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Fascinado pela Glória de Deus
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Fascinado pela Glória de Deus
E-book427 páginas7 horas

Fascinado pela Glória de Deus

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Sobre este e-book

Os colaboradores deste livro investigaram o caráter e os ensinamentos do homem que pregou a partir de profunda preocupação com os perdidos e elevada fascinação pela a glória de Deus.

O estudo da vida e obra de Edwards estimulará crentes sonolentos, impelindo-os a enxergar a realidade com as lentes da cosmovisão bíblica.

"Os evangélicos não têm pensado sobre a vida totalmente como cristãos... A piedade de Edwards continuou na tradição reavivalista, a sua teologia continua no calvinismo acadêmico, mas não houve sucessores à sua cosmovisão fascinada pela glória de Deus ou à sua filosofia profundamente teológica. O desaparecimento da perspectiva de Edwards na história cristã foi uma tragédia" (Mark Noll).

Que Deus transforme essa maré trágica, e a Noiva de Cristo, mais uma vez, valorize e proclame essa visão do Cristo exaltado, essa fascinação pela glória de Deus.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de abr. de 2023
ISBN9786559892266
Fascinado pela Glória de Deus

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    Fascinado pela Glória de Deus - John Piper

    Parte Um

    A vida e o legado de Jonathan Edwards

    1

    Uma visão fascinada pela glória de Deus em todas as coisas. Por que precisamos de Jonathan Edwards 300 anos mais tarde

    John Piper

    Uma das razões por que o mundo e a igreja precisam de Jonathan Edwards, 300 anos depois de seu nascimento, é que a sua visão fascinada pela glória de Deus em todas as coisas é raríssima, mas muito necessária. Mark Noll escreveu acerca da raridade dela:

    A piedade de Edwards continuou na tradição reavivalista, a sua teologia continua no calvinismo acadêmico, mas não houve sucessores à sua cosmovisão fascinada pela glória de Deus... . O desaparecimento da perspectiva de Edwards na história cristã americana tem sido uma tragédia.¹²

    O evangelicalismo, hoje, na América, aquece-se gostosamente à luz do sol de um sucesso ameaçadoramente vazio. As indústrias evangélicas de televisão e rádio, das editoras e gravadoras, bem como centenas de crescentes mega igrejas e algumas figuras públicas e movimentos políticos, passam a impressão de vitalidade e força. Mas David Wells, Os Guinness, e outros têm alertado para o esvaziamento do evangelicalismo a partir de dentro.

    O tronco forte da árvore do evangelicalismo tem sido historicamente as grandes doutrinas da Bíblia:

    as gloriosas perfeições de Deus

    a natureza decaída do homem

    as maravilhas da história da redenção

    a magnífica obra da redenção em Cristo

    a obra de salvação e de santificação da graça na alma

    a grande missão da igreja em conflito com o mundo, a carne, e o diabo

    a grandeza da nossa esperança de alegria eterna à direita de Deus

    Essas coisas indescritivelmente magníficas, uma vez definiram quem somos, e foram o tronco e raiz fortes a apoiar as folhas e os frutos frágeis das nossas emoções religiosas e ações morais. Mas esse não é o caso de muitas igrejas, denominações, ministérios e movimentos no evangelicalismo. E é por isso que as folhas oscilantes do atual sucesso evangélico e o doce fruto da prosperidade não são tão promissores quanto podemos pensar. Há um vazio nesse triunfo, e a árvore é fraca mesmo quando os ramos frondosos estão acenando ao sol.

    O que falta é o conhecimento que modela a mente e o gozo absolutamente transformador do peso da glória de Deus. A glória do Deus – santo, justo, totalmente soberano, sábio e bom – está em falta. Deus repousa levemente sobre a igreja da América. Ele não é considerado uma questão de peso. Wells diz sem rodeios: É esse Deus, majestoso e santo em seu ser, esse Deus, cujo amor não conhece limites, pois sua santidade não conhece limites, que desapareceu do mundo evangélico moderno.¹³ É uma declaração exagerada, mas não sem fundamento.

    O que Edwards viu em Deus e no universo por causa de Deus, através das lentes da Escritura, era de tirar o fôlego. Ler Edwards, depois de se recuperar o fôlego, é como respirar o ar raro de um Himalaia de revelação. E o refrigério que se recebe desse ar das alturas, claro, cheio de fascinação por Deus, não elimina os vales de sofrimento neste mundo, mas lhe provê do necessário para passar a vida por lá por causa do amor com invencível alegria e adoração.

    Em 1735, Edwards pregou um sermão sobre o salmo 46.10: Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus. Do texto, ele desenvolveu a seguinte doutrina: Por isso, a mera consideração de que Deus é Deus pode muito bem ser suficiente para aquietar todas as objeções e oposição contra as dispensações da soberania divina.¹⁴ Quando Jonathan Edwards aquietou-se e contemplou a grande verdade de que Deus é Deus, ele viu um ser majestoso, cuja existência pura, absoluta, não causada e eterna implicava poder, sabedoria e santidade infinitos. E assim, ele passou a argumentar deste modo:

    É muitíssimo evidente pelas obras de Deus que o seu conhecimento e poder são infinitos... Sendo assim, infinito em poder e conhecimento, ele também deve ser perfeitamente santo, pois a falta de santidade sempre demonstra algum defeito, alguma cegueira. Onde não há escuridão nem engano, não pode haver falta de santidade... Deus, sendo infinito em poder e conhecimento, deve ser autossuficiente e todo-suficiente; por isso é impossível que ele estivesse sob a tentação de fazer alguma coisa errada, pois não teria uma finalidade em fazê-lo... portanto, Deus é essencialmente santo, e nada é mais impossível de ocorrer do que ele falhar.¹⁵

    Quando Jonathan Edwards se aquietou e reconheceu que Deus é Deus, a visão diante de seus olhos foi a de um Deus absolutamente soberano, autossuficiente em si mesmo e suficiente para suas criaturas, infinito em santidade e, portanto, perfeitamente glorioso, ou seja, infinitamente belo em toda a sua perfeição. As ações de Deus, por isso, nunca são motivadas pela necessidade de suprir as suas deficiências (pois ele não tem nenhuma), mas são sempre motivadas pela paixão de mostrar a sua suficiência gloriosa (que é infinita). Ele faz tudo o que faz – absolutamente tudo – a fim de mostrar sua glória.

    Logo, o nosso dever e privilégio é conformar-nos com o propósito divino na criação, na História e na redenção, ou seja, refletir o valor da glória de Deus, pensar, sentir e fazer tudo o que for preciso para engrandecer o nosso Deus. Nossa razão de ser, a nossa vocação, nossa alegria é a de tornar a glória de Deus visível. Edwards escreve:

    Tudo aquilo que é mencionado nas Escrituras como a finalidade última das obras de Deus está incluído em uma única frase, a glória de Deus... O esplendor brilha sobre e na criatura, e é refletido de volta para a luminária. Os raios de glória vêm de Deus, são algo de Deus e são reintegrados de volta à sua origem. Assim que a totalidade é de Deus e em Deus, e para Deus, e Deus é o começo, meio e fim neste caso.¹⁶

    Esta é a essência da visão fascinada pela glória de Deus que Edwards possuía a respeito de todas as coisas! Deus é o princípio, o meio e o fim de todas as coisas. Nada existe sem que tivesse sido criado por ele. Nada subsiste sem a sustentação da sua Palavra. Tudo tem a razão de sua existência nele. Portanto, nada pode ser entendido à parte dele, e qualquer entendimento de qualquer coisa que o exclua são compreensões superficiais, pois deixam de fora a realidade mais importante do universo. Hoje, mal podemos começar a sentir quanto nos tornamos ignorantes de Deus, porque ele é o próprio ar que respiramos.

    É por isso que eu digo que a visão fascinada pela glória de Deus que Edwards possuía a respeito de todas as coisas não somente é rara, mas também necessária. Se não partilharmos dessa visão, não nos uniremos conscientemente a Deus na finalidade para a qual ele criou o universo. E se não nos juntarmos a Deus em avançar seu objetivo para o universo, então desperdiçaremos as nossas vidas e seremos opositores do nosso Criador.

    Como recuperar a visão fascinada pela glória de Deus que Edwards possuía a respeito de todas as coisas!

    Como, então, vamos recuperar essa visão fascinada pela glória de Deus a respeito de todas as coisas? Praticamente cada capítulo deste livro vai contribuir para essa resposta. Então, eu não tentarei ser abrangente e global. Vou me concentrar naquilo que, para mim, foi a mais poderosa e mais transformadora verdade bíblica que aprendi com Edwards. Eu penso que, se a igreja se agarrar a essa verdade e a puser em prática, irá despertar para a visão fascinada pela glória de Deus que Edwards possuía a respeito de todas as coisas!

    Ninguém, na história da igreja, que eu conheço, com a possível exceção de Agostinho, tem mostrado de maneira mais clara e chocante a importância infinita – e eu uso essa palavra com cuidado – da alegria na essência do significado de Deus ser Deus e do que significa para nós o glorificar a Deus. A alegria sempre me pareceu algo periférico, até que li Jonathan Edwards. Ele simplesmente transformou meu universo colocando a alegria no centro do que significa para Deus ser Deus e o que significa para nós glorificarmos a Deus. Nós nos tornaremos pessoas fascinadas por Deus se virmos a alegria do modo como Edwards a viu.

    A alegria está no centro do que significa para Deus ser Deus glorificado

    Ouça como ele entrelaça a alegria de Deus em ser Deus e a nossa alegria no fato de ele ser Deus.

    Por que Deus preza infinitamente a sua glória, que consiste do conhecimento de si mesmo, do amor de si mesmo... alegria em si mesmo; ele prezou a imagem, a comunicação ou a participação dessas coisas na criatura. E é por prezar a si mesmo que ele se deleita no conhecimento, no amor e na alegria das criaturas; por ser ele próprio o objeto de tal conhecimento, amor e satisfação... [Assim] a complacência de Deus pelo bem da criatura, e sua consideração por si mesmo, não é uma consideração dividida; mas as duas estão unidas em uma, visto que o seu objetivo – a felicidade da criatura – é a felicidade da união da criatura com ele.¹⁷

    Ou seja, para que Deus seja o Deus santo e íntegro que é, deve deleitar-se infinitamente naquilo que é infinitamente deleitável. Deve apreciar com alegria ilimitada o que é mais ilimitadamente agradável; deve ter prazer infinito naquilo que é infinitamente agradável; deve amar com infinita intensidade o que é infinitamente encantador; deve ficar infinitamente satisfeito com o que é infinitamente satisfatório. Se não fosse assim, ele seria uma fraude. Reivindicando ser sábio, seria um tolo, trocando a glória de Deus por imagens. A alegria de Deus em ser Deus é parte do que significa para Deus ser Deus.

    Desça comigo até um nível mais profundo. Edwards deixa isso bem claro ao resumir sua visão espetacular da vida interior da Trindade – ou seja, a vida interior do que é para Deus ser Deus em três pessoas.

    O pai é a divindade que subsiste no auge, sem ter tido uma origem e de forma absoluta, ou a divindade em sua existência direta. O Filho é a divindade [eternamente] gerada pelo conhecimento de Deus, ou tendo uma ideia de si mesmo e subsistindo nessa ideia. O Espírito Santo é a divindade que subsiste em ações, ou a essência divina que flui e exala o amor infinito de Deus e seu prazer em si mesmo. E… a essência divina total subsiste verdadeira e distintamente tanto na ideia divina como no amor divino, e sendo cada um deles pessoas distintas.¹⁸

    Não pode haver no universo uma alegria maior do que essa. Nada pode ser dito sobre a alegria que seja superior ao dizer que uma das Pessoas da Trindade subsiste no ato do deleite de Deus em Deus – a alegria máxima e infinita na Pessoa do Espírito Santo. Quando falamos do lugar da alegria em nossas vidas e na vida de Deus, não estamos de brincadeira. Não estamos tratando do periférico. Estamos lidando com uma realidade infinitamente importante.

    A alegria está no centro do que significa para nós glorificar a Deus

    Portanto, a alegria está no centro do que significa para Deus ser Deus. E veremos agora de que modo ela é a centralidade daquilo que significa glorificar a Deus. Isso está diretamente relacionado à natureza da Trindade. Deus é Pai conhecendo a si mesmo em seu Filho divino, e Deus é Pai que se deleita em si pelo seu Espírito divino. Agora, Edwards faz a conexão de como a alegria de Deus em ser Deus está no centro do modo como nós glorificamos a Deus. O que você está para ler foi para mim o parágrafo mais influente de todos os escritos de Edwards.

    Deus é glorificado em si mesmo destas duas maneiras: 1. Ao revelar-se... em seu entendimento perfeito [de si mesmo], ou no seu Filho, que é o resplendor da sua glória. 2. Ao desfrutar de si mesmo e deleitar-se em si mesmo, fluindo em amor infinito... e deleite para consigo mesmo, ou no seu Espírito Santo... Assim, Deus glorifica a si mesmo em relação às suas criaturas também de duas maneiras: 1. Ao revelar-se... ao entendimento delas. 2. Ao comunicar-se ao coração delas e no regozijo, prazer e alegria que têm nas manifestações divinas que lhes são concedidas pelo próprio Deus... Deus é glorificado não apenas no fato de sua glória ser vista, mas no fato de essa glória ser objeto de deleite. Quando aqueles que a veem se deleitam nela, Deus é mais glorificado do que se eles apenas a veem. Sua glória é, então, recebida alma inteira, tanto pelo intelecto quanto pelo coração. Deus fez o mundo a fim de poder transmitir a sua glória, e fez as criaturas a fim de poderem receber essa glória, não apenas pela mente, mas também pelo coração. Quem proclama a sua ideia da glória de Deus [não] glorifica a Deus tanto quanto quem proclama também a aprovação e o deleite de Deus nessa glória.¹⁹

    As implicações deste parágrafo para toda a vida são imensuráveis. Uma dessas implicações é que a finalidade e o objetivo da criação apoiam-se em conhecermos a Deus com a nossa mente e alegrar-nos nele de coração. O verdadeiro propósito do universo – refletir e mostrar a glória de Deus – firma-se não somente no conhecimento verdadeiro de Deus, mas igualmente na autêntica alegria em Deus. Edwards diz: Deus é glorificado não somente por sua glória ser vista, mas no fato de essa glória ser objeto de deleite.

    Aqui está a grande descoberta que muda tudo. Deus é glorificado quando nos satisfazemos nele. O fim principal do homem não é meramente glorificar a Deus e gozá-lo para sempre, mas é glorificar a Deus ao gozá-lo para sempre. A grande divisão que eu pensei que existisse entre a paixão de Deus pela sua glória e a minha paixão pela alegria, não era nenhuma divisão; se minha paixão pela alegria for paixão pela alegria em Deus. A paixão de Deus pela glória de Deus e a minha paixão pela gozo em Deus são uma coisa só.

    Eu descobri que o resultado disso é um choque para a maioria dos cristãos, ou seja, que devemos ser ardorosos – com seriedade excessiva – quanto a sermos felizes em Deus. Devemos perseguir a nossa alegria com tal paixão e veemência que, se necessário, cortaríamos fora a própria mão ou arrancaríamos nosso olho para tê-la. O fato de Deus ser glorificado em nós está atrelado à satisfação que sentimos nele. O que torna a nossa satisfação nele infinitamente importante. Torna-se a vocação estimuladora da nossa vida. Trememos pelo horror de não nos alegrarmos em Deus. Somos abalados com a indiferença temível de nosso coração. Acordamos para a verdade de que é um pecado traiçoeiro não buscar essa satisfação em Deus com todo o nosso coração. Há uma palavra final para o deleitar-se mais na criação do que no Criador: traição.

    Edwards a expressa da seguinte maneira: Não suponho que seja possível dizer de qualquer pessoa que o seu amor pela própria felicidade... possa estar num nível demasiadamente elevado.²⁰ É claro que a paixão pela felicidade pode estar voltada para as coisas erradas, mas nunca é intensa demais.²¹ Edwards defendeu esse ponto num sermão que pregou em Cântico dos Cânticos 5.1, o qual diz: Comei e bebei, amigos; bebei fartamente, ó amados. Ele extraiu a seguinte doutrina: As pessoas não precisam e não devem fixar limites aos seus apetites espiritual e piedoso. Antes, afirma Jonathan Edwards que as pessoas devem...

    esforçar-se por todos os meios possíveis para inflamar seus desejos e obter mais prazeres espirituais... Nossa fome e sede de Deus, de Jesus Cristo e de santidade nunca serão demais para o valor dessas coisas, porque têm valor infinito... [Por isso] esforcem-se para aumentar o seu apetite espiritual, sintam-se tentados a isso...²² Exagero em nos alimentarmos dessa comida espiritual é coisa que não existe. Não há a virtude da temperança no banquete espiritual.²³

    Eis o que isso levou Edwards a dizer de sua própria pregação e das grandes metas do seu próprio ministério:

    Eu deveria colocar a mim mesmo no caminho do meu dever de elevar os afetos de meus ouvintes ao máximo que eu puder, desde que sejam afetados com nada além da verdade, e com sentimentos que não sejam desagradáveis à natureza daquilo com que são afetados.²⁴

    Afetos incandescentes por Deus, inflamados pela verdade bíblica clara e convincente, era o objetivo de Edwards na pregação e na vida, porque esse é o objetivo de Deus no universo. Isso é o coração da visão fascinada pela glória de Deus a respeito de todas as coisas que Edwards tinha.

    Talvez a melhor maneira de desvendar as implicações dessa visão seja deixar Edwards responder as várias objeções levantadas.

    Objeções a Edwards

    Objeção nº 1: Isso não me torna importante demais com relação à salvação? Não me coloca no fundo do poço da minha alegria e me faz o foco do universo?

    Edwards responde fazendo uma diferenciação muito penetrante entre a alegria dos hipócritas e a alegria do verdadeiro cristão. É uma diferenciação devastadora para os cristãos modernos, porque expõe o erro de definir o amor de Deus como dar muita importância a nós mesmos.

    Esta é... a diferença entre a alegria dos hipócritas e a alegria de um verdadeiro santo. O [hipócrita] alegra-se em si mesmo; seu eu é o primeiro fundamento de sua alegria. O [verdadeiro santo] alegra-se em Deus... A mente dos santos verdadeiros é, em primeiro lugar, indizivelmente feliz e satisfeita com a doce ideia da natureza gloriosa e amável das coisas de Deus. E essa é a fonte de todas as suas delícias e a nata de todos os seus prazeres... Mas a dependência das emoções dos hipócritas está na ordem contrária: primeiro eles se regozijam... por Deus os considerar importantes; e, então, por esse motivo, ele parece estar numa espécie de encantamento por eles.²⁵

    A resposta para a objeção acima é não. O chamado de Edwards para um coração fascinado por Deus não coloca no centro aquele que está enlevado. Coloca Deus no centro. Com efeito, o chamado expõe como idólatra toda a alegria cuja fonte não está, em última instância, em Deus. Como Agostinho orou: Ama-te muito pouco aquele que ama outra coisa junto contigo, a qual ele ama não por tua causa.²⁶

    Objeção nº 2: Essa ênfase no prazer não levará ao centro da corrupção de nossa época, a busca ilimitada de facilidade, conforto e prazer pessoais? Será que tal ênfase não suavizará a nossa resistência ao pecado?

    Muitos cristãos pensam que o estoicismo é um bom antídoto para a sensualidade. Não o é. É irremediavelmente fraco e ineficaz. E a razão por que ele falha é que o poder do pecado vem da sua promessa de prazer e se destina a ser derrotado pela promessa superior do prazer em Deus, e não pelo poder da vontade humana. A religião da força de vontade, quando consegue, recebe a glória para a vontade. Produz legalistas, não pessoas que amam. Edwards viu a impotência dessa abordagem e disse:

    Chegamos com força dobrada contra os ímpios, para persuadi-los a uma vida piedosa... O argumento comum é a lucratividade da religião, mas, infelizmente, os ímpios não estão em busca de lucro; eles buscam o prazer. Agora, então, vamos lutar contra eles com suas próprias armas.²⁷

    Em outras palavras, diz Edwards, a busca do prazer em Deus não é apenas um compromisso com o mundo dos sentidos, mas é o único poder que pode derrotar as concupiscências dos tempos, enquanto produz pessoas que amam a Deus, e não legalistas que se vangloriam de sua força de vontade. Se você ama a santidade, se chora por causa do colapso moral de nossa cultura, rogo-lhe que procure conhecer a cosmovisão de Edwards fascinada pela glória de Deus.

    Objeção nº 3: Com certeza o arrependimento é uma coisa dolorosa e irá ser minado por essa pressão pela busca do nosso prazer. Certamente, o avivamento começa com arrependimento, mas parece que você faz do despertar do prazer o início.

    A resposta a essa objeção é que ninguém pode sentir o coração partido por não valorizar a Deus até que saboreia o prazer de ter Deus como um tesouro. A fim de trazer as pessoas para a tristeza do arrependimento, você deve primeiro levá-las a ver Deus como o seu deleite. Aqui estão as próprias palavras de Edwards:

    Apesar do [arrependimento] ser uma profunda tristeza pelo pecado que Deus requer como necessária para a salvação, ainda assim a sua verdadeira natureza implica necessariamente prazer. O arrependimento pelo pecado é uma tristeza decorrente da visão da excelência e misericórdia de Deus, mas a apreensão da excelência ou da misericórdia deve necessária e inevitavelmente produzir prazer na mente do espectador. É impossível alguém ver alguma coisa que lhe pareça excelente sem vê-la com prazer, e é impossível ser afetado pela misericórdia e o amor de Deus e sua vontade de ser misericordioso para conosco e nos amar, e não ser afetado com o prazer dessa ideia; mas essa é a afeição que gera o verdadeiro arrependimento. Por mais que isso possa parecer um paradoxo; é verdade que o arrependimento é uma doce tristeza, de modo que quanto mais desse sofrimento, tanto mais prazer.²⁸

    Isso é surpreendente e verdadeiro. E se você viveu com Cristo e está consciente do seu pecado interior, descobrirá que é assim mesmo. Sim, não há arrependimento. Sim, há lágrimas de remorso e quebrantamento de coração. Mas eles fluem de um novo sabor da alma pelos prazeres que estão à mão direita de Deus, que até agora têm sido desprezados.

    Objeção nº 4: Certamente, elevar a busca da alegria como algo de suprema importância vai derrubar o ensinamento de Jesus sobre a negação de si mesmo. Como você pode afirmar uma paixão para o prazer como a força motriz da vida cristã e, ao mesmo tempo, abraçar a abnegação?

    Edwards vira essa objeção ao contrário e argumenta que a abnegação não só não contradiz a busca da alegria, mas, na verdade, destrói a raiz do sofrimento. Aqui está a maneira como ele diz.

    A abnegação também será contada entre os problemas dos piedosos... Mas qualquer um que tenha tentado negar a si mesmo pode dizer em seu depoimento que nunca experimentou maior prazer e alegria do que após grandes atos de abnegação. A abnegação destrói a raiz e o fundamento da tristeza, e nada mais é senão a punção de uma grave e dolorosa ferida que traz cura e abundância de saúde como recompensa pela dor da operação.²⁹

    Em outras palavras, toda a abordagem da Bíblia, Edwards diria, é a de nos convencer de que negarmos a nós mesmos os prazeres transitórios do pecado (Hb 11.25) nos coloca no caminho das delícias perpetuamente à mão direita de Deus (Sl 16.11). Não há contradição entre a centralidade de alegria em Deus e a necessidade da autonegação, uma vez que a abnegação Destrói a raiz... de tristeza.³⁰

    Objeção nº 5. Tornar-se cristão traz mais problemas à vida e traz perseguições, censura, sofrimento e até morte. É enganoso, portanto, dizer que a essência de ser cristão é a alegria. Há tristezas esmagadoras.

    Essa seria uma objeção convincente num mundo como o nosso, tão cheio de sofrimento e tão hostil ao cristianismo, se não fosse pela soberania e bondade de Deus. Edwards é inabalável na sua crença bíblica de que Deus designa todas as aflições dos justos para o aumento de sua alegria eterna.

    Ele explica-o de modo tipicamente marcante: A religião [Cristianismo] não traz problemas novos para o homem, senão o que tem mais prazer do que problemas.³¹ Em outras palavras, os problemas que Deus permite na vida dos seus filhos são aqueles que lhes trarão mais prazer do que problemas, quando todas as coisas são consideradas. Ele cita quatro passagens da Escritura. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus (Mt 5.11). Tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1.2-3). E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome (At 5.41). Também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável (Hb 10.34).

    Em outras palavras, sim, tornar-se um cristão acrescenta mais problemas à vida e traz perseguições, censura, sofrimento e até morte. Sim, há tristezas esmagadoras. Mas a busca do prazer infinito em Deus, e a confiança que Cristo o adquiriu para nós, não contradizem tais sofrimentos, mas abrange-os. Por essa alegria e essa esperança, somos capazes de sofrer no caminho do Calvário do ministério, das missões e do amor. Em troca da alegria que lhe estava proposta, Jesus suportou a cruz (Hb 12.2). Ele fixou seu olhar na obtenção da sua alegria. Esse olhar sustentou o maior ato de amor que jamais existiu. O mesmo olhar – a obtenção da nossa alegria em Deus – nos sustentará também. A busca dessa alegria não contradiz o sofrimento; abrange-o. A realização da grande missão global de Cristo exigirá sofrimento. Portanto, se você ama as nações, busque essa visão fascinada por Deus em todas as coisas.

    Objeção nº 6: Onde está a cruz de Jesus Cristo em tudo isso? Onde está a regeneração pelo Espírito Santo? Onde está a justificação pela fé somente?

    Eu não vou responder a essas perguntas aqui, mas sim no sermão reimpresso no primeiro apêndice no final deste livro. Às vezes, as coisas mais preciosas e importantes você guarda para o final.

    Objeção nº 7: Edwards não exalta a virtude do amor desinteressado a Deus? Como poderia o amor a Deus, que é impulsionado pela busca de prazer em Deus, ser chamado de desinteressado?

    É verdade que Edwards usou o amor desinteressadocom referência a Deus.

    Devo deixar que todos julguem por si mesmos... com referência ao ser humano, quão pouco existe desse amor desinteressado de Deus, desse afeto divino, puro, no mundo.³²

    Não há outro amor mais acima do princípio egoísta do que o amor cristão; nenhum amor, que seja tão livre e desinteressado, e no exercício do qual Deus é tão amado pelo que ele é e por sua própria causa.³³

    Mas a chave para compreender seu significado é encontrada na última citação.

    O amor desinteressado para com Deus é amar a Deus pelo que ele é e por sua própria causa. Em outras palavras, Edwards utilizou o amor desinteressado para designar o amor que se deleita em Deus pela sua própria grandeza e beleza, e o distingue do amor que só tem prazer nos dons de Deus. Amor desinteressado não é amor sem prazer. É o amor cujo prazer está no próprio Deus.

    Na verdade, Edwards diria que não há amor a Deus que não seja prazer em Deus. E assim, se houver um amor desinteressado para com Deus, há um prazer desinteressado em Deus. E, na verdade, é exatamente a maneira como ele pensa. Por exemplo, ele diz:

    Assim como é com o amor dos santos, assim também é com a sua alegria, deleite espiritual e prazer: seu primeiro fundamento não é qualquer consideração ou concepção de seu interesse nas coisas divinas, mas consiste principalmente no doce entretenimento que suas mentes desfrutam em vista... e da beleza divina e santa dessas coisas, como elas são em si mesmas.³⁴

    O interesse que exclui não inclui o doce entretenimento. Interesse, significa os benefícios recebidos diferentes do deleitar-se no próprio Deus. E o amor desinteressado é o doce entretenimento ou a alegria de conhecer o próprio Deus.³⁵

    Objeção nº 8: Elevar a alegria para essa posição suprema em Deus e em glorificar a Deus não é se desviar da humildade e quebrantamento que deveriam marcar o cristão? Isso não tem sabor de triunfalismo, a mesma coisa que Edwards reprovava nos excessos do reavivamento de seus dias?

    Poderia ser considerado dessa maneira. Todas as verdades podem ser distorcidas e empregadas erroneamente. Mas se isso acontecer, não será por culpa de Jonathan Edwards. A visão fascinada pela glória de Deus de Jonathan Edwards não torna uma pessoa presunçosa – torna-a mansa. Ouça estas belas palavras sobre a alegria do coração partido.

    Todos os sentimentos graciosos que são um doce perfume para Cristo, e que preenchem a alma de um cristão com uma doçura e fragrância celestiais, são emoções de um coração quebrantado. Um amor verdadeiramente cristão, seja para com Deus ou os homens, é o amor humilde de um coração quebrantado. Os desejos dos santos, embora fervorosos, são desejos humildes: a esperança deles é uma esperança humilde e sua alegria, mesmo quando indizível e cheia de glória, é uma humilde alegria de um coração quebrantado, e deixa o cristão mais pobre de espírito, mais como uma criancinha, e mais disposto a uma humildade universal de comportamento.³⁶

    A cosmovisão fascinada pela glória de Deus de Jonathan Edwards é rara e necessária, porque seus fundamentos são maciços e seu fruto é muito bonito. Que o próprio Senhor possa abrir nossos olhos para vê-la nestes dias juntos e sermos mudados. E já que somos grandes pecadores e temos um grande Salvador, Jesus Cristo, que o nosso lema seja sempre, para a glória de Deus, entristecidos, mas sempre alegres (2Co 6.10).

    2

    Jonathan Edwards.

    Sua vida e legado

    Stephen J. Nichols

    Aqueles propensos a visitar locais históricos são susceptíveis de serem decepcionados quando se trata de locais associados com a vida de Jonathan Edwards. A casa de seu nascimento e dos primeiros anos em East Windsor, Connecticut, não existe mais. Nem sua casa em Northampton, Massachusetts, nem a sua casa em Stockbridge. Na primeira, uma Igreja Católica Romana marca o local, e na última, um relógio de sol está em seu lugar. O prédio da igreja onde Edwards ouviu seu pai pregar em East Windsor foi-se há muito tempo. A igreja em Northampton é na verdade a quinta construção desde a última onde Edwards pregou um sermão; Stockbridge está na sua quarta edificação. Uma rocha na beira da estrada marca o ponto onde antigamente ficava a igreja de Enfield, Connecticut, o lugar onde Edwards pregou o mais famoso sermão de todos os tempos na América: Pecadores nas mãos de um Deus irado.

    O legado da vida e do pensamento de Edwards, entretanto, está em flagrante contraste com a escassez de ruínas de suas casas e igrejas. No século 19, todos os teólogos e líderes de igreja disputavam o crédito de levar o manto de Edwards, afirmando ser seu verdadeiro herdeiro. No século 19, e agora no século 21, estudiosos, clérigos e leigos continuam todos a olhar para o teólogo da Nova Inglaterra em busca de ideias e inspiração. Na verdade, Edwards pode ser ainda mais bem conhecido e discutido agora do que o foi em vida. E maior ainda é o potencial de impacto de sua vida e pensamento para direcionar as futuras gerações da igreja no rumo de uma vida centrada em Deus.

    Este legado em curso tem tudo a ver com a amplitude dos escritos de Edwards e com a profundidade do seu encontro com Deus. Embora as ruínas materiais da vida de Edwards sejam escassas, o remanescente literário continua, literalmente, a encher prateleira após prateleira. Entre tais escritos estão seus grandes tratados, como o clássico texto teológico Religious Affections e o clássico texto filosófico The Freedom of The Will.³⁷ Além disso, ele deixou 1.400 sermões, cuja maior parte precisa

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