Por uma Educação Ambiental que Dança
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Por uma Educação Ambiental que Dança - Giovana Consorte
Sumário
Carta 01
Sobre tudo que envolve um convite
Carta 02
Vestígios de um Eu Antigo
Carta 03
Educação Ambiental como Dança
Carta 04
Quando a educação se torna relação
Carta 05
Alegoria para uma educação-relação
Carta 06
Capitalismo, natureza e fragmentação
Carta 07
Integrar para acolher e transformar
Carta 08
Descobrindo um mundo novo –a física da totalidade
Carta 09
Qual dança?
Carta 10
Dentrofora
Carta 11
Capitalismo e subjetividade coletiva
Carta 12
Um pouco de dança
Carta 13
Sobre um semear Terpsícore
Carta 14
A dança como experiência
Carta 15
O esperançar Garatuja
Carta 16
Sobre dançar em coletivo
Carta 17
O movimento do Moinho
Carta 18
Sobre a experiência de criatividade fluida
Carta 19
O Coletivo como Princípio
Carta 20
Sobre um presente com desejos de futuro
Referências
14192_giovana_consorte_capa_14x21-01.jpgPor uma Educação Ambiental
que dança
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
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Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Giovana Consorte
Por uma Educação Ambiental
que dança
AGRADECIMENTOS
Aos dançantes com quem partilhei as experiências relatadas nessas cartas, vocês me transformaram para sempre.
A cada pessoa que atravessou minha caminhada e me ensinou um pouco mais sobre ação e esperança. A cada aprendiz que se fez mestre, a cada versão outra de mim mesma. Agradeço com reverência a todos que se moveram antes para que eu pudesse escrever esse convite.
Agradeço a cada dança que tive oportunidade de partilhar, como artista, orientadora ou parte de público. Agradeço pela oportunidade de vislumbrar outros universos.
Sou grata por cada instituição que me permitiu mover de alguma forma, mesmo com todas as limitações e tensionamentos de nossas andanças.
Ao meu esposo Lucas, por me emprestar seus olhos, ouvidos e coração. Pelo apoio a impulsionar minha escrita e todos os voos que a acompanharam.
À vida, por me permitir ser. Escrever. Dançar. Esperançar.
Carta 01
Sobre tudo que envolve um convite
Começo essa escrita em uma manhã de domingo, observando o sol e o ruído das crianças e pássaros que insistem em quebrar a melodia distante de uma música qualquer vinda dos vizinhos. Enquanto o cursor pisca na folha quase em branco, me pergunto qual a melhor forma de iniciar um diálogo. Então me arrisco a começar pensando na ideia de convite, e em toda a espécie de não saber que o acompanha.
Te convido a experienciar comigo uma leitura torta, recortada por memórias, histórias e imagens que estão pensadas para nos levar para além daqui — compreendendo o daqui como esse imediatismo dos olhos que encontra o traço das palavras e se contenta com a segurança de um significado qualquer. Te convido para uma leitura torta porque há pouca poesia na retidão, e o contentamento seguro que não pensa além, sequer sabe a sensação de se perder nas ranhuras das palavras, nos outros sentidos possíveis que ela assume quando se pretende experiência. Te convido a ler com poesia, com ritmo e dança, para revolver tuas memórias e teus sonhos de futuro.
O não saber de um convite pressupõe abertura, porque de fato nunca se sabe — do aceite, do afeto, do que se pode ser —, quando existe espaço para a escuta e ímpeto para a ação. Dentro de um convite cabe a transformação de um olhar, de uma ideia ou mesmo de um mundo inteiro. Dentro do convite que te faço cabe a minha esperança de caminharmos juntos por um tempo, uma caminhada dança, que pressupõe aproximações e afastamentos. Cabe também um não saber desejoso de que nossa dança te aconteça, que te roube um pouco de tua lida cotidiana, de teus modos de saber e conhecer, te apresentando outros ritmos possíveis.
Te convido agora, porque alguém me convidou antes. E desde aquele meu primeiro aceite, aprendo um pouco mais sobre as relações que dão forma a esse universo incrível do qual fazemos parte. Entre aprendizados e danças de não saber, tenho construído uma prática docente que ampara as escritas que farei ao largo dessas páginas. É também por força de um convite que as faço, um chamado inesperado que me propôs uma viagem no tempo. Aceitei o chamado da editora como um movimento necessário, depois de quase uma década da defesa de minha dissertação de mestrado em Educação Ambiental, como uma possibilidade de revisitar, com densidade e poesia, conceitos e experiências apresentados naquele tempo, amalgamados à caminhada que tenho feito desde então.
Para além disso, percebi uma boa oportunidade para aprofundar discussões e apresentar práticas outras que reforçam ideias para muito além da perspectiva da escrita original. Outro aspecto que influenciou meu aceite e me trouxe até essas linhas se relaciona com a pouca produção bibliográfica que busca uma aproximação entre dança e práticas de educação ambiental. Exatamente por perceber essa lacuna que acredito ser ainda mais urgente abordar esses temas e algumas de suas tramas possíveis, por meio de uma perspectiva atual e responsável. Pretendo fazer isso te convidando ao diálogo, ao movimento reflexivo que envolva o corpo em sua totalidade. Te convidarei a dançar palavras para que os conceitos que trago nessa escrita te atravessem com o encantamento da experiência.
Fotografia 1 – convite ao avesso¹
Fonte: foto da autora Rafaela Pereira (2019)
Para seguirmos juntos te esclareço que essas cartas se destinam a qualquer pessoa que tenha desejo de repensar o movimento de estar no mundo, considerando eticamente suas ações, relações e práticas. Não são necessárias habilidades outras senão a própria consciência, disponibilidade e abertura para educar a si mesmo, continuamente. Constituir-se educador ambiental é um processo que não cessa nunca, está sempre em movimento acompanhando as transformações que estão a ocorrer consigo e com a vida como um todo. Mais adiante discutiremos como tudo é movimento, mas, por ora, te digo que é preciso estar disposto à mudança.
Te convido a prosseguir, compreendendo que esse movimento envolve também um não saber, uma expectativa e um tanto de coragem que nos enlaça e só encontra sentido quando tua leitura se encontra com minha escrita. Escrevo esperançosa de que desse encontro possam advir outros tantos convites e aceites, como danças de reflexão e entendimento que, com ritmo e poesia, nos levam à construção de outros mundos possíveis.
Que o movimento não cesse.
Até breve!
¹ Registro fotográfico realizado em um dos ensaios do Grupo Corpo Composto do Instituto Federal de Goiás.
Carta 02
Vestígios de um Eu Antigo
Nas linhas que seguem, te contarei um pouco sobre o movimento que me trouxe até aqui, suas danças e andanças que me levaram a ordenar os sentidos como tenho feito. Prometo que direi apenas o indispensável para que te ponhas a dançar comigo, ainda que silenciosamente, ainda que aparentemente inerte.
Convido-te então a conhecer o Eu Corpo e as ideias que por aqui dançam e se organizam. Dizendo de outra forma, te apresento a lembrança deste Eu Corpo que agora escreve, acreditando que, para que compreendas as escolhas expressas nessas linhas, é importante que conheças as experiências de outrora. Partilho os trajetos por onde fui construindo minha dança que se confunde — como verás — com o desenho de formação de minha identidade docente.
Desde muito pequena dancei, pelo gosto que sentia ao me mover. E esse gosto que movimentava minha infância me levaria ao olhar dançante da educação ambiental que construo hoje. Comecei a estudar balé clássico aos nove anos de idade e desde então nunca mais parei de estudar dança. Gosto de recortar que estudei um balé, porque não existe uma entidade balé que exista para além de seus sujeitos. Não creio em uma natureza da dança. Penso que a dança é aquilo que fazemos dela, de modo que a forma como escolhemos construir nossas relações dançantes reflete o modo como percebemos o mundo. Toda a dança é feita das ações que as pessoas realizam quando operam por meio dela.
Escolho destacar a multiplicidade que cabe em diferentes dançares, e a importância da dimensão da escolha nos modos de agir de seus educadores, para partilhar que a dança que constituiu a base