Até Que A Tempestade Passe
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Até Que A Tempestade Passe - Stéfany Lara Da Silva
Até que a tempestade passe
Quando a história te conhece,mas você não a reconhece.
Parte 1
Eu só conseguia pensar em como seria o dia em que eu me mudaria para o exterior. Bom, quando eu poderia finalmente viver a vida dos meus sonhos. Eu vivia flutuando, imersa em todas as imaginações, que mal cabiam na minha própria mente...
Papai colocava a mão no rosto e ficava a imaginar também; como seria e também a se perguntar o porquê de eu querer ir para tão longe...
Certo dia eu estava lendo um livro de Stevie Hirson no caminho de volta para casa; a escola havia terminado um pouco mais cedo. E , foi quando olhei ao longe e avistei um carro diferente; saí correndo imediatamente e me esqueci até de marcar a página em que havia parado de ler.
Ouvia as risadas do meu tio Federick e então parei na porta embasbacada... -Eulália!
-Tio!
-Como você está grande e parecida com a Adélia!
-Tio como é bom te rever depois de tanto tempo...
-Você ainda quer ir embora?
Olhei para ele com os olhos lacrimejados e suspirei...
-É o que mais quero!
-É! Vou perder mesmo minha filha!
Disse papai refletidamente!
-Não papai, você não vai me perder. Eu só vou morar lá, não vou esquecê-lo. -Mas... Você vai voltar Eulália?Perguntou ele.
-Não papai, para morar não.
-Então, então eu irei te perder!
E começou a chorar...
-Ah! Que é isso mano... Você também vai poder ir até lá!
Disse tio Federick, batendo as mãos de leve nas costas de papai.
Abaixei a cabeça e fui para o quarto.
Tio Federick morava na Alemanha há anos. E estar com ele, era como se eu estivesse entrando em contato ainda que de forma um tanto distante, com um pedacinho do mundo lá fora. Ele, sua esposa, tia Vera,Alexander e Gustavo, agiam e falavam de forma totalmente diferente de nós.
Por isso, eu me assentava e ficava hipnotizada
a ouvir tudo o que eles falavam sobre lá e sobre os outros países que visitavam. Na verdade, o que eu queria era viver viajando para vários países!
Estava tudo tão bem planejado em minha mente!Era estimulante pensar em como seria tudo!
Eu e papai éramos muito próximos, sobretudo porque eu não tinha mais minha mãe por perto. Meu pai era minha principal inspiração de vida, meu mentor. Morávamos em uma fazenda, eu era grata por haver nascido em uma família abastada, mesmo porque isso tornava os meus planos plenamente viáveis,do contrário, tudo seria bem difícil.
Planejava ser fotógrafa, amava paisagens, imagens espetaculares da natureza, bem como fotografar pessoas; eternizando-as em uma fotografia!
Contudo, havia uma penosa dificuldade em tudo isso.Papai tinha só a mim de filha;ele desejava que eu ficasse sempre ao seu lado,o que obviamente seria impossível.
Éramos de fato, muito apegados um ao outro, éramos amigos além de pai e filha. Tive uma infância confortável e feliz, embora tudo não pudesse e nem nunca poderá suprir a falta da minha mãe. Ela morreu quando eu tinha 6 anos... Isso potencializou ainda mais o apego do meu pai a mim e vice-versa.
Foram muitos momentos de profunda dor: nas reuniões de escola, nas festas de aniversário,nas dúvidas de uma adolescente ; nas comemorações de final de ano... E o que dizer dessas?
Quando todos estavam ao redor de suas mesas com suas famílias, e eu e o meu pai ás vezes sem saber ao certo onde e com quem comemoraríamos!Nosso parentes estavam muito longe e eles já tinham seus próprios núcleos familiares. Meu pai certa vez em uma véspera de Natal olhava ao longe da janela com os olhos lacrimejantes: os vizinhos com seus lares cheios de pessoas sorrindo, conversando, as crianças correndo para lá e para cá e gritando.
E é muito engraçado como todo o nosso dinheiro naquela hora não poderia nos aquecer em um abraço, não poderia nos beijar e dizer que nos amava!
Não, aquela fazenda suntuosa, grande e bonita, todo o dinheiro, as propriedades, o gado, as ações da bolsa, as contas abarrotadas de dinheiro e tudo o mais; naqueles momentos e em tantos outros, não podiam fazer nada, nada por nós!
Então, só tínhamos um ao outro e à nossa grande riqueza, tão impotente, tão frígida, tão inútil naqueles momentos...
O dinheiro não é o todo poderoso
que dizem, e eu posso provar isso, porque eu o sempre tive!Na verdade, ele está muito, muito longe de ser tudo isso!
Não é intenção demonstrar uma falsa humildade, é simplesmente a constatação de um fato!
Naquela noite, meu pai me chamou, eu que estava na meia luz da sala e com os olhos cheios de lágrimas. Abraçamos- nos em um abraço de refúgio , e chorávamos, porque era a única coisa que podíamos fazer.
O seu Atílio
um vizinho nosso, quando não ia viajar ou quando não ia pra a casa de um parente ou de amigos, nos chamava para a sua casa no Natal e nos finais de ano. Porém, meu pai mesmo com toda a nossa solidão, dava maior preferência por ficarmos em casa e ali fazermos nossas ceias.
Ele não quis casar-se de novo, e não quis arriscar ter uma outra esposa já tendo uma filha, achava que não daria certo.Papai ficou muito desgostoso com a morte da mamãe. O máximo que acontecia era alguns casos sem importância; coisas de homem.
E assim o tempo foi passando e passando...
Bem, tudo começou quando eu ainda tinha 12 anos. Meu tio quando vinha nos visitar, de praxe contava nos como era o mundo de lá
e tudo aquilo me fascinava imensamente; a tia Vera, sua esposa,Gustavo e Alexander, também narravam as maravilhas dos outros países. Porém, as narrativas do tio Federick eram mais emocionantes, mais vívidas, mais entusiásticas, o que despertou em mim mais e mais a vontade de um dia ir para fora do país.
Então, posso dizer que ele foi em parte, o grande responsável pelo sonho que nasceu em mim. Meu tio era como o meu segundo pai, tratava-me como a um dos seus filhos. Era o meu único e amado tio, por parte de pai.
Esse grande sonho tornou-se a grande meta da minha vida!No qual eu pensaria quase que todos os dias.
Eu também pensava muito em outra coisa; ou melhor, em alguém.
Leonardo era o meu grande amor!Eu o conheci com sete anos, brincávamos juntos, nos divertíamos