Portugal de perto
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Sobre este e-book
Nuno Ferreira
Natural de Aveiro, onde nasceu em 1962, Nuno Ferreira licenciou-se em Comunicação Social na Universidade Nova de Lisboa. Foi colaborador permanente do semanário Expresso de 1986 a 1989, ano em que ingressou nos quadros do jornal Público, onde se manteve até Setembro de 2006. Entre outros prémios, recebeu em 1996 o Prémio de Jornalismo de Viagem do Clube de Jornalistas do Porto com o trabalho “Route 66 a Estrada da América”, que lhe valeu também uma menção honrosa da Fundação Luso-Americana. Um ano mais tarde, recebeu o Prémio de Jornalismo de Viagem do Clube Português de Imprensa com o trabalho “A Índia de Comboio”. Em 2007, foi co-autor de “Ao Volante do Poder”, publicado pela editora Bertrand. Em 2011 lançou “Portugal a Pé” na editora Vertimag. Actualmente colabora com a revista electrónica “Café Portugal” e com a revista “Epicur”.
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Portugal de perto - Nuno Ferreira
1. Introdução
Em meados de 2007, estava a digerir o primeiro ano de desemprego depois de três anos como colaborador permanente do semanário Expresso e outros 17 como jornalista dos quadros do Público. Foi por essa altura que me senti livre para tentar executar um projecto que há muito vinha acalentando: atravessar o Portugal dito «profundo» de comboio, autocarro, eventualmente de bicicleta.
Quando se trabalha muito tempo numa redacção, a interacção que se tem com o nosso próprio país acaba por se esgotar numa única rotina. Sair em reportagem na companhia de um fotojornalista, chegar a um local ou região devidamente identificados e abordar determinado tema num prazo que nunca excede os dois ou três dias.
Ao decidir cumprir o sonho de regressar a esse mesmo país, mas caminhando, estava logo à partida a colocar de lado a velha abordagem repentina e à la minute a que me habituara. Queria voltar a muitos sítios onde já estivera antes como jornalista e descobrir outros com uma respiração e um ritmo diferentes.
Fiz uma proposta à revista Única do Expresso que recebeu luz verde, de forma relativamente rápida, em Fevereiro de 2008. Concluí um esboço inicial de itinerário e decidi começar por Sagres e pelo Algarve. Em primeiro lugar, pela simbologia e pelo que Sagres representa quanto às Descobertas Portuguesas e, em segundo lugar, porque o tempo a sul era mais ameno e escapava aos frios do norte.
Comprei rapidamente mochila, sapatos de ténis, material impermeável para caminhar na chuva, saco-cama e tenda. Antes mesmo de partir de casa, decidi desistir destes dois últimos apetrechos e dormir pelo caminho em residenciais e pensões.
A minha preparação física foi pouco mais que nenhuma. Sempre gostei de caminhar, fiz duas romarias da Quaresma na Ilha de São Miguel e fui a pé, como repórter do Público, de Aveiro a Fátima acompanhando os peregrinos. Há muito tempo, no entanto, que não caminhava mais do que os passeios diários com o meu husky pelo areal de São João da Caparica.
Quando finalmente comecei, a 21 de Fevereiro de 2008, em Sagres, estava ainda longe de ter a máquina afinada e não fazia ideia do que me esperaria Portugal acima.
2. Algarve
O meu primeiro dia a pé, entre Sagres e o Cabo de São Vicente, foi de aprendizagem. Apercebi-me de que poderia caminhar com menos roupa, compreendi que iria precisar sempre de pelo menos um litro e meio de água e descobri que os cafés, quaisquer que eles fossem, seriam portos de abrigo.
Um restaurante com venda de artesanato e uma exótica colecção de animais empalhados, pertencente ao empresário Sousa Cintra, foi o meu primeiro ponto de apoio, dos inúmeros que tive nesta viagem. Aí parei pela primeira vez junto a um balcão, em conversa com um empregado, e aí iniciei uma rotina que prolonguei à medida que ia atravessando o país de sul a norte: parar, cumprimentar, conversar.
Decidira chegar a Sagres e inflectir para norte por Vila do Bispo, Costa Vicentina e Aljezur, de modo a mais tarde subir a minha primeira serra, a de Espinhaço de Cão, e chegar às bandas de Monchique. Por essa altura, os obstáculos inerentes a uma caminhada por Portugal começaram a revelar-se e a pedir-me para os enfrentar.
A partir daquele dia, aos olhos de quem me via a passar ou a chegar, eu não era um jornalista mas um indivíduo de mochila às costas, muitas vezes de aspecto cansado, barba por fazer e cabelo desalinhado. A minha aceitação junto dos portugueses que queria entrevistar e com quem gostaria de conversar iria depender muito da primeira abordagem. O acto de tirar ou não uma fotografia a quem encontrava pelo caminho dependia também do modo como corria essa abordagem.
Cedo descobri que num dia de caminhada poderia ser alvo de diferentes tipos de reacções. Tanto podia ser cumprimentado efusivamente, como receber uma saudação acabrunhada, como pura e simplesmente não receber um cumprimento de volta.
Logo ali, na charneca por detrás do restaurante, deparei-me com uma imagem insólita: uma mulher controlava um rebanho de ovelhas sentada dentro de um pequeno automóvel com o bastão a sair da janela do lugar do condutor. Despertou-me vontade de a fotografar, mas bastou-me o seu olhar gélido para me travar e me impelir a seguir caminho.
Aos poucos, comecei a perceber a existência de uma certa geografia humana que me era favorável ou desfavorável. Por exemplo, caminhar só na mais vasta das solidões em plena Costa Vicentina na época baixa não me colocava qualquer problema. Eu era mais um amante da natureza, que um pescador ou um surfista veria com olhos tolerantes. Ao contrário dos meus receios iniciais, nos bosques de pinheiros mansos da área protegida, tudo o que encontrei foi paz e beleza natural.
Mesmo quando fui encurralado por uma súbita enxurrada, na aldeia da Bordeira, na Costa Vicentina, e tive de passar umas horas valentes dentro de um café, não me foi difícil entabular conversa. A aldeia, junto ao mar, era frequentada e habitada por uma colónia de alemães e ingleses e os moradores estavam acostumados a