As Marcas do Vestir: Entre a Autoestima, a Psicanálise e a Moda
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Sobre este e-book
Pode parecer que o vestir fica distante ou diminuído diante das questões grandiosas e importantes da cultura e da política vigentes. Mas ele não o é. Os tecidos incidem no corpo e isso não acontece sem efeitos no psíquico, sem efeitos no olhar para o corpo, para aquilo que marca o corpo e que define o que é um sujeito a ser desejado. Por isso, esta obra é uma convocação para pensar sobre os efeitos do discurso da moda para além da obviedade. É uma convocação para olhar para si em meio a essas costuras que, em busca de fazer laço, podem fazer um nó.
Olhar para si requer coragem, mas também conhecimento desses lugares de manipulação e abertura para uma nova forma de observar a si mesma. Este livro não é uma obra pronta, na verdade, ele irá se refazer e tomar um novo sentido para cada leitora, assim como em uma sessão de análise, o saber aqui se inscreve nas palavras e na escuta. Ainda que o rigor teórico esteja presente e que você aprenda, questione, reflita e converse com os teóricos, eu te convido a atravessar esta leitura fazendo costuras possíveis com o que é seu.
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As Marcas do Vestir - Gabriela Cristina Maximo
As marcas do vestir
entre a autoestima, a psicanálise e a moda
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
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Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Gabriela Cristina Maximo
As marcas do vestir
entre a autoestima, a psicanálise e a moda
O corpo é um campo fértil e nebuloso para as mulheres, assim como a relação com a sua autoestima que é reduzida na imagem apresentada pelo social. Dedico este livro às mulheres incríveis que, de forma corajosa, ousaram atravessar suas angústias através da escuta, da palavra e das trocas que fazemos semanalmente na clínica ou nos grupos. Este livro é a continuação desse espaço seguro e subversivo. A autoestima é muito mais que a imagem, que possamos elaborar e fazer novas costuras.
AGRADECIMENTOS
A todas as mulheres que passaram pela minha escuta na clínica, pelas mulheres potentes que trocaram tanto conhecimento no grupo de estudos sobre psicologia da moda, mas agradeço principalmente às mulheres da minha família, que sempre foram uma grande inspiração de força, de humanidade e de desejo. Agradeço também à minha filhota canina, outra figura feminina marcante, que me acompanhou durante toda a escrita deste livro.
Agradeço ao apoio de amigos, amigas e familiares que se fizeram presente em toda trajetória de dúvidas, questionamentos e medos, que acreditaram não só nesta obra, mas no meu potencial antes mesmo de eu conseguir enxergá-lo.
Agradeço o sopro de coragem que prevaleceu ao medo, para colocar este escrito no mundo.
E por fim, a vocês leitoras e leitores desta obra, que de alguma forma puderam absorver um pouco do que venho estudando e compartilhando comigo os seus anseios por meio da sua própria escrita autoral.
APRESENTAÇÃO
O eu é a soma das identificações do sujeito, com tudo o que possa comportar de radicalmente contingente. Se me permitirem pô-lo em imagens, o eu é como a superposição dos diferentes mantos tomados emprestado àquilo que chamarei de bricabraque de sua loja de acessórios
(LACAN,1985, p. 198).
Retalhos, cortes, fios soltos, descosturas, fechos, linhas, agulhas, alinhavos, arremates, costuras, vestir… é fazer com o corpo. Nessa frase inicial, Lacan nos convida a pensar na constituição do sujeito como aquilo que pegamos emprestado ou adquirimos em um brechó, aquilo que é do Outro, mas que pode nos vestir como uma luva ou como um saco de batatas. Esse movimento de incorporação do Outro é constitutivo e algo que pode ser até mesmo palpável, acessível, quando se pensa no vestir. As identificações são fundamentais, constitutivas e atravessadas pelo laço social. Pela sua cultura, política, época, pelas relações, pelos territórios habitáveis, por sua localização e posição subjetiva. Tudo isso atravessa o corpo. Não só atravessa, como marca, insiste, permanece. Isso determina modos de vida, a subjetividade, a singularidade e como esse sujeito também se coloca no social por meio do vestir.
Pode parecer que o vestir fica distante ou diminuído diante das questões grandiosas e importantes da cultura e da política vigentes. Mas ele não o é. Já diria Mauro Mendes Dias (1997), o sujeito nasce vestido, vestido por linguagem. O que acompanha a mesma lógica da frase trazida no início por Jacques Lacan.
Os tecidos incidem no corpo por meio da cultura, da política, da época e isso não acontece sem efeitos no psíquico, sem efeitos no olhar para o corpo, para aquilo que marca o corpo e que define o que é um sujeito a ser desejado. Por isso, esta obra é uma convocação.
Uma convocação.
Para pensar sobre os efeitos do discurso da moda para além da obviedade. É uma convocação para olhar para si em meio a essas costuras que, em busca de fazer laço, podem fazer um nó. Pensar a autoestima para além dos padrões de beleza é também subverter às lógicas patriarcais de controle dos corpos femininos, é ter um olhar que escape o imaginário puro e vazio e encontre um lugar possível para simbolizar o que é a imagem de si, como isso foi construído e como existem mecanismos claros de controle que fazem com que pensemos a autoestima somente na lógica capitalista, do consumo e da aparência.
Olhar para si, para fora dessa lógica, requer coragem, mas também conhecimento desses lugares de manipulação e abertura para uma nova forma de observar a si mesma, por meio desse conhecimento.
Longe de qualquer lugar de autoajuda, a proposta deste livro é a convocação do olhar para si. Este livro não é uma obra pronta e acabada, na verdade, ele irá se refazer e tomar um novo sentido para cada leitora, assim como em uma sessão de análise, o saber aqui se inscreve nas palavras e na escuta. A escrita e o traço de vocês também farão marcas aqui e o tornarão singulares, por meio da experiência e do olhar de cada um sobre si.
Aqui, você não encontrará fórmulas, regras, imposições, você encontrará questionamentos. Mais do que referências nacionais e internacionais presentes neste livro, a proposta é fazer você se perceber, questionar-se e tecer essas palavras.
Ainda que o rigor teórico esteja presente e que você aprenda, questione, reflita e converse com os teóricos, eu te convido a atravessar esta leitura fazendo costuras possíveis com o que é seu.
Gabriela Cristina Maximo
PREFÁCIO
Quando recebi o convite para escrever o prefácio desta incrível obra que você tem em mãos, olhei para baixo e percebi que estava vestindo a camiseta de uma série de TV muito famosa e o quanto essa peça de roupa me simbolizava, identificação com todo um universo que remonta minha história de vida e em mãos um livro inédito que falava justamente sobre as marcas do vestir. Quando conheci a Gabi, autora destas páginas que você está segurando, foi amizade à primeira vista, falamos de roupas, maquiagens, tatuagens e o quanto desejávamos quebrar estereótipos dentro de nossos settings de trabalho e questionar as imagens impostas por um conservadorismo ultrapassado e, para minha surpresa, tudo isso e muito mais se encontram a seguir.
Aqui você encontrará equilíbrio entre explicações claras, provocações inquietantes e implicações muito bem-feitas, não te deixando passar para o próximo tema sem uma boa reflexão. O formato interativo com espaços para respostas sugere o exercício constante da singularidade, palavra que você encontrará em todo o texto.
Singularidade é conceito fundamental na psicanálise, unir essa teoria tão complexa com a moda não é tarefa fácil, mas a Gabi fez de maneira ímpar, mostrando com muita flexibilidade que o ato de se vestir é uma manifestação do inconsciente, assim como os atos falhos, lapsos e sonhos.
Além disso, o texto convida a refletir o vestir como protesto, inclusão, política, como luta e combate a objetificação dos corpos, ou seja, como forma de combater o machismo que tenta a todo momento apagar as mulheres como sujeitos para transformá-las em objetos. A saúde mental precisa extrapolar os limites dos consultórios e invadir todos os espaços sociais, trazer à tona a necessidade de pensar as relações humanas com responsabilidade para que tenhamos uma vida mais salubre, coletiva e individualmente. Tudo isso está bem claro nas palavras da autora.
Não tenho dúvidas que a experiência de ler este livro lhe propiciará importantes reflexões, questionamentos e incentivo para que exercite sua singularidade e se sinta mais livre para colocar e deixar no mundo a sua marca.
Ótima leitura!
Psicanalista Darci Martins
Graduando em Filosofia, psicanalista pelo Instituto Paulista de Psicanálise, Instituto da Psicanálise Lacaniana e pelo SINPESP.
Pós-graduado pela FAAP em Psicanálise
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INTRODUÇÃO: A MODA COMO DISCURSO
A moda é um dos grandes instrumentos sociais de influência quando o assunto é imagem corporal e autoestima. Essa indústria não só lança tendências sobre cores, tecidos, modelagens e costuras, como também determina qual o público dessa moda pertence.
Historicamente, a moda é marcada pela diferenciação de classes, pela inovação e pelo sentimento de exclusividade. A questão é que essa exclusividade também supõe a exclusão de um público que sofre com essa demanda incessante e inatingível de ideais e impossibilidades.
Algumas autoras e autores que trabalham com a psicologia a moda significam a moda de formas distintas, enquanto algumas consideram o sujeito em seu processo