São Bento e sua mensagem
De Anselm Grün
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São Bento e sua mensagem - Anselm Grün
anseios.
I
A FIGURA DE BENTO
Quando, depois de 1.500 anos, ainda se fala de uma pessoa e cobre-se esta pessoa de honrarias com o título de Pai do Ocidente
ou Padroeiro da Europa
, então é porque ela deve ter sido uma pessoa excepcional. Mas quando olhamos para a história e tentamos esboçar um retrato de Bento, então nos decepcionamos rapidamente. As datas históricas da vida e das ações de Bento são muito incertas e não nos fornecem informações suficientes para que possamos estabelecer um retrato claro desse homem. A pessoa de Bento sempre escapa de nossas mãos. Não conseguimos apresentá-la tão concretamente como, por exemplo, se costuma apresentar a de São Francisco. Não é a pessoa de Bento que está em primeiro plano, mas sua obra. O próprio Bento coloca-se por trás de sua obra. Ele vive toda a sua vida seguindo sua regra conventual, a Regula Benedicti (RB). Por meio dela é que ele continua atuando no presente, e determina até hoje a vida de inúmeros monges e freiras em todo o mundo. Bento pregou um modelo de vida que, ao longo dos séculos, sempre foi adotado com gratidão e vivenciado como um caminho à maturidade humana, em sua busca por Cristo.
Portanto, que tipo de ser humano foi esse, cujos ensinamentos continuam válidos depois de 1.500 anos e continuam formando as pessoas? Não conhecemos os pormenores da vida de Bento, que certamente estão na história documentados. Mas conhecemos seu ser. Por trás de suas Regras, há a luz daquele ser que nos pôde dar essas recomendações. O que transparece nas palavras das Regras é que Bento deve ter sido uma pessoa simples, um homem que conhecia as fraquezas e as forças das pessoas por experiência própria, era uno consigo mesmo, moderado, capaz de guiar os outros, curar os fracos e doentes, instilarlhes coragem e esperança, um homem que, reconciliado consigo mesmo, reconciliava as pessoas entre si e promovia uma atmosfera de paz a seu redor. Deve ter sido uma pessoa com muita fé. Pois, no meio de um mundo confuso, Bento, sempre confiante e sem se queixar dos tempos adversos, conseguiu construir uma comunidade de monges.
A vida de Bento pode ser contada rapidamente. Ele nasceu por volta do ano 480, em Núrsia, a atual Norcia, nas montanhas Sabinas, da Itália Central. Em seus anos de juventude foi a Roma estudar. Naquela época Roma já perdera sua importância como capital do Império e era a imagem da decadência. Enojado com a decadência moral da cidade, Bento interrompeu os estudos e se recolheu ao isolamento. Primeiro, ele se juntou a uma comunidade de ascetas em Enfide. Mas, pouco tempo depois, desligou-se da comunidade e abrigou-se numa caverna em Subiaco, durante três anos.
A caverna é como um colo de mãe. Nela, Bento vivenciou um renascimento. Mas como todo nascimento, o seu também estava ligado às dores. Teve de encarar sua própria verdade, seus lados de sombra, seus medos, sua finitude. Passou por todas as etapas da experiência espiritual do monacato oriental. Os primeiros monges cristãos, que se recolhiam às regiões desérticas do Egito no século IV, colocavam-se radicalmente diante da própria verdade. Nesses lugares eles enfrentavam as tentações do demônio. Para eles, os demônios eram as imagens de todas as paixões e emoções que nos ameaçam dominar. O trato correto com as paixões devia ser aprendido com muito esforço. Na caverna de Subiaco, Bento vivenciou o risco a sua condição humana e ao mesmo tempo um novo nascimento.
Enquanto ele estava sozinho, o demônio estava com ele
. É assim que o papa Gregório descreve essa época da vida de Bento, no segundo livro de sua biografia dialogicamente compilada do pai dos monges. Em sua caverna, Bento se expôs às tormentas das paixões e lutou contra elas. E saiu vencedor. Encontrou a paz e a sintonia consigo mesmo. Daquele momento em diante, ele passou a irradiar serenidade e calma. Saiu da caverna como um recém-nascido.
A vitória de Bento contra as tentações da existência humana deu-lhe a capacidade de ser um mestre para os outros. As pessoas iam até ele, primeiro os pastores da região. Queriam que ele lhes transmitisse a mensagem de Cristo. Num convento próximo se ouviu falar dele e ele foi escolhido como seu prior. Mas, provavelmente, para esses monges Bento era severo demais. Por fim, tentaram envenená-lo, para dele se livrarem e poderem continuar vivendo suas vidas burguesas, religiosamente dissolutas. Bento abandonou o convento e retirou-se novamente a sua querida solidão, e diante da visão de Deus passou a morar sozinho, no isolamento
.¹ Passou a morar consigo mesmo
, retirou-se para dentro de si mesmo
, permaneceu dentro de si mesmo
, com essas palavras Gregório explica uma postura característica do santo. Bento permanecia consigo mesmo, ele não se dispersava em ações. Em suas atividades também