A felicidade onde não esperamos encontrá-la
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Sobre este e-book
Jacques Philippe
Jacques Philippe é membro da Communauté des Béatitudes, em que desempenhou importantes responsabilidades (conselheiro-geral, responsável pelos sacerdotes e seminaristas, formação dos pregadores). Ordenado sacerdote em 1985, prega retiros na França e em outros países. Entre as suas obras, vale destacar Tempo para Deus, A paz interior, Chamados a viver, Aprender a rezar para aprender a amar, Na escola do Espírito Santo e A verdadeira misericórdia.
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A felicidade onde não esperamos encontrá-la - Jacques Philippe
Jacques Philippe
A felicidade onde não esperamos encontrá-la
Meditações sobre as Bem-Aventuranças
Título
A felicidade onde não esperamos encontrá-la
– Meditações sobre as Bem-Aventuranças
Autor
Jacques Philippe
Tradutora
Maria José Figueiredo
Edição e copyright
Lucerna, Cascais
1.ª edição – novembro de 2021
© Princípia Editora, Lda.
Título e copyright originais
Le bonheur où on ne l’attend pas – Méditations sur les Béatitudes
© Editions des Béatitudes, S.O.C., 2017
Design da capa Rita Maia e Moura
Lucerna
Rua Vasco da Gama, 60-B – 2775-297 Parede – Portugal
+351 214 678 710 • lucerna@lucernaonline.pt • www.lucernaonline.pt
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Nota do editor
As citações bíblicas constantes da presente tradução foram transcritas da edição da Bíblia Sagrada da Difusora Bíblica que pode ser consultada em http://www.paroquias.org/jump.php?did=13
As citações de documentos da autoria dos Papas ou do Vaticano foram extraídas do site www.vatican.va, sempre que dele constavam as respetivas traduções para a língua portuguesa.
«Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu.
Felizes os que choram,
porque serão consolados.
Felizes os mansos,
porque possuirão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Felizes os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus.
Felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça,
porque deles é o Reino do Céu.
Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós,
por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será
a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam.»
Mt 5, 1-12
Introdução
Este livro, que não tem especiais pretensões teológicas nem exegéticas, é uma proposta de meditação sobre as Bem-Aventuranças enunciadas no Evangelho de São Mateus (5, 1-12), em especial a primeira, a pobreza de espírito: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu». Já muito se escreveu sobre este assunto; mas o tema é tão importante para a vida da Igreja que temos necessidade de voltar a ele com frequência. O Papa Francisco exorta constantemente os cristãos à vivência das Bem-Aventuranças, que são a única via para a verdadeira felicidade e a única forma de reconstruir as sociedades.
O mundo contemporâneo está doente, de orgulho e de uma insaciável sede de riqueza e poder; e a única maneira de se curar é acolhendo esta mensagem. Por seu turno, se quiser ser fiel à missão que Cristo lhe confiou – ser «sal da Terra» e «luz do mundo» (Mt 5, 13.14) –, a Igreja tem de ser pobre, humilde, mansa, misericordiosa… Há hoje um forte apelo a que este ensinamento essencial de Jesus, que se calhar ainda não compreendemos a fundo nem levámos à prática, seja realmente ouvido. Quanto mais avança na sua história, mais a Igreja deve irradiar o espírito das Bem-Aventuranças, para poder difundir o «bom odor de Cristo» (2Cor 2, 15). Ora, o Espírito Santo quer atuar com força neste sentido no nosso tempo, ainda que para isso tenha, por vezes, de abalar a sua Igreja. É absolutamente necessário que todos os cristãos difundam o perfume do Evangelho, que é um perfume de paz, de mansidão, de alegria e de humildade.
Estou cada vez mais convencido de que a pobreza de espírito é a chave da vida espiritual, de qualquer caminho de santidade e de toda a fecundidade. As Bem-Aventuranças contêm uma sabedoria luminosa e libertadora; mas são um dos aspetos do Evangelho que mais nos custa compreender e praticar. Mesmo no domínio da existência cristã, pensamos demasiadas vezes em termos de riqueza, de quantidade, de eficácia mensurável, ao passo que o Evangelho nos convida a uma atitude muito diferente.
Uma visão de conjunto do Evangelho
Antes de me debruçar sobre cada uma das Bem-Aventuranças, gostaria de fazer algumas reflexões gerais.
Esta passagem evangélica não é fácil de compreender; é uma passagem paradoxal, chocante mesmo (quando era um jovem sacerdote, eu tinha alguma dificuldade em pregar sobre as Bem-Aventuranças!). Contudo, a pouco e pouco, vamos percebendo que se trata de um texto extraordinário, que resume toda a novidade e sabedoria do Evangelho, e o seu poder de transformar profundamente o coração do Homem e de renovar o mundo.
Estas palavras de Jesus têm, evidentemente, de ser lidas no seu contexto. A passagem das Bem-Aventuranças surge após os versículos em que Mateus descreve a multidão que acorria de toda a parte para ouvir Jesus: «Depois, começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades. A sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-Lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epiléticos e os paralíticos; e Ele curou-os» (Mt 4, 23-25).
Ao ver a multidão, Jesus sobe à montanha, senta-Se, espera que os discípulos se aproximem e começa a ensiná-los, proclamando as Bem-Aventuranças.
A multidão que se acotovela em torno de Jesus tem sede de ser curada, tem sede de luz e de felicidade. E Ele responde a esta sede dando àquelas gentes sofredoras uma extraordinária promessa de felicidade, nove vezes repetida, mas numa linguagem muito diferente do que seria de esperar. O que lhes propõe não é uma felicidade humana, concorde com a imagem habitual, mas uma felicidade inesperada, que se encontra em situações e atitudes que não são espontaneamente relacionadas com a ideia de felicidade. Uma felicidade que não é um produto humano, mas uma «surpresa de Deus», concedida precisamente em circunstâncias de onde se considera que ela está ausente, ou em que não é possível.
Note-se igualmente que as primeiras palavras de Jesus após a enunciação das Bem-Aventuranças são aquelas em que, recorrendo à imagem do sal e da luz, Ele evoca a singular graça de que os seus discípulos são depositários e à qual devem ser fiéis: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt 5, 13-16).
Jesus tem perfeita consciência das limitações humanas e dos defeitos dos seus discípulos, que os relatos evangélicos não se preocupam em dissimular; bem pelo contrário. Contudo, não hesita em afirmar que, sem o testemunho de vida destes discípulos, a existência humana deixaria de ter sabor e sentido, e o mundo mergulharia numa treva profunda. Torna-se claro, pois, que será precisamente pela vivência destas Bem-Aventuranças que eles poderão cumprir esta vocação ao serviço do mundo; só o Evangelho das Bem-Aventuranças dá sentido e verdade à existência humana.
No Evangelho de Mateus, as Bem-Aventuranças são a introdução ao Sermão da Montanha, que se prolonga pelos capítulos 5 a 7. Neste seu primeiro grande discurso, Jesus apresenta-Se como o novo Moisés, que proclama a nova Lei do Reino; não o faz, porém, das alturas do temível Sinai, com «trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha» (Ex 19, 16), mas numa colina suave das margens do lago da Galileia, segundo diz a tradição. Porém, isto não O impede de Se exprimir com força e autoridade – uma autoridade que impressiona a multidão, porque contrasta com a forma como os rabinos daquele tempo se exprimiam. Com efeito, a expressão «ouvistes dizer aos antigos… Eu, porém, digo-vos…» ocorrerá várias vezes nas palavras de Jesus, que, contudo, deixará bem claro que não veio «revogar a Lei ou os profetas», mas «levá-los à perfeição» (Mt 5, 17).
O Sermão da Montanha conclui com a parábola das duas casas, uma construída sobre a rocha e a outra sobre a areia, com a qual Jesus faz um apelo vibrante a que os seus ouvintes não se contentem em ouvir a nova Lei e dizer «Senhor, Senhor», mas a ponham em prática, fazendo a vontade do Pai que está nos Céus (cf. Mt 7, 21.24-27).
É essencial compreender que a nova Lei promulgada por Jesus no monte das Bem-Aventuranças não é apenas uma lei moral, ainda que tenha, evidentemente, fortes implicações no domínio do comportamento humano; muito mais do que um código de comportamento – por muito elevado que este seja –, a nova Lei é um caminho para a felicidade do Reino, um itinerário para a união com Deus e a renovação interior da pessoa. A nova Lei propõe-nos um percurso de identificação com Cristo, de descoberta do Pai, de abertura à obra do Espírito Santo; pois só o Espírito pode dar-nos a verdadeira inteligência das Bem-Aventuranças, e permitir-nos aplicá-las na nossa vida.
A Santíssima Trindade nas Bem-Aventuranças
É importante salientar a presença do mistério trinitário no Evangelho das Bem-Aventuranças, já que, antes de dizer respeito ao comportamento humano, este Evangelho é uma nova revelação, mais profunda, inesperada e surpreendente, do próprio mistério de Deus.
Numa primeira leitura, torna-se manifesto que as oito bem-aventuranças enunciadas por São Mateus (se considerarmos que a nona se limita a retomar e ampliar a oitava) são, antes de mais, um retrato do próprio Jesus: «As Bem-Aventuranças não são apenas a magna carta da vida cristã, são também o segredo do coração do próprio Jesus»¹. Não seria difícil explicitar e meditar longamente no facto de Cristo ser, ao longo de toda a sua vida e especialmente na sua Paixão, o verdadeiro pobre em espírito e o único que viveu integralmente cada uma das Bem-Aventuranças. Estas cumprem-se de forma plena na cruz.
Com efeito, no Calvário, Jesus foi absolutamente pobre, chorou, foi manso, teve fome e sede de justiça, foi misericordioso, puro de coração, artesão da paz, injustamente perseguido… Praticando na perfeição cada uma das Bem-Aventuranças, recebeu em plenitude, na sua Ressurreição e na sua glorificação, a recompensa prometida, a felicidade do Reino do Céu. Mais ainda, recebeu o poder de abrir a porta desse mesmo Reino a todos os homens, incluindo os maiores pecadores, como mostra o episódio do bom ladrão, que invoca Jesus com fé e a quem Ele promete, poucos instantes antes de morrer: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43).
«Quem Me vê, vê o Pai», declara Jesus no Evangelho de São João (14, 9). Isto significa que as Bem-Aventuranças também nos mostram o verdadeiro rosto do Pai, que são a revelação de um novo rosto de Deus, um rosto que nada tem que ver com as fabricações e as projeções humanas. As Bem-Aventuranças revelam a incrível humildade e a misericórdia infinita de Deus. Embora o Pai seja infinitamente rico e omnipotente, também há no Ser divino um mistério de pobreza, pois Ele é todo amor e misericórdia; todo Ele é dom e desprendimento de Si, para dar existência aos outros. Deus não vive para Si, mas para os seus filhos, como prova a atitude do pai da parábola do filho pródigo narrada no Evangelho de São Lucas.
Note-se a importância da figura do Pai no Sermão da Montanha: é nesse contexto que Jesus ensina o Pai-Nosso, e que nos faz este convite: «Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há de recompensar-te» (Mt 6, 6). É também neste contexto que nos convida a abandonarmo-nos com confiança à providência do Pai, sem nos preocuparmos com o dia de amanhã, porque «o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso» (Mt 6, 32). Para o final do sermão, como já referimos, Jesus pede-nos que ponhamos as suas palavras em prática, pois elas exprimem «a vontade de meu Pai que está no Céu» (Mt 7, 21).
Podemos concluir, pois, que o Sermão da Montanha – em especial as Bem-Aventuranças – é um dom da misericórdia do Pai, uma promessa de graça, de transformação interior, de um coração novo. A nova Lei que Jesus promulga é bastante mais exigente que a Lei antiga: não lhe basta um comportamento exterior correto, exige uma verdade, uma pureza e uma sinceridade que chegam às profundezas do coração humano: «Porque Eu vos digo: se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu» (Mt 5, 20). E Jesus mostrará, com uma série de exortações precedidas pela fórmula «Ouvistes o que foi dito aos antigos… Eu, porém, digo-vos…», em que pontos específicos pede uma profunda conversão interior, que abarque as disposições mais íntimas e secretas do coração.
Para compreendermos a nova Lei instaurada por Jesus, temos primeiro de compreender que, se esta Lei se permite ser mais exigente a respeito do Homem – com uma exigência inaudita, que vai até à própria imitação de Deus – «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48) –, é porque não é uma simples lei exterior ao homem, uma simples obrigação; é mais do que isso, é um dom do Pai misericordioso, uma extraordinária promessa de transformação interior por meio da graça do Espírito Santo. O facto de a exigência ser mais forte é um sinal de que a promessa é maior: Deus dá aquilo que ordena. Se Jesus nos chama a uma justiça que ultrapassa a da antiga Lei, é porque a nova Lei encerra um dom maior, que permite essa ultrapassagem; esse dom é a revelação da ternura do Pai, o exemplo de Jesus, a efusão do Espírito Santo.
Na pregação do Evangelho, realiza-se a promessa da Nova Aliança anunciada por Jeremias, segundo a qual o Espírito Santo virá em socorro