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Amor, dores e saudades
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Amor, dores e saudades
E-book231 páginas3 horas

Amor, dores e saudades

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Sobre este e-book

Caros leitores, todo poeta traz dentro de si um pouco da beleza do mundo, uma enxurrada de sentimentos e anseios que quando não cabem mais em nós derramamos, nas virgens folhas de um livro.
Venho, por meio deste, compartilhar com vocês um pouco dos meus amores vividos, das dores sentidas e da saudade que quando não coube no peito escorreu pelos olhos e caiu sobre as folhas deste livro.
Nada é tão grandioso como o amor em seu estado mais puro que, mesmo tão simples, se faz genuíno em cada atitude.
Amor é algo para se gritar, cantar, escrever aos quatro ventos, é demonstração de carinho e afeto, é declarar-se em singelas palavras, pois a vida é uma só e daqui nada levamos. Por isso ame, viva, sinta como se cada dia fosse um presente, porque nunca sabemos quando será o último, então faça valer a pena.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento2 de jan. de 2023
ISBN9786525435923
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    Pré-visualização do livro

    Amor, dores e saudades - Jhady Macedo

    Prefácio

    Não, este livro não é mais uma daquelas histórias de amor que deixam as pessoas suspirantes e desejosas de algo parecido para si. Se é isto o que está procurando sugiro que pare por aqui. As linhas que se seguirão serão honestas o suficiente em retratar as nossas fraquezas enquanto seres humanos; os atos covardes de cada dia; a negligencia, desamparo e abandono que imputamos a nós mesmos e aos outros no decorrer da vida.

    Mas para que ele não se torne de todo amargo para você, querido leitor, este livro também terá a audácia de falar de um dos fatores mais irracionais e incompreensíveis dos nossos dias atuais: a esperança, e revelar como seus portadores são dotados de uma força estranha e determinada que os fazem irem ao encontro do desconhecido e sobreviverem as maiores mazelas que a vida pode lhes impor.

    A ideia do livro surgiu em uma noite de janeiro enquanto eu assistia a um programa de auditório coreano, mas ele também conta com as vivências de várias pessoas no mundo todo que de certa forma compartilharam comigo um pouco de suas histórias. Algumas eu ri, outras chorei. Muitas delas vieram de encontro com minha experiência pessoal e talvez, querido leitor, você encontre um pouco da sua aqui também. Bom, se você insistiu em vir até aqui é porque, possivelmente, você seja uma daquelas pessoas que se deixam cativar pela esperança, ainda que em sigilo. Fique tranquilo, seu segredo estará guardado comigo.

    Capítulo 1

    Criança Inútil

    Quando ainda era uma criança, eu gostava de observar os adultos enquanto conversavam. Não que eu conseguisse entender sobre o que falavam, mas me encantava como interagiam entre si. Eles pareciam partilhar algo de forma tão espontânea e natural, como se estivessem conectados por algum fio invisível que era totalmente estranho para mim. Eu observava a forma como mexiam os lábios, os gestos que faziam com as mãos, as cruzadas de pernas... eram desenhos soltos no ar que ganhavam vida na minha imaginação.

    Sempre que minha tia recebia visitas eu ia, sorrateiramente, até a sala, me sentava e observava... as vezes eu ria. Isso passou a incomodá-la e ela passou a me enviar para o quarto sempre que chegava alguém. Era uma mulher irritável e eu parecia ter o dom de tornar isso bastante evidente com meus olhares silenciosos. Automaticamente passei a ir sempre para o quarto quando chegava alguém, bastava que chamassem ao portão. Algumas vezes era necessário que ela me dissesse que não era ninguém para que eu pudesse voltar à companhia dos demais, outras vezes ela não me falava nada e eu ficava no quarto até a hora do jantar.

    Eu ainda gosto de olhar as pessoas em seus momentos de descontração. Às vezes presto atenção ao que dizem, outras vezes presto atenção apenas nelas e busco imaginar suas histórias pelos modos que expressam. Cada pessoa parecia ser dona de um mundo particular vivo, colorido e tão interessante, ao mesmo tempo em que percebia o contraste do que acontecia em mim. Nunca entendi porque eu era assim, mas esse passou a ser um passatempo solitário e agradável...

    — Sofia, já podemos ir para o portão de embarque.

    Enquanto caminhávamos, ela se aproximou e colocou o braço sobre o meu, fazendo um gesto com os lábios bem característico, uma marca registrada de quando estava preocupada com algo, ou alguém.

    — Você está mesmo segura disto? Não acredito que esteja indo para um lugar tão distante em busca de...

    — Cris, até quando vai se preocupar comigo desta maneira? Apesar de ser mais jovem age como uma mãe. Eu sei o que estou fazendo, já pensei em todas as possibilidades.

    Sorri, numa tentativa vã de acalmá-la.

    — Vai ficar tudo bem!! Eu preciso ir pois eu sinto que não terei sossego em minha alma se me recusar a isto.

    — Ok, não direi mais nada! Foi um longo ano de preparação até sair a autorização para sua viagem e eu espero que encontre a pessoa que procura e descubra o sentido disso tudo. Mas tome cuidado, as pessoas de lá têm um comportamento bastante diferente do nosso e podem ser hostis com estrangeiros e a pandemia que assolou o mundo todo parece ter agravado isto em alguns lugares.

    — Quando começam as aulas do seu curso, Sofia?

    Quase tinha me esquecido que o Michael estava ali. Ele e a Cris já estavam casados há dois anos. Ela era muito expansiva ao demostrar o que sentia e ele era comedido, mas seus gestos eram de uma grande bondade.

    — Em setembro e poderei contar com uma bolsa durante os doze primeiros meses e depois, dependendo dos meus resultados, posso renovar meu passaporte e trabalhar lá sem grandes dificuldades.

    Paramos diante do portão, algumas pessoas já se aglomeravam no local, em fila, a maioria delas com seus olhos puxados e pele clara, os mais velhos silenciosos enquanto os mais jovens mexiam em seus celulares e trocavam palavras com o amigo mais próximo. Deviam haver umas três pessoas que não pareciam possuir, pelo menos na fisionomia, a ascendência coreana. Eu seria a única com a pele morena, talvez? Uma verdadeira nativa das américas! Era como se referiam aos índios em alguns lugares. E quando chegasse lá, mais uma vez os números estariam contra mim, eu seria imediatamente reconhecida como estrangeira no meio de tantos rostos semelhantes. Como será que eles me olhariam?

    De repente me veio a expressão do rosto amargo da minha tia – Criança inútil. – Era como costumava se referir a mim. Fui morar com ela quando completei seis anos. Não achei que seria definitivo. Eu esperei durante dias, sentada à porta, que minha mãe retornasse e me levasse de volta. No dia em que ela me deixou não se despediu, apenas disse que esperasse, logo voltaria e saiu apressada. Hoje acho que ela chorava quando partiu, mas não queria que eu percebesse. E eu apenas esperei...

    Era a primeira vez que via meus tios e primos – três crianças – um pouco mais velhos que eu. Só meu tio sorria, mas ele ficava muito pouco em casa. Minha tia parecia ver um fantasma toda vez que me olhava, talvez por causa dos traços que herdei do meu pai. Eu não o conheci, mas me lembro da minha mãe falar nele com muita ternura, da sua risada alta, de como gostava de cantar e dançar pela casa com ela nos braços, do brilho intenso no olhar e da pele cor de amêndoa, assim como a minha. Um dia as lembranças se foram, junto com o sorriso dela. Tudo mudou...Pensando agora, aqui comigo, talvez seja mais fácil lidar com costumes coreanos depois de ter passado pelos anos de experiência com a minha tia, pelo menos era o que eu supunha.

    Eu já estava diante do grande corredor que se estendia diante de mim. Pelas janelas eu via os aviões e a movimentação das pessoas lá fora. Era uma passagem estreita, depois escadas que desceriam e alguns passos na direção ao voo. A partir dali eu estaria a caminho de um mundo totalmente diferente daquele ao qual me adaptara nesses 29 anos de vida.

    — Sofia, mande notícias assim que puder.

    Ela ainda acenava quando virei no corredor. Foi bom olhar para eles neste momento, algo confortador, acolhedor, diante do desconhecido que estava à minha frente. Eu sorri e mesmo ao me sentar na poltrona continuava sorrindo. Talvez fosse um misto de alegria e satisfação. Aquela chama que se acendeu dentro de mim há um ano e meio ainda queimava, me puxava para longe como um imã poderoso. Eu teria que obedecer, teria de confiar que significaria algo e que eu seria guiada.

    Já era possível ver o lindo céu azul com suas nuvens peroladas. O sol ainda reinava e parecia assentir para meu futuro. Aceitei como uma benção e depois de algumas horas adormeci.

    Capítulo 2

    Havia uma senhora que morava a algumas casas de distância de onde nós morávamos. Sempre que passávamos na porta, sua casa me chamava a atenção pelos cristais que eu via pendurados na janela. Alguns refletiam as cores do arco-íris e eu nunca tinha visto nada parecido com aquilo. Às vezes eu parava para observar e era repreendida pela voz estridente da minha tia que já estava distante. Ela sempre dizia:

    Nunca pare diante daquela casa, uma bruxa mora lá!

    Eu não sabia o que era uma bruxa, mas pensava se seria pior ou melhor ao que eu já conhecia da minha tia. Um dia, quando voltava sozinha, eu resolvi me aproximar da casa. Ela se escondia atrás de muitos arbustos e trepadeiras que pareciam transformá-la em algo mágico. Eu não sei quanto tempo fiquei ali na porta, olhando os cristais e aquela mata verde, mas ouvi a voz de uma senhora próxima a mim, chamando minha atenção.

    — O que deseja, criança?

    Quando olhei para o lado vi alguém segurando uma caçarola pela haste e os sapatos azuis empoeirados. Ao erguer meu rosto vi uma criatura extraordinária. Era como estar sob a sombra de uma paineira. Ela era grande, larga e frondosa. Tinha olhos redondos de um castanho muito profundo e a pele escura. Suas bochechas eram salientes e brilhavam enquanto sorria com seus dentes amarelados. Eu não disse nada a ela, só a olhei. Nesta época eu tinha dificuldade de conversar com as pessoas, qualquer uma. Quando olhei de volta para a casa dela, ela me convidou para entrar. Ao passar pelos portões de tábua eu parecia adentrar um ambiente encantado, com pequenas florezinhas amarelas e roxas espalhadas pelo chão, abelhas, muitos botões de rosas, plantas cujas folhas tinham formatos diversos e um gato que se espreguiçou em um canto.

    Dentro da casa havia muitos retratos e imagens de santos misturados a plantas, tapetes pelo chão e no ar um cheiro doce. Eu olhava todas as coisas, não queria perder absolutamente nada, até parar diante da janela dos cristais. Percebendo meu interesse, ela colocou a caçarola na mesa e tirou um dos que estavam perdurados colocando-o à frente do meu rosto.

    — Você gosta?

    Eu sorri e balancei a cabeça enquanto sentia o reflexo das luzes coloridas passando pelo meu rosto.

    — Leve este para você.

    Ela o colocou em minhas mãos. Era lindo, mas eu não podia ficar. Se eu o levasse, eles tomariam de mim. Eu ergui a mão para devolver o cristal a ela.

    — Então ele ficará aqui e você deve vir visitá-lo, pois agora ele pertence a você. Se não vier ele perderá o brilho e morrerá.

    Sorri satisfeita, pois gostei da ideia de poder voltar ali. Em seguida ela me ofereceu um doce que ela mesma havia feito. Depois me despedi dela e do cristal. Eu voltei lá outras vezes e a ouvia contar histórias sobre as coisas, enquanto saboreava seus doces de compota e acariciava o cristal. Ela estava sempre só em casa, às vezes uma pessoa ou outra batia na sua porta para lhe pedir comida e ela atendia a todos, sempre sorrindo. Seu sorriso era tão bonito que às vezes eu me via tentando imitá-lo. Isso a fazia rir mais. Mesmo não sendo parentes, eu me sentia mais à vontade com ela do que com a minha família. Era como se ela me lembrasse do que eu costumava sentir quando estava com a minha mãe.

    Um dia perdi a noção do tempo e ouvi, na rua, alguém chamando meu nome. Era minha tia. Quando sai ao portão ela, imediatamente, veio em minha direção e saiu me arrastando pelo braço, brigando e xingando. Eu não tive tempo de me despedir daquela senhora gentil. Fiquei de castigo durante um bom tempo sem poder sair de casa. O dia em que consegui sair, eu fui até aquela casa encantada, mas havia só uma casa abandonada. O portão estava quebrado e as plantas secas, não havia flores ou cristais na janela, nem o cheiro gostoso de doce sendo cozido. Não havia ninguém. Eu olhei durante um tempo aquela casa vazia e escura. Olhei para o lado de baixo da rua que era de onde ela vinha às vezes com a sua caçarola, mas ela não apareceu.

    Então comecei a pensar que a culpa podia ser minha, já que eu não tinha ido mais visitar o cristal, ele e a casa tinham morrido junto com aquela senhora gentil. Ou teria sido um sonho? Eu queria ter chorado na época, mas eu não conseguia, eu só sentia o silêncio interno, um vazio que parecia tristeza. Depois disso nunca mais voltei lá.

    Havia uma frase que minha mãe costumava falar sempre que ela me colocava na cama para dormir: Tenha sonhos, minha querida, pois enquanto sonharmos a estrada permanecerá viva e ela nos conectará com o nosso futuro.

    Era uma frase do escritor preferido dela. Meu pai faleceu em um acidente quando eu tinha dois anos de idade. Tinha sido atropelado por um motoqueiro que avançou o sinal de pare. Minha mãe ainda era jovem quando se conheceram. Eles se apaixonaram imediatamente, mas era um romance proibido. Meus avós não aprovavam o fato dele ser um indígena e já haviam tecido planos para o futuro dela com um amigo da família.

    Quando ela decidiu partir com meu pai, meus avós cortaram relações com ela e durante alguns anos se comunicava esporadicamente com a irmã mais velha, que já havia constituído família e morava fora. Não que ela apoiasse a escolha da minha mãe, mas acredito que elas se amavam, pois só assim poderia aceitar, alguns anos mais tarde, que eu fosse morar em sua casa. Minha mãe nunca se mostrou arrependida de suas escolhas, mesmo após ter ficado viúva, ela ainda o amava intensamente, a ponto de seus olhos brilharem cada vez que mencionava seu nome ou quando segurava seu retrato nas mãos. Eu não me lembro do rosto dele, mas eu percebia a tristeza suave que tomava conta do semblante dela nesses momentos. E quando ela notava que eu percebia, ela sorria, me pegava no colo e corria comigo pela casa.

    Um dia algo no olhar dela mudou. Não passávamos mais tempo juntas, ela ficava deitada na cama por muito tempo. Nós tínhamos ganhado um novo integrante à família. As coisas eram boas no começo, minha mãe parecia um pouco melhor agora com o apoio de um amigo. Quando eles decidiram se casar as coisas mudaram, e foi quando fui levada à casa da minha tia.

    Já haviam se passado vinte horas desde minha partida do Brasil. Quando acordei, durante o voo, havia uma jovem de olhos puxados e cabelos vermelhos sentada ao meu lado. Ela sorria enquanto me dizia:

    — Você fala enquanto dorme!

    Mas que coisa inusitada, pensei comigo.

    — Eu espero não ter feito muito barulho. — Disse, enquanto me ajeitava na poltrona meio sem graça.

    — Que nada, foi divertido!

    Diante da minha expressão confusa, ela continuou.

    — Esse voo é um tédio e eu estava sentada duas fileiras atrás. Vi você quando entrou e se sentou. Vim para o seu lado para conversarmos, mas você já dormia e sorria. Então ouvi você balbuciando algumas palavras e fui tentando imaginar a história por trás delas.

    Ela riu e coçou a cabeça.

    — Acho que estou sendo indelicada e intrometida.

    Sua espontaneidade e minha curiosidade fizeram com que conversássemos o restante da viagem. O nome dela era Djiná, filha de coreanos que haviam partido para o Brasil há vinte e cinco anos. Hoje com uma boa situação financeira, enviavam a filha para completar seus estudos acadêmicos em uma universidade respeitável de Seul. Nós rimos muito durante o voo e alguns, próximos a nós, já nos olhavam com certa desconfiança.

    Djiná estava cheia de planos para o futuro. Ficaria morando com tios enquanto concluiria o MBA em Marketing e gestão de negócios, quando então voltaria ao Brasil para ampliar os bens da família. Apesar da dificuldade que tenho sempre em falar sobre mim, eu contei um pouco da minha história. Talvez eu não goste de dizer por pensar que é bem melhor quando as pessoas veem por elas mesmas quem somos e a partir disso decidam o que pensar, mas parece que, às vezes, é preciso respeitar algumas conveniências. Prometemos manter contato assim que assentássemos em solo coreano, já que estaríamos na mesma cidade e eu realmente desejava que fosse assim.

    No aeroporto de Seul nos despedimos, pois haveria um representante da universidade me esperando, o que era muito bom já que tenho uma grande facilidade de me perder nos lugares e isso me fez lembrar da última recomendação da minha tão querida amiga Cris:

    Por favor, não se esqueça de deixar sempre à mão o endereço e nome dos lugares que precisa ir e...

    Este último ela deu bastante ênfase.

    — Um telefone de contato de

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