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O Portal Dos Sonhos
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E-book349 páginas4 horas

O Portal Dos Sonhos

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Sobre este e-book

Poucos assuntos provocaram mais a imaginação e a criatividade de cientistas, médicos, psicanalistas, filósofos, escritores, antropólogos e até simples curiosos do que o ato de sonhar. Há milênios, a questão estimula controvérsias e pontos de vista intrigantes. Nesta obra, o antropólogo Darrell S. Champlin investiga como o sonho foi visto pela humanidade, de acordo com a linha religiosa e científica de cada época. E mesmo com toda a incerteza que ainda existe em torno do sonhar, Champlin propõe que é possível aprender o mecanismo dos sonhos e utilizar essa ferramenta para entender o passado, interagir com o presente e, quem sabe, prever o futuro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de ago. de 2015
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    O Portal Dos Sonhos - Darrell S. Champlin

    Darrell S. Champlin

    O Portal dos Sonhos

    A fantástica viagem da mente além do limiar do sono

    Darrell S. Champlin

    O Portal dos Sonhos

    A fantástica viagem da mente além do limiar do sono

    Digitalização da edição impressa

    Santos, 1 de agosto de 2015

    Publicado originalmente pela Editora Publisher Brasil

    Republicado em plataforma digital pelo autor

    Coordenação editorial e revisão

    Márcio Calafiori

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Champlin, Darrell S.

    O portal dos sonhos: uma visão inquisitiva e científica da fantástica viagem da mente além do limiar do sono / Darrell S. Champlin – Santos. 2015

    Bibliografia.

    1. Sonhos 2. Sonhos – Interpretação I. Título. II Título: uma visão inquisitiva e científica da fantástica viagem da mente além do limiar do sono.

    02-1994

    CDD-154-63

    Índices para catálogo sistemático

    1. Sonhos

    : Psicologia 154.63

    ISBN 85 – 85938 – 30 – 7

    Prefácio

    O sono é a riqueza do pobre, a liberdade do prisioneiro.

    Sir Philip Sydney

    Durante uma entrevista a uma emissora de rádio fui indagado sobre minhas atividades noturnas. O programa era dirigido às pessoas que por hábito ou obrigação passam as curtas horas da noite acordadas, trabalhando ou roendo as unhas. Que faço durante a noite? A resposta mais óbvia para mim: Durmo e sonho... e sonho".

    A reação surpresa da repórter confirmou minhas suspeitas. Ela gostaria de ter ouvido alguma coisa como: Trabalho até de madrugada e durmo somente duas horas por noite.... Mas sempre que possível, ocorre justamente o inverso. Minha busca por respostas para as ocorrências do lado escuro do nosso dia depende diretamente de meu sono e do sono de outras pessoas. A matéria-prima necessária para meus estudos e pesquisas é criada durante esse interlúdio com as criaturas do sono – os sonhos.

    O sonho carrega consigo uma carga enorme de mensagens, recados, alertas, trivialidades e até, aparentemente, de inutilidades. Dito isso, paira a pergunta: como distinguir entre o trivial e o inútil, o simples repasse de ocorrências diárias, os alertas e as mensagens?

    Mesmo hoje, com todo o desenvolvimento tecnológico, sobretudo nos ramos da medicina e da psicologia, pouco se sabe de fato sobre o que é dormir. Menos ainda sobre o que é sonhar. As evidências empíricas – ou científicas – de nossa era começaram a ser coletadas há menos de um século. Comprovações sobre muitos dos fenômenos que acompanham a média de um terço de nossa existência (dormimos cerca de 22 anos de nossas vidas) não tinham sido sequer propostas há aproximadamente 50 anos.

    Empregando as descobertas científicas, as da psicologia, da metafísica e, acima de tudo, da antropologia, o objetivo principal desta obra é o de levar você, leitor, a compreender um dos maiores mistérios de todos os tempos: sonhar.

    Pelos olhos do canário-da-terra – Como não poderia deixar de ser, e como já havia acontecido em outras ocasiões importantes de minha vida – a decisão de escrever este livro originou-se de um sonho.

    ...Estava prestes a sair de casa quando vi um canário-da-terra pousado em um dos frisos decorativos da porta da sala de meu apartamento. Esse canário tinha várias cores, mas as predominantes eram o amarelo e o marrom. Ao observar minuciosamente a ave, de súbito transformei-me nela e passei a ver o mundo pelos seus olhos. Para poder voar e entoar o mais lindo dos cantos, e ensinar outras aves a língua dos canários, eu esperava somente que alguém abrisse a porta. Senti meus pulmões cheios de ar e minhas cortas vocais vibravam por antecipação.

    Quando acordei, sabia muito bem qual era a mensagem: Abra as portas de suas pesquisas, escreva e apresente ao mundo uma parte, mesmo se pequena, de um belo conhecimento: a canção dos sonhos.

    As pessoas raramente param para olhar para si mesmas. Ainda mais raramente param para dar sequer uma rápida vista d’olhos pelo portal que as leva profundamente para dentro de si mesmas, portal esse que aparece, pontualmente, todas as noites, depois que nos deitamos – e adormecemos. Esse portal, chamado de sonho, é implacavelmente esclarecedor, às vezes apavorante: revela até mesmo as coisas obscuras que optamos por ocultar.

    Mas o sonho, esse portal gigantesco para a psique, ou, como afirmariam certamente os antigos gregos, o portal para a alma, seria assim tão revelador apenas para aquele que detém sua chave, ou chaves? Todas as páginas que seguem procuram desvendar o que torna os sonhos uma aparente bobagem para alguns, enquanto para outros o pão nosso de cada noite no caminho para o autoentendimento, auto diagnose, progresso emocional e até social.

    Farei, aqui, uma tentativa de assumir uma investigação holística do fenômeno do sonho, levando em consideração muitos dos pormenores atualmente conhecidos sobre o assunto, desde as primeiras descobertas dos antigos religiosos e filósofos, até os achados científicos de nossos tempos. Pelo longo caminho que nos traz até onde estamos hoje, passamos obrigatoriamente pelas vidas e estudos de grandes mestres, pelos laboratórios de psicologia e de parapsicologia das grandes universidades do mundo, pelas páginas das escrituras sagradas e das aclamadas publicações científicas e, finalmente, pelo grandioso laboratório do comportamento humano que é a vida diária das pessoas, que aqui quase sempre serão conhecidas como sonhadoras.

    Este livro não é excessivamente técnico. Também não é um trabalho de mera adivinhação ou pura fantasia, como tantos livros sobre o assunto que povoam as livrarias, mas que nem deveriam estar lá por fazerem propaganda enganosa – ou seja, de que são as luzes do mistério. Ao contrário da maioria dos livros sobre sonhos, o leitor não encontrará aqui um glossário – ou dicionário – de símbolos. A elaboração desse glossário é tarefa do sonhador. As técnicas para isso, estas sim aparecem aqui.

    O objetivo é ser o mais direto possível nas ideias e conceitos apresentados. Mas também cuidadoso para não oferecer ferramentas falsas de interpretação de sonhos que, de modo geral, apenas fazem crer que se tem controle sobre um símbolo, quando, de fato, a interpretação está errada.

    Ao ler este livro, você entenderá porque em seus sonhos um charuto nem sempre é um charuto, me dando ao luxo de fazer aqui uma paráfrase de um conceito de Freud, um dos grandes propulsores dos estudos sobre os sonhos e um dos personagens desta obra.

    Dividi este livro em partes distintas, mas interdependentes. Ele abrange desde os primórdios do estudo e da interpretação dos sonhos, até o que existe de mais recente revelado pela ciência. Utilizando dados históricos, científicos e, em terceiro plano, material coletado durante anos de observação pessoal, o objetivo é unir de maneira clara e direta dois pontos a princípio impossíveis de consolidar: o objetivo e o subjetivo.

    Nessa conexão, ainda mola propulsora de estudos contemporâneos, nenhum autor ou pesquisador poderia ter influenciado mais profundamente nossa visão sobre os processos mentais envolvidos no ato de sonhar do que Freud. Possivelmente nenhum outro teria ido muito mais longe do que Jung na interpretação e utilização diária do material vindo dos sonhos – os símbolos. Mas ninguém é mais mestre no estudo de seus próprios sonhos do que o próprio sonhador, raciocínio esse promovido pela teoria Gestalt.

    A proposta aqui é jogar um pouco de luz em alguns mistérios e também derrubar alguns dos mitos mais persistentes relacionados `às horas durante as quais paralisamos parte de nossas atividades físicas para ceder lugar ao mais incrível período ativo de trabalho mental de nossas vidas – o sono –, através do portal dos sonhos.

    Alguns dos conceitos aqui expostos não serão surpresa para o leitor, leigo ou especialista. Já outras ideias levarão até o menos curioso a coçar a cabeça em perfeita indignação, como, aliás qualquer investigação séria e comparativa faz.

    Depois de ler este livro, uma coisa ficará clara: se você não quer que os outros descubram detalhes de sua vida pessoal e íntima, não conte seus sonhos para ninguém.

    Afinal, dizer que os sonhos são bobagens incompreensíveis é negar o valor intrínseco de qualquer linguagem, falada ou escrita. Os sonhos também utilizam uma linguagem – e trazer à superfície de sua vida desperta a consciência mais profunda sobre si mesmo parece ser o objetivo de sonhar.

    Introdução

    Ao que parece, o ser humano sonha desde sempre, ou pelo menos desde o momento em que a complexidade de seu cérebro alcançou um ponto em que isso fosse possível. Quem sabe em uma era tão remota como aquela de nosso ancestral Homo sapiens (há cerca de cem mil anos) quando, segundo a arqueologia, os homens começaram não apenas a desenvolver a arte, mas também a reverenciar os mortos, enterrando-os intencionalmente com seus pertences e, talvez, a cultuar deuses – se é que nosso pequeno conhecimento dos fatos permite que naveguemos tanto em nossa especulação.

    É certo que nas civilizações mais recentes, que datam de centenas de anos antes do cristianismo, filósofos e pensadores já passavam longos dias em busca de respostas para as imagens que habitavam suas noites. Eles desenvolveram as mais exóticas teorias sobre o que poderiam ser os sonhos e sobre quais poderiam ser suas aplicações para o sonhador. Entre esses povos, serão exploradas neste livro as ideias propostas pelos hindus, gregos, egípcios e entre os indígenas brasileiros que hoje vivem no Xingu, onde será explorado o corpo de evidências produzidos por esses povos em relação aos sonhos, corpo esse que não é nada pequeno e cujos ensinamentos são seguidos por muitas pessoas da era moderna.

    Mesmo supondo, pelas evidências que a antropologia nos fornece, que os sonhos povoaram as mentes dos nossos ancestrais distantes, ainda não temos certeza dos porquês do sono, muito menos ainda dos motivos dos sonhos e do sonhar. Essa incerteza é, de fato, uma das fontes inspiradoras da pesquisa aqui apresentada. Nos capítulos que se seguem, além da evidente e importante exploração de nosso passado, também estaremos em busca de explicações válidas, que possam ser demonstradas, testadas, repetidas e, quem sabe, finalmente comprovadas.

    Na nossa exploração, que precisa ser multicultural e interdisciplinar, abrangendo temas tão distintos como a própria evolução biológica das espécies, a consciência e até o convívio em grupo, invadiremos os laboratórios dos institutos e das universidades cujos especialistas, também motivados pela curiosidade que é natural a todos os mamíferos – particularmente aos primatas e aos seres humanos -, dedicaram suas vidas a desvendar um dos mistérios mais latentes que envolvem as pessoas.

    Desde a década de 1950, com a descoberta dos Movimentos Rápidos dos Olhos (MROs) – estágio do sono marcado por ondas cerebrais irregulares acompanhadas, invariavelmente, por sonhos com imagens – cientistas acumulam cada vez mais dados que podem ajudar a explicar a origem e os motivos dos sonhos. O trabalho desses homens e mulheres da ciência revelou que sonhar não é privilégio só nosso, mas também de um sem-número de outros animais. Se, como postulado pela nova física – a física quântica –, podemos começar a atribuir um certo nível de consciência até mesmo aos átomos, poderia a função de sonhar ser a mesma para os animais (não-humanos) que é para nós (animais humanos)?

    Durante os últimos cem anos, um outro grupo de especialistas também ajudou muito no desenvolvimento de nosso entendimento desse fenômeno: os fundadores e promotores das diversas escolas e linhas de pensamento da psicologia. Mostrarei aqui com a riqueza de detalhes inerente a uma obra como essa – cujo objetivo certamente não é o de avançar qualquer pensador e tampouco seus seguidores – como os especialistas trabalharam e como eles nos ajudaram a galgar os complexos caminhos da intuição e da compreensão do eu de cada um. Como nos preocupamos com os meandros da sociedade, nossos olhos e atenção, aqui, precisam se voltar a eles.

    Com a orientação dessa coletânea de mestres, da ciência aplicada, da psicologia e da antropologia, este livro não poderá estar completo se não tentasse ajudar o sonhador não apenas a lembrar de seus sonhos, mas colocá-los a seu serviço – seja como forma de lidar com o passado, entender seu presente ou até, porque não, prever seu futuro. Para tanto, os capítulos finais são dedicados à orientação sobre como elaborar um dicionário e um diário de sonhos que servirão como registros permanentes para que o leitor possa alcançar um novo estágio de compreensão de si mesmo, com sugestões sobre como melhorar o próprio sono. Com essas técnicas, espero propor um mecanismo útil por muitos anos.

    1 – O que é o sono? O que é sonhar?

    Quando eu era jovem, tinha sonhos em que curava as pessoas. Não levava esses sonhos muito a sério. Meu tio era médico índio. Ele sabia o que ia me acontecer. Dizia-me que tivesse cuidado para não ofender os espíritos

    Xamã siberiano

    Há anos leio, pesquiso, leciono, entrevisto alunos e sonhadores, acompanho casos e escrevo sobre sonhos. Quando se trata de sono, sonhos e sonhar, nada escapa à minha curiosidade. Mas surpreendentemente — um desafio máximo para mim — nada absolutamente definitivo já foi estabelecido sobre essa nossa atividade de todas as noites.

    Ao averiguar a universalidade do fenômeno do sonho, descobre-se rapidamente que cada cultura tem um ponto de vista diferente, embora exista muito em comum também.

    Relatos e estudos feitos por antropólogos e psicólogos revelam que dependendo da cultura onde se encontra o sonhador, um sonho pode ser considerado como decorrência do mero acaso caótico e esporádico da atividade mental (isso seria mais comumente observável nas culturas ocidentais industrializadas).

    Em outro extremo, como será visto adiante, para um indígena brasileiro, bem como para integrantes de tribos africanas e de outras regiões do mundo, sonhar é uma espécie de ligação mental entre o sonhador e seus antepassados, ancestrais que estariam estabelecendo um contato espiritual com o objetivo de alertá-los ou orientá-los sobre circunstâncias de perigo, doenças e até em períodos de tomadas de decisões. Para eles, não há divisão entre o material e o imaterial, o visível e o invisível, o morto e o vivo. O

    sonho seria um dos canais de comunicação que se abre quando a pessoa adormece.

    Seria prudente dizer, então, que o sonho é fruto do ambiente e da cultura, e não propriamente de uma atividade mental diária comum a todos os seres humanos? Nada poderia ser mais fácil — e pouco esclarecedor sobre a experiência humana — quanto uma explicação dessa natureza. Dizer isso seria o mesmo que atribuir uma única causa possível à questão do homossexualismo ou a resultados variáveis de testes de Quocientes de Inteligência obtidos entre pessoas de etnias diferentes.

    É preciso ir um pouco mais longe, talvez de volta à evolução dos próprios mamíferos (e outros animais, talvez) para que possamos obter uma resposta um pouco mais ampla e certamente melhor definida quanto ao assunto. Dizer que a raiz da questão é bem mais profunda do que poderia parecer a princípio é uma afirmação válida, principalmente se tomarmos como ponto de partida o fato incontestável de que outros animais, e não só o ser humano, também sonham, e, sem dúvida, esses animais não possuem o grau de cultura necessário para moldar sonhos. Nos capítulos que tratam dos sonhos psíquicos e espirituais, aprofundarei ainda mais esse assunto controverso, mas vital para nosso estudo e para nossa elaboração de conceitos sobre a verdadeira natureza — ou metafísica — do sonho.

    Mas é preciso começar de algum lugar e, embora a princípio as ideias possam parecer pouco precisas, sem dúvida chagaremos a uma conceituação — quem sabe também a uma visão — mais completa sobre os sonhos.

    Antes de poder abordar com tranquilidade e com a riqueza necessária de detalhes o que é um sonho, a proposta é primeiro analisar, ainda que brevemente, o que é e como funciona o sono.

    A natureza do sono

    Volumes inteiros já foram dedicados exclusivamente ao assunto da natureza do sono. As investigações abrangem desde a necessidade biológica de o indivíduo dormir, até as consequências do excesso e da falta de sono, além de eventos biológicos passíveis dos mais variados tratamentos: ronco, sonambulismo, morte súbita de crianças, entre outros fenômenos.

    Para o contexto desse livro, bastaria, sem dúvida, abordar apenas os elementos principais desse complexo acervo de informações e responder só àquelas dúvidas mais comuns que repetidas vezes surgem no decorrer do curso de sonhos que leciono há mais de 15 anos, mesmo porque o objetivo aqui é falar sobre sonhos, não necessária e obrigatoriamente sobre o sono.

    Muito embora os meios científicos e não científicos afirmem, até de forma categórica, que o sono é uma necessidade inerente aos animais, não só dos humanos, esse assunto continua a provocar inesgotáveis controvérsias.

    Uma das funções patentes do sono durante a infância é o crescimento e, por isso, bebês precisam aprendera diferenciar o dia da noite para incorporar sem sobressaltos o sono noturno. Esse aprendizado para o recém-nascido é vital para ele passar do sono polifásico, quando dorme de forma fragmentada, para o monofásico, que se inicia aos três meses. Durante o sono monofásico, o crescimento é favorecido, pois a glândula pineal, que produz o hormônio do crescimento, tem picos de atividade das 23 horas às 5 horas.

    Segundo os cientistas, se a criança for privada do sono nesses horários poderá desenvolver distúrbios de crescimento. O sono de ondas cerebrais rápidas (também conhecido como MRO, mais sobre isso será discutido no capítulo que trata da ciência dos sonhos) é bem mais frequente entre crianças, chegando a 50% do total de horas dormidas.

    Segundo os pesquisadores do sono infantil, é neste período que há um desenvolvimento do sistema nervoso central (Fenwick, 1999).

    Alguns cientistas insistem, quem sabe com muita razão, que o sono ocorre por necessidade de recuperação física após esforços contínuos do indivíduo simplesmente para ficar acordado. Inúmeros estudos revelam que o hormônio do crescimento e substâncias formadoras de músculos, como a testosterona, são liberados em nosso sangue enquanto dormimos. Além disso, os estudos relevam também que os hormônios associados ao estado desperto, como a adrenalina e o corticosteroide, atrasam a renovação dos tecidos corporais. Segundo Ian Oswald, do laboratório do sono da Universidade de Edimburgh, na Escócia, as células da pele e os glóbulos sanguíneos humanos, além de todos os tecidos corporais, do cérebro até a sola dos pés, renovam-se mais rapidamente durante o sono (1999).

    Mas algo que está ficando cada vez mais claro é que embora seja confortável poder dizer que o sono está diretamente ligado à necessidade de recuperação — isto é, que dormimos quando estamos cansados porque já fizemos esforço suficiente por um dia e que, como baterias, precisamos de recarga — a resposta não poderia ser tão simplista.

    Em uma tentativa de fornecer respostas a esse mistério, alguns cientistas estão fazendo pesquisas com animais. Foi descoberto, por exemplo, que os patos têm capacidade de desligar metade do cérebro, e com essa metade dormir, enquanto a outra metade continua desperta.

    A ideia de que o estado natural do cérebro possa ser desligado em um momento, enquanto ligado em outro, foi postulada por muitos cientistas, inclusive por Nathaniel Kleitman, proeminente pesquisador do assunto e um dos descobridores do MRO, estágio durante o qual estamos, de fato, sonhando quando dormimos.

    Ray Meddis, psicólogo da Loughborough University, na Inglaterra, no livro The sleep instinct (O instinto do sono), lança uma ideia darwinista, ou seja, evolucionária, em relação ao sono. Para ele, em sua teoria da imobilização, a função principal do mundo animal é a sobrevivência e que dormir seria possível apenas sob condições muito bem controladas pelo próprio indivíduo, pois cair no sono na hora errada e no lugar errado significaria, com certeza, a diferença entre a vida e a morte.

    Dormir seria seguro então apenas quando o animal estivesse na santidade de sua toca. Meddis sugere que o homem adotou a noite para dormir, pois seria durante esse período, quando escondido, quiçá em uma caverna, que ele poderia sentir-se mais seguro, ou menos vulnerável às ações de predadores que apreciavam carne humana em suas ceias.

    Antropólogos há muito têm declarado que em termos evolucionários o homem tem sido muito mais caça do que caçador, logo, dormir só em hora segura. O estado de vigília seria muito mais aguçado em um momento em que a exposição do próprio corpo fosse maior, isto é, em uma hora em que todos conseguem ver a todos, na claridade do dia.

    Pesquisadores do Rockefeller University desenvolvem há anos estudos sobre os padrões de sono de gatos e de outros mamíferos. Embora jamais tenham conseguido uma resposta direta de um desses felinos, eles afirmam que os gatos, mamíferos que passam mais tempo dormindo do que despertos, sonham durante uma boa parte de seu sono e que esses sonhos teriam como objetivo máximo a elaboração de estratégias de sobrevivência.

    Outra postulação interessante, e que merece nossa consideração, é que parece que o cérebro sabe quando é hora de fazer o indivíduo apagar, e a maioria dos seres humanos simplesmente desliga quando o cérebro manda. O oposto ocorre apenas, para muitos, quando o estresse provoca um tipo temporário de insônia. Casos relatados por especialistas estão sempre trazendo à tona exemplos de pessoas que aparentam sobreviver com pouco ou nenhum sono.

    Rod Usher, em O Sono, relata o caso curioso de uma espanhola de Cáceres, na obra chamada simplesmente de Sra. Palomino, que, em 1973, afirmava não ter dormido — nem um minuto sequer — há pelo menos 30 anos. Segundo a lenda, quando jovem Palomino deslocou o queixo ao bocejar. Supostamente a dor que sentiu roubou-lhe o sono, pois daquele momento em diante a mulher não dormiu mais (Usher, 1991). Estudiosos da Universidade de Stanford, na Califórnia, documentaram diversos casos de indivíduos que estão plenamente satisfeitos se dormirem poucas horas por noite. Esses seriam as exceções à regra do sono?

    Um experimento feito por professores e alunos da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, tinha como objetivo testar essa e outras hipóteses sobre a necessidade do sono. Uma equipe de pesquisadores fechou-se dentro de uma caverna nas Montanhas Rochosa onde a temperatura permanece a mesma o ano todo, por volta de 12 graus, e onde não há luz natural. Embora no início do período experimental os pesquisadores tivessem observado que seus padrões de sono continuavam inalterados, ao longo dos dias passaram a dormir cada vez menos, e, pouco surpreendente para mim, passaram a ter períodos cada vez mais intensos de sonhos durante as poucas horas em que dormiam.

    O clico vida desperta/sono deles foi alterado, passando para umas 50 horas, com 14

    a 20 horas de sono neste período e as correspondentes três refeições no meio desse estágio (Fenwick, 1999). Com essa alteração no ciclo do sono, como o leitor pode imaginar, todos emagreceram bastante.

    Uma das chaves parece ser a existência de um suposto relógio biológico, aparentemente regulado pela intensidade ou ausência de luz, e também de variações de temperatura. Em conexão com o relógio biológico, recentemente li o relatório de um experimento realizado em um zoológico brasileiro, onde, durante um eclipse, biólogos analisaram o comportamento de vários animais no pouco tempo de alteração na intensidade de luz que há durante um evento celeste desses. Surpresa: os animais de hábitos noturnos acordaram, por exatos 12 minutos. Na caverna do experimento dos pesquisadores da Universidade do Colorado, onde ambas as variáveis de luz e temperatura permaneciam constantes, esse condicionamento natural acaba.

    Mas por que os pesquisadores sonhavam mais intensamente? Parece-me que há uma necessidade de se ter uma certa quantia de sono com sonhos, e que essa quantia não varia, embora o tempo que se durma possa ser alterado. Essa opinião encontra respaldo em outro experimento

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