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Viver Só
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E-book114 páginas1 hora

Viver Só

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Sobre este e-book

Nunca como hoje houve tantos portugueses a viverem sozinhos, seja por opção, por deslocação em virtude de emprego ou estudo, por divórcio ou viuvez. Segundo o Censos provisório de 2021, são já mais de um milhão o número de pessoas nessa situação, o dobro de há 30 anos. A era da comunicação é, em simultâneo e paradoxalmente, a era da solidão. Este livro é um retrato da solidão em Portugal em números, contexto e circunstâncias, mas também uma reflexão sobre o quanto viver sozinho é diferente de sentir-se sozinho. A experiência de solidão é tão individual e privada que se torna quase indefinível. Como se poderá ler em relatos de vidas solitárias expostas ao longo deste livro, viver só pode ser um privilégio, uma questão de liberdade irrenunciável ou uma dor profunda e irreversível. A solidão pode ser desde sempre ou para sempre.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de fev. de 2023
ISBN9789899118812
Viver Só
Autor

Ana Margarida Carvalho

Ana Margarida de Carvalho nasceu em Lisboa, onde se licenciou em Direito e exerceu jornalismo durante 25 anos. Ocupou o cargo de Editora de Sociedade e de Grande-Repórter, fez crítica de Cinema, Crónica Semanal, fundou e geriu o site de Cinema Final Cut. Por diversas vezes foi jurada de concursos do ICA, entidade que financiou três guiões seus. Estreou-se como romancista com Que Importa a Fúria do Mar (Teorema), obra que conquistou por unanimidade o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB2013. O segundo romance Não Se Pode Morar nos Olhos de um Gato (Teorema), finalista do Prémio Oceanos, venceu o Prémio Literário Manuel de Boaventura e, de novo, o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB 2016, entrando assim no grupo estrito de romances portugueses duplamente distinguidos. Pequenos Delírios Domésticos (Relógio d’Água), coletânea de contos, obteve o Prémio de Conto e Novela Camilo Castelo Branco/APE. O mais recente romance O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça (Relógio d’Água) é candidato finalista a do Prémio Oceanos. Publicou em julho 2021 um conjunto de contos sobre guerra: Cartografias de Lugares Mal Situados. É autora do podcast cultural Felicidade Interna Bruta, integrado na Agenda Cultural de Lisboa.

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    Viver Só - Ana Margarida Carvalho

    Viver só: Portugueses esmagadoramente sós

    Nunca como hoje houve tantos portugueses a viverem sozinhos, seja por opção, por deslocação em virtude de emprego ou estudo, por divórcio ou viuvez. Segundo o Censos provisório de 2021, são já mais de um milhão o número de pessoas nessa situação, o dobro de há 30 anos. A era da comunicação é, em simultâneo e paradoxalmente, a era da solidão.

    Este livro é um retrato da solidão em Portugal em números, contexto e circunstâncias, mas também uma reflexão sobre o quanto viver sozinho é diferente de sentir-se sozinho. A experiência de solidão é tão individual e privada que se torna quase indefinível. Como se poderá ler em relatos de vidas solitárias expostas ao longo deste livro, viver só pode ser um privilégio, uma questão de liberdade irrenunciável ou uma dor profunda e irreversível. A solidão pode ser desde sempre ou para sempre.

    Ana Margarida de Carvalho

    Nasceu em Lisboa, onde se licenciou em Direito e exerceu jornalismo durante 25 anos. Ocupou o cargo de Editora de Sociedade e de Grande-Repórter, fez crítica de Cinema, Crónica Semanal, fundou e geriu o site de Cinema Final Cut. Por diversas vezes foi jurada de concursos do ICA, entidade que financiou três guiões seus. Estreou-se como romancista com Que Importa a Fúria do Mar (Teorema), obra que conquistou por unanimidade o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB2013. O segundo romance Não Se Pode Morar nos Olhos de um Gato (Teorema), finalista do Prémio Oceanos, venceu o Prémio Literário Manuel de Boaventura e, de novo, o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB 2016, entrando assim no grupo estrito de romances portugueses duplamente distinguidos. Pequenos Delírios Domésticos (Relógio d’Água), coletânea de contos, obteve o Prémio de Conto e Novela Camilo Castelo Branco/APE. O mais recente romance O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça (Relógio d’Água) é candidato finalista do Prémio Oceanos. Publicou em julho 2021 um conjunto de contos sobre guerra: Cartografias de Lugares Mal Situados. É autora do podcast cultural Felicidade Interna Bruta, integrado na Agenda Cultural de Lisboa.

    Retratos*

    * A coleção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem o viu — e vê — de perto.

    Viver só

    Portugueses esmagadoramente sós

    Ana Margarida de Carvalho
    logo.jpglogo.jpg

    Largo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso

    1099-081 Lisboa,

    Portugal

    Correio electrónico: ffms@ffms.pt

    Telefone: 210 015 800

    Título: Viver só: Portugueses esmagadoramente sós

    Autora: Ana Margarida de Carvalho

    Director de publicações: António Araújo

    Revisão de texto: Isabel Fonseca

    Validação de conteúdos e suportes digitais: Regateles Consultoria Lda

    Design: Inês Sena

    Paginação: Guidesign

    Fotografia da capa: Ágata Xavier

    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e Ana Margarida de Carvalho, Fevereiro de 2023

    Livro redigido com o Acordo Ortográfico de 1990.

    As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade da autora e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada à autora e ao editor.

    Edição eBook: Guidesign

    ISBN 978-989-9118-81-2

    Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt

    O cérebro tem dez milhões de células em contacto Umas com as outras e dez triliões de conexões

    Tanta conexão

    E tanta solidão

    Jorge Sousa Braga

    Prólogo estatístico e dedicatória A solidão do menor dos números ímpares

    É impossível ser feliz sozinho

    Estar só é diferente de estar sozinho

    Todos os dias são meus

    Quando o telefone não toca

    A aldeia das mulheres sozinhas

    Enfim sós

    A luz ao fundo do túnel vertical

    O escafandro e a borboleta

    Prólogo estatístico e dedicatória

    A solidão do menor dos números ímpares

    Nunca, como hoje, houve tantos portugueses a viverem sozinhos.

    Nem no tempo da Primeira Guerra Mundial nem na Guerra Colonial, ou da vaga de emigração dos anos 60 e 70 causadores, como se sabe, de grandes e amargas ausências nos ambientes domésticos.

    Segundo o Censos provisório de 2021, calcula-se que o número de pessoas a viverem sós — seja por opção, seja por deslocação em virtude de emprego ou estudo, seja por divórcio ou viuvez — tenha ultrapassado, pela primeira vez, um milhão. Em 1991 eram menos de metade (435 864), indica o Instituto Nacional de Estatística. Mas o número de solitários duplicou em 2011, ultrapassando a marca dos 800 mil. E a tendência revelou-se crescente até ao mais de um milhão, na segunda década do século XXI.

    Metade deste milhão corresponderá a população idosa, constituída maioritariamente por mulheres (90,7 homens por 100 mulheres), percentagem justificada pelo superior índice de mortalidade masculina e, talvez, consequência da rapidez e facilidade social com que os homens retomam a vida em comum, constituindo novo agregado.

    Os países do Reino Unido (caso que merecerá a nossa atenção mais adiante) ocupam o 3º lugar da lista dos países europeus com mais gente a viver só. Neste ranking, Portugal posiciona-se em 17º lugar: cerca de 10% da população reside sozinha (a média europeia é 15%).

    Apesar do meio milhão de idosos sós, Portugal acompanha timidamente a tendência da União Europeia: somos ainda um dos países com menos solitários após os 65 anos. A média europeia, sustentam-no os dados do Eurostat, situa-se nos 40% de mulheres idosas a habitarem sem ninguém debaixo do tecto, face a 19% dos homens na mesma faixa etária. A Letónia lidera o pódio das idosas solitárias (49%), seguida pela Eslovénia e Alemanha (ambas com 45%), Finlândia e Chéquia (44%), mais abaixo da tabela Dinamarca (33%), Espanha (31%), Bélgica (28%) e Estónia (26%).

    No entanto, as mulheres sós, novas ou idosas, têm demográfica e socialmente uma vida mais penalizada, como se irá desenvolver nos capítulos seguintes.

    O envelhecimento populacional (182 idosos por cada 100 jovens); a litorização do país (cerca de 50% da população residente em Portugal concentra-se em apenas 31 municípios, situados nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto); o aumento da esperança média de vida (subiu para 81,06 anos nos últimos 5 anos), sobretudo para as mulheres; a drástica diminuição da natalidade (nascem anualmente cerca de 80 mil crianças para mais de 100 mil óbitos); o facto de existirem, hoje, mais divórcios, e muito menos casamentos… Todos estes fatores confluem para um número recorde de mono-agregados. Ou seja, nas últimas décadas, as pessoas sós mais do que duplicaram.

    Ao todo são 4,5 milhões de solteiros em Portugal, crianças incluídas; 4,25 milhões de casados (menos 674 mil do que em 2011) e 828 mil divorciados (mais 234 mil do que há 10 anos). Pela primeira vez, o número de divorciados ultrapassou o número de viúvos. Pessoas a viverem sós são tantas, à data, quanto os casais sem filhos. Contas feitas, mais de um quarto das famílias portuguesas compõe-se por um só elemento.

    É certo que a pandemia, a guerra na Europa, bem como a consequente crise económica constituem novas variáveis que terão os seus impactos ao nível demográfico ainda por quantificar — e não se sabe se suficientes para inverter a tendência social individualista, baseada na auto-suficiência e na viabilidade financeira, condições para uma vida em mono-residência.

    Solitários por vocação, autónomos por predisposição, celibatários por aptidão, isolados por circunstâncias, infortúnios vários, perenes, ocasionais ou transitórios…

    Este livro é dedicado às 1 027 924 pessoas que vivem sós em Portugal.

    É impossível ser feliz sozinho

    A vida não é de brincadeira, amigo. A vida é arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida.

    Vinicius de Moraes

    Somos seres gregários. Pertencemos talvez à mais gregária espécie do planeta: tão desfalcada de aptidões naturais, tão indefesa e destituída de meios anatómicos de proteção, em total dependência da técnica e dos outros. Ninguém sobrevive sozinho. O que nos salvou enquanto espécie foi justamente a cooperação e a coesão. Um bebé humano tem poucas horas de autonomia depois de lhe cortarem o cordão umbilical: a primeira e mais brutal separação experimentada pelo ser humano. Um rápido momento no parto, uma eternidade para o bebé. O resto da vida dedicamo-la a restaurar a ligação, a consertar a união, a reatar laços, a procurar amparo, a agarrar um vínculo, a comunicar, a relacionarmo-nos, a conectarmo-nos, a inserir-nos nas tribos, nas alcateias sociais, a romper a

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