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A Maldição da Mansão Hawke
A Maldição da Mansão Hawke
A Maldição da Mansão Hawke
E-book324 páginas4 horas

A Maldição da Mansão Hawke

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Sobre este e-book

A Era Vitoriana é impiedosa em se tratando de divórcio, o que faz com que Anne Kinelly seja destituída e abandonada por seu marido. Mas seu futuro desolador é evitado graças ao seu advogado que em um golpe de sorte, encontra uma mansão esquecida e deixada sob juízo pelas gerações anteriores. Os morros desolados de Yorkshire serão agora seu lar enquanto ela se esforça para restaurar a mansão abandonada onde os ventos uivam nos beirais das janelas.

Não tardou muito até que Anne descobrisse que os alertas que ouviu dos moradores da região são mais do que superstições sem sentido. Ao descobrir a história brutal da mansão e de seu fundador, Richard Hawke, Anne descobre que podem haver mais moradores na mansão além dela mesma e sua dama de companhia.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jul. de 2020
ISBN9781547558148
A Maldição da Mansão Hawke

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    A Maldição da Mansão Hawke - Camille Oster

    A Maldição da Mansão Hawke

    Camille Oster

    ––––––––

    Traduzido por Alessandra Lobo 

    A Maldição da Mansão Hawke

    Escrito por Camille Oster

    Copyright © 2018 Camille Oster

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Alessandra Lobo

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    Camille Oster – Author

    www.camilleoster.com

    http://www.facebook.com/pages/Camille-Oster/489718877729579

    @Camille_Oster

    Camille.osternz@gmail.com

    Capítulo 1:

    Londres, 1873

    ANNE KINNELY SE LEVANTOU da plataforma ao lado do pódio - ou seria um púlpito. Certamente não era, não era chamado assim. Sussurros eram ouvidos por todo o tribunal enquanto lá estava ela, em pé, tentando se manter forte. Talvez seu sobrenome não fosse mais Kinelly. Seu marido estava sentado do outro lado do tribunal evitando seus olhos. Sua boca estava contraída e firme, os cabelos impecavelmente penteados.

    Todos os olhares estavam sobre ela, julgando-a como inadequada e defeituosa. Stanford estava vivendo com a amante, mas ela não fora acusada de adultério. Ela nunca havia cometido adultério, mas o homem que ela mal conhecia fora cúmplice das acusações de Stanford, declarando ao mundo como ela recebera de bom grado suas investidas.

    A destruição da vida dela estava completa.

    Recebera abrigo em pensionatos, mas suas parcas provisões estavam acabando. Seu marido a rejeitara e ela não tinha como sustentar a si mesma no futuro.

    Damas e cavalheiros primorosamente vestidos sussurravam entre eles, alguns se divertiam às custas de seu estado deplorável, outros a olhavam com piedade. Não havia agora como voltar atrás. Ela era tão bem-vinda à sociedade quanto um leproso seria, no caso de qualquer devassidão que tivesse fosse contagiosa, falha de caráter ou qualquer inadequação que pudesse forçar seu marido a tomar tal atitude tão drástica.

    Na verdade, ele pretendia se casar de novo, sua amante não aguentava mais viver escondida, enquanto sua fortuna e posição social garantia que ela seria apreciada em qualquer lugar de Londres. Anne podia muito bem ser varrida com a poeira dos anos passados, esquecida e ignorada. Uma criada solitária era sua única companhia agora, uma garota rabugenta que não era feliz em ser sujeitada às circunstâncias em que estava agora.

    Talvez se ao menos seu sobrenome não fosse mais Kinelly, ela talvez poderia recuperar seu nome de solteira, Sands. Pelo menos seus pais não estavam mais vivos ou ficariam devastados com o destino que recaíra sobre ela. Disso ela pôde poupá-los, pelo menos.

    O juiz bateu o malhete, finalizando o divórcio. Estava feito. O burburinho aumentava e ficava cada vez mais alto, e Anne podia sentir a reprovação que emanava da audiência, como se queimasse sua pele. Aos poucos as pessoas começavam a se retirar, mas ainda havia questões a resolver. Stanford foi o primeiro a se retirar, ignorando a pergunta que ela tinha nos lábios. Ele não se importava; ele já não se importava há tantos anos, a via apenas como um estorvo que arruinava sua casa. Harry, seu filho, que seria a única coisa que eles tinham em comum, mas a reprovação dele era tão profunda quanto a do pai. Não o via há meses, desde quando ele retornara para Oxford para prosseguir com seus estudos. Lembrar daquele jovem alto e sorridente trazia uma sensação reconfortante e aquecia seu coração que se tornava cada vez mais gélido e arrasado. Mas agora suas cartas eram devolvidas ainda fechadas, e aquilo a magoava mais do que qualquer outro aspecto daquela insanidade.

    Ninguém lhe dirigiu a palavra enquanto lentamente descia e se dirigia aos portões nos fundos do tribunal. Ela não era ninguém agora, uma pessoa insignificante. Os homens não lhe deviam respeito, um deles sequer se incomodou em se desculpar quando esbarrou nela. Esfregando o braço dolorido, seguiu seu caminho pelo enorme corredor cavernoso e seguiu para as ruas, sentindo-se atordoada.

    Pobreza implacável pairava sobre ela. Nem mesmo uma pequena pensão anual lhe fora concedida. Lágrimas escorriam de seus olhos enquanto observava os ambulantes que gritavam rua afora enquanto os transeuntes, empurravam seus produtos. Ela precisava encontrar alguma maneira de se sustentar ou ela acabaria em um asilo. O mundo que ela conhecera outrora havia ruído, mas a cidade ao seu redor continuava a cuidar das próprias preocupações sem notar.

    Stanford certamente já havia se convencido que ela era a culpada, porque ele queria que isso fosse verdade, se isentando de toda a responsabilidade e de toda culpa. Ele nunca havia sido um homem generoso, mas ela fez o melhor que pôde para amá-lo durante o passar dos anos, dentre os quais no último ele esperava muito pouco dela além de sua ausência.

    Segurando firme a bolsa contra o corpo, caminhou pelas ruas que estavam cada vez mais escuras e mais perigosas. Ela detestava viver naquela parte da cidade, por mais que pudesse pagar por um lugar melhor. Era melhor economizar os poucos trocados que tinha do que desperdiçar tudo de uma vez em Mayfair. O desespero tomava conta dela mais uma vez, mas o que mais a magoava ainda era o desprezo de Harry.

    Mulheres divorciadas não costumam viver por muito tempo e ela podia ver porquê. Uma montanha de incertezas se erguia à sua frente agora e ela não tinha muitas aptidões para lidar com todas elas. A única coisa que se esperava dela na sua vida era que fosse uma esposa, e ela nunca mais o seria de novo. Não tinha nenhuma habilidade útil, exceto talvez saber costurar. Era um trabalho cujos rendimentos eram parcos e provavelmente não seria o suficiente para que pudesse se sustentar. Sua desgraça a afastava de qualquer emprego honorável, como dama de companhia ou governanta. Essas opções pareciam impossíveis.

    Você parece perdida, querida, disse um homem encardido, sorrindo com seus dentes podres e negros enquanto o fedor que exalava se espalhava sobre ela. Ela era esperta o suficiente para saber que não se podia esperar por nenhum tipo de socorro nesta parte da cidade e aquele homem certamente pretendia roubar as poucas moedas que lhe restavam.

    Não estou perdida respondeu, sendo o mais rude que pôde.

    Tem certeza de que não precisa da minha ajuda agora?

    Afaste-se de mim. Há um policial na esquina pela qual acabei de passar.

    Os olhos do homem se estreitaram e por um momento ele aparentava não saber ao certo o que fazer, mas então o medo da lei finalmente prevaleceu e ele se afastou.

    Ela deveria ficar de olho nele, assegurando-se que ele não a seguisse e a acuasse em algum beco escuro, caso a tivesse escolhido como a vítima ideal para seus propósitos escusos. Talvez ela não devesse ter exibido o quanto desesperançada se sentia, o que consequentemente atrairia qualquer um disposto a escolher alguém perdido e enfraquecido. Endireitando-se, caminhou apertando o passo, mas ainda estava bem distante dos quartinhos horrendos, que cheiravam a repolho cozido.

    *

    Anne se sentou na pequena sala de seus novos aposentos, onde Lisle dormia à noite, no único quarto adjacente. Não havia uma cozinha, então todas as provisões precisavam ser compradas lá embaixo na rua. A cada dia, sua pequena reserva de moedas diminuía e logo chegaria o dia em que ela não conseguiria mais pagar pela acomodação.

    Quais opções ela tinha? Ela poderia enviar uma carta para Stanford, ou talvez até mesmo para Harry, pedindo-lhes ajuda. Sentindo as lágrimas ardendo em seus olhos e o incômodo no nariz, apertou entre os olhos com os dedos para conter as lágrimas que queriam brotar mais uma vez.

    A porta se abriu atrás dela, com o ranger característico da dobradiça que há anos não recebia uma porção de óleo. Chegou uma carta para a senhora. Até Lisle era cúmplice ao lembrá-la de sua posição diminuída. Sem dúvidas ela perderia Lisle em breve, preferindo uma grande mansão em que pudesse trabalhar, ao invés de ficar presa aqui suportando o bebê com cólicas constantes no andar de cima e o som dos sapatos das pessoas que subiam e desciam as escadas bem à frente de nosso quarto.

    Mas uma carta havia chegado, a primeira comunicação com ela desde que recebera o divórcio. Reconheceu o selo do Sr. Charterham, o advogado que seu marido contratara para representá-la a contragosto durante o processo do divórcio. Sem dúvidas que para o desgosto de Stanford, uma mulher não poderia ser divorciada sem receber nenhum tipo de representação legal.

    Rompendo o selo, leu um convite para que fosse vê-lo. Não dizia nada além disso. Atravessando a cidade rumo aos escritórios Charterham era uma missão complicada, que lhe parecia um esforço imensurável, mas ela não tinha nada para fazer, além de passar outro dia encarando o papel de parede estragado. Talvez aquela carta trouxesse junto alguma esperança. Talvez Stanford estivesse profundamente arrependido e confessado sua farsa e finalmente se sentisse culpado, talvez o suficiente para que a tirasse daquele terrível abrigo.

    Vou precisar do meu agasalho, Anne afirmou.

    Você vai sair de casa hoje? Lisle disse de maneira ousada em demasia para uma criada. A respeitabilidade em seus modos mudou de acordo com o endereço atual e agora mal conseguia conter o escárnio de seu tom de voz.

    Aparentemente, sim, disse Anne, mais por vontade de dizer do que qualquer interesse genuíno de sua parte em discutir sua vida com Lisle.

    Anne prendeu seu chapéu olhando-se no espelho quebrado à porta e aceitou o auxílio de Lisle para vestir seu agasalho. Abotoando-o, notou que o casaco estava um pouco mais largo em suas costas do que estava poucas semanas atrás. A incerteza e a inquietação haviam feito com que seu apetite desertasse, e a comida sem gosto e de procedência duvidosa que comprava na rua não colaborava.

    Por mais lamentável que fosse, esta carta de seu representante era a única pálida esperança que tinha em seu horizonte. Certamente ele não a chamaria para seu escritório sem nenhum motivo. Talvez Stanford tivesse decidido devolver a ela alguns de seus itens pessoais, que ela poderia vender. Qualquer ajuda seria bem-vinda no ponto em que estava, para que pudesse evitar que afundasse no abismo negro que ameaçava devorá-la a não ser que ela pudesse se proteger.

    As ruas eram uma selvageria de plena atividade, carruagens e guardas, carroças e pessoas. Havia ambulantes em cada um dos espaços disponíveis, oferecendo seus produtos, enquanto a fumaça negra de carvão se espalhava.

    Anne passou por um pequeno café e o cheiro que vinha de lá fez com que suas entranhas se agitassem de vontade, mas ela se recusou a desperdiçar qualquer moeda com tal prazer supérfluo. Será que algum dia beberia uma xícara novamente? Seria possível que até mesmo os pequenos prazeres estivessem proibidos a ela? Aos trinta e quatro anos de idade, talvez ela nunca mais provaria a doçura dos folhados ou o sabor de um bom vinho.

    Passando pela Rua Fleet, quase foi atingida por uma carroça, de onde uma tora de madeira rasgou seu casaco. Mas no aspecto como um todo, ela tinha sorte por estar viva, mas um rasgo não ajudava. Suas vestes provavelmente teriam que durar ainda por um longo tempo. Mais uma vez sentiu um impulso de voltar para seu alojamento e se trancar lá dentro, mas a esperança estava no final desta viagem e precisava chegar lá mais do que precisava se esconder.

    O escritório do Sr. Charterham ficava depois de um lance de escadas, seguindo por um corredor escuro revestido de mogno, e chegou a uma porta onde havia o nome dele escrito em letras douradas.

    Um escrivão se sentou à mesa, rabiscando em letras grandes. Ah, Senhora Kinelly, disse com um sorriso irônico. Por favor, sente-se.

    Assim ela o fez, sem se incomodar em corrigir a forma como ele se dirigiu a ela. Que diferença fazia? Talvez ele o tenha feito de propósito apenas para ressaltar o desdém de sua posição moral. Seria gentil de sua parte se fosse esse o caso. Gentileza era algo que ela não via com muita frequência, ultimamente.

    A porta do outro lado se abriu, e Sr. Charterham apareceu por ela. Senhora Sands, por favor, entre. Charterham não se incomodou em lhe dedicar algum respeito. Ela sorriu brevemente e se levantou, esperando que o Sr. Charterham não estivesse cobrando nenhum pagamento por esta visita, e o quanto seria tão devastador para ela quanto o divórcio fora até este ponto. Era engraçado notar como os menores detalhes dos menores problemas representavam sua ruína.

    Por favor, sente-se, ele disse enquanto voltava para se sentar em sua cadeira. Havia documentos espalhados por toda sua mesa. A cadeira rangeu enquanto ele se sentava e agora ele a encarava de forma rude. Ela nunca se sentia confortável em sua presença. O que lhe aconteceu não foi agradável, e eu sinto pena das circunstâncias em que se encontra.

    Agradeço, respondeu, sem saber ao certo aonde ele pretendia chegar.

    Então, pensei em algo que eu pudesse fazer para ajudar, ele disse mais abertamente, enquanto pegava seus óculos e os colocava. Apanhou um pedaço de papel. E aparentemente tivemos algum sucesso.

    Anne piscou, enquanto a esperança despertava dentro dela.

    De fato, conseguimos encontrar uma casa para você.

    Uma casa, Anne disse suspirando.

    Uma mansão na verdade, mas não fique muito animada ainda. É antiga e está abandonada. Não tenho certeza de que está em condições adequadas para se viver.

    Onde estou agora também não é muito diferente, respondeu em uma demonstração rara de honestidade a respeito do quão precária estava sua situação.

    Sr. Charterham sorriu indulgente. Este imóvel foi colocado em juízo por uma de suas tias-avós, mas ninguém o reivindicou, e desde estão está abandonado. A localização é tão isolada quanto a própria mansão, creio que em Yorkshire. Mas já é alguma coisa.

    Uma casa. Ela tinha uma casa, e era intocável para Stanford, que ficara com todo o resto. Este era um golpe de sorte além do que ela poderia remotamente acreditar.

    Charterham pegou um envelope, que por sinal estava coberto de manchas e poeira. E aqui está aparentemente a chave; ela tem ficado aqui esperando por alguém que a reivindicasse. disse enquanto abria o envelope. Tirou de dentro a chave de ferro negra. Era grande e pesada, feita em algum tempo antigo. Anne fechou o punho ao redor dela e sentiu o frio do metal se afundando em sua mão. A esperança estava em sua mão. Uma casa, e ela poderia plantar alguns legumes, talvez até criar algum gado. Ela nunca mais passaria fome e a ameaça do asilo desaparecia de seu horizonte.

    Não sei como posso agradecê-lo, Sr. Charterham, ela disse, lágrimas novamente brotavam e seu nariz ardia, mas dessa vez ela por alegria.

    Me basta estar feliz por ter aparecido esta oportunidade. Não gosto de ver damas presas em circunstâncias tão limitadas. Creio que seja um reflexo da miséria de nossa sociedade. Já estou bastante satisfeito. Desejo-lhe boa sorte em seu futuro. Talvez Sr. Charterham fosse uma das poucas pessoas que não acreditasse de fato no estigma criado sobre o divórcio. Ela não era exatamente uma mulher diferente da que fora uma semana atrás, mas mesmo assim, ele dedicou algum tempo e esforço para ajudá-la, e agora ela tinha algum prospecto graças a este homem.

    Mais uma vez ela o agradeceu imensamente, saindo do escritório como uma pessoa bem mais leve, a chave ainda fechada dentro de sua mão. Esta casa pertencia a ela e ninguém poderia tirá-la dela. Agora ela tinha até mesmo um lugar onde Harry poderia vir visitá-la caso algum dia ele resolvesse voltar a tomar conhecimento de sua existência, mas tendo apenas dezessete anos, talvez outras preocupações estivessem em sua mente.

    Capítulo 2:

    O TREM PAROU NA estação conforme o esperado e Anne Rose pedia licença por ela e Lisle enquanto ajeitava as saias puxando-as de cima do joelho do cavalheiro que estava sentado no assento oposto. Segurando a maçaneta ela abriu a porta do vagão e abriu seu guarda-chuva. Havia começado a chover e a mudança na paisagem havia passado ignorada na última hora, mas agora, finalmente respiravam ar fresco.

    Um cabineiro veio e descarregou suas bagagens, se apressando sob a chuva enquanto elas se espremiam sob a pequena estação feita de ardósia. Passageiros embarcavam e engenheiros da ferrovia corriam para encher a locomotiva a vapor com água. A fumaça branca de vapor enevoou ao redor delas e então começaram os profundos sons engolfados enquanto o trem avançou em frente mais uma vez, e a nuvem de vapor foi levada pelo vento. O ruído dos vagões aumentara enquanto a velocidade do trem aumentava, e então recuaram, com um som agudo que reverberou nos ouvidos de Anne causando um apito agudo.

    Bem-vinda a Goathland Station, o velho cabineiro disse, enquanto água gotejava de seu chapéu. Meu nome é David Canning, disse o idoso, enquanto a água gotejava de seu chapéu.

    Senhora Sands, Anne respondeu com um cumprimento. O senhor poderia nos dizer como podemos conseguir um transporte para nós e nossa bagagem?

    Certamente que posso, senhora, respondeu. Para onde a senhora está indo?

    Mansão Hawke, respondeu, tendo que falar mais alto para ser ouvida sobre a chuva que aumentava.

    O homem estremeceu e não disse nada por um momento, apenas a fitava.

    O senhor sabe onde fica?

    Oh sim, eu sei ele finalmente respondeu. É um bocado distante, perto da fazenda Turner.

    Oh, Anne exclamou, aliviada por ouvir que haveria outras pessoas por perto. Por um momento, ela temeu que o lugar fosse desolado, a julgar pela expressão chocada no rosto do Sr. Canning.

    Precisaremos atravessar aquela ponte, ele disse, apontando para a estrutura arqueada que se estendia até os trilhos no outro lado. Jonah, ele chamou alguém atrás da casa da estação de trem e um garoto apareceu, colocando apressadamente seu boné. Pegaram as bagagens e seguiram caminhando. Tome cuidado com onde pisa. Este chão pode ser bem escorregadio quando está molhado.

    Anne segurou o corrimão e começaram a atravessar a ponte, avistando um rio que corria em um ponto não muito distante. Além dele, era difícil de ver qualquer coisa através da chuva densa. O calor aconchegante do interior do trem estava dissipando e ao invés dele sentia um arrepio frio e úmido sob a barra das saias.

    Além da estação de trem, não havia muito o que se ver em Goathland – um comércio, uma casa de chá e um pub, e algumas casas onde moravam os habitantes do vilarejo.

    Perguntarei se Tom pode levar vocês, disse o Sr. Canning. O Pastor tem uma charrete que ele talvez se disponha a emprestar às senhoras, a ver as condições do clima hoje. Há uma casa de chã aqui, se as senhoras precisarem de um descanso.

    Talvez compremos algumas provisões, Anne disse, apontando para o mercado.

    Sr. Canning fez uma mesura segurando a ponta do boné e partiu, dando uma última olhada para trás. Lisle estava infeliz sob a chuva, segurando seu casaco para cobrir a cabeça, com o passo apressado enquanto se dirigiam à loja. Um sino tocou quando abriram a porta e ela avistou um homem atrás do balcão que usava um avental branco, e um bigode cuidadosamente penteado. Se manteve completamente indiferente enquanto elas se aproximavam. Anne sorriu, mas o homem não esboçou nenhum sorriso de volta; ao invés disso, seus olhos examinaram sua capa azul-marinho de cetim. Até agora, as pessoas que ela viu por lá todas usavam uma lã cinza, então provavelmente suas vestes denunciavam seu estrangeirismo à essas pessoas. Seu sotaque londrino também, sem dúvida.

    Um pouco de farinha talvez. 3 quilos? olhou ao redor e viu uma peça de presunto sob um pano. E meio quilo de presunto. O senhor tem sementes?

    Que tipo de sementes? Sua voz era grosseira e com um sotaque pesado de Yorkshire.

    Ervilhas? ela disse com um sorriso. Cebolas, sementes para horta.

    Estão ali nos fundos, ele disse sem qualquer menção de um gesto que fosse para ajudar enquanto Anne passava, sua saia gotejando sobre o piso empoeirado. Pacotinhos de papel continham as sementes, e ela escolheu algumas sementes variadas. Ela nunca havia plantado vegetais antes. Flores teriam sido de seu interesse, mas ela tinha outras prioridades agora, especialmente se ela moraria em um lugar tão distante das pessoas. Exceto pelos mencionados Turners, em que ela depositava a única esperança.

    A disposição do homem não melhorou muito e Anne sentia que não era bem-vinda naquele mercado. Ela pagou e saiu com os pacotes de volta para a rua, esperando sob a entrada coberta por qualquer um que estivesse disposto a ajudá-la a chegar em seu destino. Se o Sr. Canning tivesse decidido que elas poderiam ser mau agouro, ela não saberia o que fazer, mas não demorou muito até que chegasse um cavalheiro, vestido com uma capa oleada e chapéu, guiando uma carruagem modesta que na verdade não deveria comportar mais que uma pessoa. Elas tiveram que se espremer lá dentro, enquanto o ar condensado de suas vestes ensopadas embaçava a janela oval.

    Lisle adormeceu, enquanto Anne observava a paisagem que mudava, se tornando mais e mais evidente a desolação. Tudo parecia úmido, incluindo suas roupas, causando-lhe arrepios, mesmo que no interior da carruagem estivesse aquecido.

    Passaram por algumas casas de fazenda, mas eram poucas delas e com uma enorme distância entre elas. Checou o relógio em sua bolsinha, que havia pertencido ao marido antes de ele comprar um relógio melhor, constatou que estavam viajando há aproximadamente duas horas. Não seria tarefa fácil retornar à estação de trem, ou talvez comprar mais provisões no mercado. Elas teriam de aprender a ser autossuficientes, pelo menos por enquanto.

    O condutor não disse uma palavra sequer o tempo todo, o cavalo seguia em uma marcha firme pela estrada estreita de pedregulhos. A chuva havia cessado e depois começara de novo, e tudo era constantemente cinza.

    Apesar do clima sombrio, Anne manteve firme a esperança em seu coração. Apesar de todo o infortúnio, ela teve sorte em conseguir essa chance. Talvez não tivesse muita companhia vivendo entre os morros, mas seu status de divorciada poderia chegar até mesmo lá,

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