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A paixão de Deus por sua glória: Brado de vitória
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A paixão de Deus por sua glória: Brado de vitória
E-book372 páginas8 horas

A paixão de Deus por sua glória: Brado de vitória

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Sobre este e-book

Em sua obra O fim para o qual Deus criou o mundo, o grande teólogo Jonathan Edwards proclamou que o objetivo principal de Deus é a manifestação de sua glória na maior felicidade de suas criaturas.

O pastor John Piper dedicou os últimos trinta anos de seu ministério a explorar as implicações dessa maravilhosa verdade para a vida e o ministério. Entender que Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele tem feito toda a diferença para John Piper, e pode transformar sua vida também.

Edwards disse essa verdade de modo mais claro do que qualquer outro em seu tempo. Sua inexorável centralidade em Deus e sua devoção à exposição da doutrina bíblica são extremamente necessárias hoje para contrabalançar o pragmatismo e o relativismo pós-modernos. Sua visão radicalmente centrada em Deus tem grande relevância para a transformação da cultura atual e para a evangelização do mundo. Além disso, sua visão moral pode fazer muito para reformar o evangelicalismo contemporâneo.

Piper demonstra aqui, de maneira apaixonada, quão importantes são os ideais de Edwards para a vida pessoal e pública dos evangélicos modernos por meio de sua extensa introdução a essa incomparável obra de Edwards, cujo texto segue integralmente, acompanhado de um grande número de notas explicativas. O resultado é uma poderosa e persuasiva apresentação das coisas que mais importam na vida cristã.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de abr. de 2023
ISBN9786559892303
A paixão de Deus por sua glória: Brado de vitória

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    A paixão de Deus por sua glória - John Piper

    PARTE UM



    Um encontro pessoal com

    Jonathan Edwards



    John Piper

    1

    O fim para o qual Deus

    criou o mundo –

    Por que publicar um livro antigo?


    Um interesse pessoal e público

    A mensagem de Jonathan Edwards em O fim para o qual Deus criou o mundo é de interesse extremamente pessoal para mim e de grande relevância pública. Essa obra apresenta uma visão de Deus que me cativou trinta anos atrás e colocou a sua marca em todas as áreas da minha vida e do meu ministério. Mais importante do que a minha experiência, porém, é a importância enorme da visão de Edwards acerca de Deus para o público mais amplo dos dias atuais.

    SEÇÃO UM

    Uma tragédia norte-americana

    Jonathan Edwards é um dos grandes pais do Cristianismo evangélico nos Estados Unidos. No entanto, como Mark Noll observa, infelizmente a visão teocêntrica enfatizada por Edwards exerceu uma influência pequena na história dos evangélicos protestantes.¹ Há certas razões para isso. Em parte, essa falta de expressividade se deve ao fato de a nossa cultura como um todo se mostrar inóspita a uma visão tão radicalmente teocêntrica da vida. Noll argumenta que, desde o tempo de Edwards, 250 anos atrás,

    os evangélicos não pensam mais na vida acima da terra como cristãos, pois a sua cultura como um todo deixou de fazê-lo. A piedade de

    Edwards teve continuidade na tradição do reavivamento, e a sua teologia teve continuidade no calvinismo acadêmico, mas não há sucessores para a sua visão de mundo teocêntrica e a sua filosofia profundamente teológica. É uma tragédia o desaparecimento da visão de Edwards da história cristã norte-americana. ²

    Insuperável em grandeza teológica

    Por isso, a publicação de O fim para o qual Deus criou o mundo é de interesse cultural, religioso e evangélico. Concordo com Noll, segundo o qual esse livro de Edwards (com True Virtue [A verdadeira virtude])³ é, possivelmente, o melhor lugar para encontrar tanto a visão arrebatadora da glória divina quanto o empenho humano necessário para assimilar essa visão.⁴ David Brand também é da mesma opinião em sua obra Profile of the Last Puritan [Perfil do Último Puritano]. Em suas palavras, O fim para o qual Deus criou o mundo é uma obra que considero insuperável em grandeza teológica. ⁵

    Minha oração é para que a igreja evangélica de hoje possa contemplar com reverência essa visão arrebatadora da glória divina, declarada com grandeza teológica em O fim para o qual Deus criou o mundo. Esse é um dos motivos pelos quais me propus a publicar o livro de Edwards na segunda parte desta obra.

    Difícil e útil para pragmáticos impacientes

    Os obstáculos no caminho de contemplar essa visão são assustadores, mas promissores. São assustadores, pois, como Noll sugeriu, o empenho humano necessário para assimilar essa visão é monumental. Trata-se de uma obra de difícil leitura. Ela era difícil de ler em sua época ⁶ e o é ainda mais nos dias de hoje. Os ocidentais em geral (e os evangélicos são pouco diferentes nesse sentido) não são dados a muita reflexão, muito menos ao nível de reflexão que Edwards exige de nós. Isso se aplica especialmente à doutrina. Somos pragmáticos; exigimos soluções rápidas e definimos o sucesso em quantidades mensuráveis. Temos pouca paciência com a precisão doutrinária. E nós, pastores, que fomos contaminados pelo vírus do pragmatismo, temos a tendência de justificar a nossa indiferença para com a doutrina atribuindo-a, especialmente, ao fato de que esse tipo de reflexão não constitui o que o nosso público quer. Além disso, é desgastante para os relacionamentos.

    As recentes lamentações⁷ a respeito do movimento do evangelicalismo em direção a um Cristianismo pragmático, doutrinariamente indefinido, voltado apenas para o seu público e negligente em sua crítica à cultura são, a meu ver, justificadas e necessárias, apesar do fato de, no nível acadêmico profissional, terem ocorrido avanços extraordinários nos últimos cinqüenta anos.⁸ De modo geral, e também com referência às forças dominantes que modelam a fé evangélica, a crítica de Harry Blamires de 1963 é, provavelmente, mais verdadeira do que nunca: Não existe uma mentalidade cristã ... a mentalidade cristã sucumbiu ao movimento secular com uma fraqueza nunca antes vista na história do Cristianismo. ⁹

    O descaso crescente para com a verdade e os absolutos morais ¹⁰ na nossa cultura, ao mesmo tempo em que uma diversidade agressiva ameaça todas as convicções firmes, influencia de maneira dramática a mentalidade evangélica. Os políticos que distorcem os fatos e se especializam em desviar a atenção da verdade para os sentimentos, relacionamentos e estilos têm seus correlatos na tendência evangélica de evitar controvérsias doutrinárias ao propor as questões com base em conduta e método, e não de veracidade. Os desentendimentos mais sérios são encobertos, enquanto uma linguagem ambígua e interesses pragmáticos preservam uma união superficial à custa da essência teológica e da pureza e do poder bíblicos.

    Uma voz de lamento vinda do Sri Lanka

    A lamentação pelo esvaziamento pragmático das convicções evangélicas pode ser sentida com intensidade incomum quando se trata não apenas da elite intelectual, mas também de uma pessoa como Ajith Fernando, líder do movimento Mocidade para Cristo, no Sri Lanka. Além de apresentar a verdade sem qualquer artifício em suas palestras ao redor do mundo, ele também trabalha entre os pobres e testemunhou com tristeza profunda as mortes causadas pela insurreição que, só no ano de 1989, fez cinqüenta mil vítimas no seu país. Ao comentar esse período, Fernando diz simplesmente: lutei muito contra o desespero ao longo daquele ano.¹¹

    De acordo com ele, as forças para prosseguir vieram da verdade e, nesse contexto, ele lamenta o que vê acontecer no Ocidente: O evangelicalismo ocidental sofreu uma mudança radical, em função da qual o pragmatismo tem substituído a verdade como principal influência sobre o pensamento e a vida. Os evangélicos estão trilhando um caminho suicida. O que lhe dá ânimo é ouvir certas vozes se levantando, mas, ainda assim, ele comenta: Sinto, porém, que muitos líderes evangélicos se encontram de tal modo envolvidos e cegados pela escravidão do pragmatismo que, mesmo ao apoiarem com sinceridade os apelos para a volta a uma dependência maior da verdade, esse apoio não tem qualquer impacto significativo em seus estilos de ministério e estratégias.¹² Falta a paciência necessária para tratar dos pormenores das proposições bíblicas que contêm a doutrina preciosa e vivificadora.

    Muita humanidade, pouca divindade

    Jonathan Edwards possuía um discernimento profundo dessa situação diretamente ligada à ausência do teocentrismo: Um dos grandes motivos pelos quais os pontos especulativos [da doutrina] são considerados tão irrelevantes é o fato de que a religião moderna consiste de pouco respeito pelo Ser divino e quase inteiramente da benevolência em relação aos homens. ¹³Em outras palavras, a enfermidade que precisa ser curada é o principal empecilho para a cura.

    Isso significa que o estilo magnífico [de Jonathan Edwards] de sentir e pensar não corresponde ao nosso estilo e é inteiramente estranho ao nosso modo de vida.¹⁴A seriedade absoluta de Edwards – sua austeridade entranhada, como Thomas Chalmers a caracterizou – o torna fora de sincronia com a nossa espiritualidade loquaz, informal, caprichosa e voltada para o entretenimento.¹⁵A percepção de Edwards da condição desesperadora da humanidade sem Deus é tão intensa que chega a nos tirar o fôlego. H. Richard Niehbur comentou que a consciência de Edwards a respeito da precariedade da vida o colocou numa categoria à parte: Ele entendeu aquilo que Kierkegaard quis dizer quando descreveu a vida como caminhar sobre águas de dez mil braças de profundidade.¹⁶

    Precisamos de muito mais do que Benjamin Franklin

    Porém, justamente nesse ponto, as dificuldades intimidantes de compreender a grande visão de Edwards acerca de Deus podem dar lugar à esperança. É possível que o empobrecimento teológico da igreja norte-americana, a precariedade da vida e o esgotamento da superficialidade bem-sucedida tornem a voz de Jonathan Edwards mais atraente do que foi considerada durante séculos.

    Não foram poucos os que demonstraram essa esperança ao contrastar a influência de Edwards com a do seu contemporâneo Benjamin Franklin. Randall Stewart argumenta:

    Franklin nos colocou no caminho que nos conduziu ao paraíso das invenções e das engenhocas modernas. Porém, agora que está se tornando assustadoramente claro que toda essa tecnologia não é capaz de nos salvar, e que ela pode muito bem nos destruir ... agora que o pára-raios de Franklin começa a parecer, em certo sentido, como um símbolo patético de orgulho e inadequação humanos, enquanto o esquadrinhamento da alma proposto por Edwards parece mais penetrante para esta geração de leitores do que, talvez, jamais tenha parecido antes, é possível que Edwards ainda se revele, que já esteja se mostrando o mais verdadeiramente útil dos dois.¹⁷

    Perry Miller, que afirmou não compartilhar a fé de Edwards, via a nossa condição de maneira semelhante: "[Edwards] nos faz lembrar que, embora a nossa civilização tenha escolhido vagar pelas campinas mais agradáveis para as quais Franklin nos convidou, há certas ocasiões em que, em função dos desastres ou do autoconhecimento, a ciência aplicada e The Way to Wealth [O caminho para a riqueza] de Benjamin Franklin parecem não ser uma filosofia adequada para a vida de nossa nação".¹⁸ Diante do início do século 21, essa declaração, feita em 1949, me parece o mais absoluto eufemismo. O pragmatismo de Franklin está teologicamente, moralmente e espiritualmente falido. É possível que justamente essa falência cultural desperte os evangélicos da insensatez da imitação.

    Edwards versus A Inteligência Humana Esclarecida

    No apogeu do otimismo do século 19, Oliver Wendell Holmes zombou das convicções de Edwards, considerando-as

    não apenas falsas, não apenas absurdas, mas ... forças desordenadoras em meio ao mecanismo do pensamento. À luz da atualidade, o sistema de Edwards parece, em todos os sentidos, não-civilizado, materialista e pessimista. Se ele tivesse vivido cem anos depois e respirado o ar da liberdade, não teria sido capaz de escrever tais barbaridades do velho mundo ... A verdade é que todo o [seu] sistema de crenças ... está desaparecendo aos poucos da inteligência humana esclarecida e, dificilmente, temos condições de perceber a tirania que essas idéias exerceram sobre muitas das mentes mais poderosas.¹⁹

    A visão de Edwards não desapareceu. Ela está sendo resgatada e reconsiderada mais extensivamente e com mais vigor atualmente do que, talvez, em qualquer época desde o seu próprio tempo.²⁰ O motivo pelo qual Oliver Wendell Holmes desprezou Edwards e o motivo pelo qual há esperança de que nós não façamos o mesmo é que o nosso século demonstrou como a inteligência humana esclarecida de Holmes tem gerado as maiores perversidades globais já perpetradas na história da humanidade. Como Mark Noll comenta: Uma vez que grande parte do século 20 foi um período tão [sombrio], talvez estejamos em condições de ouvir Edwards mais claramente do que a geração progressista de Holmes.²¹ Em outras palavras, nesse caso, a enfermidade pode tornar a cura inteligível.

    C. S. Lewis e a necessidade dos livros antigos

    C. S. Lewis apresenta outro motivo pelo qual podemos considerar nossos dias cada vez mais sombrios como uma oportunidade auspiciosa para O fim para o qual Deus criou o mundo. Lewis nasceu em 1898 e morreu no mesmo dia que John F. Kennedy, em 1963. Sua vida foi praticamente coextensiva com o século 20 até então. Com base nessa perspectiva, Lewis afirmou: Vivi cerca de sessenta anos comigo mesmo e com o meu próprio século e não estou tão encantado com nenhum dos dois a ponto de não desejar qualquer vislumbre do mundo além de ambos.²² Certamente, e se ele tivesse vivido até o final do século, teria se sentido ainda menos enlevado com esse período.

    Lewis prossegue para ressaltar que quer e precisa ler livros de fora do seu século. Seus motivos podem despertar o interesse dos mais eruditos pela leitura de Jonathan Edwards.

    Há uma idéia estranha no exterior de que, a respeito de todos os assuntos, os livros antigos devem ser lidos apenas por profissionais e de que o amador deve se contentar com os livros modernos ... Essa preferência equivocada pelos livros modernos e essa desconfiança dos antigos se mostram mais evidentes ainda na teologia ... Para mim, isso parece um tanto confuso. É natural que, por ser um escritor, não desejo que o leitor se abstenha dos livros modernos. Porém, se o leitor tivesse de escolher entre ler apenas os livros novos ou apenas os antigos, eu aconselharia que lesse os antigos ... Eis uma boa regra a ser seguida: depois de ler um livro novo, leia sempre um livro antigo antes de passar para outro novo. Se isso lhe parecer um pouco demais, procure ler pelo menos um livro antigo para cada três novos ... Nós todos ... precisamos de livros que corrijam os erros característicos do nosso próprio período. E isso significa os velhos livros ... Podemos estar certos de que a cegueira característica do século 20 ... encontra-se onde menos suspeitávamos ... Nenhum de nós é capaz de escapar inteiramente dessa cegueira ... O único paliativo é permitir que a brisa pura do mar dos séculos continue soprando em nossa mente, o que só pode ser feito com a leitura de livros antigos.²³

    Caso Lewis esteja certo, o exotismo da grandeza de Edwards é um motivo extremamente promissor para ler seus escritos. Por certo, o seu estilo é transcendente, enquanto o nosso tende a ser mundano e coloquial. Seu raciocínio é complexo, enquanto o nosso tende a ser rudimentar. Sua visão da realidade é firmemente teocêntrica, enquanto a nossa tende a ser antropocêntrica, atentando apenas ocasionalmente para Deus. Edwards é implacavelmente sério; a nossa tendência é buscar um tom mais despreocupado e bem-humorado. Ele se concentra inteiramente na verdade e aprecia os contornos da doutrina; a nossa tendência é nos concentrar nos sentimentos e considerar com suspeita a idéia de que a doutrina pode ser delineada. Porém, apesar de tudo isso – e, como Lewis diria, por causa de tudo isso – todo esforço dedicado à leitura de Edwards valerá a pena.

    Mortimer Adler e a necessidade de ler livros difíceis

    Mortimer Adler usaria outro argumento para nos persuadir. Em seu clássico How to Read a Book [Como ler um livro], ele argumenta com toda veemência que os livros que expandem a nossa compreensão da verdade e nos tornam mais sábios devem dar a impressão de ser, em princípio, difíceis demais para nós. Eles devem exigir certas coisas de você. Devem lhe parecer além da sua capacidade.²⁴ Se um livro é fácil e se encaixa confortavelmente nas nossas convenções de linguagem e formas de pensamento, é provável que a sua leitura não produza qualquer crescimento expressivo. A leitura pode ser agradável, mas não promove o desenvolvimento da nossa compreensão. São os livros difíceis que contam. É fácil rastelar, mas o resultado é só um monte de folhas; cavar é difícil, mas o resultado pode ser uma porção de diamantes.

    Os cristãos evangélicos que crêem que Deus se revela principalmente por meio de um livro, a Bíblia, devem ansiar por ser os leitores mais competentes de todos. Isso significa que devemos ter o desejo de nos tornar pensadores lúcidos, perspicazes e imparciais, pois toda boa leitura envolve questionamento e reflexão.²⁵ Esse é um dos motivos pelos quais a Bíblia nos ensina: "Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos (1Co 14.20). É por isso que Paulo diz a Timóteo: Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as coisas" (2Tm 2.7). A dádiva divina do entendimento é concedida por meio do pensamento, e não como substituta deste.²⁶

    Adler ressalta o seu apelo por um maior esforço para a leitura de grandes livros com a advertência de que esse exercício mental pode prolongar a vida e a televisão pode ser mortal.

    Assim como os músculos, quando a mente não é usada, pode atrofiar ... Trata-se de uma penalidade terrível, pois há evidências de que a atrofia da mente é uma doença mortal. Parece não haver qualquer explicação para o fato de que tantas pessoas ativas morrem logo depois que se aposentam ... A televisão, o rádio e todas as fontes de entretenimento e informação que nos cercam em nossa vida diária ... são acessórios superficiais. Podem nos dar a impressão de que a nossa mente está ativa, pois exigem que reajamos a estímulos exteriores. No entanto, o poder desses estímulos exteriores de nos manter ativos é limitado. Eles são como drogas. Nós nos acostumamos com eles e precisamos sempre de doses cada vez maiores até que, por fim, eles acabam perdendo o efeito.²⁷

    A escalada valerá a pena

    Fazer um esforço para ler Jonathan Edwards só para viver mais tempo seria uma grande ironia. Seu objetivo não é nos ajudar a conquistar a longevidade, mas sim nos ajudar a viver para Deus e para sempre. E, uma vez que a nossa cultura inebriada pela mídia não é dada a pensar nem a se esforçar para se aproximar de Deus, o desafio do leitor em potencial dos escritos de Edwards é dobrado. O fim para o qual Deus criou o mundo talvez se mostre uma fonte de vida em mais sentidos do que podemos imaginar – com isso, torna-se uma montanha ainda mais alta de se escalar e faz todo o esforço da escalada valer ainda mais a pena.

    A tentativa de fazer uma Revolução Copernicana como a de Lutero

    Meu desejo ao apresentar todos esses argumentos é convencê-lo a ler e entender O fim para o qual Deus criou o mundo, de Jonathan Edwards. Ao ser conhecida e compreendida, a relevância pública dessa visão de Deus poderá marcar época. Mark Knoll compara o empenho de Edwards no seu livro ao objetivo de Martinho Lutero, que virou o mundo de cabeça para baixo ao colocar Deus de volta no seu devido lugar. A obra de Edwards procura, no século 18, realizar aquilo que Philip Watson descreveu como a maior preocupação de Lutero no século 16 – promover uma ‘Revolução Copernicana’ teológica na qual os instintos antropocêntricos são transformados num retrato teocêntrico da realidade.²⁸

    Edwards se mostra mais forte onde nós somos mais fracos. Ele conhece a Deus. Ele vê e sente a supremacia de Deus em todas as coisas. Nossa cultura está morrendo pela carência dessa visão e desse alimento. E, portanto, a publicação de O fim para o qual Deus criou o mundo é de grande relevância pública.

    SEÇÃO DOIS

    Um interesse pessoal

    A publicação de O fim para o qual Deus criou o mundo também é de interesse extremamente pessoal para mim. Como eu disse no início, a visão de Deus apresentada nesse livro me encantou trinta anos atrás e deixou a sua marca em todas as áreas da minha vida e do meu ministério. Eu amo a sua mensagem e creio nela. Meu motivo pessoal para tornar esse livro mais acessível é colaborar com Deus na busca pelos fins irresistíveis para os quais ele criou o mundo. Esses fins, como Edwards diz, são, em primeiro lugar, o engrandecimento da glória de Deus no universo e, em segundo lugar, o regozijo do povo remido de Cristo de todas as eras e nações em Deus acima de todas as coisas.

    A glória de Deus manifesta na alegria dos santos

    Porém, a profundidade, a maravilha e o poder desse livro são a demonstração de que esses dois fins são, na verdade, um só. O regozijo de todos os povos em Deus e a exaltação da glória de Deus são um único fim, e não dois. O motivo para isso, o modo em que isso é possível e a diferença que isso faz são o cerne deste livro, da minha vida e da teologia de Jonathan Edwards. O primeiro biógrafo de Edwards descreveu O fim para o qual Deus criou o mundo da seguinte maneira: "Partindo dos princípios mais puros da razão, bem como da fonte da verdade revelada, ele demonstra que o fim maior e último do Ser Supremo, nas obras da criação e na providência, é a manifestação da sua glória na felicidade maior das suas criaturas".²⁹

    A manifestação da sua glória na felicidade maior das suas criaturas. Quase tudo o que prego, escrevo e faço é influenciado por esta verdade: a demonstração da glória de Deus e a alegria mais profunda da alma humana são uma coisa só. Trata-se de uma busca que se estende por trinta anos, desde que fui despertado para essa visão por C. S. Lewis³⁰e Daniel Fuller.³¹ A busca continua. Porém, ao longo do tempo, o meu guia mais experiente e confiável no Himalaia das Escrituras Sagradas tem sido Jonathan Edwards. Em suas palavras: O fim da criação é que esta possa glorificar [a Deus]. Mas o que é a glorificação de Deus senão um regozijo com a glória que ele tem demonstrado?³² A alegria das criaturas consiste em se regozijar em Deus, e por meio disso Deus também é engrandeci-do e exaltado.³³

    As implicações dessa visão são extensas. Depois de passar trinta anos buscando os caminhos mais elevados da revelação escrita de Deus, eu sinto como se estivesse apenas começando a respirar o ar dessa realidade sublime. A fim de que você não precise escavar todas essas implicações por sua conta, a seguir mencionarei quinze exemplos. Convém ter em mente o tempo todo aquilo que estou ilustrando. Quanto mais subimos nos pensamentos revelados de Deus, tanto mais claramente vemos que o objetivo de Deus ao criar o mundo foi demonstrar o valor da sua glória e que este objetivo não é outra coisa senão a infindável e sempre crescente alegria do seu povo nessa glória.

    De que modo Edwards expressa isso?

    Deixemos que, mais uma vez, o próprio Edwards se explique com referência a essa questão. De que maneira a glória de Deus e a nossa alegria estão relacionadas? Edwards responde de várias maneiras:

    Ao buscar a sua glória, Deus busca o bem das suas criaturas, pois a emanação da sua glória ... implica a ... excelência e a felicidade das suas criaturas. E, ao comunicar a elas a sua plenitude, ele o faz por si mesmo, pois o bem delas, que ele busca, se encontra em total união e comunhão com ele. A excelência e a felicidade das criaturas não passam de uma emanação e expressão da glória de Deus. Ao buscar a glória e a felicidade delas, Deus busca a si mesmo e, ao fazê-lo, ou seja, ao buscar a si mesmo difuso e expressado ... ele busca a glória e a felicidade delas.³⁴

    Assim, é fácil compreender de que maneira Deus busca o bem da criatura ... e até mesmo a sua felicidade, em razão de uma deferência suprema por si mesmo, uma vez que sua felicidade é decorrente ... [do fato de a] criatura exercitar uma deferência suprema para com Deus ... ao contemplar a glória de Deus, estimá-la e amá-la e regozi-jar-se nela.³⁵

    A deferência de Deus pelo bem da criatura e sua deferência por si mesmo não é dividida, mas sim unida, uma vez que o seu objetivo – a felicidade da criatura – é a felicidade da união da criatura com ele.³⁶

    Assim, a demonstração da glória de Deus e a alegria mais profunda da alma humana são uma coisa só. As implicações dessa verdade são extremamente empolgantes. Menciono quinze exemplos resumidos, como se fossem pequenas sementes. Qualquer um deles pode se tornar um grande carvalho com ramos extensos.

    Duas grandes paixões que não são conflitantes

    Implicação nº 1. A paixão de Deus por sua glória e sua paixão por minha alegria nele não são conflitantes. A justiça³⁷ de Deus não é inimiga da sua misericórdia. Seu compromisso de resguardar a excelência do seu nome não me condena à destruição, apesar de eu haver sujado o seu nome com a minha indiferença e desconfiança. Antes, na morte de seu Filho, Jesus Cristo, Deus levou a cabo o seu plano para vindicar a sua justiça e justificar o pecador num só ato. Assim, o seu zelo por ser glorificado e seu zelo por salvar os pecadores são uma coisa só.³⁸

    Deus tem um compromisso com a alegria dos santos

    Implicação nº 2. Portanto, Deus tem um compromisso tão sério com a minha alegria eterna e crescente quanto com a sua própria glória. Esse fato nos permite vislumbrar a sólida subestrutura teológica de algumas das promessas mais maravilhosas da Bíblia – aquelas que afirmam que Deus usa de zelo onipotente para fazer o bem a nós. 2 Crônicas 16.9, por exemplo, diz: Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele. Ou, nas palavras do Salmo 23.6, Bondade e misericórdia certamente me seguirão de perto ³⁹ todos os dias da minha vida (tradução minha). Sofonias 3.17: O Senhor, teu Deus ... se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. Lucas 12.32: Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.⁴⁰

    A essência do amor de Deus por você

    Implicação nº 3. O amor de Deus pelos pecadores não consiste em glorificá-los, mas em lhes dar, em sua graça, a liberdade e a capacidade para se deleitarem em glorificá-lo. Nas palavras de Edwards, Deus é o bem deles. Assim, a fim de nos fazer o bem, Deus deve nos fazer voltar os olhos para a sua excelência, e não para a nossa. O fato de a glória de Deus e a nossa alegria serem a mesma coisa é capaz de destruir radicalmente os conceitos modernos de amor egocêntrico. A graça teocêntrica de Deus anula o evangelho da auto-estima. Hoje, as pessoas costumam se sentir amadas se as exaltamos e as ajudamos a se sentir valorizadas. Elas sentem alegria quando são glorificadas.

    Edwards observa, com uma relevância moderna impressionante: Os verdadeiros santos se agradam, em primeiro lugar, de modo inexprimível ... das coisas de Deus. Porém, a dependência dos sentimentos dos hipócritas se encontra invertida: primeiro se alegram ... com o fato de serem exaltados por Deus; então, com base nisso, Deus lhes parece, de algum modo, amável.⁴¹ Em outras palavras, de acordo com esse conceito, a essência da felicidade é o fato de recebermos permissão para vislumbrar a beleza infinita de Deus e de poder glorificá-lo para sempre. Por certo, os seres humanos valem mais do que pássaros (Mt 6.26), mas essa não é a essência da nossa felicidade. Isso significa apenas que fomos criados para engrandecer a glória de Deus, desfrutando-o de maneira tal como os pássaros jamais serão capazes de fazer.

    Qual é a essência da verdadeira virtude?

    Implicação nº 4. Se a demonstração da glória de Deus e a alegria mais profunda da alma humana são a mesma coisa, toda virtude verdadeira entre os seres humanos deve ter como objetivo levar as pessoas a se regozijarem com a glória de Deus. Nenhum ato é verdadeiramente virtuoso – ou seja, verdadeiramente amoroso – se não for decorrente e não tiver como objetivo o regozijo na glória de Deus. O alicerce dessa verdade é lançado por Edwards em O fim para o qual Deus criou o mundo, mas a sua explicação é apresentada em outra obra, The Nature of True Virtue [A natureza da verdadeira virtude], que Edwards escreveu na mesma época (1755) e que pretendia publicar com O fim num só volume. Em A natureza da verdadeira virtude, Edward diz: Se pudesse haver ... uma causa que levasse uma pessoa a ser benevolente para com a humanidade como um todo ... que não fosse o amor a Deus ... não poderia ser da natureza da virtude verdadeira.⁴²

    Não é difícil encontrar o motivo para essa condenação radical no universo teocêntrico de Edwards: Na medida em que uma mente virtuosa exercita a virtude verdadeira por meio da benevolência para com os seres criados, busca, acima de tudo, o bem da criatura, que consiste no conhecimento ou na capacidade de ver a glória e a beleza de Deus, sua união com Deus, conformidade com ele, amor por ele e deleite nele.⁴³ Em outras palavras, se a glória de Deus é a única realidade no universo que oferece satisfação plena, procurar fazer o bem às outras pessoas sem ter como objetivo lhes mostrar a glória de Deus e despertar nelas a satisfação em Deus seria como tratar uma febre com compressas frias quando se poderia usar penicilina. O apóstolo Paulo adverte: E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado é possível não [ter] amor (1Co 13.3). Em última análise, isso se deve ao fato de o ser humano não ser o centro da verdadeira virtude – Deus é o centro. Assim: Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus (1Co 10.31).

    O pecado é sacrilégio e suicídio

    Implicação nº 5. Segue-se, também, que o pecado é a substituição suicida da glória de Deus pelas cisternas rotas das coisas criadas. De acordo com Paulo, todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.23). Pecar é errar o alvo da glória de Deus. Porém, o termo grego para errar o alvo (husterountai) quer dizer necessitar. A idéia não é que atiramos uma flecha na glória de Deus e essa flecha errou o alvo, mas sim que poderíamos possuir essa glória como tesouro, mas não a temos. Escolhemos outra coisa em seu lugar. Isso confirma Romanos 1.23, ou seja,

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