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A Guerreira E O Rei
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A Guerreira E O Rei
E-book551 páginas9 horas

A Guerreira E O Rei

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Sobre este e-book

Kadja nasceu com um dom, o qual ela tem medo e nenhum controle. Mas, ao acordar de um sonho estranho sente o perigo está próximo é então que vê sua mãe lhe chamando pedindo ajuda... Ela vê o homem caído nos portões, decide ajudá-lo e nesse momento tudo começa de verdade. Jamais imaginou que estaria salvando aquele enviado pelo destino para ser o grande rei a salvar toda a nação. E muito menos imaginou que ele serio o dono de seu coração. Mas, ela não era como as outras mulheres, não era uma dama fina e recatada, seu pai a treinara para ser forte, para lutar e não podia ser esposa do grande rei. Ele merecia alguém melhor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de mar. de 2019
A Guerreira E O Rei

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    A Guerreira E O Rei - L.kiehl

    "A

    Guerreira

        E o Rei"

    Capítulo 1

    Kadja dormia tranquila em seu quarto no alto da torre norte do castelo, as cortinas balançavam ao vento. Era uma noite tranquila e abafada, mas a chuva se aproximava ao longe. De repente seu sono foi levado para um sonho muito estranho e confuso. Entre fleches que se tornavam borrões para depois já tornarem imagens nítidas novamente...

                  Estavam em uma guerra, via seu pai em perigo lutando com um homem de cabelos muito claros, barba longa cheia de anéis de guerreiro presos a ela, um maldito guerreiro saxão. O homem era muito forte e seu pai iria morrer ela sentia, o desespero tomando conta de si, corria tentando alcançá-los, precisava chegar até eles, precisava impedir que o homem matasse seu pai. Mas, Kadja corria e parecia que jamais conseguiria alcançá-los a tempo, também enfrentava alguns guerreiros ao passar, não podia gritar para avisá-lo ou ele se distrairia ainda mais e ai mesmo que seria o seu fim, pegou sua lança e atirou contra o saxão em um momento que se afastou de Heitor. Mas, a lança apenas passou perto de seu rosto sem atingi-lo de fato. Continuou correndo ao se dirigir até ele com sua espada notou que já era tarde demais. Seu pai estava morto, o sangue corria de seu corpo em grande profusão, não podia fazer nada para mudar aquilo que via. Na verdade nem deveria estar ali e agora sabia disso, o homem ria ao ver seu desespero partindo para cima atacando sem piedade enquanto tentava em vão se aproximar do pai, para ao menos estar ao seu lado no fim.

                  Kadja sentia dificuldade em resistir aos golpes por muito mais tempo, era habilidosa sem dúvida, mas não tinha força suficiente para enfrentar um guerreiro tão forte, cruel e experiente como aquele. Um golpe mais forte do machado duplo dele contra a sua espada a faz cair no chão e a mesma voar longe, já se preparava para receber o golpe fatal sem se importar, se juntaria ao seu pai e nada mais importava, então eis que surge um cavaleiro muito alto e musculoso tão ou mais forte que o inimigo, aparando o machado do homem cruel defendendo-a no último e derradeiro instante salvando assim sua vida. Ela não via seu rosto, mas nem por isso podia deixar de admirar o modo como lutava com força e coragem, havia determinação em cada um de seus passos, movendo-se com uma graça felina e uma destreza indescritível, finalmente alguém páreo o suficiente para o maldito saxão.

                  Com toda certeza podia dizer que não o conhecia, pois nem todos encaravam a luta com tanta garra e coragem, e poucos eram aqueles que dominavam tão bem as técnicas de batalha quase as mesmas que seu pai fizera questão de ensiná-la, ainda assim ele era melhor, ágil para alguém do seu tamanho. Podia dizer que o cavaleiro não temia a luta, pois sua indumentária de guerra era simples de modo a lhe proporcionar mobilidade, agilidade, mas ao mesmo tempo quase nenhuma segurança. Ele acabava por matar o homem responsável pela morte de seu pai, com uma facilidade incrível, sua espada cortara a garganta do desgraçado. Kadja sentia um tremendo alívio e quando seu salvador preparava-se para se virar em sua direção, eis que seu sonho era interrompido pelo estrondo de um forte trovão.

                  Acordou suada, cansada como se realmente aquilo tivesse acontecido, sentiu o frio que entrava em seus aposentos, sua janela batia devido ao vento forte que anunciava uma tempestade aproximando-se rapidamente, os trovões cortavam o ar um após o outro como um aviso de algo ruim. Levantou-se e foi até ela para fechá-la sentiu então o vento frio bater em seu rosto, este fez seu corpo todo tremer em um arrepio. Jurava ter ouvido um sussurro... Perigo... Ajuda..., era a voz de sua mãe a reconheceria em qualquer lugar. Bobagem pensara, sempre tinha a mania de acreditar que tudo era um aviso de algum acontecimento eminente, mas e se fosse realmente sua mãe? Ela sempre lhe dissera para ficar atenta aos sinais e por isso parou na janela indecisa o que era aquela sensação? Como se algo fosse acontecer e ela precisasse ficar atenta para evitar?

                  E aquele sonho... Confuso, tão real como jamais antes tivera, a sensação da perda de seu pai ainda a fazia sentir uma dor para a qual não estava preparada, um vazio de estar só no mundo. Seria um aviso realmente? Sabia que eram tempos difíceis, que a guerra era eminente, mas as batalhas ainda estavam distantes de seu lar e rezava todos os dias para que assim continuassem. Sabia que o rei regente e soberano de todo o país havia morrido em um dos conflitos com o saxões sem deixar herdeiros, e os saxões estavam tentando se aproveitar disso, da instabilidade que isso causava em uma nação. Sem um governante mesmo com exércitos melhores e mais bem treinados não seriam capazes de se defender, precisavam estar unidos, seguir ao comando de uma única pessoa. Sem dizer que quando um rei morria sem herdeiros isso gerava uma disputa cruel entre os possíveis substitutos, em cada província ou estado como alguns chamavam existia um rei responsável por aquela região e cada um deles participava do grande conselho, seu pai, por exemplo, era um rei e fazia parte deste conselho tinha poder de voto bem como poderia ser escolhido se fosse o caso. E Kadja rezou para que não acontecesse por que isso significava ainda mais perigo afinal nem todos eram leais e justos como seu pai, muitos matariam quem entrasse em seu caminho se ousasse acreditar ter mais direito a sucessão. Mas, pelo que seu pai dissera tudo já havia sido decidido.

                  Sabia que um substituto já tinha sido elegido, já ouvira seu pai discutir isso com Demeter, mas não sabia quem seria essa pessoa, não foi permitido a ela participar do conselho ou das reuniões que se seguiram para determinar os possíveis candidatos. Seu pai viajara há alguns dias para encontrar esse tal grande conselho, onde houvera a votação dos demais reis de todas as regiões da Bretanha. Eles haviam indicado os candidatos e votado depois disso Kadja não soubera mais nada sobre o assunto, porém também tão pouco ficara interessada. Mas, era fato a guerra se aproximava e por isso apressaram tanto essa votação, ninguém queria a guerra em seus portões. Não queria pensar em tais coisas naquele momento e mesmo assim não podia evitar, ao menos não depois de sonhar com a morte de seu pai era como se os pensamentos apenas surgissem em sua mente. Não podia deixar de se preocupar com seu pai e seu irmão que com certeza se juntariam aos demais em breve para defender a Bretanha do inimigo.

                Ficou olhando o horizonte por mais um segundo a vista de sua janela era linda, conseguia ver a vastidão de terras férteis do reino de seu pai. Gwent sem dúvida alguma era um lugar maravilhoso, as montanhas ao longe mostravam um turbilhão de trovões que se aproximavam rapidamente e que como chicotes cortavam o céu, um após o outro cada vez mais constante, cada vez mais próximos. Isso a fez lembra-se de sua mãe... Ela sempre vinha verificar suas janelas em noites assim, sorriu diante da lembrança e da saudade do rosto meigo e delicado, ansiava um dia ser como ela, suave, gentil uma verdadeira lady bem nascida e bem criada. Porém, Kadja sabia que jamais poderia ser delicada e fina como sua mãe. Sempre tentara aprender, se dedicar tanto aos ensinamentos do pai quanto aos da mãe, mas era fato não levava jeito algum para coisas femininas e delicadas, não gostava delas. Havia sido treinada por seu pai nas táticas de guerra, desde seus dez anos, e gostava de ser diferente, de ser independente, pois jamais precisaria de um homem para salvá-la ou protegê-la. Seu pai um dia lhe dissera que deveria estar preparada, pois nem sempre haveria paz e as guerras nunca afetavam somente os homens, estas faziam das mulheres suas escravas e ainda se lembrava do que ele lhe dissera...

                  "- Quando chegar à hora Kadja terá que escolher se irá ser uma guerreira ou uma escrava. – dizia o rei que de joelhos admirando a filha com seus dez anos.

                  - Quero ser uma guerreira... – respondera ela pegando a espada das mãos do pai e pensando que jamais seria uma escrava, jamais se ajoelharia diante de um homem ou se renderia a ninguém por medo da morte.

                  - Então minha filha para que isso jamais aconteça deve estar preparada, precisa aprender a se defender. – e foi a partir daí que seu treinamento começou. E como fora árduo, mesmo sob os protestos de sua mãe, Eleanor não aceitava que Kadja fosse treinada como um homem, ela e o pai tinham brigas por sua causa. Mas, um dia finalmente ela entendeu que isso fazia Kadja feliz e parou de brigar por isso. Viu como se empenhava ao máximo para aprender tudo que o pai lhe ensinava, sendo muitas vezes melhor que o próprio irmão, talvez tenha percebido que esse era afinal seu destino."

                  Sua mãe tinha visões, poderes que escondia de todos. Seu pai descobrira e isso fora motivo de muitas outras brigas entre eles. Sabia que se amavam, mesmo que o casamento deles tivesse sido um arranjo feito por seus pais foram felizes de verdade, ao menos era o que sua mãe afirmava, tiveram dois filhos, construíram uma história juntos. Mas, viu com o passar do tempo sua mãe enlouquecer por conta destes poderes, e quando percebeu que os herdara teve medo, não queria terminar como ela e não queria correr o risco de seu pai se afastar eram unidos e isso poderia complicar tudo. E agora depois de tanto tempo sem nenhum incidente ela novamente ouvia a voz de sua mãe falando sobre perigo e isso lhe gelava a alma.

                  Estas lembranças ainda eram dolorosas, pois a saudade da mãe era algo que doía demais, a queria ali para guiá-la, para ajudá-la com essas coisas que não compreendia e não sabia bem como funcionavam. Mas, então seus pensamentos se voltaram para o sonho. Lembrava-se de cada detalhe do homem que a salvara, alto, forte, ombros largos, braços musculosos, cabelos compridos, castanhos como avelã e levemente enrolados. Tinha uma força que emanava por seus poros, como um animal poderoso que observava sua presa calculando o momento certo de se mover sem dar chances ao inimigo, sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo diante de tal pensamento. Decidiu fechar logo a janela antes que pegasse um resfriado por conta do vento, foi sorte desta vez não ter deixado a sacada toda aberta, mas seus pensamentos foram interrompidos. Novamente ouviu claramente o sussurro da voz de sua mãe, Perigo... Ajude..., desta vez viu um vulto parecia uma névoa branca e a imagem ficou mais nítida, sua mãe agora tinha certeza, ela sorriu e sussurrou Ajude... O rei... como uma névoa perolada este flutuava fora de sua janela sorriu como se também sentisse saudade.

    - Mamãe... – sussurrou Kadja feliz por revê-la, ela lhe sorriu de volta e indicou algo nos portões.

    Era um movimento próximo à entrada do castelo, um homem vinha cambaleando em cima do cavalo. Kadja mal podia vê-lo, olhou para a mãe que insistiu apontando para ele. Era algo importante ela sentia, mas o que havia de importante em um homem bêbado em cima de um cavalo?

    Porém, continuou olhando para a figura lá em baixo que sem demora caiu do cavalo. O cavalo então se aproximou do dono e pelo seu comportamento indicava que o mesmo estava ferido, conhecia bem os animais e os cavalos eram leais a seus donos, se houvesse o mínimo de consideração de seu dono por ele então esse jamais o abandonaria. Novamente ouviu a palavra Ajuda, e viu sua mãe sorrir e acenar enquanto sumia. Kadja esperou que os guardas o socorressem, porém, não houve movimento. Praguejando vestiu uma capa de lã por cima de sua camisola fina e delicada de seda branca e seguiu para os portões, sabia que não havia tempo o homem precisava ser salvo urgente ou morreria. Desceu as escadas de pedras frias que gelavam seus pés, xingando baixinho, os guardas deviam estar dormindo onde estaria Vladimir uma hora dessas? Não deviam tê-lo chamado? Afinal era ele quem decidia coisas assim, era o chefe da guarda. Mas, ao chegar lá e se deparar com Vladimir e mais dois de seus homens discutindo se deviam ou não abrir os portões se enfureceu. A chuva começara a cair com uma fúria enorme castigando a todos ali. Tão gelada que podia congelar os ossos, mas no momento Kadja tinha em mente que precisavam salvar aquele homem sua mãe não pediria se não fosse importante.

                - É claro que devem o homem está ferido e precisa de ajuda. – disse Kadja atrás deles sem se importar com o susto seguido das reverências para si. Os homens de Gwent não gostava de sua atitude, de receber suas ordens, mas no geral a respeitavam o suficiente para acatá-las, além de não desejar contrariar seu pai o rei.

                - Kadja! - exclamou Vladimir assustado ao vê-la ali tão tarde e naqueles trajes, a chuva caia com força fazendo todos ali ficarem encharcados, a roupa de Kadja se colava a seu corpo era desconcertante olhar para ela - Desculpe-me... Milady. – disse tentando corrigir-se - A senhorita não devia estar aqui Milady, pode ser uma armadilha e ao abrirmos nos depararmos com os saxões, por tanto não deveria estar aqui de forma alguma. – respondeu tentando disfarçar sua surpresa por vê-la, evitando olhá-la, pois, isso poderia lhe trair os sentimentos e revelar de uma vez o que escondia só para si há tanto tempo. Não queria correr o risco de perder sua amizade, sabia que a diferença hierárquica deles era grande demais e jamais tivera ilusões sobre seus sentimentos serem correspondidos, tê-la como sua amiga já era o bastante por hora.

                - Vladimir pare com esta estória de Milady pra cá Milady pra lá, deixe isso para quando é necessário e não é o caso agora. – disse irritada, ele era o chefe da guarda e ela a princesa do castelo, mas afinal cresceram juntos como amigos, na verdade quase como irmãos ele sempre a ajudará em tudo incluindo em esconder o seu segredo sobre seus dons do pai e do irmão, por isso não gostava que a chamasse assim parecia colocar um mundo inteiro entre eles - Não é nenhuma armadilha. – dissera Kadja aproximando-se ainda mais dele, Vladimir devia estar dormindo por que usava uma camisa larga branca aberta até quase metade de seu abdômen, que Kadja jamais imaginou assim tão forte e musculoso, a calça fora vestida às pressas de qualquer jeito e a bota da mesma forma o cabelo comprido sempre tão alinhado caída espalhado por seu rosto, ele era bonito concluiu Kadja como nunca tinha percebido? Talvez por que sempre o vira como seu irmão de criação. Mas, agora podia entender o motivo de Dian morrer de amores por ele.

                - Co... Como pode ter certeza? – perguntou inseguro tentando manter o controle diante da proximidade repentina, pois ela não sabia o que sua presença lhe causava vestida daquele jeito ficava difícil se concentrar, como Kadja podia ser assim tão bonita?

                  - Os saxões não teriam tamanha engenhosidade. Isso não é o cavalo de Tróia e pelo modo como o cavalo está agindo... – disse baixinho somente para ele, Vladimir conhecia seus dons principalmente o de falar com os animais – Ele está a nos dizer que seu dono foi ferido e precisa de ajuda urgente, se ele fosse uma pessoa ruim isso não aconteceria, por tanto não podemos deixá-lo morrer em nossos portões.

                  - Você e a sua mania de falar com os animais. – falou Vladimir só para ela. – Ele pode ser uma boa pessoa para o cavalo e não para nós entendeu?

      - Vai abrir ou não? – perguntou impaciente, sabia que corriam contra o tempo.

                  - Não posso colocar a sua segurança em risco seu pai me mataria, seu irmão então Kadja me arrancaria os olhos, não posso entenda, mesmo que ele não seja um inimigo como afirma, não podemos arriscar a segurança de todos aqui por uma única pessoa.

                  Kadja adiantou-se e fitando Vladimir nos olhos ficou bem próximo a ele a ponto que menos de um palmo separava um do outro. Então sem querer notou algo que antes não havia... O deixava sem jeito com aquela proximidade, um brilho diferente surgiu em seus olhos. Não sabia o que podia significar de verdade aquilo e agora não havia tempo para descobrir, e nem sabia se realmente queria saber. Então puxou sua espada e o empurrou para longe, avançou aos portões ninguém fez menção de pará-la a conheciam o suficiente com uma espada nas mãos para tentarem impedi-la, não deixaria uma pessoa morrer por nada se podia evitar. Abriu os portões sozinha saindo assim atrás do estranho. Vladimir praguejou um dia ela ainda os meteria em encrencas e apesar de terem sido treinados pelo melhor guerreiro o próprio pai de Kadja o rei Heitor, ainda assim um dia se meteriam em encrencas grandes por causa dela e por que nunca era capaz de barrá-la, mas apesar de tudo não podia deixar de admirar a sua coragem que em muito se assemelhava com a do pai. Kadja era linda como a mãe, mas tinha a personalidade e determinação do pai sem dúvida alguma. O cabelo comprido e ondulado era louro de um dourado como o sol, os olhos de um azul que até o céu teria inveja, era alta para uma mulher e magra, mas tinha curvas muito femininas, que agora ficavam marcantes devido à roupa molhada colada ao corpo. Vladimir praguejou não era momento de ficar sonhando com aquilo que não podia ter e mandou os homens a seguirem enquanto buscava outra espada.

                  Havia começado a chover ainda mais forte e em segundos estavam todos completamente encharcados até os ossos, o frio agora era cortante a temperatura antes quente abaixara de forma drástica. Kadja viu o sangue que escorria do corpo estendido de costas para ela, tinham que ser rápidos ou morreria antes mesmo de chegarem ao castelo. Quando se aproximou para tocá-lo um choque correu por seu corpo, uma sensação de reconhecimento afastou a mão assustada e sem entender o que de fato acontecera, de onde vinha aquela sensação estranha? Um desespero de salvá-lo a tomou como se disso dependesse sua vida. Seu rosto estava virado para baixo e o cabelo o cobria molhado colado a ele, não conseguiu ver se realmente o conhecia naquele escuro, mas viu um broxe preso em sua capa preta, um dragão dourado, se fosse sua insígnia já ouvira falar dele, mas podia ser apenas um homem em comando de seu senhor não havia como ter certeza, mas fato era uma pessoa rica pelo modo como estava vestido e pelo próprio broche de ouro e como pensou não era um inimigo. Gritou ordens para que o levassem ao castelo rápido, os soldados olharam para Vladimir pedindo orientação, mas ela furiosa gritou novamente deixando claro quem estava no comando.

    - Eu disse agora! – eles então finalmente se moveram incluindo Vladimir.

                Com a ajuda dos homens levou-o para dentro junto com o cavalo que parecia agradecido pela ajuda e exaurido pelo grande esforço feito até o momento, afagou sua crina e disse para que não se preocupasse seu dono ficaria bem, o cavalo lhe balançou a cabeça e encostou o focinho em sua mão agradecido, Kadja viu quando Vladimir também balançando a sua em sinal negativo como quem diz desisto de você, veio até eles e pegou a cavalo.

                - Pode deixar Milady cuidarei para que ele fique bem. Mas, pare de falar com ele assim na frente dos demais podem acabar percebendo seu dom vá com eles. – e saiu, era um belo cavalo negro e imponente também tanto quanto devia ter sido caro, era um cavalo de linhagem podia ver. O homem que salvavam era um senhor de posses com toda certeza e não um qualquer. Seria ele o grande dragão? Um dos que foram indicados para substituir o grande rei? Viu em sua sela o desenho do dragão, seria um homem dele ou o próprio? Kadja foi atrás dos guardas que levavam o homem para dentro do castelo, não tinha ideia de quem era de verdade e ficar conjeturando sobre isso não ia ajudá-lo agora isso era o que menos importava, tinha que cuidar de seus ferimentos depois descobriria quem de fato seria aquele homem.

                Subiram as escadas com dificuldade estavam todos ensopados levaram-no até o quarto ao lado do de Kadja. Colocaram-no na cama e enquanto um dos homens de Vladimir foi chamar a curandeira, ela retirou o cabelo do estranho da sua face que estava pálida, mas ao ver o rosto do estranho Kadja sentiu um arrepio lhe subir por sua espinha e fizeram todos os pelos de seu corpo levantar, de onde vinha aquilo? Então tentando se controlar retirou com a ajuda de Vladimir a blusa preta do estranho e viu o corte logo abaixo da costela no lado direito do corpo, sangrava profusamente. Era profundo, rezou para que não tivesse realmente atingido nenhum órgão importante ou isso significaria que morreria em breve sem que nada pudessem fazer.             

                Pediu que Vladimir lhe arruma-se um pano limpo para poder pressionar o local impedindo com isso que perdesse mais sangue ainda. No momento em que estiveram sozinhos Kadja aproveitou para olhar melhor o corpo do estranho para ter certeza de que aquele ferimento era o único. Ao fazer isso às recordações do seu sonho vieram em sua mente... Os braços fortes, os ombros largos, as mãos grandes e firmes, o cabelo castanho comprido e ondulado, como podia ser? Pensara intrigada, tinha certeza absoluta de que estava diante do homem com quem acabara de sonhar a poucos instantes atrás. Então era esse o significado de seu sonho? Ela sim é que tinha que salvá-lo da morte e não o contrário? Mas, sabia que não era apenas isso, suas visões nunca eram fáceis de desvendar e nunca tinham um único significado. Então por que aquela sensação de que isso era apenas um começo de uma longa jornada?

                - Vamos lá lute, não morra assim de forma tão tola... – disse para ele.

                De repente ele abriu os olhos onde Kadja pode ver uma enorme dor consumindo o calor de sua alma. No breve instante em que seus olhos se encontraram o brilho se intensificou e ela em pensamento pediu que aguentasse firme, resistisse e não morresse. Ele apertou seu braço com uma das mãos e ela se surpreendeu com a força que tinha mesmo assim ferido.

                - Você vai ficar bom eu sei agora lute com a força que ainda lhe resta. – O viu assentir e então fechou os olhos novamente e não os abriu mais, porém Kadja podia sentir que ainda estava vivo, por mais que sua respiração estivesse ficando cada vez mais fraca.

                Quando Díades finalmente chegou Kadja já estava tentando estancar o sangue do estranho sem muito sucesso. O sangue parecia não querer parar de jeito algum, e já havia ensopado os panos que Vladimir trouxera quase todos. Sabia que precisaria de pontos, só rezava para que não tivesse sido profundo o suficiente para atingir algum órgão como o pulmão. Já vira guerreiros com ferimentos assim que não resistiam, outros com ferimentos não tão graves que pereciam devido à uma infecção, as chances dele não eram boas sabia disso. Apegou-se a hipótese de que ele era um homem forte e eles tinham Díades que faria uma grande diferença, mais uma vez rezou para que o pior não acontecesse com ele, mesmo sem saber por que parecia tão importante que ele ficasse vivo.

                - Tudo bem agora vocês podem me deixar a sós com ele. – Pediu deixando sua sacola de ervas e seu pequeno caldeirão, e os guerreiros que a respeitavam tanto quanto a temiam saíram sem demora.

                Díades era considerada por alguns uma bruxa, mas fosse como fosse toda vez que alguém precisava de sua ajuda por estar enfermo ela nunca se recusava e pouquíssimas vezes seus conselhos se fossem seguidos à risca não funcionavam. Mas, sua aparência causava medo, possuía pinturas pelo corpo que o marcavam quase todo ele, era bonita apesar de sua idade uma jovem senhora de seus quase cinquenta anos, mas havia rumores que isso era também parte de sua magia e que ela já tinha mais de duzentos anos. Kadja não acreditava nessas bobagens as pessoas em geral temiam aquilo que não podiam entender, e curar alguém que todos acreditavam que iria morrer era algo que gerava especulações. Porém, assim que ela chegou e disse para saírem ninguém nem mesmo Vladimir contestou seu pedido, todos menos Kadja se retiraram ela nunca a temera na verdade a respeitava e muito.

                - Minha menina pode se retirar não se preocupe, ele está realmente muito ferido, mas ainda não chegou à hora de partir, eu sei por que mesmo antes de me chamarem os Deuses já haviam me avisado que o grande rei estava em perigo. – diante do olhar de preocupação de Kadja Díades pode ver muito mais do que os Deuses haviam lhe mostrado, afinal eles nunca gostavam de revelar muito antes da hora – Não se preocupe criança, eu o salvarei para você, e não faça esta cara... Já posso ver que existe uma linha traçada entre vocês. Este homem tem um toque do destino, que une vocês e quer queira quer não este estranho já mexeu com o seu coração. Prepare-se, pois isto é apenas o início da sua jornada ao lado deste homem, e ela não será fácil. Agora vá preciso começar a agir logo. Irei salvá-lo para você e para que um dia ele possa salvá-la também. – Mas, Kadja relutava em ir, era como se estivesse presa ao chão sabia que não conseguiria descansar sem saber que ele realmente ficaria bom. Díades pareceu perceber por que suspirou e começou a trabalhar rapidamente. Pedindo coisas a ela também. Como acender a lareira e colocar seu caldeirão para ferver. Viu a curandeira abrir bem o ferimento e olhar dentro, colocar os dedos como que para sentir a extensão do ferimento. Tristan abriu os olhos nesse momento e gemeu de dor, mas não gritou ou se agitou apenas apertou as mãos de Kadja com força como se buscasse por apoio. Em seguida voltou a ficar inconsciente.             

                - Ótimo, não atingiu o pulmão foi por pouco, esse maluco é um dos guerreiros mais temidos e não usa sequer uma cota de malha pode isso? – Verdade Kadja percebera que ele não usava nenhum tipo de proteção, e aquilo definitivamente era um corte de espada então isso significava que estivera em uma batalha. – Bom vamos dar pontos, limpar bem e rezar para que ele não pegue uma infecção. Sorte a dele do ataque não ter sido longe daqui com um ferimento desses teria morrido no caminho. – E Díades começou então o seu trabalho. Quando puxou a agulha grande e grossa para iniciar os pontos o homem abriu novamente os olhos, e percebeu o que acontecia não gritou, ou fez qualquer som que fosse apenas segurou a mão de Kadja mais forte e ficou olhando para ela enquanto a outra trabalhava. – Isso dói muito eu sei, mas ficará novo em folha Milorde, então beba isso e descanse precisará de muito repouso para se recuperar. Ele tomou sem questionar e Kadja o viu apagar enquanto ainda a encarava de um jeito estranho.

                - Ele ficará bom, vai demorar uns três dias para se recobrar da perda de sangue, mas é um homem forte. Agora vá descansar também Kadja. – disse Díades – Cuidado com aquilo que vê menina, uma visão mal interpretada pode gerar perigos ainda maiores do que imagina, para você e para os que você ama. Sei que se sente perdida, principalmente depois que sua mãe se foi e ainda mais do modo que foi, mas um dia entenderá seu dom e perceberá que não é uma maldição. No momento basta que saiba, às vezes, as visões vêm de formas diferentes e com mensagens ocultas a serem decifradas e mesmo que nos mostrem algo que devemos saber não cabe a nós interferir e tentar mudar apenas aceitar, e nos preparar... – disse ela ainda mexendo no machucado do estranho e agora enfaixando o ferimento.

                Perplexa com as palavras de Díades, Kadja deixou o quarto do estranho e foi para o seu. Olhou suas mãos sujas de sangue, e mais uma vez pensou em seu sonho seria mesmo um aviso de algum acontecimento futuro? Trocou de roupa em transe as imagens do estranho entrando e saindo de sua mente sem conseguir controlá-las, a sua dor, e a sua coragem ao resistir tudo sem reclamar, já vira homens fortes gritarem feito moças por um arranhão que dirá por um ferimento como aquele, não podia deixar de admirar sua coragem. Deitou-se ainda lembrando o que fora dito e refletindo sobre isso, porém tudo lhe parecia loucura. Não podiam estar ligados um ao outro, nem pensar, e mesmo assim era obrigada a concordar jamais sentira nada como aquilo por tocar em alguém, ou como seu coração pulou quando o olhou pela primeira vez. Mas, foi tentando convencer-se, era maluquice da velha, estava apenas tentando ajudar alguém que lhe pareceu precisar muito, acabou por adormecer exausta e não teve sonhos desta vez.

    Capítulo 2

    Acordou assustada, demorou a perceber que era por conta de uma discussão. Era seu irmão gritando com Vladimir no corredor, levantou-se ainda atordoada e sentindo-se cansada com o que havia sonhado a pouco mais uma vez pedaços daquele sonho torturante, seu pai, a guerra o estranho que agora tinha um rosto, mas não um nome, muita morte e perigo desta vez seu sonho terminou com ela olhando os corpos espalhados pelo campo de batalha o sangue escorrendo pelo chão o cheiro acre a deixando enojada e quando olhou para suas mãos estas estavam cobertas de sangue. Pegou a composição de sua camisola e saiu para acalmá-lo, antes que ele acordasse o castelo todo.

                  - Não me interessa Vladimir, que ela é uma maluca eu já sabia, mas você um irresponsável ainda não! – dizia Demeter ao capitão da guarda que apenas o encarava sem nada dizer, eram amigos, mas Vladimir tinha que entender que recebia ordens, e uma delas era cuidar de Kadja e mantê-la a salvo, principalmente dela mesma - Onde já se viu deixá-la sair e se fosse um maldito saxão? Uma emboscada? Você devia tê-la impedido e que o idiota morresse à míngua se fosse preciso, como pode deixá-la sair assim se tivesse se machucado nem sei o que faria com você... Nem sei o que meu pai faria com você.

                  - Sim sou maluca Demeter... E sim a culpa foi minha! – disse Kadja assustando aos dois, mais uma vez viu Vladimir olhá-la de um jeito estranho, ok seus trajes não eram os mais comportados naquele momento, mas não tivera tempo para se vestir adequadamente enquanto eles gritavam no corredor - E se eu sou maluca então você é um estúpido, Vladimir não teve culpa teria aberto os portões com ou sem a ajuda dele, na verdade você me conhece sabe bem que foi sem a ajuda dele. E sabe disso melhor do que ninguém irmão, eu não obedeço a ninguém nem mesmo a você que dirá a Vladimir. Por tanto se deseja gritar com alguém que seja comigo. – respondeu Kadja que se segurava para não rir da cara de seu irmão, como sempre ao confrontá-la tentava impor sua superioridade de homem, de irmão mais velho e responsável por ela, mas sempre se rendia como um garotinho. As vezes os dois saiam na mão e tudo mais, mas ele tinha medo de machuca-la e acabava abaixando a guarda então ela sempre o vencia. Kadja sabia que aquele estouro de emoções era por que desejava protegê-la, mas quando entenderia não necessitava de sua proteção? Treinavam juntos conhecia bem sua força sabia que poderia se defender de alguns saxões sozinha se preciso fosse - Agora pare de ser ridículo e peça desculpas ao seu melhor amigo e acabe com essa gritaria, ou vai acordar o castelo inteiro.

                  - Você não sabe a confusão que poderia ter nos colocado não é sua maluca? Ou melhor, até sabe mais não se importa como sempre. – ainda estava furioso, mas bastou um olhar de Kadja para derretê-lo, ela tinha o poder de amolecer seu coração sempre. Brigavam feito cão e gato desde pequenos, mas Kadja sempre o vencia fosse pela rapidez, inteligência ou pelo seu dom de derreter seu coração Demeter acabava cedendo e fazendo suas vontades assim como Vladimir, Dian, e o Próprio pai.

                  Kadja aproximou-se do irmão e o abraçou, bastou isso para que sua raiva esvaísse por completo, sabia que com o pai e seu irmão bastava isso para que ambos ficassem sob seu controle riu soltando-o, pronto trabalho feito. Demeter era turrão, mas tinha um coração do tamanho do mundo e ela amava-o por isso. Mesmo que a irritasse profundamente essa proteção desnecessária que ele sentia necessidade, pois sabia morreria por ela, e não aceitava que faria o mesmo por ele.

                  - Sei sim, mas também sei seguir meus instintos e eles me diziam que o homem estava morrendo e precisava de ajuda e não pude virar simplesmente as costas e deixá-lo lá Demeter, morrendo em nosso portão. Sei bem que teria feito o mesmo... Sem dizer no papai que me ensinou a me defender e a ponderar muitas vezes seguindo o meu instinto e foi o que fiz, não sou tão maluca quanto pensa sei seguir aquilo para que fui treinada e apenas isso. Então pare de gritar com Vladimir por que ele nada poderia fazer para me impedir e olha que ele bem que tentou.

                  - Tudo bem Kadja talvez você tenha razão, desculpe Vladimir eu realmente exagerei. 

                  - Sem problemas Milorde, eu entendo.

                  - Ótimo Demeter... – disse uma voz suave atrás dos três - Pelo menos você entendeu sua irmã ao invés de ficar discutindo com ela. Sabe bem que isso é perda de tempo ela sempre nos ganha com um sorriso bonito e um abraço. – riu Heitor conhecendo bem o ímpeto de Kadja - Minha querida. – dissera o rei abraçando a filha, orgulhoso de seus atos como sempre, afinal a treinara para ser forte agora não poderia pedir que fosse menos do que isso - Parabéns por sua coragem tomou como sempre a decisão correta, mesmo diante do perigo eminente. Este homem que você salvou é o filho de Kélian de Powys, estava em visita ao seu tio na Demétia quando foi chamado por seu pai com urgência. Parece-me que este está com problemas com os saxões, o tio não quis liberar seus guerreiros com medo de que também viessem a ser atacados já que seu exército é pequeno, então Tristan veio sozinho no meio da noite, mas os malditos estão por toda a parte e o atacaram de surpresa com um bando pelo que fomos informados. Claro que matou a todos os doze homens, uma patrulha os encontrou. Mas, acabou ferido como já sabem, gravemente. – o rei fez então uma pausa e riu diante da confusão nos olhos dos três que o rodeavam, era óbvio que não sabiam que os saxões atacavam Powys e muito menos o motivo de tal ataque - A sua fama como grande guerreiro é conhecida nos quatro cantos da Bretanha, por este motivo foi escolhido pelo grande conselho.

                  - Nossa meu pai então era Tristan que estava caído em nossos portões?     

                  - Sim Demeter, seu amigo de longa data e agora nosso rei Tristan. Ele foi ferido sabia que o lugar mais próximo seria aqui e veio pedir ajuda. Ele será o rei em breve, ou seja, o nosso grande rei e soberano foi uma sorte ele ser um guerreiro tão bom outro em seu lugar não teria sobrevivido a tal ataque. Pelo que os patrulheiros relataram encontraram doze corpos e rastros de mais três feridos que fugiram. – Kadja e Vladimir não estavam entendendo nada mesmo, mas o rei Heitor como sempre sorridente falava empolgado, muito feliz por dizer a todos que sua filha o salvara - Sorte você tê-lo visto com isso salvou a vida do nosso futuro governante. Ele será o rei de toda a Bretanha muito em breve e com toda certeza será o melhor desde muito tempo eu o conheço desde garoto sempre foi determinado, vi se tornar um bom homem e um ótimo guerreiro seguiu Eduard desde muito jovem, e o próprio o indicou como sucessor antes de nos deixar. E tenho orgulho mesmo de dizer que o apoiei para ser nosso soberano em breve. Meros detalhes separam agora Tristan do título de rei. O próprio conselho nunca foi tão unânime garanto. – continuava empolgadíssimo o pai de Kadja com orgulho pelo fato de conhecer um guerreiro como ele mesmo fora outrora.

                  Heitor sorriu para eles ainda mais uma vez antes de adentrar nos aposentos em que estava instalado o futuro rei, para com isso certificar-se de sua melhora. E Kadja sentiu um grande alívio em saber que o estranho sendo ou não o futuro rei ainda estivesse vivo e recuperava-se, por um segundo apenas o viu de relance antes da porta do seu aposento voltar a se fechar assim que Heitor passou por ela, estava sentado na cama o peito nu a mostra a faixa com uma grande mancha de sangue. Ele não a viu falava com Díades, mas estava vivo e bem pelo visto seria preciso muito mais do que doze homens para derrota-lo gostou de saber que ele era bom assim. Mas, não se atreveu a entrar nos aposentos por que a imagem daqueles olhos tão fascinantes que misturavam um tom violeta ao azul escuro do céu, ainda lhe perturbava os pensamentos. Causava-lhe sensações que não entendia e com isso pretendia manter-se o mais longe do estranho que fosse possível. Mas, por mais que tentasse não pensar no futuro rei que agora sabia se chamar Tristan, mais seus pensamentos lhe traiam tentando imaginar por que o nome lhe parecia tão familiar. Afinal se ele era amigo de seu irmão de longa data devia ao menos conhece-lo, afinal um homem como aquele não era fácil de se esquecer.

    Em certo momento pegou-se novamente imaginando seus olhos, sua boca convidativa ao toque suave de um beijo, mas por que estava pensando nele novamente? Ainda mais dessa forma, jamais pensara em beijar um garoto em toda a sua vida pelo contrário fugia deles a todo custo e agora isso? Era muita loucura da sua cabeça isso sim, não era? Perguntou-se furiosa afastando-se dos aposentos onde estava alojado. Nem ela mesma conseguia achar uma resposta para o que acabara de pensar.

              Os dias se arrastaram e já se passara mais de uma semana e a cada dia sua ansiedade sobre o que acontecia ao lado de seu quarto a incomodava, mas não se atrevia a entrar seria inconveniente e contra a etiqueta de bons costumes. E com isso tentava fazer suas atividades rotineiras, porém sempre acabava distraída pensando e perguntando-se como ele estaria? Não entendia por que era tão importante que estivesse bem, mas era. E por mais que tentasse não conseguia entrar para vê-lo, sempre que passava por ali seu pai estava por lá o que não permitiria de qualquer forma que ela entrasse, não tinha uma boa desculpa para isso e não ficava bem ver um futuro rei assim em sua recuperação, os homens em geral não gostavam de mulheres por perto nessa hora, porém também notou que sua prima Lilian parecia interessada e vivia rondando por lá. Porém percebeu que Tristan já havia melhorado afinal Díades já não ficava o dia todo ao seu lado, vinha apenas administrar seus remédios e trocar os curativos. Mas, isso a intrigava por que ainda não havia sinal de Tristan ter sequer levantado da cama, o que era normal afinal o ferimento fora muito grave, porém poderia ser um sinal de que não estava tão bem quanto todos acreditavam e tinha medo disso.

                Mas, sua resposta viria ainda naquela noite, Kadja acordou com um ruído alto como o de um corpo caindo com força no chão e derrubando alguma coisa junto, levou um minuto até entender que o ruído vinha do quarto ao lado do seu. Correu de camisola mesmo até lá e ao abrir a porta se deparou com o corpo estirado ao chão de bruços, os cabelos compridos cobriam-lhe a face, usava apenas uma calça o tórax exposto e suado devido ao esforço... Ao longe viu a jarra de água jogada de certo tentou levantar para tomar e suas forças falharam. Não sabia o que fazer, ajudava ele ou corria chamar alguém mais forte? Foi quando viu que erguia a mão para a cama como quem buscava um apoio para se erguer, que decidiu. Correu até ele sem dizer nada, colocou a mão em seu ombro para ajudá-lo, mas a reação não foi à esperada, ou seja a de alguém buscando apoio, ele a empurrou com tal força que a mesma caiu batendo as costas no chão com força soltou um gemido mais pelo susto que pela dor. Isso sem dúvida a surpreendeu afinal o imaginara fraco por isso teria caído, mas a verdade era que depois de tantos dias de cama suas pernas não esperavam por um esforço tão grande e repentino com isso uma súbita fraqueza o atingiu, mas ficou obvio sua força estava ali intacta.

                - Não preciso de ajuda! – gritou com raiva, Kadja se sobressaltou com a raiva presa em seu olhar, jamais tivera medo na vida fosse de quem fosse, mas naquele momento sentiu medo pela primeira vez - Pode se retirar a sua senhora pode estar precisando de sua ajuda, me viro sozinho. – disse com rispidez, nunca gostara de ser visto em momentos como aquele fraco sem mal poder cuidar de si mesmo. Porém jamais fora estúpido com uma mulher também, e aquela em particular parecia mexer com ele de um jeito como nenhuma antes dela fora capaz, sabia tinha que afastá-la de sua mente, ao cair à camisola subiu expondo suas lindas pernas, isso fez com que uma corrente elétrica passasse por seu corpo um desejo irracional o tomou - Desculpe-me pelo empurrão não quis derrubá-la... - Disse em um tom tão arrogante quanto podia e isso irritou Kadja se ele queria briga acabara de arranjar uma adversária a altura, notou o olhar faiscante dela, e isso o excitou ainda mais, sem dúvida alguma aquela mulher tinha algo especial. Fosse o modo como se movia, como falava com determinação, ou o modo como agora o olhava com raiva mesmo sabendo que era o rei e podia puni-la pela insolência.

                - Nossa quanta gentileza estou até mesmo impressionada Milorde. – a voz de Kadja soou fria, disse puxando a camisola para baixo cobrindo novamente as pernas de onde ele não tirava os olhos e se ergueu - É ótimo saber que nosso futuro soberano sabe se cuidar sozinho, pois até o momento não foi o que me pareceu, já que eu salvei sua arrogância real de morrer nos meus portões como um cachorro sem dono. – a ironia o atingiu e Kadja viu o olhar ameaçador vindo dele, claro ele achava que era uma vassala qualquer falando com o grande soberano. Mas, ergueu o queixo em sinal de desafio, quem aquele arrogante pensava que era? Se achava que podia humilhá-la chamando-a de criada e dispensá-la como se nada significasse então ele veria que estava enganado - Humildemente peço desculpas por importuná-lo meu senhor, porém pensei que depois de tudo o que ouvi a seu respeito fosse digno de ser ajudado, mas vejo que me enganei. - riu fazendo uma mensura que o irritou ainda mais, agora Kadja começava a se divertir - Sua serva aqui o deixará em paz, depois de ter salvo sua vida e com certeza me dado ao trabalho de tentar ajudá-lo, mas pelo visto agora não sou mais útil... Compreendo. Porém, duvido que minha como foi que disse? A sim, minha senhora. Duvido que ela deva precisar de mim. – Retorquiu Kadja atrevida ele podia ser o futuro rei, mas lhe parecia um mimado, arrogante que pensava ser o centro do universo, era idiota tanto quanto os outros príncipes que conhecia.  – Já que sou a única senhora neste castelo desde que minha mãe nos deixou.       

                Kadja seguiu até a porta e se virou a tempo de vê-lo ainda tentando se erguer com uma dificuldade imensa teve vontade de ir ajudá-lo e mandar que ficasse quieto, pois era óbvio que em sua teimosia de se levantar não percebera que podia ser perigoso. Notara que o ferimento havia iniciado um leve sangramento ameaçando reabrir os pontos dados por Díades. Mas quando notou que Tristan a olhava com os olhos faiscando de tanta raiva querendo que fosse logo embora, sentiu ainda mais repulsa de sua pessoa. Homens que se julgavam superiores e não sabiam admitir quando precisavam de ajuda julgando as mulheres seres inferiores e incapazes lhe dava nos nervos. Será que o mundo jamais iria evoluir? As mulheres seriam sempre tratadas como empregadas de seus pais e maridos? Por isso que não queria nem ouvir falar em casamento, como poderia casar com um homem que a tratasse daquele jeito, por exemplo? Acabaria por arrancar os olhos do maldito. Seu pai era uma rara exceção que a aceitava e até mesmo a incentivava a ser independente, a menos que encontrasse alguém como ele morreria sozinha isso sim. Notou a surpresa em seus olhos e riu então a julgava uma criada, tudo bem que não era dada a luxos e nem gostava de adornos já que estes só atrapalhavam ainda mais com o arco e flecha. Mas daí a pensar que era uma criada isso a intrigava e a fazia se questionar até a que ponto parecia assim tão simplória.

                - E como sou a única senhora aqui, não costumo ter criadas aos meus serviços e muito menos tratá-las assim com tamanha arrogância somente por que nasci nobre. Peço desculpas mais uma vez pela minha intromissão, mas anteriormente foi justamente ela que o salvou. - Tristan ficara chocado com a revelação, de ela ser a princesa do castelo podia ver isto estampado em seus olhos – E também pela minha ignorância em querer ajudá-lo, porém pensei que mesmo os grandes reis precisavam de ajuda quando feridos e enfraquecidos. Pelo que vejo isso só se aplica quando estão desacordados... Ou com muita dor que precisam de uma mão para segurar. – riu balançando a mão e os dedos, mas olhando o curativo já sujo pelo sangue tentando não deixá-lo notar que estava na verdade preocupada – Sabe se cuidar tanto que seu ferimento começou a sangrar novamente Milorde cuide dele. – e antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa se retirou batendo com força a porta atrás de si.

                Quando finalmente conseguiu sentar-se na cama e avaliar seu curativo, Tristan verificou que estava certa, o sangramento manchara todo o pano e uma leve dor se iniciou em seu peito. Ficou lá sentado na cama, com cara de quem não acreditava no que se passara instantes atrás. Esta era então a criança que conhecera há tantos anos atrás, e que haviam tantas vezes brincado junto, ou melhor, brigado isso sim, ela continuava impulsiva e arrogante como recordava. Riu das lembranças que o tomavam, ela continuava determinada e corajosa também, sempre disposta a uma boa briga. Ela nunca abaixava a cabeça pra ninguém, e se continuará com seu treinamento hoje deveria ser páreo duro para qualquer um mesmo um homem, já naquela época era boa no arco e flecha como ninguém, vencia até mesmo ele, na espada era rápida e não desistia quando perdia, tentava até conseguir aprender a superar um obstáculo. Agora como da última vez que a vira, antes de seus caminhos tomarem rumos muito distantes o salvara da morte. Seria possível, que aquela magrela que conhecera na infância se tornara uma mulher assim tão linda? E que está linda mulher iria sempre salvá-lo de seus maiores perigos? Não podia ser ... Pensava jogando-se na cama mais uma vez exausto, mas já se sentindo melhor.

                Lembrava do seu rosto quando o socorrera, e em seus devaneios a beira da morte fora este que lhe dera força para continuar lutando, e aquecendo seu coração na árdua batalha entre a vida e a morte. Era seu rosto que surgia como a lhe dar um motivo para não partir, queria vê-la mais uma vez, desejava isso a cada segundo mesmo que não conseguisse entender o motivo, quando abrira os olhos a primeira vez e contemplara os dela foi como ser atingido por um raio e pensou ter morrido. Seu rosto sempre indo e vindo em seus devaneios durante esses dias, porém como não voltara a vê-la achou que fosse apenas um sonho. Mas, quando acordara não pode esquecer aquele rosto, parecia atormentá-lo a cada segundo. Porém, como conhecia seu pai e os planos deste para seu futuro, tinha certeza que jamais deixaria Tristan se apaixonar por

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