Conselhos para o progresso espiritual
De Ricardo Sada
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Sobre este e-book
O texto sugere formas de crescer de acordo com a idade, os prós e os contras do acento ascético e místico, a falsa humildade, a inveja, os maus diretores espirituais, o recolhimento interior e a pureza do coração, e a arte do amor de Deus.
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Conselhos para o progresso espiritual - Ricardo Sada
RICARDO SADA FERNÁNDEZ
CONSELHOS PARA O PROGRESSO ESPIRITUAL
EDICIONES RIALP
MADRID
Título original: Consejos para el progreso espiritual
© 2021 by RICARDO SADA FERNÁNDEZ
© 2022 by EDICIONES RIALP, S.A.,
Manuel Uribe 13-15, 28033 Madrid
(www.rialp.com)
Tradução: Maria da Conceição da Rocha Páris
Revisão: Maria José Figueiredo
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro, nem o seu tratamento informático, nem a transmissão por nenhuma forma ou por qualquer meio, quer seja eletrónico, mecânico, por fotocópias, por registo ou por outros métodos, sem a autorização prévia e escrita dos titulares do copyright. Dirija-se a CEDRO (Centro Español de Derechos Reprográficos, www.cedro.org) se precisar de reproduzir, fotocopiar ou fazer scan dalgum fragmento desta obra.
Pré impressão: produccioneditorial.com
ISBN (edição impressa): 978-84-321-6173-5
ISBN (edição digital): 978-84-321-6174-2
ÍNDICE
CAPA
CAPA INTERNA
CRÉDITOS
PREÂMBULO
I. O PROGRESSO NA VIDA ESPIRITUAL
INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA, IDADE ADULTA
OS PRINCIPIANTES OU INFANTES ESPIRITUAIS
A ETAPA DOS PROFICIENTES OU O ADOLESCENTE ESPIRITUAL
A PERFEIÇÃO OU IDADE ADULTA ESPIRITUAL
II. DUAS ÊNFASES NA VIDA INTERIOR
A ÊNFASE NA ASCÉTICA
A ÊNFASE NA MÍSTICA
PRÓS E CONTRAS
III. A ASCÉTICA COMO MEIO
A ASCÉTICA COMO MEIO
O PROTAGONISTA É DEUS
EXPERIÊNCIAS DE VIDA: QUANDO A ASCÉTICA SE CONVERTE NUM FIM
IV. OS ESCOLHOS DA ABORDAGEM MÍSTICA
A FALSA HUMILDADE
«MÍSTICA» COMO VOCÁBULO PEJORATIVO
A CONFUSÃO COM OS CAMINHOS EXTRAORDINÁRIOS
EXCLUSIVA DE FRADES E FREIRAS?
MAIS DOIS ESCOLHOS: A INVEJA E A CHACOTA
OS MAUS DIRETORES ESPIRITUAIS
ARTIMANHAS SUBTIS DO DEMÓNIO
V. A PREMISSA DO RECOLHIMENTO INTERIOR
UM DEUS ESCONDIDO
UNIFICAR-SE NA DISPERSÃO
PENETRAR NUM ABISMO
VI. A PREMISSA DA PUREZA DE CORAÇÃO
NADA SENÃO TU, SENHOR
COMO SABER SE O MEU CORAÇÃO É PURO?
OPORTUNIDADES DE DESPRENDIMENTO: A DOENÇA CRÓNICA E A VELHICE
VII. A PREMISSA DO AMOR À CRUZ
A CRUZ, PEDRA DE TOQUE DO AMOR
SER DA CRUZ
VIII. A PREMISSA DA DOCILIDADE AO ESPÍRITO SANTO
MOVIDOS PELO ESPÍRITO DE AMOR
UMA AÇÃO DISCRETA E SILENCIOSA
IX. O PONTO DE INFLEXÃO
EM QUE SITUAÇÃO NOS ENCONTRAMOS?
UM PROCESSO SIMULTÂNEO
A SÍNTESE DE SÃO JOÃO DA CRUZ
X. A MÍSTICA E OS MODOS DE ORAÇÃO
A POLARIDADE NA ORAÇÃO: ELE OU EU
FÉ E CONTEMPLAÇÃO
A MÍSTICA INTRODUZ UMA SITUAÇÃO NOVA
XI. UMA ATUAÇÃO MAIS INTENSA DOS DONS
QUE FAZER PARA QUE OS DONS ATUEM MAIS INTENSAMENTE?
RECETIVIDADE
XII. PERMANECER NA MÍSTICA É PERMANECER NO AMOR
OS CONSELHOS TÊM QUE VER COM O AMOR
UM AMOR PURO, DESINTERESSADO, CRESCENTE
UM AMOR PESSOAL, DE IMEDIATEZ E PERMANÊNCIA
SOLTAR AS ALMAS PARA APRENDEREM A ARTE DO AMOR
DEUS DESEJA-O, MAS NEM SEMPRE O DÁ
PEDIR A CONTEMPLAÇÃO
OS VAIVÉNS E OS GRAUS DA MÍSTICA
A MODO DE SÍNTESE
APÊNDICE DECLÍNIO DA ORAÇÃO CONTEMPLATIVA A PARTIR DO SÉCULO XVII
A ESCOLA INACIANA E A SUA INFLUÊNCIA NOS SÉCULOS PORTERIORES
A CONTROVÉRSIA SOBRE A ORAÇÃO DE CONTEMPLAÇÃO DENTRO DA COMPANHIA
AUTOR
PREÂMBULO
Não pretendo nem penso que o que vou dizer é tão acertado que seja tido por regra infalível, o que seria desatino em coisa tão dificultosa. Como há muitos caminhos neste caminho do espírito, poderá ser que acerte a dizer alguma coisa sobre algum deles.
Santa Teresa de Jesus, Fundações, 5, 1
RAZÃO TEM SANTA TERESA: nestes caminhos do espírito, cada um deve ir pelo seu. Com ela e com o poeta, dizemos: Cada caminhante siga o seu caminho[1]. Se assim é, o que pretendem estas linhas? Simplesmente, elencar algumas experiências — umas positivas, outras nem tanto — sobre as diferentes fases da vida interior, convidando ao progresso; conjurar o perigo da estagnação espiritual, esse estado a que se convencionou chamar das almas retardadas[2]. Porque, no âmbito do divino, não basta deixar passar o tempo: não avançar é retroceder. Quando isso acontece, os anseios da juventude tornam-se deceções na maturidade e amarguras na velhice; ou catástrofes espirituais quando menos se esperava.
Tal como a santa de Ávila, tenho consciência, portanto, de que vou tratar de coisas dificultosas. Mas atrevo-me a fazê-lo, pois poderá ser que acerte a dizer alguma coisa sobre alguma delas. Se assim for, darei o meu trabalho por bem empregue.
[1] Em 1938, o diretor da escola de Oficiais do Estado Maior de Madrid pediu a António Machado um lema para a instituição e o poeta sugeriu-lhe este.
[2] R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, Madrid, Palabra, 1986, vol. I. O teólogo dominicano chama almas retardadas àquelas que, com o passar do tempo, não progridem na vida espiritual, como a criança que não atravessa com normalidade o ponto de inflexão para a adolescência, mantendo o crescimento biológico, mas interrompendo o psicológico, e tornando-se assim um anão perpétuo. O mesmo pode acontecer, em termos análogos, na vida espiritual.
I.
O PROGRESSO NA VIDA ESPIRITUAL
Se disseres «basta!», estás perdido.
Santo Agostinho, Sermão 169, 18
É DESÍGNIO DE DEUS que nenhuma criatura viva receba logo de princípio a perfeição a que está chamada: a mudança faz parte da nossa natureza[1]. Só Deus pode dizer: Eu sou o Senhor e não mudo (Mal 3, 6). Deter-se é decair: «Quem não cresce e avança, volta para trás»[2]. «Quem não progride, retrocede»[3]. «Quando se deixa de avançar, imediatamente se decai»[4].
Nestas páginas, tentaremos falar deste progresso e dos riscos que resultam de abrandar, seja por descuido ou por confusão.
INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA, IDADE ADULTA
São Tomás compara as etapas da vida espiritual às da vida corpórea[5]: os principiantes ou incipientes são crianças; os desenvolvidos ou proficientes são jovens; aqueles que atingiram um desenvolvimento maior — um certo grau de perfeição — são adultos.
Mas o que é que caracteriza cada etapa? De forma simplificada — na verdade, muito simplificada —, diremos que a infância é etapa da obrigação; a juventude é a etapa das virtudes; e a idade adulta é regida pelo amor.
Especifiquemos desde já que esta classificação não é rígida: o incipiente e o proficiente também agem por amor, e o exercício das virtudes deve continuar no perfeito, e até com mais exigência. Este último também pode sentir tentações básicas, como se fosse um principiante acabado de sair do pecado; e um principiante pode experimentar de repente elevações místicas. Os esquemas rígidos não empatam a ação soberana do Espírito de Deus, nem as provas que Ele envia. Mas o esquema ajuda, pois apresenta a vida interior como algo progressivo, que tende para a plenitude do amor a Deus.
Diremos também que, tal como na vida humana, também na vida do espírito há momentos de transição. Para aceder a um estado novo, é preciso abandonar o estado anterior, processo que é acompanhado — tal como a passagem da crisálida à borboleta — por dores de crescimento. Os progressos espirituais costumam acontecer a par de renúncias e aflições. Quem não estiver disposto a passar por elas, quem fugir às novas exigências, não fica onde está, mas será vítima do perigo atrás mencionado: ser uma alma retardada[6].
Analisemos um pouco melhor cada etapa da vida interior.
OS PRINCIPIANTES OU INFANTES ESPIRITUAIS
É principiante ou incipiente quem vive a sua primeira conversão ou, mais propriamente, a sua justificação (do grego, dikaiôsis). Este conceito — fundamental na teologia católica — marca a passagem do estado de pecado para o estado de graça. Quem permanece em pecado mortal não é incipiente na vida espiritual: ainda não nasceu para ela; quando, porém, a graça santificante chega à sua alma, começa uma vida nova. O início é balbuciante, ainda sem virtudes consolidadas: a pessoa tem de se cingir aos preceitos, ou seja, à obrigação da lei. O seu horizonte é cumprir o decálogo e proteger-se dos assaltos da concupiscência, fazendo violência a si própria se for necessário. A sua tarefa será fundamentalmente negativa: evitar que a graça santificante desapareça. «Há diferentes graus de caridade, conforme as diversas obrigações (studia) que o progresso nessa virtude impõe ao homem. O primeiro dever que lhe incumbe é evitar o pecado e resistir às lisonjas da concupiscência, que nos impelem no sentido oposto ao da caridade: é o dever dos incipientes, em quem a caridade tem de ser sustentada para não desaparecer»[7].
Esta etapa é, portanto, prevalentemente negativa: trata-se de permanecer de pé, evitando o pecado mortal, e depois o venial, prosseguindo a batalha contra as imperfeições voluntárias. O principiante movimenta-se em parâmetros mais humanos que divinos. Os seus movimentos espontâneos procedem basicamente de objetos exteriores e muito pouco do influxo do Espírito de Deus, que já está presente nele, mas de forma ainda incipiente. Vive o evangelho mais como temor do que como amor. Tenta cumprir as leis, não como espaços de crescimento, mas como um sistema de obrigações. As suas orações são escassas e laboriosas, e, quando as faz, quase não tem consciência de estar com Deus. Em geral, a sua vida decorre sem acolher a presença do Senhor.
O infante na vida espiritual experimenta vivamente tendências contrárias ao Espírito. Falta-lhe zelo apostólico e também não está em condições de o exercitar; esporadicamente, sofre desordens interiores consideráveis. Envolvido em batalhas sangrentas, experimenta a vida em Cristo como um exercício duro e cansativo.
Para ultrapassar estas dificuldades, terá de avançar — na terminologia de São João da Cruz — nas purificações ativas, especialmente as dos sentidos externos, ou seja, na repressão dos apetites desordenados, que poderiam aproximá-lo do perigo. Deverá mortificar — mortem facere, dar morte a — os sentidos da vista, do ouvido, do tato e do gosto quando lhe apresentam objetos pecaminosos; e também quando se trata de coisas lícitas, mas que o afastam do objetivo que traçou para si. Com a purificação ativa ou mortificação, vai conseguindo que o perigo de regressar à situação primitiva se torne mais remoto. A purificação ativa inclui, não só a mortificação corporal, mas também a dos sentidos internos, a memória e a imaginação, quando são acossados por qualquer espécie de tentação, ou simplesmente quando levam o sujeito a vaguear por espaços fúteis.
Portanto, o progresso do principiante dá-se por esta via negativa a que nos referimos. Se quiser avançar, terá de tentar libertar-se de tudo aquilo que constitui um impedimento ao seu progresso: desprender-se de objetos e divertimentos vazios, fugir da complacência nos êxitos pessoais, retificar metas egoístas, romper com a escravidão do materialismo, da sensualidade, das inclinações desordenadas... Deste modo, irá orientando a sua existência para o crescimento da graça — principalmente com a receção frequente da eucaristia e a confissão —, ao mesmo tempo que programa o seu dia com práticas de piedade, convenientemente distribuídas. Se for fiel, em breve terá desarreigado os seus principais defeitos e começará, sem disso se aperceber, a