O Melhor Aluno
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O Melhor Aluno - Emerson Monteiro Da Silva
Emerson Monteiro
O melhor
aluno
Dois meninos, dois mundos, um mistério.
2020
Este livro eu dedico não apenas a uma pessoa, mas a toda a minha família
e à cidade de Caravelas, pois me serviram de inspiração para esta história .
Parte 1
Esta história ocorreu em janeiro de 1994, quando eu tinha 12 anos, mas me lembro como se fosse ontem.
Dia claro de verão, pássaros voando e a temperatura agradável.
Eu observo as árvores passarem rapidamente formando borrões e sumindo no horizonte da estrada, enquanto isso fico quieto, quero evitar um interrogatório sobre meus dias mais recentes na escola.
Gostaria de dizer que esta é minha história, só que não é, pelo menos não sou o principal... Eu acho!
Muita coisa aconteceu e envolveu outras pessoas, mas tudo começa com aquela conversa típica de viagem entre meus pais.
— Veja que maravilha de estrada meu bem!
— Lógico, esqueceu que estamos em ano de eleições?
— O moleque dormiu?
— Parece que sim e por falar nisso, você tem que conversar com esse garoto, as notas dele estão cada vez piores, este ano foi para oito recuperações!
— É fase, ele está na adolescência, deixe o menino!
— Se fosse na minha época ele ia ver como um aluno tinha que se virar de verdade!
— Ele não tem culpa de não ter herdado a grande sabedoria de sua família, meu bem!
— É porque você sabe que todos os meus parentes, desde a época do meu avô eram muito bons na escola e naquele tempo em que o ensino era bem mais puxado, hoje em dia é tudo muito à vontade, as crianças não têm nem aulas de latim!
— Talvez seja porque ninguém fale latim hoje em dia! A não ser quem precisa
, os padres, claro!
No banco de trás fingindo dormir estou eu, Gilton Marinho Souza, filho único deste casal que consegue tagarelar quase que ininterruptamente numa viagem de oito horas de duração.
Meu pai, o senhor Milton Souza é pequeno empresário, tem três lojas de roupas e é professor da faculdade de direito na cidade onde moramos, passa o dia quase todo na rua, mas mesmo assim eu não sei como ele agüenta o tempo que fica com minha mãe!
Minha mãe é a senhora perfeita, a meritíssima senhora Gilcinéia Marinho, juíza onde nós moramos, se conheceram na faculdade, foram colegas, meu pai se formou advogado, mas trabalha na área vez por outra, no entanto, o que me preocupa é que minha mãe quer que eu seja um gênio como todos os nerds da família dela e eu odeio estudar. Muitos amigos me dizem que é normal aluno não gostar de ir à escola, eu
queria saber, ter a oportunidade só uma única vez de saber se realmente meu avô era tudo isso que dizem dele, afinal é como se fosse um herói, fica todo mundo puxando o saco do velho, até meu pai! Tudo bem que era o sogro dele, mas...
Talvez se eu tivesse mesmo certeza de que o velho havia realmente passado por dificuldades, as superou e teve uma vida estudantil perfeita, aí sim eu me empolgava mais.
— Acorde Gil! Estamos chegando.
— Já pai, nossa o senhor voou desta vez!
Aí acontece a mesma coisa de sempre, parentes chegando, todos se abraçam e trocam beijos, minha avó fez o seu ritual de apertar as minhas bochechas e me dar um beijo na testa, meus primos e tios ajudavam a tirar as coisas do carro, toda vez acontecia o mesmo: muita bagagem, tanta que parecia que estávamos de mudança. Pensando bem, até que não seria uma idéia tão ruim assim, uma vida mais tranqüila, ficar perto de meus parentes e longe daquela escola horrorosa em que eu estudava.
— Venha tomar café meu querido. – era minha avó quem chamava e eu tinha que me controlar para não me encher tanto com pães, tortas e frutas ou não sobraria espaço para o almoço.
Depois que tomei café pude enfim dar atenção aos parentes que chegavam, eram advogados, promotores, auditores fiscais – na época eu nem sabia
que diabo era aquilo, mas sabia que deveria ser algo importante! – e mais um monte de profissionais que se deram bem, não é à toa que minha mãe pegava tanto no meu pé, na certa queria que eu tivesse um futuro brilhante como todo o resto do pessoal da família.
Infelizmente, havia apenas um primo da minha idade, o problema é que ele era muito metido, minha mãe sempre me comparava com ele e queria que fosse tão obediente e estudioso quanto, mas o que ele era na maior parte do tempo era um cara muito chato.
O tempo foi passando e só então percebi que meu primo estava fazendo falta, afinal não havia ninguém da minha idade para conversar, chegou a hora do almoço e o pessoal se reuniu na enorme mesa de carvalho, minha avó, meus pais, tios e primos casados, alguns com seus filhos pequenos, umas verdadeiras pestinhas que não paravam de gritar e correr de um lado para o outro.
Mais tarde ele chegou, o Arthurzinho, sempre com sua roupa arrumadinha e cabelos molhados e penteados para trás, parecia que mudara somente o tamanho, pra falar a verdade ele estava mais alto do que eu, coisa que não gostei nem um pouco!
— Oi Gil, como vai?
— Bem e você?
— Estudando muito como sempre.
— Eu imaginei.
— E então o que conta de novo?
Era impressão minha ou ele estava se comportando como um cara legal?
— Você sabe que eu não tenho o mesmo ânimo para os estudos como é o seu caso...
— Eu sei, mas sabe de uma coisa? Eu não estou nem um pouco interessado em assuntos de escola e acho que você é a pessoa certa pra me contar sobre outras coisas.
Fiquei abobado com essa! O cara sempre me zoou por não gostar de estudo e agora está pedindo pra eu contar coisas que nós, meninos normais fazíamos?
— O que você quer saber? – perguntei, poderia ser qualquer coisa.
— É, bem... – e ele abaixou a cabeça meio envergonhado – Garotas! Tem muita garota bonita em seu colégio?
— Puxa cara, se você nunca me perguntasse isso eu ia começar a te achar muito, mas muito estranho mesmo!
— Não entendi!
— Deixe pra lá, você quer saber se existe muita gata na escola? Sim, têm algumas. Você tem namorada Arthur?
— Não! – a resposta foi seca e parecia irritar meu primo.
— Acho que você nunca se aproximou duma garota, acertei?
— Olha, se você vai ficar me zoando é melhor nem começar esta conversa!
— Calma, vamos falar de outra coisa por enquanto. Por exemplo, você já foi ao sótão?
— Não, está maluco, é muito velho e sujo além de ter o chão estragado, com buracos e rachaduras, poderíamos nos machucar lá, além do mais a vovó proibiu qualquer um de subir!
— Eu acho que você nunca fez nada de errado na sua vida.
— Claro que não!
— Está na hora de mudar isso!
— Vai subir? Eu não vou!
— Ou você vai comigo ou vai ficar aqui embaixo sem conhecer nada de emocionante, muito menos como se comportar com...
— Você jura que vai me ajudar a não ser tão nerd?
— Claro, vamos?
Todo o pessoal da casa estava na copa, menos os pirralhos, que estavam no quintal, apenas eu e meu primo estávamos naquela área do velho casarão.
Subimos cautelosamente para que os nossos passos nos degraus velhos de madeira não nos denunciassem, à medida que íamos subindo o ambiente ia ficando escuro, foi quando parei de ouvir o som de dois pés, olhei para trás e vi meu primo parado no meio da escada.
— O que foi, está com medo de cair? Segure no corrimão.
— Não é isso, é que têm muita teia de aranha lá na frente e minha roupa está limpinha!
— Não é à toa que não consiga se aproximar das garotas, você é muito fresco!
— Fresco, eu?
— Sim, veja bem, se eu estou na frente, quando você passar não vai haver muita teia pra te sujar, entendeu sabe-tudo?
— Está bem, eu vou, já estou suando mesmo!
— É assim que se fala garoto! Vamos!
Realmente existia um montão de teia, depois que meus primos maiores ficaram adultos ninguém mais quis desafiar as ordens da vovó, o que será que havia lá dentro? Subi mais uns cinco degraus e comecei a empurrar a porta de madeira, estava emperrada, olhei pra trás e com um gesto solicitei a ajuda do Arthur, ele olhou para a porta como se essa também o encarasse, olhou para as mãos e finalmente resolveu colocar uma força extra. A porta já se mexia quando Arthur deu um grito.
— Uai! – e tirou rápido as mãos da porta velha e empoeirada.
— O que foi primo, machucou a mão?
— Um bicho!
— Foi só uma lagartixa, agora me ajude, ela está quase toda aberta.
Empurramos mais um pouco e olhamos para dentro antes de entrar. Não se via muita coisa, a claridade vinha de frestas nas janelas, resolvi ir em direção da mais próxima, Arthur logo atrás, de repente ouvi um barulho e meu primo se esborrachando no chão.
— Mas você não se contenta em ser nerd, é desastrado também! Fique onde está! Não se mexa ou alguém lá embaixo vai acabar nos ouvindo, eu vou