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Quando eu não desejo Deus
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E-book346 páginas7 horas

Quando eu não desejo Deus

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Sobre este e-book

Como lutar pela alegria em Deus?

Por mais de 40 anos, John Piper tem anunciado que "Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele". O que fazer, porém, se não nos alegramos no Senhor como devemos?

Se abordasse apenas um detalhe do compromisso cristão, este livro não teria a mesma importância. No entanto, trata-se de algo essencial. Como lutar pela alegria em Deus? Com um coração pastoral e uma paixão radical pela glória de Cristo, John Piper nos ajuda a responder essa pergunta.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de mar. de 2023
ISBN9786559891818
Quando eu não desejo Deus

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    Quando eu não desejo Deus - John Piper

    Quando eu não desejo Deus. O que fazer quando não nos alegramos nele. John Piper. Um chamado para uma mudança profunda e radical. Segunda edição. Cultura Cristã.Quando eu não desejo Deus. O que fazer quando não nos alegramos nele. John Piper. Um chamado para uma mudança profunda e radical. Segunda edição. Cultura Cristã.

    Quando eu não desejo Deus, © 2010 Editora Cultura Cristã. Traduzido de When I Don’t Desire God, Copyright © 2004 by Desiring God Foundation, publicado por Crossway Books, uma divisão de Good News Publishers. Wheaton, Illinois 60187, USA. Edição em português autorizada por Good News Publishers. Todos os direitos são reservados.

    1ª edição – 2010

    2ª edição – 2018

    P665q

    Piper, John 1946 –

    Quando eu não desejo Deus / John Piper; [tradução Sandra Salum]. São Paulo: Cultura Cristã, 2018.

    Recurso eletrônico (ePub)

    Tradução de When I don’t desire God

    ISBN: 978-65-5989-181-8

    1. Deus – Adoração. 2. Desejo por Deus. 3. Alegria – Religião – Cristianismo. 4. Louvor a Deus. I. Piper, J. II.Título.

    CDD – 248.4

    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    ABDR. Associação brasileira de Direitos Reprográficos. Respeite o direito autoral.Editora Cultura Cristã

    Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP

    Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099

    www.editoraculturacrista.com.br – cep@cep.org.br

    Superintendente: Clodoaldo Waldemar Furlan

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    A

    Karsten e Shelly,

    cujo coração

    experimentou grandes promessas e esperanças

    Sumário

    Prefácio e oração

    1 Por que escrevi este livro

    Mantendo o sacrifício de amor

    2 Qual a diferença entre desejo e deleite?

    Descubra como nenhum dos dois é o alvo

    3 O chamado para lutarmos pela alegria em Deus

    Levando a sério a ordem de Deus para nos deleitarmos nele

    4 A alegria em Deus é uma dádiva de Deus

    Fazendo nós mesmos o que deve ser feito para nós

    5 A luta pela alegria é uma luta para ver

    Tributando valor a Deus com os olhos do coração e com os ouvidos da mente

    6 Lutando pela alegria como pecador justificado

    O segredo da culpa ousada

    7 O valor da Palavra de Deus na luta pela alegria

    Observando a dimensão dessa arma poderosa

    8 Como manejar bem a Palavra na luta pela alegria

    A reflexão, a memorização e a mensagem de Deus

    9 A importância da oração na luta pela alegria

    Desejando tudo o mais só porque desejamos Deus

    10 A prática da oração na luta pela alegria

    Manhã, tarde e noite sem cessar

    11 Como usar o mundo na luta pela alegria

    Usando os cinco sentidos para ver a glória de Deus

    12 Quando as trevas não se dissipam

    Fazendo o que está ao nosso alcance enquanto esperamos por Deus – e pela alegria

    Notas

    Prefácio e oração

    Espero que não se importe se eu começar este livro orando por você. Há uma razão. Depois de todos os nossos esforços de dizer e fazer o que é preciso, apenas Deus pode criar a alegria em Deus. Por isso que os antigos santos não só buscavam a alegria como também oravam por ela: Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade (Sl 90.15). A satisfação com a beleza de Deus não chega de forma natural para as pessoas pecadoras. Por natureza, temos mais prazer nas dádivas de Deus do que nele mesmo. Sendo assim, este livro é um chamado para uma mudança profunda e radical – que apenas Deus pode efetuar.

    No entanto, se não acreditasse que Deus usa meios para despertar a alegria nele, eu não teria escrito este livro. Espero que você o leia e que os olhos de seu coração se abram a Deus, que é infinitamente desejável. Ele se fez conhecer em seu Filho, Jesus Cristo, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser (Hb 1.3). Ver e desfrutar dessa glória é a fonte de toda alegria infinda.

    Uma pessoa me perguntou por que não coloquei o capítulo 12 no início para depois discutir a solução do problema. O título do capítulo 12 é Quando as trevas não se dissipam. A razão é que sou incapaz de solucionar esse problema. Deus, porém, pode fazê-lo. Em seu devido tempo, ele o fará, para todos os que experimentaram sua graça salvadora. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã (Sl 30.5). E quando vem, ela vem de Deus e não deste livro. O capítulo 12 está no final porque, quando termino de fazer tudo o que consigo, as trevas ainda podem permanecer. Espero que você não se desespere, mas que se volte para Deus em oração. É isso o que eu faço agora por você:

    Pai, oro para que todos que leram até aqui tenham a motivação e a força de continuarem a ler pelo menos até onde seja útil a sua fé. Oro para que leiam com inteligência e tenham discernimento a fim de, se eu falhar, eles o perceberem e não me seguirem. Protege-os do maligno que distorce a verdade e engana. Dá-lhes o auxílio maravilhoso do teu Espírito para que vejam mais verdade do que eu mesmo vi. Ah, que os olhos do coração dessas pessoas se iluminem com a glória de Cristo por meio destas páginas! Remove cada obstáculo que possa cegá-las e mostra-lhes a tua glória! E assim, concede-lhes mais alegria do que toda a alegria que o mundo pode dar. E por essa alegria em Jesus Cristo, prepara-as para amar, servir e sacrificar-se. Por meio dessa alegria, com a qual suporta cada um a sua cruz, Senhor, faze com que o mundo saiba como tu és verdadeiramente digno. Em nome de Jesus, eu oro. Amém.

    1

    Por que escrevi este livro

    Mantendo o sacrifício de amor

    O Hedonismo Cristão é uma doutrina libertadora e reveladora. Ela prega que o valor de Deus brilha de forma mais radiante na alma de quem encontra satisfação mais profunda nele. Assim sendo, é libertadora porque confirma o nosso desejo inato de alegria. É reveladora porque mostra que ninguém deseja Deus com a paixão que ele exige. Paradoxalmente, muitas pessoas experimentam as duas verdades. Sem dúvida, essa tem sido minha própria experiência.

    A descoberta libertadora e reveladora

    Quando percebi a verdade de que Deus é mais glorificado quando estamos mais satisfeitos nele, libertei-me da prisão não-bíblica do medo de que é errado buscar a alegria. A busca pela satisfação da minha alma, que parecia inevitável, mas imperfeita, agora torna-se algo não só permitido, porém necessário. A glória de Deus estava em jogo. Era quase bom demais para ser verdade – que a minha busca pela alegria e o meu dever de glorificar a Deus não estavam em conflito. Na verdade, eles eram um. Buscar alegria em Deus era uma forma inegociável de honrá-lo. Era essencial. Essa foi uma descoberta libertadora. Liberou a energia da minha mente e do meu coração para buscar com fervor toda a alegria de alma que Deus é para mim em Jesus.

    No entanto, com a libertação veio o sentimento revelador. Eu estava livre para buscar a minha alegria completa em Deus sem culpa. Na verdade, houve uma ordem para eu buscá-la. Ser indiferente à busca da alegria em Deus é o mesmo que não fazer caso da sua glória, o que é pecado. Assim, minha busca pela alegria assumiu uma solenidade, uma seriedade, uma gravidade que nunca havia imaginado que fariam parte dela. E então, quase que imediatamente, percebi que o pecado que habita em mim impede minha completa satisfação em Deus. Ele se opõe à minha busca por Deus e a perverte. Opõe-se fazendo com que outras coisas pareçam mais desejáveis do que Deus. E a perverte fazendo com que eu pense que estou buscando a alegria em Deus quando, na verdade, amo o que ele me dá.

    Descobri o que crentes melhores do que eu descobriram antes de mim: o contentamento completo em Deus é meu lar definitivo, mas ainda estou longe; apenas a caminho. Agostinho escreveu o seguinte a esse respeito em uma das suas orações:

    ... surpreendi-me com o fato de, apesar de amar-te agora, não ter permanecido em tua alegria. Tua beleza me cativou, mas logo fui arrastado para longe de ti por meu próprio peso e, consternado, lancei-me novamente às coisas do mundo... como se tivesse sentido o aroma da comida, mas ainda não fosse capaz de prová-la.1

    Como a vida cristã tornou-se impossível

    Essa descoberta foi esmagadora. E ainda é. Fui criado para conhecer a Deus e ter prazer nele. Fui liberto pela doutrina do Hedonismo Cristão para buscar esse conhecimento e essa alegria de todo o meu coração. E então, para o meu desalento, descobri que essa não é uma doutrina fácil. O Hedonismo Cristão não é um rebaixamento do padrão. Como se fosse do nada, percebi que o padrão havia sido elevado. O cristianismo que se baseia na força de vontade, que se prima em obrigações e decisões, que é controlável, agora parecia fácil, enquanto o cristianismo verdadeiro havia se tornado impossível. As emoções – ou afetos, como as antigas gerações costumavam chamá-las – que eu agora tinha a liberdade de desfrutar, ficaram além do meu alcance. A vida cristã ficou impossível. Isto é, tornou-se sobrenatural.

    Só havia uma única esperança – a graça soberana de Deus. Deus teria de transformar meu coração para fazer o que um coração não pode fazer por si só, isto é, desejar o que deve ser desejado. Apenas Deus pode fazer o coração depravado desejá-lo. Certa vez, quando os discípulos de Jesus indagavam sobre a salvação de um homem que desejava dinheiro mais do que Deus, ele lhes disse: Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível (Mc 10.27). Buscar o que queremos é possível. É fácil. É um tipo de liberdade prazerosa. No entanto, a única liberdade que perdura é buscar o que queremos quando queremos aquilo que devemos querer. E é terrível descobrir que não queremos e não conseguimos fazê-lo.

    A pergunta mais comum que as pessoas me têm feito

    É por isso que a pergunta mais comum e desesperada que as pessoas me têm feito nas últimas três décadas é: O que posso fazer? Como posso tornar-me a pessoa que a Bíblia espera que eu seja? A pergunta surge de uma dor no coração causada pela esperança de grande alegria. As pessoas ouvem os argumentos bíblicos que apoiam o Hedonismo Cristão ou leem Desiring God: Meditations of a Christian Hedonist2 e muitas são convencidas. Percebem que a verdade, a beleza e o valor de Deus brilham com mais intensidade na vida dos santos que estão tão satisfeitos em Deus, que podem sofrer por causa do amor sem murmuração. No entanto, elas dizem: Não sou assim. Não tenho em Deus esse tipo de satisfação que liberta, que corre riscos e que produz amor. Desejo o conforto e a segurança mais do que desejo Deus. Muitas choram e tremem ao dizerem isso.

    Alguns são suficientemente honestos para dizer: Não sei se já senti esse tipo de desejo na vida. Nunca me apresentaram um cristianismo assim. Nunca soube que o anseio por Deus e o deleite em Deus eram essenciais. Sempre ouvi dizer que os sentimentos não tinham importância. Agora encontro na Bíblia toda evidência de que o interesse em ter alegria em Deus e o despertamento de todos os tipos de sentimentos espirituais são parte da essência do coração do crente recém-convertido. Essa descoberta me anima e me assusta também. Isso é algo que eu quero, mas não estou certo de que o tenha. Na verdade, até onde consigo compreender, alcançar tal coisa ultrapassa minha capacidade. Como podemos ter o desejo que não possuímos e não conseguimos produzir? Ou como podemos transformar a centelha em chama para que tenhamos a certeza de que é fogo puro?

    A conversão é a criação de novos desejos

    Escrevi este livro para responder a essa pergunta. É meu desejo ajudar crentes e incrédulos que enxergam algumas das mudanças radicais do coração que a Bíblia requer na vida cristã – principalmente a de que precisamos desejar a Deus mais do que qualquer outra coisa. Não estou interessado em mudanças de comportamento superficiais e externas, no que os fariseus eram especialistas. Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade (Lc 11.39). Essas mudanças exteriores podem ser produzidas sem a graça divina.

    Gostaria de ajudar aqueles que estão começando a ver que ou a salvação é o despertamento de um novo gosto por Deus ou ela nada é. "Oh! provai e vede que o Senhor é bom" (Sl 34.8). Quero ajudar aqueles que estão começando a compreender que a conversão é a criação de novos desejos e não apenas de novos deveres; novos deleites, e não somente novas realizações; é a criação de novos tesouros, e não apenas de novas tarefas.

    Cada vez mais as pessoas estão percebendo essas verdades na Bíblia. Estão descobrindo que não há nada de novo no que diz respeito ao Hedonismo Cristão, mas que se trata de vida cristã simples, antiga, histórica, bíblica e radical. Algo tão antigo como os salmistas que disseram a Deus: Restitui-me a alegria da tua salvação (Sl 51.12) e Sacia-nos de manhã com a tua benignidade (Sl 90.14).

    É tão antigo quanto Jesus, que deu a seu povo esta ordem quase impossível para o tempo da perseguição: Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu (Lc 6.23).

    É tão antigo quanto a igreja primitiva, da qual se diz "aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, por possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável" (Hb 10.34).

    É tão antigo quanto Agostinho, que descreveu a conversão como sendo o triunfo da alegria soberana:

    Como foi bom de repente livrar-me daquelas alegrias infrutíferas que temia perder...! Tu as tiraste de mim, tu que és a alegria soberana e verdadeira. Tu as tiraste de mim e tomaste o lugar delas, tu que és mais doce do que todo prazer, porém não para a carne ou para o sangue, tu que brilhas mais do que toda luz, apesar de estarem ocultos mais profundamente do que qualquer segredo do nosso coração, tu que excedes toda honra, embora não aos olhos dos homens, que veem toda honra em si mesmos... Ó, Senhor, meu Deus, minha Luz, minha Riqueza e meu Salvador.3

    É tão antigo quanto João Calvino, o grande reformador de Genebra, que disse em suas Institutas da Religião Cristã de 1559 que aspirar a alegria em união com Deus é a principal atividade da alma.

    Se a felicidade do homem, cuja perfeição é estar unido a Deus, não fosse encontrada, ele seria privado do principal uso do seu entendimento. Assim, a principal atividade da alma é aspirar ir mais além. Portanto, quanto mais a pessoa busca alcançar Deus, mais ela prova ser dotada de razão.4

    É tão antigo quanto os puritanos, como Thomas Watson, que escreveu (1692) que Deus é mais glorificado quando encontramos mais contentamento em sua salvação:

    Não seria encorajador para um súdito ouvir seu príncipe dizer: Você me dará mais honra e prazer se for até aquela mina de ouro e cavar todo o ouro que puder carregar para você? Então, seria como se Deus dissesse: Vá às minhas ordenanças, pegue quanta graça puder, cave tanta salvação quanto puder; quanto mais alegria você tiver, mais serei glorificado.5

    É tão antigo quanto Jonathan Edwards, que argumentou com toda a força de seu intelecto em 1729 que as pessoas não precisam e não devem pôr limites aos seus anseios espirituais e benignos. Ao contrário, elas devem

    ... empenhar-se de todas as formas possíveis para intensificar os seus desejos e obter mais prazeres espirituais... Pelo valor dessas coisas, nossa fome e sede de Deus, de Jesus Cristo e de santidade não são demasiadamente grandes, pois são coisas que têm valor infinito ... [Assim] esforce-se para estimular os apetites espirituais deixando-se seduzir...6 Não existe algo como excesso quando se trata de alimentar-se espiritualmente. Não existe a virtude da temperança no banquete espiritual.7

    É tão antigo quanto o teólogo de Princeton, Charles Hodge, que argumentou no século 19 que o verdadeiro conhecimento de Cristo inclui (e não apenas causa) o deleite em Cristo. Esse conhecimento "não é a compreensão do que ele é, só por meio do intelecto, mas também... envolve, não apenas como sua consequência, mas como um de seus elementos, o sentimento correspondente de adoração, deleite, desejo e complacência [contentamento]."8

    É tão antigo como o estudioso reformado do Novo Testamento, Geerhardus Vos que, no princípio do século 20, reconheceu que nos escritos do apóstolo Paulo há um tipo espiritualizado de Hedonismo.

    Obviamente não se pretende negar que, para Paulo, esse tipo de Hedonismo espiritualizado transfigurado, se alguém prefere assim chamá-lo, difere da atitude específica perante a vida que entrou na filosofia grega com esse nome técnico. Sem isso, nada é possível. Nem mesmo uma experiência cristã muito refinada e o cultivo religioso... Agostinho fala sobre isso em suas Confissões, usando estas palavras: "Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas só àqueles que desinteressadamente vos servem: essa alegria sois vós. A vida feliz consiste em nos alegrarmos para vós, sobre vós e por causa de vós". Conf. X, 22.9

    É tão antigo como o grande C. S. Lewis, que morreu no mesmo dia que John F. Kennedy e teve uma enorme influência em como eu experimento a natureza em atitude de adoração.10

    Os prazeres são feixes de luz no modo como atingem nossa sensibilidade... Mas não há prazeres maus e ilegais? Certamente que sim. Mas quando os chamamos de prazeres maus entendo que usamos um tipo de código. O que queremos dizer é que são prazeres obtidos por atos ilegais. O que é mau é roubar maçãs, e não a doçura delas. A doçura ainda é um raio de luz... Desde então... tenho tentado fazer com que todo prazer seja um canal de adoração. Não apenas agradecendo por ele. Claro que devemos dar graças, mas quis dizer algo diferente... A gratidão exclama, de forma apropriada: Como foi bom Deus ter-me dado isso. A adoração diz: Como deve ser o atributo desse cujas centelhas distantes e fugazes são assim! A mente do indivíduo corre de volta ao sol através de sua luz... Se isso é Hedonismo, é também uma disciplina um tanto árdua. Mas vale o esforço."11

    Lewis teve tanta influência em meu entendimento sobre a alegria, o desejo, o dever e a adoração que acrescentarei outra citação dele como tributo à grandeza da sua sabedoria. Espero que meu entusiasmo por Lewis faça com que você o leia, se ainda não o fez. Ele, é claro, tinha suas falhas, mas poucas pessoas no século 20 tiveram olhos para ver o que ele viu. Por exemplo, poucos viram, como ele viu, o lugar adequado do dever e do deleite:

    Contanto que a coisa seja correta em si, quanto mais a pessoa a aprecia e quanto menos ela precisa tentar ser boa, melhor. O homem perfeito nunca agiria impulsionado pelo senso do dever; ele sempre desejaria a coisa certa mais do que a errada. O dever é apenas um substituto do amor (por Deus e por outras pessoas), como uma muleta, que é um substituto para uma perna. A maioria de nós precisa da muleta em alguns momentos; mas, claro, é tolice usar a muleta quando temos nossas próprias pernas (nossos próprios amores, gostos, hábitos, etc.) para caminhar!12

    O motivo pelo qual citei todos esses testemunhos é que muitas pessoas, com boas razões, estão sendo convencidas de que o Hedonismo Cristão é uma vida cristã simples, antiga, histórica, bíblica e radical e não uma técnica espiritual nova. Estão descobrindo que Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele. O que significa que estão descobrindo que os seus desejos, e não apenas as suas decisões, têm importância real. A glória de Deus está em jogo. E muitos, em pranto, desejam saber: O que eu faço quando não desejo Deus? Se Deus permitir, gostaria de ajudar.

    A jornada para a alegria não será fácil

    Levo essa tarefa a sério. Nossa jornada neste livro não será num território fácil de se cruzar. Há perigos por todos os lados. Os desejos e os deleites espirituais não são mercadorias que podemos vender ou comprar. Não são objetos que podemos manejar. Eles ocorrem na alma. São experiências do coração. Eles têm ligações e causas em centenas de direções. São interligadas com o corpo e o cérebro, mas não são limitadas ao aspecto mental ou físico. O próprio Deus, sem corpo ou cérebro, experimenta uma gama completa de sentimentos espirituais – amor, ódio, alegria, ira, zelo, etc. No entanto, nossos sentimentos são influenciados por nosso corpo e nosso cérebro. Ninguém, a não ser Deus, pode sondar a profundeza dessas coisas. É um abismo o pensamento e o coração de cada um deles (Sl 64.6); não é só um abismo profundo como também depravado: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jr 17.9).

    Assim, a resposta para a pergunta O que devo fazer quando não desejo Deus? não é simples. Mas é fundamental. O apóstolo Paulo disse: Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema (1Co 16.22). O amor não é uma mera decisão de colocar o corpo ou o cérebro em funcionamento. O amor é também uma experiência do coração. Então os riscos são muito altos. Cristo deve ser amado e não apenas escolhido. A alternativa é ser anátema. Sendo assim, a vida é séria. E este livro também.

    O alvo não é afofar as almofadas, mas suportar o sacrifício

    O mal-entendido que desejo evitar a qualquer preço é que estou escrevendo este livro para fazer os cristãos ocidentais abastados se sentirem confortáveis, como se a alegria que tenho em mente fosse o glacê psicológico do bolo de um cristianismo já superficial. Assim, permita-me dizer de forma clara desde já que a alegria sobre a qual escrevo com propósito de despertar é a força sustentadora da misericórdia, da missão e do martírio.

    Enquanto escrevo este parágrafo, cristãos estão sendo mutilados até a morte nos arredores de Kano, Nigéria. Ontem, um executivo americano de 26 anos foi decapitado no Iraque por terroristas. Por que ele? Parece que ele estava no lugar errado, na hora errada. Esse tipo de morte irá aumentar principalmente para os cristãos. No Sudão, os cristãos ficam sem água sistematicamente enquanto morrem de sede e de desnutrição. Eles tentam, em desespero, chegar até aos poços e são defrontados com homicídio, estupro ou sequestro. Todos os meses recebemos notícias sobre a destruição de igrejas cristãs e o aprisionamento de pastores na China. Na última década, mais de quinhentas igrejas cristãs foram destruídas na Indonésia. Os missionários correm perigo em todo o mundo.

    Quando faço a pergunta O que devo fazer quando não desejo Deus? estou fazendo a pergunta Como posso obter ou recuperar uma alegria em Cristo que é tão profunda e forte que me libertará da escravidão do conforto e da segurança ocidentais e que me impelirá para sacrifícios de misericórdia e missões, e me sustentará frente ao martírio?. A perseguição é algo normal para o cristão. ... todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3.12). Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-nos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo (1Pe 4.12). Através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus (At 14.22).

    No Novo Testamento, essa séria verdade não diminui o foco na alegria – ela o aumenta. "... nos gloriemos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança (Rm 5.3). Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem... Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus (Mt 5.11-12). Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1.2-3). Eles se retiraram do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome" (At 5.41).

    A batalha pela alegria em Cristo não é uma luta para afofar as almofadas do conforto ocidental. É uma batalha para termos força para vivermos uma vida de amor sacrificial. É uma luta para nos unirmos a Jesus no caminho para o Calvário e permanecermos ali com ele, apesar de tudo. Como ele suportou aquele caminho? Hebreus 12.2 responde: "Em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz. A chave para a perseverança na causa do amor sacrificial não é uma força de vontade heroica, mas uma confiança profunda e inabalável de que a alegria que experimentamos na comunhão com Cristo não irá nos decepcionar na morte. No Novo Testamento, os sacrifícios que estavam presentes no caminho do amor não eram sofridos por força de vontade, mas suportados por meio de uma alegre esperança. ... não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável" (Hb 10.34).

    O objetivo deste livro não é aliviar a consciência da bem-sucedida realização ocidental. O alvo é evidenciar a capacidade do amor de sofrer perdas sacrificiais de propriedade, de segurança e de vida pelo poder da alegria no caminho do amor. O alvo é que Jesus Cristo seja conhecido em todo o mundo como o Tesouro todo-poderoso, e totalmente sábio, justo, misericordioso e agradável do universo.

    Isso acontecerá quando os cristãos não apenas disserem que Cristo é valioso ou que cantarem que Cristo é valioso, mas quando experimentarem, de fato, o incomparável valor de Jesus no coração com tanta alegria a ponto de dizerem: Considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor (Fp 3.8). Cristo será glorificado no mundo quando os cristãos estiverem tão satisfeitos com ele que abram mão de bens e

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