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A Saga Do Multiverso
A Saga Do Multiverso
A Saga Do Multiverso
E-book1.131 páginas12 horas

A Saga Do Multiverso

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Sobre este e-book

O que desconstruir quando tudo na vida de Gabe e Helena já está em ruínas? Ruínas que eles não tiveram culpa alguma para assumir, e além de não terem culpa estão sendo perseguidos pelo que são. Ou ao menos o que podem ser. Helena é uma manipuladora com dons que não se veem há milênios, e Gabe vive à sua sombra e está tendo dificuldades para amadurecer por conta da perseguição que está passando. Além de ser desrespeitado por todos por conta da sua aparência frágil e jeito passivo de lidar com as dificuldades. Porém, as coisas mudam de sentido quando uma possível paixão aparece para mexer com o processo de amadurecimento de Gabe. O não tão apaixonante Arthur, vai puxar um gatilho que não só Gabe se verá forçado a amadurecer, mas também vai forçar Helena, que está grávida, a tomar uma atitude que fará todas as ideias sobre Vida serem desconstruídas. Will vai descobrir que nem tudo é tão lógico como foi ensinado a ele e que toda a criação tomou rotas diferentes em cada local do Multiverso. Não pensem que ele fará tudo sozinho, ele terá a ajuda de Ayo, filho de Ogum, e Y-Jara, a mãe das águas. Ele também descobrirá que um final trágico pode estar reservado para ele. Sua máxima de que todos morrerão um dia pode estar mais próxima de se tornar realidade do que ele mesmo imagina. Se bem que morrer pode ser mais interessante que continuar vivo. “ Não se preocupe com os termos científicos que eu citarei na minha vida em direção ao inicio dela. A escola Walker dará todas as informações possíveis. Além de conhecer mais das divindades mais justas que eu conheço, os Orixás. ” Will Gabrant.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de set. de 2018
A Saga Do Multiverso

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    A Saga Do Multiverso - Willian Silva Diniz

    A saga do

    Multiverso

    Desconstrução

    Willian Diniz

    2

    3

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Dons e Afinidades.

    Talvez seja importante dar uma pequena passada aqui antes de

    começar a desconstrução de algumas ideias. Vai por mim, vai ajudar

    bastante no decorrer do resto da minha vida.

    Manipulação– Capacidade que algumas pessoas possuem de

    manipular ou moldar a matéria conforme a sua necessidade. Fazem isso

    através de suas linhas Atômicas, obedecendo a Lei de Alteração

    Equivalente.

    Linhas Atômicas ou Ponte Atômica– de forma básica,

    para quem não é manipulador, são tentáculos que saem do nosso

    corpo e podem se ligar a matéria de afinidade e moldá–la.

    Respeitando as leis de Conservação de Massa, Entalpia e

    Alteração Equivalente.

    Alteração Equivalente– A matéria base para o uso da

    Linha Atômica não pode ser transformada em outra. Ou seja, não

    se pode transforma Ferro em Prata.

    Afinidades de Manipuladores.

    Climáticos– Manipuladores que podem alterar o clima. São

    extremamente poderosos, mas limitados ao clima vigente. Se não houver

    possibilidade do clima que eles querem alterar, não é possível manipulá–lo.

    Condutores– Manipuladores com a capacidade de usar elétrons

    livres para produzir energia elétrica suficiente para alimentar uma casa.

    Também podem manipular alguns metais condutores para criar campos

    elétricos, magnéticos, potenciais motrizes e outras coisas bem

    interessantes.

    Metálicos– Afinidade mais comum entre os manipuladores. Pelo

    nome acho que nem preciso dizer o que eles podem fazer. Mas, tem o poder

    limitado para controlar metais a curta distância.

    Orgânicos– Esses podem manipular tudo que possua uma cadeia

    de Carbono. Tanto os tecidos corporais, quanto influenciar vegetais e

    plantas. Mas não podem manipular a vida. Esses aí são conhecidos como

    Internos.

    4

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Internos– Prática abolida no meio da manipulação por

    questões filosóficas e éticas. Antes se podia aprender,

    hoje em dia só se poder nascer com o dom.

    Radioativos– Conhecidos pelo poder massivo que possuem,

    podem ser bem perigosos e instáveis. Porém, bem treinados podem fazer

    alterações até no DNA. Possuem Linhas Mutáveis.

    Nobreza– Esse é um poder raro, capaz de bloquear as outras

    afinidades bloqueando suas Linhas de se conectar com a matéria ao redor

    do manipulador. Não são tão poderosos, mas possuem grande respeito

    pelos outros.

    Dons Naturais.

    Elementares– tem uma forte ligação com a natureza. Essas pessoas

    podem influenciar um dos quatro altares da ciência para seu uso pessoal.

    Todos os seres vivos possuem essa afinidade, porém alguns podem se ligar

    ao Altar referente a sua afinidade e usá–lo.

    Intervenção– Dom natural a um nível raro impossível. Essas

    pessoas podem controlar a realidade e percepção de outros seres, além do

    poder telecinético que podem possuir. Esse dom não costuma ser herdado,

    somente dado por Alguém ( não direi quem para não estragar a surpresa).

    Comunicação– Um dom quase extinto. Quem possui esse poder

    pode firmar pactos com seres Elementares.

    Seres Elementares– São as manifestações dos Altares em

    forma física, muito raro de ser verem e mais ainda de existirem.

    Espero ter ajudado um pouco com essas informações. O

    restante pode ser encontrado dentro da narrativa.

    Antes de virar a página, aconselho abandonar um pouco alguns

    conceitos de crenças depois de certo ponto. Vai ajudar bastante.

    Sejam bem–vindos à Saga do Multiverso.

    5

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    6

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Eu sou William Walker, moro em um bairro qualquer de uma

    cidade qualquer. Na verdade essa cidade se chama Rio de Janeiro. Sou alto,

    tenho um corpo aparentemente fraco por não ser tão musculoso – aquele

    padrão de beleza masculino, olhos castanhos, cabelo grisalho e uma barba

    que preso muito.

    Na minha casa moram minha irmã que está grávida e eu, porém

    não tem nada de muito diferente. Ela tem a vida dela e eu tenho a minha.

    Tirando essas trivialidades, não caí do céu aqui neste lugar. Na verdade, fui

    forçado a estar nessa casa.

    Nossas vidas deram uma grande reviravolta depois que perdemos

    boa parte da família, ou melhor, nossos pais, em algo que nem eu, e muito

    menos ela, foi capaz de compreender. Vou ser breve na explicação e sucinto

    nas palavras: somos Manipuladores.

    Toda família tem o dom da magia, diferente do que se vê por aí

    não temos varinha, cajados, livros, poções e muito menos voamos em

    vassouras. A magia é um estado lógico, racional e matemático. Para melhor

    entender, basta ter a capacidade de moldar a matéria de acordo com seu

    dom e aptidão conforme a sua Linhagem Atômica (Metal, Condutores,

    Climáticos, Radioativos, Orgânicos e Nobreza). Somos uma família de uma

    linhagem Nobre, de Hidrogênio e uma pequena parcela de Orgânica.

    A magia viria de forma física–matemática, ou pelo menos eu

    achava isso. Ao longo dessa estória, talvez um pouco trágica para alguns,

    descobri que nem tudo é tão lógico quanto parece ou racional quanto eu

    imaginei. Todos os grandes homens dessa ciência foram Manipuladores,

    mas não quero entrar em detalhes, a menos que seja a minha vida em

    questão.

    Minha família foi condenada à morte pelo Conselho Arcano, o

    qual selou minha Irmã e eu, limitando nossa magia e matando nossos pais

    por conta de um erro gravíssimo: Um manipulador nascido de uma

    Interventora Realística com um deles. Sim, meu pai faz parte do Conselho

    Arcano e nós pertencemos à nobreza da magia. Isso me influenciou muito

    na forma de pensar e agir, sempre dando exemplos perfeitos de uma vida

    de mentiras e prisões. Mesmo sendo nobres.

    Até aqui não expliquei muita coisa do motivo de estar querendo

    expor essa estória. Só falei de mim, minha família e de como perdi boa

    7

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    parte dos meus poderes, não quer dizer muita coisa agora. Mas em pouco

    tempo o mundo todo entenderá por que alguém trocaria tudo para negar a si

    mesmo e a todos os seus poderes para viver algo impensável. Na pior das

    hipóteses, eu só teria que viver a morte.

    Voltando à minha estória, preciso expor um pensamento que te

    levará com mais facilidade pelo que estarei relatando a seguir.

    Principalmente pelo que vai ser desenrolado no decorrer desses relatos.

    O que é pecado? Onde está a regência do certo ou errado em nossas vidas?

    Na verdade, não existe pecado ou erro. O que sempre existiu é o

    medo. Pecado por minha concepção nada mais é que a forma mais sutil e

    bela de exercer poder sobre alguém sem precisar chegar perto ou dizer que

    seria punida por fazer isso. Já o erro tende a estar ligado a escolha pessoal e

    muitas vezes às circunstancias recorrentes.

    Tirando o foco do erro e acerto, vamos focar na questão de

    Pecado, isso porque eu fui condenado por estar "pecando contra os

    princípios da existência". Claro que a coisa mais absurda que notei foi que

    existem pessoas que se dizem capazes de falar o que pode ser bom ou ruim

    para a outra pessoa. Isso para mim se chama escravidão passiva. Alguém

    induz outra pessoa a pensar que aquilo que ela faz é ruim e pode sofrer

    punições eternas, perder seu lugar, perder sua família, perde seja o que for.

    Melhor dizendo: leva você a usar o seu pensamento contra si mesmo, e faz

    de um jeito frio e ao mesmo tempo sutil.

    Só que comigo foi diferente. Eu aprendi a lutar pelo que eu acho

    certo ou errado, pelo que eu considero santo ou impuro, mesmo que tenha

    escolhido caminhos não tão bem vistos ao longo da minha trajetória. Digo

    isso porque no fim dela, a morte me esperou de braços abertos. Não foi a

    morte em si que me esperava lá. Foi o Julgamento de mim mesmo que eu

    vi após o fim da minha vida e início da minha morte.

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    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Capitulo 1– Encontro e fuga.

    Tarde de outono, me preparando pra sair de casa. Sabia que seria

    mais um dia normal de aula na faculdade. Pegaria meu ônibus, chegaria à

    sala de aula, daria boa noite, viria algumas pessoas e depois voltaria pra

    casa com fome e sede de algo que faz parte da minha necessidade como

    individuo, pois eu nunca fui um humano, nem tão pouco sou considerado

    um Manipulador, na verdade nem eu ou minha Irmã. Nós herdamos doses

    Interventoras de nossa mãe, eu herdei mais. Com isso meus poderes já

    eram limitados e agora com esse bendito selo na minha perna esquerda, ate

    um bebê Manipulador pode fazer mais que eu.

    Saindo de casa para mais um dia de aula. Peguei minhas chaves,

    carteira, bolsa e disse mais uma vez a minha irmã:

    – Cuide de tudo caso o conselho me encontre por ai.

    Ao mesmo tempo pensando que o conselho poderia estar bem

    mais próximo do que eu imaginava ou que ele poderia estar simplesmente

    manipulando nós dois para ter provas concretas de que nossa família era

    traidora de antigas tradições. Como se nós tivéssemos culpa do erro de

    nossos pais. O que para mim são seria um erro, pois não acredito que eles

    tenham errado. Quem errou foi a pessoa que tinha medo de ver algo novo

    surgir.

    Existiu um grande mago que dizia que "o medo de errar nos faz

    perder a força de viver."

    Na direção do meu ponto de ônibus, eu reflito muito sobre meus

    poderes perdidos, minhas esperanças, meus motivos de continuar a minha

    longa vida.

    Chegando meu ônibus, entro e espero meu ponto de descida;

    aproveito o trajeto pra descansar minha mente e meu corpo. O que mais

    passa pela minha cabeça são trechos onde eu podia manipular matéria

    livremente, mas são só memórias. Algumas me fazem ficar bem

    cabisbaixo, principalmente quando me recordo a última vez que emanei luz

    da minha mão quando houve falta temporária de energia elétrica.

    Para quem não sabe a energia– seja ela luminosa ou elétrica– é

    uma condição básica pra manipulação. Qualquer criança nasce sabendo

    fazer uma faísca de luz nos seus dedos.

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    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Parte engraçada disso é que no fim elas sempre colocam na boca a

    mão errada e levam um choque; o que as fazem, durante um tempo, ter

    medo do seu dom.

    Isso não aconteceu comigo, já que eu não pude fazer luz com a

    mão, então eu nunca tive medo do dom que recebi. Pelo contrario, eu

    adorava ser reconhecido como um Manipulador da nobreza capaz de

    manipular qualquer estrutura atômica e destruir qualquer barreira por ter

    influência da parte dos elementos mais puros e perfeitos. Os outros

    Manipuladores tinham medo e respeito quando eu passava pelos mais

    fracos. Isso não era o que eu queria, todavia o meu ego humano gostava de

    se sentir importante no meio de pessoas que não tinham o seu dom.

    Desci do ônibus e fui recepcionado por algumas pessoas que eu

    comecei amizade no inicio do semestre letivo: Lucia Montane, Hilda Braga

    e minha amicíssima de coração Catrina Lambert. Tem outras pessoas que

    eu vou apresentando ao longo dessa estória, mas já que devo começar a

    introduzir novos personagens e nomes, porquê não pelas minhas grandes

    amigas?

    Ao entrar na aula, Lucia estende seus braços e vem com aquele

    sorriso maravilhoso, caloroso e gentil, parecendo uma boneca de porcelana

    daquelas bem antigas toda franzida e bonitinha.

    – William, boa noite. Me diz o que descobriu?– colocando as mãos no meu

    ombro, continuou. – Já sei! Descobriu que me ama, que vai se casar

    comigo e teremos 2 filhos .Você rico, eu rica e seremos felizes.

    A melhor parte dessa mulher– ela tem 28 anos– é que ela consegue

    fazer meu dia parecer uma aventura.

    Enquanto recebo essa intimação de casamento, Hilda esta

    morrendo de rir ao ver Lucia tentando de qualquer maneira me carregar

    para a cama. Claro que ela só tenta, pois já tinha dito logo na primeira

    tentativa que eu tenho preferência por homens. Mas vendo que nada podia

    fazer ela mudar de ilusão, me virei para Hilda e disse entre os dentes:

    – Me salva, por favor. Me salva dessa mulher ela vai extrair meu sêmen

    qualquer dia desses e vai ficar grávida de mim sem que eu penetre ela.

    Hilda se comoveu com minha cara de extrema necessidade de

    auxilio e tomou uma atitude até então inesperada pra mim e pra Lucia

    também.

    10

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    – Lucia, não sei se você sabe, mas o Will aqui não curte mulheres e caso

    ele queira curtir alguma qualquer dia desses, ele virá a mim– ela mostrou

    um meio sorriso nos lábios olhando para mim.

    Nunca na minha vida eu imaginei isso e também aprendi uma

    coisa valiosa nesse dia: nunca peça pra uma mulher te livrar de outra

    mulher. Sempre te livram, porém a outra fica com mais vontade de te ter e

    vai fazer de tudo pra isso.

    Voltando à aula e ao barraco que ficou ali, pois não terminou

    assim tão rápido não, teve mais. A Lucia de cheia de ódio disse:

    – Te manca mulher, a mãe dos filhos do Will vai ser eu. Você tá velha pra

    essas coisas.

    Pensei comigo mesmo, fudeu! Ou melhor, vão me fuder a

    qualquer momento. Hilda com toda a masculinidade dela disse assim:

    – Pelo menos sou uma velha que tá sendo muito bem comida– ela jogos

    umas mechas de cabelo para trás– Aliás, nem seu marido estava querendo

    te comer, e olha que era seu marido. Imagina o Will que nem hetero é.

    Na mesma hora vi que eu deveria fazer algo imediatamente. A

    situação fugiu do controle total e a única coisa que poderia parar aquela

    discussão seria algo inesperado: um pequeno acidente na lâmpada acima de

    suas cabeças. Só que limitado como eu estava, pensei em outra coisa. Algo

    que as deixariam sem resposta e totalmente desestimuladas, nem tanto

    assim.

    – Eu não posso ficar com nenhuma das duas– entrei no meio delas– Eu já

    possuo alguém para comer toda noite.

    As duas pararam de boca aberta e começaram as enxurradas de

    perguntas:

    – Quem?

    – Comendo quem? Onde?

    – Mas você não é gay?

    Tive que explicar as duas que existe o gay que e o que

    come. E nenhum deixa de ser gay pela preferência. Claro que a sociedade

    instaurou a ideia de que os que comem devem ser machões. Aquele

    padrão de homem alto, forte, peludo e coisas mais. Só que eu não era nada

    disso.

    Quando Catrina entrou na sala vendo aquele alvoroço todo ali instalado,

    simplesmente estendeu os braços em sinal de parada e disse:

    11

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    – Vão me dizer que as duas dondocas ainda estão disputando o

    pau dele?

    – Não necessariamente, mas adoraria poder saber como é– Lucia

    deu um olhar sedutor para mim.

    – Porra, Lucia, tá tão desesperada assim?– disse Catrina.

    – Ninguém tá comendo ela, negócio é tentar fazer o Will comer–

    Hilda sempre debochada.

    – Mas o Will aqui gosta de comer cu de homens e chupar rola–

    Catrina olhou de uma para a outra– Se vocês não tem uma, não faz o tipo

    dele.

    Nossa como eu agradeci a Catrina por isso. A poeira abaixou e

    tudo resolvido sem mais discussões. Tivemos uma aula tranquila, trabalhos,

    projetos e essas coisas que tiram nosso sono– que eu já não tenho mesmo.

    Na volta de casa ainda levei uma bronca de Catrina, pois ela achou

    irresponsável da minha parte dizer aquilo tão abertamente e que eu fui

    inconsequente e que eu poderia ter aguentado a Lucia na paz e

    tranquilidade.

    – Will, até quando vou ter que livrar você dessas duas? Poxa não

    dá corda pra elas não!

    – Mas, Catrina, não pude evitar– falei olhando para baixo– Você

    me conhece bem eu detesto brigas e tinha que ter feito algo. Eu sei que

    poderia ter usado minha magia, mas fazer o quê com meus poderes tão

    fracos desse jeito. O máximo que eu poderia ter feito naquele momento

    sem chamar muita atenção era fazer uma lâmpada queimar ou não sei...–

    ela me cortou:

    – Você ta brincando com fogo– ela levantou minha cabeça– E esse

    fogo não vai perdoar você. Caso continue agindo de maneira tão

    irresponsável.

    Catrina era uma mulher normal de grande sabedoria, loira e alta

    sempre bem arrumada, porém tinha um grande defeito: eu não entendia

    nada do que seus sermões diziam, nadinha.

    Na volta pra casa, peguei um ônibus abarrotado de gente. Odeio

    pegar condução assim, porém não tenho escolha ou é isso ou viver trancado

    numa sala cheio de pessoas usando você pra pesquisa e demais coisas que

    nem quero imaginar.

    12

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Quando consegui sentar em um dos bancos do ônibus, algo muito

    estranho aconteceu. Uma presença muito forte de um Manipulador usando

    seus poderes, algo superior. Tentei me acalmar e conversar com quem

    estava do meu lado.

    Devo ressaltar que essa foi uma das partes mais inusitadas da

    minha vida e que aconteceu de tal forma que nem pude perceber. De todas

    as pessoas que eu deveria conversar, puxei assunto logo com aquela que eu

    arrastaria para um buraco sem fim e depois de cair nele, eu teria minha

    primeira decepção amorosa.

    – Olá boa noite, vejo que você gosta de cultura japonesa por estar

    usando uma blusa de um anime.

    Ele era um jovem que aparentava ter cerca de vinte e um anos,

    cabelos raspados e tinha um corpo bem volumoso por trás daquela camisa.

    Vale ressaltar que tinha lábios carnudos, olhos sedutores, sorriso fácil e

    pele morena escura, mas um pouco queimada pelo sol.

    – Claro que adoro, parceiro. Sou um cosplayer e ultimamente

    estou em um projeto há alguns meses tentando fazer, mas falta alguns

    acessórios e... – ele fez um movimento com o indicador e polegar, deveria

    significar grana– Você sabe o que também falta.

    – Com certeza entendo sua situação, falta o dinheiro pra comprar

    todos os acessórios. Mas me diz uma coisa?

    – Posso ate dizer duas coisas se você quiser, manolo.

    La vem a gírias que esse povo fala que eu não entendo nada.O que

    quer dizer manolo? Será que é tio? Pois o único manolo que eu conheço

    é o tio do boteco.

    Bom, deixemos as tentativas de explicação pra depois e

    continuemos com o restante da nossa conversa.

    – Pode ser meu amigo? Por favor faça isso por alguém que você

    não conhece, estou desesperado aqui neste ônibus– o discurso não estava

    dos melhores e nem o papo, mas custava nada tentar.– Me adiciona em

    alguma rede social ou vá na minha casa pra eu te explicar melhor.

    Quando eu disse isso ele ficou com uma cara estranha. Acho que

    deve ter sido o excesso de drama que eu fiz pra ele, realmente exagerei um

    pouco.

    –Sim, eu posso ser seu amigo sim– num tom desconfiado– Só me

    passa um meio de nos comunicarmos melhor. Pode ser um celular, um e–

    13

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    mail, uma rede social, qualquer coisa que eu possa manter contato com

    você.

    Eu fiquei impressionado com tamanha confiança em minha

    pessoa, jamais imaginaria que eu ficaria amigo dentro de um meio de

    transporte público e com alguém que nunca vi na vida.

    – Maravilha! Vou passar nesse pedaço de papel tudo que você me

    pediu. Pode esperar um pouco? Tô um pouco nervoso porquê nunca fiz

    amigos assim.

    – Olha tenho um pedaço de papel aqui, pega e anota aqui o que

    você quiser só não se esquece de colocar seu nome e como me conheceu,

    pois tenho memória muito fraca.

    –Toma aí todos os meus contatos– entreguei a ele um papel com a

    minha péssima letra. – Tudo que você precisa saber de mim tá neste papel.

    Meu nome é William, mas pode me chamar de Will mesmo.

    – Muito prazer, meu nome é...

    – Tenho que descer do ônibus agora depois nós conversamos por

    um desses lugares. Aí você se apresenta melhor.

    Puxei a cigarra e desci no meu ponto de ônibus, feliz da vida por

    ter feito um amigo otaku. Continuei meu caminho até chegar à rua da

    minha casa, quando fui surpreendido por duas pessoas muito estranhas. Eu

    sabia que eram do Conselho, mas continuei pelo meu caminho. Claro que

    não entrei em casa, pois poderia dar problemas. Então mudei de caminho

    diversas vezes e tentei me esconder, mas não consegui e resolvi enfrentar

    eles.

    – Podem se mostrando logo seus cães do Conselho, senão fizerem

    isso serei obrigado a usar meu poder contra vocês– um blefe enorme, mas

    poderia funcionar.

    Eles se descobriram de suas sombras e se revelaram. Eu naquele

    momento fiquei assustado por não saber o que fazer. Enfrentar sozinho

    aqueles dois ali seria um problema muito grande pra mim. Fui idiota em

    pensar que poderia fazer uma loucura dessas.

    Capitulo 2– Luta e explicações.

    14

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    –Você não pode usar magia, –disse um deles– seus poderes estão

    selados. E tentar usar qualquer manipulação vai facilitar muito nosso

    trabalho.

    Pegaram–me. Naquele momento me vi sendo preso e nas mãos do

    conselho eu só tinha uma escolha: lutar pela minha fuga. Mas não tinha

    outra escolha, porque ou era isso ou ser pego e torturado de maneira que

    não conseguiria imaginar.

    –Vocês querem magia?– me virei para encará–los de frente– então

    vocês terão magia.

    Quando terminei de falar, fiz o básico da manipulação de oxigênio

    criando uma barreira de vácuo a nossa volta. Assim ninguém podia escutar

    o que realmente estava acontecendo ali.

    Um deles respondeu:

    – Ora, vejo que temos alguém que consegue ainda criar barreiras.

    Pena que não será o suficiente pra tentar nos parar– o mais alto ainda

    estava coberto pelo capuz do manto negro.– Uma barreira só facilitará

    ainda mais o nosso serviço.

    –Vocês não viram nada ainda do que um Manipulador da minha

    classe pode fazer.

    Realmente estava blefando, pois meu selo estava latejando e se eu

    demonstrasse que estava muito reduzido, a captura seria imediata.

    Então eu apelei, pois sabia que eu lutando contra eles naquela

    situação seria um homem morto. Então usei a inteligência.

    – Seu moleque insolente!– o capuz do mais alto foi tirado e pela

    sua cara de raiva era certo que eu tinha piorado tudo.

    – Vamos acabar com você, vamos destruir você aqui e agora!

    Nessa hora eu tive medo, mas muito medo de morrer.

    Eles começaram a me atacar com plasma. Ainda bem que plasma é

    fácil de manipular pra quem tem meus dons, porém eu não poderia baixar a

    guarda. Qualquer coisa diferente de plasma poderia me destruir.

    Passamos boa parte do tempo lutando com plasma concentrado.

    Até que começaram a ser mais específicos, usando suas aptidões

    manipuladoras. Os dois eram de aptidão metálica, significando que não

    passavam de Manipuladores normais com bom treinamento e estratégia.

    Isso dava uma certa vantagem à mim, que seria– somente por pura sorte–

    15

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    se usassem algum elemento que eu pudesse unir a minha base de

    Hidrogênio, criando um ácido.

    Assim eu não gastaria muito dos meus poderes, já que eu só teria

    que ligar, atomicamente, meu hidrogênio no elemento deles, e usar magia

    livremente.

    – Vamos acabar logo com isso aqui e agora.

    Quando o mais baixo e acima do peso disse isso, fiquei

    preocupado. Sabia o que eles tinham em mente. Eles iriam evocar um

    Golem de metal, o que me deixaria sem opções, a não ser usar meus

    atributos. Isso me tiraria muita energia e teria que usar pra matá–los.

    O mais alto tirou de dentro do seu manto uma espécie de pedra ou

    pedaço de algum metal e o fez levitar no ar. Enquanto o outro estava com

    as duas mãos tocando o chão e se concentrando para ligar todos os

    elementos necessários para a criação de um corpo metálico. Logo percebi

    que aquela pequena pedra era um pedaço de meteorito, um grande

    amplificador para os Metálicos. E esses tipos de amplificadores são

    extremamente poderosos e úteis para eles, por conta da carga e

    concentração metálica que podem conter ali dentro, sem contar as

    propriedades magnéticas. Alguns metálicos possuíam grande aptidão para

    tais propriedades metálicas.

    Ao falarem que acabariam com tudo eu tremi de medo. Sabia que

    a brincadeira tinha acabado. Era um Golem de 4 metros de metal reluzente

    diante de mim. Nem devo o trabalho de dizer que o desespero jorrou em

    mim como um cano vazando água.

    Parei pra analisar o que Catrina disse mais cedo e como fazia total

    sentido agora. Tive que pensar em algo rapidamente, uma distração,

    qualquer coisa pra fugir. Foi quando eu olhei à frente do Golem, lembrei do

    acidente da aula de hoje com a Hilda e a Lucia: "...criação de energia é a

    forma mais básica de magia criada por um Manipulador". E ali estava

    minha chance de fugir: um transformador de baixa tensão. Eu só precisava

    criar um campo elétrico nele e puxar a correte elétrica do secundário para

    os dois manipuladores, me dando tempo de fugir e chegar em casa.

    Pausa para breve explicação de um transformador.

    Equipamento usado para alterar níveis de tensão e corrente

    conservando a potência de entrada (primário) e a potência de saída

    16

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    (secundário). Onde se eleva a tensão de um lado abaixando a corrente e do

    outro o reverso.

    Era seguro, pois tinha uma barreira impenetrável criada por mim e

    minha irmã. Usamos a barreira de trítio. Foi difícil de fazer, mas

    conseguimos acumular bastante trítio em nossa casa.

    O Golem começou a atacar e eu comecei a correr e a tentar criar

    um campo elétrico suficientemente capaz de influenciar os enrolamentos

    do transformador e conseguir amplificar o campo magnético. Tudo isso

    para que a ligação dos dois com o Golem pudesse ser rompida e eu pudesse

    correr muito para minha casa.

    Conseguindo chegar perto do transformador eu influenciei o seu

    circuito magnético e consegui gerar um bom pulso, distraindo eles. Assim,

    abri uma passagem na minha barreira e corri o mais rápido possível pra

    minha casa.

    Quando estava a poucos metros da minha casa o mais inusitado

    aconteceu, o Golem estava na minha frente. Meu plano falhou, perdi

    minhas esperanças. Tudo foi embora.

    – Agarre–o! Agora!

    Não pude nem sequer lutar contra aqueles dois. Eu perdi. Ainda

    bem que consegui preservar minha irmã e meu sobrinho; pelo menos

    alguém vai ter uma vida muito melhor que a minha.

    –Parece que hoje vai ser uma ótima noite para testar minhas novas

    teorias.

    Aquela voz animada e sempre inspirada só podia ser de uma

    pessoa: Helena Walker. A Manipuladora mais poderosa em duas gerações

    completas, tanto em minha família quanto em qualquer outra.

    Ela estava saindo por de trás da barreira usando um vestido bem

    largo de manga curta para dar conforto à sua barriga de seis meses de

    gravidez.

    Na mesma hora que ela apareceu, o Golem voou para cima dela e

    com uma espalmada no ar com sua mão direita ele se desfez

    completamente.

    – O conselho tem idiotas mais poderosos que vocês. Com certeza

    só estão aqui para serem mortos– ela foi andando desfazendo com total

    17

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    facilidade qualquer ataque mágico metálico lançado.– Me poupem do

    trabalho de fazerem vocês sofrerem antes de morrer.

    Uma lança metálica foi a total velocidade pelas suas costas. Eu

    gritei:

    – Helena! Cuidado!– a lança foi parada sem ela se virar a poucos

    centímetros de sua nuca.

    – Coisa feia hein, atacando uma mulher grávida pelas costas.

    Os dois arregalaram os olhos e antes que pudessem sair correndo a

    mesma lança que estava parada no ar atrás de Helena, foi a mesma que os

    atingiu pela frente. Arrancando sangue e outras coisas quando passava por

    seus corpos.

    Como ela conseguiu esse poder? Quanto ao selo? o que ela fez pra

    não sentir ele? Bom isso não importava agora, eu estava a salvo e eles

    estavam mortos.

    –Como você conseguiu usar seu poder, tendo–os selado como eu?

    Ela olhou pra mim com uma cara de raiva e ao mesmo tempo

    querendo saber se somente havia aqueles dois homens ali.

    – Mais alguém te seguiu?– ela estava mais fria que o polo norte.

    – Só eles dois– afirmei soltando o ar devagar e me dando conta

    que estava sentado no chão.

    – Ótimo– ela disse virando as costas para mim.– Devo presumir

    também que não deixou rastros do seu poder, certo?

    – Nenhum.

    –Vamos entrar.

    Ao entrar em casa ela me explicou como estava podendo usar seus

    poderes sem a influência do selo. Tudo isso graças a uma biblioteca

    escondida por trás de toneladas de poeira no porão da casa.

    –Will, eu estava vasculhando essa casa pra encontrar alguma

    coisa– ela foi seguindo da cozinha para a sala,– já que meu marido está

    muito ocupado ultimamente trabalhando. Então resolvi ir mais fundo na

    busca, me guiando pela curiosidade. Encontrei dezenas de livros e diários

    da família– descemos por uma porta que ficava atrás da cortina na sala,

    uma porta pequena que devíamos nos abaixar para entrar.

    – Li alguns dos volumes aqui– ela apontou para um baú velho– eu

    entendi uma coisa que pode nos ajudar por um tempo. Pelo menos até que

    18

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    tudo se esclareça lá no conselho e possamos ter provas de que somos

    pessoas normais e não aberrações.

    Eu acenei e continuei calado ouvindo o que ela me diria a seguir.

    – Posso usar meus poderes livremente, pois o meu bebê também

    será manipulador– ela massageou a barriga.– Posso usá–lo como

    canalizador de poder sem que seu desenvolvimento seja prejudicado dentro

    de mim.

    – Então deixa eu ver se entendi – estendi as palmas das mãos a sua

    frente.– Você, por estar grávida de um filho Manipulador, pode usar seus

    poderes sem a influencia do selo? Mas e o bebê? Tem certeza de que não

    tem nenhuma consequência?

    – Nenhuma– ela balançou a cabeça,– o selo está atrelado à minha

    fonte Atômica de poder e não a do bebê .

    – Nunca ia imaginar algo do tipo.

    – Graças aos textos da nossa tia Demeter.

    –Tem coisas dela aqui?– Falei um pouco espantado.

    – Dela e muitos outros.

    –Bom,– disse dando de ombros– eu continuo sem entendem

    direito isso, pois o selo ainda está em você pelo que eu posso notar.

    – Realmente o selo está, mas o poder que eu estou usando não é

    meu. Esse poder pertence ao meu filho. Um dos livros falava sobre selos e

    dizia que selos são bem específicos e que só podem prejudicar a pessoa que

    o recebeu. Se for mulher e estiver grávida, o selo somente surte efeito na

    mulher que recebeu não na criança. Entende o que eu quis dizer?

    – Agora sim eu pude entender melhor. O seu filho também herdou

    nosso dom pra manipulação, e você está consumindo o poder dele e não o

    seu– algo ali me deixava tenso.– Não seria perigoso?

    – Segundo o livro não seria, já que seria uma fonte externa de

    poder, como quando nós usamos o trítio para manipular essa barreira de

    proteção. Deu certo, então seria isso.

    Eu acenei com a cabeça e ela levantou o indicador direito para um

    porém na questão.

    – Posso usar os poderes dele até nascer, depois eu perco tudo e

    volto a ter meu selo de volta.

    Depois dessa explicação muito bem dada, ela voltou para o quarto

    dela, já que deve ter sido muito estressante para ambos naquele corpo e eu

    19

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    fui para a cozinha. Aliás, eu estava morrendo de fome quando entrei no

    ônibus e agora, depois dessa confusão toda, a fome veio em dobro.

    Nasceu uma fonte de esperança para nós, mesmo que fosse

    provisória. Pensei exatamente dessa forma após comer e tomar uma ducha

    quente. Demorei bastante no banho, aliás eu precisava estar bem relaxado

    para poder terminar meu dia ali no quarto refletindo até onde as garras do

    conselho tinham chegado já.

    Depois de tudo isso, eu notei que eu tinha feito uma amizade

    diferente naquele dia e que poderia investir nela. Quem sabe não poderia

    ter algo mais nessa amizade, ele até que era bonitinho. Assim eu me

    levantei peguei meu celular e mandei uma mensagem que dizia:

    "Boa noite aqui eh o Will do ônibus,então eu queria te convidar

    pra comer algo amanha na minha casa de noite,traz roupa pois acho melhor

    você dormir aqui em casa mesmo temos muita coisa pra conversar se vc

    quiser me ver responde essas mensagem ate umas 3hrs pode ser??? To

    esperando vc aqui.vlw."

    Mal sabia eu que nesse dia eu conheceria uma pessoa tão especial,

    tão especial que ela começou, depois de um certo tempo, a fazer parte da

    minha família.

    Capitulo 3– Noite memorável.

    No dia seguinte, eu fiquei a maior parte do tempo sozinho em

    casa. Minha irmã foi ao médico e depois iria sair com algumas amigas.

    Pra ela estava bem, nada podia entrar no caminho dela, seus

    poderes estavam de volta, mas os meus não. Eu ainda deveria ter muita

    cautela e saber que poderia passar por uma situação como a da noite

    anterior e não ter alguém pra me livrar daqueles cães do inferno.

    Tirando essa parte, meu dia estava bem tranquilo: tomei meu café,

    passei roupa, fiz comida, joguei e sai pra minha aula de todo dia. Nesse dia,

    a aula seria de materiais elétricos e suas estruturas.

    Peguei meu ônibus, cansado ainda do dia anterior, e de tantas

    coisas novas que eu descobri sobre o selo que foi implantado em nós.

    20

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Cheguei na faculdade com um baita sono e com uma cara super

    amassada de tanto que dormir de mal jeito no trajeto.

    Eu não estava nem um pouco a fim de assistir. Na verdade eu

    queria mesmo sentar num dos bancos que ficam pelos andares do campus e

    conversar com uma amiga que eu conheci no primeiro período e ficamos

    amigos desde então. Pena que ela era de engenharia civil e nos separamos

    pelo quarto período e desde então nós só nos víamos por sorte e por

    telefone às vezes.

    Ela era loira natural, estatura mediana, olhos azuis cristalinos, sua

    pele era bem clara. Ela não era do RJ, uma belíssima mineira com traços de

    italiano uma mulher muito linda. Seu nome era Francisca Albanio.

    Mas ela estava em aula. O jeito era procurar minha turma de

    sempre: Hilda, Lucia e Catrina. No final das contas eram elas que eu via

    quase todos os dias nas aulas.

    Fui até minha aula e tive uma grande surpresa: o professor não

    viria ministrá–la. Nesse meio tempo, recebi a mensagem que estava

    esperando desde as 15 horas, e como não recebi achei que ele não queria

    ser meu amigo. Também pudera; nem me conhecia direito. E eu já estava

    chamando pra ir na minha casa comer algo e conversar. Que coisa estranha

    de ser fazer. Bom, eu não tinha aula e resolvi ler a mensagem, que continha

    a resposta:

    "Desculpa pelo atraso da minha resposta eu vou sim so que eu vou

    chegar depois das 22, tenho aula tb vou sair cedo e vou direto pra sua casa

    me diz onde vc mora ou me pegue no ponto perto de algum lugar de

    referencia.Eu quero te conhecer melhor,algo me diz que vc vai mudar

    minha vida."

    Na verdade ele estava certo, ao me conhecer realmente a vida dele

    mudaria para sempre. Muita coisa aconteceria. Me lembrei do que Catrina

    disse sobre eu não ficar me entregando tão fácil às emoções. Dessa forma

    resolvi esperar até o momento certo para lhe contar toda a verdade sobre

    minha vida. Mal sabia eu que ele tinha mais segredos e dificuldades do que

    eu mesmo podia arrumar para mim. Não que ser um foragido do Conselho

    fosse algo mais tranquilo do que ele me mostrou ser, mas ainda sim, por

    parte dele, a coisa era bem mais complicada do que eu.

    21

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    A parte ruim de ser um foragido é não poder ter laços fixos com

    ninguém, pois tinha medo que eles usassem meus sentimentos contra mim,

    me fazendo de massa de manobra para o fim que eles quisessem. Na

    verdade eu não seria a massa de manobra, o que eles mais queriam era usar

    minhas habilidades para algum fim experimental. Até então não passava

    pela minha cabeça o motivo desse fim. Até que algo extremamente

    inesperado aconteceu, tanto pra mim, para o otaku do ônibus e para

    Helena. Não posso esquecer–me de adicionar Catrina que também tem um

    grande envolvimento com essa historia, mas isso vai ficar para muito mais

    tarde. Não vou adiantar os fatos, quando se tem muita coisa para acontecer

    na estrada que vou percorrer dessa noite em diante.

    A minha expectativa de fazer um novo amigo e talvez até mais do

    que isso, aumentou de forma considerada, porém como não sou de nenhum

    metal ou material impenetrável, tenho minhas fraquezas. Temi desde o

    inicio, achando que poderia estar arriscando a vida dele ou até a minha

    mesmo, já que eu nem sabia quem ele era e nem sabia também o motivo de

    ter aceitado um convite de um estranho que conheceu dentro de um ônibus.

    Deixando minhas dúvidas, meus medos e loucuras de lado, eu fui

    até o mercado perto da minha casa quando voltei da aula, que na verdade

    não teve aula nenhuma, só gastei dinheiro à toa, podendo ter ficado em

    casa. Porém, em casa também era chato, preferiria ir mesmo pra lá bater

    minha cabeça na porta e voltar.

    Quando entrei no mercado não sabia o que poderia fazer pra ele.

    Certo que não podia ser lanche. Teria que ser algo melhor que isso, até por

    que eu também estava com uma fome dos infernos. Decidi fazer algo mais

    simples que não precisasse de muita coisa. Decidi fazer umas panquecas de

    carne. A carne eu já tinha dentro do freezer era só descongelar. O que eu

    precisava mesmo era dos ingredientes para o molho, o queijo e algo para

    beber. Depois de tudo comprado, voltei para minha casa feliz da vida,

    imaginando que tudo estava conforme eu queria, quero dizer tudo

    conforme ninguém tinha me achado ainda, se não fosse por Helena talvez

    agora eu estivesse aprisionado em algum recinto mágico, nada muito

    confortável.

    Decidi que após aquele dia eu tomaria mais cuidado ao enfrentar

    qualquer enviado do Conselho para me prender. Tomei, realmente, uma

    22

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    atitude que poderia ter acabado com essa história sem antes mesmo de

    começar.

    Deixando isso de lado, voltei caminhando para minha rua e

    pensando em como poderia me apresentar da maneira mais humana

    possível. Eu sempre fui criado no meio da nobreza, cheio de regras e

    etiquetas. Talvez ele não fosse gostar tanto assim de mim por não saber me

    portar como um humano normal. Admito que sou muito cortês em relação

    às outras pessoas.

    Na verdade eu sempre devia ser cortês assim na frente de todos ou

    senão a família inteira poderia ser envergonhada pelo meu ato

    irresponsável. Eu detestava aquilo tudo, mesmo que parecesse tudo belo e

    normal, na verdade tudo era falso e mentiroso como diziam antigamente "o

    fausto falso da família era grande demais".

    Essa vida de luxo e etiqueta estava incrustada na minha pele, e por

    mais que eu não quisesse, eu acabava fazendo algumas coisas que não era

    para serem feitas. Sempre era, ou ao menos parecia ser, sinal de uma ótima

    educação, mas entre os humanos os valores dessa tal boa educação era

    desvalorizada e perdida por muito tempo. Eles deixarem isso de lado

    depois da tal e referente era tecnológica e igualdade entre os sexos.

    Eu, porém, nunca entendi isso. Se estava havendo igualdade,

    porque perder os direitos da boa educação e etiqueta à mesa? Talvez seja o

    fato de não quererem igualdade entre os sexos e sim liberdade e

    justificativa para qualquer coisa que prejudicasse o outro, ou que fizesse o

    outro se sentir mais inferior. A cada dia que se passava vivendo entre eles e

    vendo suas atitudes para com os outros, mas nojo eu sentia. Não posso

    generalizar, todavia haviam pessoas muito educadas e respeitosas sem

    serem conservadoras. Até porque essa característica– educação– vai além

    de qualquer preceito ou ideia. Mas, se eu muito mal compreendo suas

    organizações políticas, imagine as sociais.

    Deixando isso de lado, pois a raça humana é muito complexa para

    ser explicada, mais uma vez estava eu ali pensando e olhando pro céu

    noturno de uma noite de outono. Estava um pouco frio, então eu estava de

    casaco, blusa branca, tênis de costume e com meu cabelo bagunçado,

    preferi não arrumar ele hoje, já que todos merecem uma folga. Voltei ao

    meu trajeto, estava pensando em como tudo aquilo estava acontecendo logo

    comigo. Não poderia ser com outra pessoa? Logo comigo? Pensando assim

    23

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    eu ficava até desmotivado, pensando em largar tudo e me entregar ao

    Conselho. Não ia dar em nada, mesmo que achássemos provas da nossa

    inocência, eles não iam nos aceitar de novo na sociedade. Então para que

    correr? Se no fim tudo iria acabar em morte ou desgraça mesmo.

    Continuei meu caminho em paz e tranquilidade, até que o frio

    começou a aumentar de forma sutil. Eu não ligava, porém o frio aumentou

    muito e comecei a perceber que aquela diminuição de temperatura era algo

    estranho demais pra ser de causa natural. Imaginei que aquilo que

    aconteceu ontem não era para me pegar e sim para saber minha localização.

    O Conselho era inteligente o suficiente para bolar esse tipo de

    armadilha e eu não me liguei nisso, acho que a Catrina sempre terá razão.

    Então comecei a pensar onde este Manipulador estaria e qual poderia ser

    seu poder de influência. Se fosse de hidrogênio eu poderia me dar bem, eu

    também, bastava usar o poder dele de forma externa, ou seja usaria o poder

    dele e supriria o meu. Assim, o selo não poderia influenciar meu poder e

    poderia lutar de igual para igual. Só que não foi como eu pensei, até ele

    usar ozônio em sua forma concentrada, diminuindo drasticamente a

    temperatura ao meu redor. Isso era um problema para mim. Significava que

    o Manipulador era Gasoso e não de hidrogênio. Sua especialidade eram os

    gases, sejam eles em suas formas liquidas ou gasosas. Daria um certo

    trabalho, pois ele poderia usar um gás nocivo como o monóxido de

    carbono, sem eu perceber, e assim em pouco tempo ficar inconsciente. No

    mais tinham outras coisas pra me preocupar, como por exemplo: será que

    só ele estava ali ou haviam outros?

    Parti para a fuga imediatamente, sabendo que contra esse tipo de

    manipulação eu não teria chance sozinho, mas continuei correndo e firme

    no meu pensamento que tudo iria dar certo e que conseguiria ser salvo por

    alguma coisa. Como se alguém fosse me salvar naquela hora daquele

    Manipulador do Conselho. Para minha surpresa, eu notei que estava sendo

    manipulado por ele através do frio e somente uma pessoa poderia fazer isso

    com tanta maestria, e neste exato momento eu sabia que não era um Gasoso

    qualquer, só podia ser uma pessoa. Ninguém mais que o Ferdinand Leneth.

    O próprio e em pessoa, instrutor de magia climática. Sabia que

    estava realmente com problemas. Não era um simples Gasoso, ele era o

    meu professor climático e influencia com gases nocivos. Mas ainda restava

    uma esperança, poderia ser um de seus alunos. Ele treinava todo ano um

    24

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    aluno em especial para se tornar seu auxiliar e num futuro próximo

    defensor de suas técnicas.

    Nem tudo saiu como eu queria, então já deu para notar que eu não

    estava falando de um aluno e sim do próprio Ferdinand. Ele se mostrou ao

    meu lado com sua bela voz elegante e muito tranquila.

    – Boa noite, meu caro aluno de quem me comprazo tanto. Me

    diga, como anda a família a qual eu tive oportunidade de ser instrutor por

    tanto tempo?

    Aquele homem de meia idade, com corpo de estatura media e

    poucos músculos e a barba estilo suíça. O cabelo grisalho dele era o marco

    do seu poder. Um cabelo que não era grisalho, mas sim prateado depois de

    um experimento mal sucedido com prata.

    – Sim, a família vai ótima. Meu pai morreu, a minha mãe também

    e eu estou aqui para lembrar que o Conselho a quem você serve, está me

    culpando por um crime que eu não cometi.

    Na mesma hora ele se aproximou de mim e tentou me acalmar e

    explicar que não era bem isso que o Conselho tinha em mente com minha

    família.

    – Então vamos para o Conselho? Tem muita coisa que precisamos

    organizar com sua volta meu querido aluno e senhor também– ele fez uma

    pequena reverência–, não posso me esquecer de que eu servi sua família

    por muito tempo.

    Aquele sarcasmo dele me encabulou muito.

    – Mesmo assim eu me recuso– falei de forma bem insistente e

    firme– se quiser que eu vá com você terá que me forçar ou me levar morto

    pois daqui eu não saio e lutarei pela minha liberdade.

    Sabia que estava fazendo merda mais uma vez. Eu achava que era

    páreo para enfrentar meu professor. Sabia que sairia dali bem machucado e

    não adiantaria nada.

    – Com todo prazer meu senhor, seu desejo sempre será uma

    ordem.

    Ao dizer isso ele se afastou de mim com uma reverência que faria

    um rei até se sentir envergonhado e me cercou com ar gelado e lançou uma

    cortina de gás em mim. Ainda bem que era água, porque se fosse algum gás

    nocivo eu estaria morto há muito tempo.

    25

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Ao fazer isso imaginei: ele vai usar o ozônio contra mim e

    cristalizar o gelo a minha volta. De hoje eu não escapo.

    –Hoje eu vou fazer aquilo que já deveria ter sido feito há muito

    tempo.

    Assim que escutei isso, o vapor se dissipou e eu o vi convertendo

    o dióxido de carbono em monóxido de carbono, o suficiente para me deixar

    inconsciente por um longo tempo.

    Neste exato momento a coisa mais linda aconteceu. Um homem de

    casaco cinza surgiu e disse:

    –Nada vai ser levado ou será morto enquanto eu estiver aqui.

    Eu não sabia, na hora, quem era. Mas por dentro eu estava

    agradecendo a qualquer divindade que podia me lembrar pelo possível

    salvamento através daquele homem que apareceu.

    Capitulo 4– Início de alguma coisa.

    Eu poderia jurar que todos os meus esforços virariam cinzas ao

    vento e nada faria dar certo. Uma luz de esperança apareceu de maneira

    surpreendente, aquela luz em forma de escuridão que jamais poderia

    imaginar. Alguém me salvando naquele instante era a pura percepção que

    alguma coisa estava zelando por mim em algum lugar no multiverso.

    Imóvel eu estava, imóvel eu permaneci. Se alguém apareceu para

    me salvar, não seria eu que iria interferir. Eu estava aceitando qualquer

    ajuda naquele momento de qualquer pessoa, independente do que ela

    poderia fazer comigo. Eu estava disposto a sair dali e correr até a minha

    casa. Duas investidas do Conselho em uma única semana era algo

    impensável para mim e para qualquer um também.

    Quando eu escutei aquelas palavras de esperança– ao menos eu

    esperava que fossem– eu notei que algo estava tentando me ajudar. Bom,

    eu decidi que não iria negar. O destino resolveu pregar uma peça em mim e

    eu só queria ser salvo naquele momento, bastava isso. As coisas mudaram

    26

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    de rumo inesperadamente a partir daquele dia, e eu como sendo o centro

    daquilo tudo somente disse: sim. Sem nem ao menos titubear nas minhas

    opções.

    – Hoje a noite vejo que temos muitas visitas inesperadas,– disse

    Ferdinand– visitas com cheiro de sangue e morte ao seu redor.

    Aquela voz sarcástica que ele tinha e um sorriso no canto de sua

    boca diziam muito sobre sua personalidade. Não sabia o motivo ao certo

    de: cheiro de sangue e morte. Já não estava entendendo mesmo o que se

    tratava aquela aparição. E outra, se ele tinha cercado aquela área com

    magia como alguém poderia estar ali, naquele lugar?

    Naquela hora eu não sabia se ficava com medo de ir com

    Ferdinand ou ficar ali nas mãos de alguém totalmente estranho e ainda com

    cheiro de sangue e morte. É ai que colocamos a mão na cabeça e não

    sabemos o que desejamos. Antes eu queria ser liberto e fugir, agora não

    sabia mais o que eu queria. Estava tudo muito confuso e estranho, e eu

    ainda devia levar em conta o frio que não ajudava muito a pensar em nada

    viável no momento.

    Eu decidi ver o que poderia acontecer. Deixei o destino decidir por

    mim, não teria nada a perder mesmo. Tanto que de um lado eu morreria e

    de outro poderia morrer também. Então vamos ver o que poderia acontecer

    de novo.

    – Vejo que temos algumas pessoas que mesmo velhas ainda

    sentem cheiro de algo,– disse o estranho– não só vejo como também sinto

    cheiro de múmias aqui também.

    Se tinha algo de ruim era chamar Ferdinand de velho.

    – Meu querido monstro das trevas – sua voz calma como um rio

    fluindo era um marco.– Pelo menos eu não preciso me esconder das

    pessoas e ninguém teme à minha presença. Já você, pobre e solitário. Um

    inútil que me fará um enorme favor de viver sua morte em paz.

    Ao dizer isso, Ferdinand atacou o tal homem sem piedade com

    suas lanças de gelo. O homem foi mais rápido que as lanças e sumiu no

    meio do gelo e da escuridão.

    – Nossa, não é só o cheiro de múmia não, é a velocidade de

    ataques– ele sumiu mas sua voz estava em bom som.– A inteligência

    também, na verdade você inteiro é um velho, fraco que não tem pontaria.

    Até minha avó atira melhor que você.

    27

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Sorrindo em meio à escuridão daquele ambiente, ele acabou de

    fazer algo que eu nunca queria ter visto na minha vida: o Ferdinand com

    desejo de matar alguém e com total disposição para isso.

    – Seu demônio, tenha coragem e venha me enfrentar de igual para

    igual– Ferdinand estava furioso agora.– Covarde! Venha, apareça e mostre

    que você e sua raça tem no mínimo coragem para enfrentar a morte e sair

    pouco deformado do seu funeral, que será hoje e agora.

    Como sua fúria se ascendeu, eu procurei ver um lugar seguro para

    me esconder de qualquer coisa que ele tentasse. Como se eu pudesse me

    esconder, eu estava preso por duas âncoras de gelo pelos tornozelos.

    Ferdinand com raiva não controla bem seus poderes.

    – O único demônio que existe aqui está com um cabelo grisalho e

    fala como se fosse alguém superpoderoso. Me mostra se você é capaz de ao

    menos me acertar.

    – Eu te mato agora! Seu, seu...– Ferdinand cerrou os punhos de

    ódio.

    Naquele momento, o frio começou a piorar. Eu sabia, ele ia tentar

    o zero absoluto naquela região.

    Outra pausa para explicação.

    Zero absoluto:

    Temperatura que corresponde ao zero Kelvin. Uma unidade de

    medida térmica experimental, onde seu ponto mais frio, o zero,

    corresponde a: duzentos e setenta e três graus negativos em Celsius. Uma

    temperatura tão baixa que as moléculas ficam estagnadas.

    –Morra seu demônio!!!– seu grito de fúria foi medonho.

    No mesmo instante, eu pude sentir todo o ar sendo cristalizado à

    minha volta, e a temperatura caindo de maneira exponencial.

    Nesse momento eu sabia que eu iria morrer congelado. Não só eu,

    mas todo o quarteirão congelaria para sempre. Ou até alguém reverter o

    processo que demora no mínimo um mês.

    Claro que eu não morri, ou não poderia estar narrando esses fatos

    agora. Digamos que antes do zero absoluto de Ferdinand algo incrível

    aconteceu, pelo menos eu achei incrível.

    28

    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    – Termine de conjurar esse seu encanto, que eu termino a sua vida

    agora.

    Aquele homem estava atrás dele, pronto para matar o Sr. Leneth.

    Eu não acreditei naquilo que eu estava vendo. Que velocidade e força, ele

    interrompeu o poder manipulativo de um dos mais poderosos magos do

    Conselho. Algo ali me dizia que aquele homem não era humano. Mas o que

    ele seria? Demônios não existem.

    – Termine de conjurar– seu tom desafiador era forte–, eu te desafio

    a terminar isso que estava fazendo.

    Ele disse com uma voz sombria no ouvido do Ferdinand que me

    deixou arrepiado.

    – Ainda tenho meus métodos e segredos que podem acabar com

    você a qualquer momento, demônio.

    Um pico de gelo o atingiu na perna o deixando debilitado e em

    contra–ataque, ele atacou Ferdinand deixando um presente em seu braço.

    Com certeza ia ficar uma cicatriz bem horrível depois daquele dia.

    – Ainda diz que o covarde aqui sou eu– disse o encapuzado de

    cinza. – Até agora quem está sendo covarde e desonroso aqui é você.

    Ferdinand desistiu e fugiu. Ele sabia que sozinho não ia dar conta

    daquele homem.

    Eu sem entender nada e muito curioso me acheguei para querer

    saber quem era aquela pessoa e por que me salvou?

    Ao me aproximar, ele saiu pulando e deixou cair algo no chão que

    eu não entendi direito. Era um amuleto e não sabia ao certo o que

    significava. Somente peguei e segui meu caminho.

    Eu estava atrasado para um jantar que deveria estar pronto e eu

    estava ali pensando se mais algo aconteceria de inesperado.

    Chegando em casa, eu coloquei tudo na mesa. Sentei e coloquei a

    cabeça no lugar. Não pude ficar muito tempo ali colocando ela pra pensar

    com um jantar a ser feito. Tirei a roupa, coloquei na máquina, tomei meu

    banho quente, que a propósito eu estava com um super frio por ter sido

    envolvido naquela batalha gelada, literalmente.

    Contudo, naquela mesma noite eu decidi fazer algo diferente e não

    podia demonstrar meu sofrimento e preocupação com aquilo tudo que

    havia ocorrido.

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    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Terminado o banho, me arrumei, coloquei uma bermuda azul

    escura e uma blusa preta. Agora era só esperar ele chegar. Tudo já estava

    preparado. Fiquei bem à vontade com as minhas roupas, e fui à cozinha

    preparar o molho para as panquecas e colocá–las para gratinar no forno

    com queijo parmesão em cima.

    Passado o tempo delas no forno, uns vinte minutos na verdade, eu

    desliguei e deixei que elas ficassem aquecidas ali dentro esperando a

    mensagem dele para que eu fosse buscá–lo em algum lugar ou abrisse a

    barreira invisível da casa para ele entrar. Vale lembrar que se não houvesse

    permissão minha ou da minha Irmã para passar por ela, uma dor

    insuportável infringiria o indivíduo.

    O telefone vibrou e fez o alarme de mensagem apitar. Sim, era ele.

    Estava bem perto da onde eu morava. Mas ele não sabia como chegar até

    minha rua. Então eu precisei falar um lugar de referência próximo de onde

    ele estava para eu ir buscá–lo.

    Pensei e respondi à sua mensagem de maneira objetiva e de fácil

    compreensão.

    "Bom já que esta perto, peça para o motorista te deixar numa

    praça bem conhecida aqui. se chama Guilherme, quando você soltar eu vou

    estar te esperando no posto de policiamento que tem ali. Vai me ver logo to

    todo de azul escuro e preto,e sou alto Tb."

    Esperava que ele não se perdesse. Nisso eu fiquei preocupado com

    as panquecas, pois ele poderia demorar mais que o forno a dissipar o calor

    interno e deixá–las frias até a sua chegada.

    Eu estava torcendo que o evento com Ferdinand há poucas horas

    atrás tenha sido só mais um aviso. Pois se fosse o início de uma operação

    do Conselho na área, com certeza a coisa e o jantar amigável se tornaria

    uma mistura de desespero e correria.

    Peguei meus documentos e coloquei um casaco, pois estava frio

    ainda, bem mais do que de costume por causa do Ferdinand. Saí de casa

    indo ao encontro do meu mais novo amigo que eu levaria para o túmulo se

    alguém soubesse que ele estava andando comigo. O conselho adorava usar

    a velha tática de amigos e familiares.

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    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    Como era de se esperar, eu saí desesperadamente achando que ele

    já poderia estar bem perto do ponto ou então me esperando como um "dois

    de paus". Mas parece que eu cheguei muito cedo e ele ainda não tinha nem

    dado as caras naquele lugar. O jeito mesmo era esperar. Eu ali sem nada

    para fazer, fiquei esperando sua grande chegada. Sabia que estava correndo

    perigo e colocando a vida dele em jogo por estar ali tão exposto depois dos

    últimos acontecimentos. Porém, a gente só tem uma vida, então devemos

    aproveitar o máximo dela, antes de tudo venha nos cobrar na forma de

    arrependimento.

    Depois de quase 25 minutos, eu avisto um cara andando com uma

    mega bolsa, um casaco escuro e andando de um jeito estranho. Só poderia

    ser ele: o meu novo amigo. Eu não sabia seu nome e,por incrível que

    pareça, não tinha perguntado ainda. Bom, na verdade eu tinha muita coisa

    para perguntar, além do seu nome. Ao ver ele se aproximando, eu corri e

    abracei ele e dei boa noite, sendo um bom anfitrião. Lutei para pegar a

    bolsa dele, mas ele não deixou. Eu só queria aliviar um pouco suas costas,

    ser um bom amigo pois ele estava todo curvado e isso me preocupou um

    pouco.

    Começamos a andar e nos conhecermos melhor e eu ainda não

    sabia o nome dele.

    – Então?– perguntei animado– como foi seu dia amigo?

    Eu estava andando um pouco rápido. A fome não escolhia hora e

    nem lugar para se manifestar em mim. A barriga deu um leve aceno par eu

    não esquecer que ela precisava de assistência.

    – Meu dia foi foda – ele falou de maneira pesada.– Olha cada dia

    que se passa, eu mais me questiono o principal motivo de eu fazer turismo.

    Ele abaixou a cabeça num tom meio incerto e triste.

    – Assim,– ele deu de ombros– não sei o porquê eu escolhi turismo

    e muito menos o real motivo dessa escolha.

    – Não reclame daquilo que você alcançou– eu disse de maneira

    confortante–, às vezes tem coisas que escolhemos e nem sempre acontece

    de maneira ideal e perfeita.

    Continuei andando e mostrando o caminho pra ele e também

    vendo se não tinha nada suspeito nos seguindo.

    – Eu costumo dizer que nada é por simples acaso. Tudo nessa vida

    tem um propósito, mesmo que no inicio seja louco, no fim tudo se encaixa–

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    A saga do Multiverso: Desconstrução, por Willian Diniz

    coloquei uma de minhas mãos em seu ombro–, basta ter um pouco de

    paciência.

    Ele olhou para mim compreendendo o que eu dizia perfeitamente,

    pena que eu não fazia disso um grande exemplo para minha vida. Sempre

    quis as coisas de imediato e de forma prática.

    – Will.Posso te chamar assim?– Eu olhei de volta e acenei com a

    cabeça positivamente.

    – Claro que sim, pode me chamar do que você quiser– falei de

    forma descontraída.– não ia ligar não. Na verdade já fui chamado de tanta

    coisa que você não faz ideia.

    Ele olhou de volta e franziu a sobrancelha com uma cara de

    curiosidade e ao mesmo tempo pensamento.

    – Eu fiquei curioso agora– ele diminuiu o passo– as pessoas te

    ofendiam quando você

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