nome será habilitado a constar dos cadastros local e nacional de pretendentes à adoção.

    3) Curso e avaliação – O curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção é obrigatório. Na 1ª Vara de Infância do DF, o curso tem duração de 2 meses, com aulas semanais. Após comprovada a participação no curso, o candidato é submetido à avaliação psicossocial com entrevistas e visita domiciliar feitas pela equipe técnica interprofissional. Algumas comarcas avaliam a situação socioeconômica e psicoemocional dos futuros pais adotivos apenas com as entrevistas e visitas. O resultado dessa avaliação será encaminhado ao Ministério Público e ao juiz da Vara de Infância.

    4) Você pode – Pessoas solteiras, viúvas ou que vivem em união estável também podem adotar; a adoção por casais homoafetivos ainda não está estabelecida em lei, mas alguns juízes já deram decisões favoráveis.

    5) Perfil – Durante a entrevista técnica, o pretendente descreve o perfil da criança desejada. É possível escolher o sexo, a faixa etária, o estado de saúde, os irmãos etc. Quando a criança tem irmãos, a lei prevê que o grupo não seja separado.

    6) Certificado de Habilitação – A partir do laudo da equipe técnica da Vara e do parecer emitido pelo Ministério Público, o juiz dará sua sentença. Com seu pedido acolhido, seu nome será inserido nos cadastros, válidos por dois anos em território nacional.

    7) Aprovado – Você está automaticamente na fila de adoção do seu estado e agora aguardará até aparecer uma criança com o perfil compatível com o perfil fixado pelo pretendente durante a entrevista técnica, observada a cronologia da habilitação. Caso seu nome não seja aprovado, busque saber os motivos. Estilo de vida incompatível com criação de uma criança ou razões equivocadas (para aplacar a solidão; para superar a perda de um ente querido; superar crise conjugal etc.) podem inviabilizar uma adoção. Você pode se adequar e começar o processo novamente.

    8) Uma criança – A Vara de Infância vai avisá-lo que existe uma criança com o perfil compatível ao indicado por você. O histórico de vida da criança é apresentado ao adotante; se houver interesse, ambos são apresentados. A criança também será entrevistada após o encontro e dirá se quer ou não continuar com o processo. Durante esse estágio de convivência monitorado pela Justiça e pela equipe técnica, é permitido visitar o abrigo onde ela mora; dar pequenos passeios para que vocês se aproximem e se conheçam melhor. Esqueça a ideia de visitar um abrigo e escolher a partir daquelas crianças o seu filho. Essa prática já não é mais utilizada para evitar que as crianças se sintam como objetos em exposição, sem contar que a maioria delas não está disponível para adoção.

    9) Conhecer o futuro filho – Se o relacionamento correr bem, a criança é liberada e o pretendente ajuizará a ação de adoção. Ao entrar com o processo, o pretendente receberá a guarda provisória, que terá validade até a conclusão do processo. Nesse momento, a criança passa a morar com a família. A equipe técnica continua fazendo visitas periódicas e apresentará uma avaliação conclusiva.

    10) Uma nova família – O juiz profere a sentença de adoção e determina a lavratura do novo registro de nascimento, já com o sobrenome da nova família. Existe a possibilidade também de trocar o primeiro nome da criança. Nesse momento, a criança passa a ter todos os direitos de um filho biológico.

    Entrada do processo no fórum

    Tudo começou, um sonho de ter alguém muito, muito especial. Eu tinha dado o pontapé inicial.

    Eu acompanhava tudo todos os dias.

    Meu coração estava a mil agora, logo iria ter minha criança., Fiz todas as pesquisas, para as entrevistas com a psicóloga, o que dizer, como agir, agendar a visita delas na casa, mas não foi bem assim... Isso era só o começo.

    Neste período foram os dias difíceis, eu sempre li muito, pesquisei sempre sobre o assunto de crianças com deficiência e convivi com elas, mas meu esposo não, e nunca combinamos nada quando fomos à psicóloga, pois acho que cada um deve dizer o que sente sem ser coagido: só que eu sempre pedia para ele aceitar minha escolha. Eu e o meu esposo temos perfil e pontos de vista totalmente diferentes: eu sou positiva, penso que para tudo se tem um jeito; ele é negativo, tudo não dá, então imagina a dificuldade. Ela nos chamou, depois chamou meu esposo separado, então eu e depois os dois juntos.

    Ele só se queixou de dor e idade e colocou obstáculos, já eu tinha uma solução para tudo.

    Foi muito frustrante, pois achei que ia encontrar um apoio, mas não: foram só questionamentos. Depois de todas as perguntas, meu esposo não estava convicto em querer uma criança com Síndrome de Down, e eu sim. Ao invés dela nos apoiar e dizer algo positivo, ficou falando nas dificuldades que eu já sabia e todos já haviam falado e eu já havia pesquisado. Disse que eu sabia que teria que deixar alguns dos meus afazeres na igreja; ela perguntou do meu trabalho – falei que era tranquilo que iria conciliar, levar ao fonoaudiólogo, médicos, dentista, tudo o que precisasse Afinal, as mães trabalham para sustentar seus filhos e, depois, se houvesse necessidade, veria o que ia fazer. A respeito de escola, também colocaria em escola especial, quando tivesse a criança, e outro período em uma creche como todas as crianças. Tive vários questionamentos dela e de outros: Vai tirar a criança do orfanato para colocar na creche. todos temos que trabalhar para dar vida digna e ela vai ter alguém esperando para busca-la da creche todos os dias, uma casa com tudo para ela e família para ama-la coisa que no orfanato não tem. Eu disse novamente a ela:

    — Doutora, há uns anos criei, por dois anos, cinco sobrinhos mais meus dois filhos. Meu marido e meu cunhado trabalhando fora, eu também e com e minhas tarefas da igreja,. Dei conta, fazia tudo: comida, pão no forno, lavava roupa (tinha uma máquina para me ajudar e era maravilhoso). Vou conseguir cuidar de uma criança especial muito bem.

    Mas ela parecia não acreditar em mim. Eu acho que ela pensava que eu estava inventando, mas era

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