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As Cores Do Meu Arco-íris
As Cores Do Meu Arco-íris
As Cores Do Meu Arco-íris
E-book355 páginas4 horas

As Cores Do Meu Arco-íris

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Sobre este e-book

O que é necessário pra ser feliz? Amor? Dinheiro? Posses? Nesse mundo tomado pela futilidade, pela pequenez da alma, pelo desprezo pelo ser humano, escancarado por uma pandemia, ainda existe quem acredita no amor, na generosidade, na humanidade. Família, amigos, compaixão. Desilusões amorosas e esperanças vãs são superáveis quando o amor próprio se fortalece e se torna prioridade. O auto conhecimento supera a dor da perda. A continuidade da vida abre a possibilidade para um novo tentar. Talvez com novas perdas, mas com a esperança de ser feliz. Alguns fatos dessa obra são reais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jun. de 2021
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    As Cores Do Meu Arco-íris - Pacco Henry

    E-mail para Gabriel

    29 de janeiro de 2021

    Gabriel, não vejo a hora de nos revermos. Mas você ainda continua preso aí, em Portugal, por causa dessa pandemia miserável.

    Olha, pensei no que você me pediu, sobre eu contar um pouco da minha vida pra você. Eu aceito o desafio. É algo novo e eu adoro novidades. Se você está pensando em lançar uma biografia sobre mim, te digo: quem vai se interessar em ler? Nem famoso eu sou! Sequer sou influenciador digital! Tenho uns dois mil seguidores no Instagram. Isso é suficiente pra ser famoso ou influenciador? Duvido! Kkkkk. A menos que você escreva em forma de romance, daí, talvez alguém se interesse.

    Bem, eu vou te contar por e-mail. E aí, você ver o que faz! A cada dia, te enviarei um e-mail Não sei se vou conseguir te enviar um e-mail por dia. Mas tudo bem, assim te deixo na expectativa do próximo. Decidi contar por e-mails, assim facilita, porque você é surdo e eu ainda, me desculpe, não tenho domínio na linguagem de sinais. Mais uma vez te peço desculpas por esse meu erro. E também, em forma de e-mails, ao invés de escrever tudo de uma vez pra depois te enviar, eu terei paciência pra ir até o fim. Além do mais, fica mais fácil pra eu corrigir alguns pontos. 

    Fui promíscuo, fui ingênuo, fui iludido, mas não me arrependo. Não, não quero me arrepender. Essa parte do meu passado foi necessária para o meu amadurecimento. O que eu possa ter feito de errado eu quero carregar como uma cicatriz. Não me importo em ser julgado. Todos somos julgados e julgamos. A vida é um tribunal.

    Passei por vários sentimentos: eu amei, eu sofri, me decepcionei, odiei, me vinguei, bati, apanhei, morri, renasci e estou amando de novo. Posso dizer que vivi. Posso dizer que a vida vale à pena.

    Mas deixa de blábláblá e vamos direto ao ponto! Escrevi sem muitas regras, cronologias, etc. não sou escritor e não pretendo ser. Serão apenas rascunhos de momentos que vivi na minha tortuosa vida.

    Odeio prólogos! Sempre pulo. E vou pular agora. Você não acha que deveriam mudar essa palavra – prólogo – pra spoiler? É mais moderno, né? Até atrai o interesse.

    E-mail um

    02 de fevereiro de 2021

    Gabriel, demorei pra te enviar o primeiro e-mail porque não sabia por onde começar. Mas vou iniciar por onde a minha vida realmente começou a mudar, que foi quando conheci o meu primeiro amor de verdade. Ele tinha aquela carinha de bebê, que muitos boys têm, e que nos conquista apenas pelo olhar. Nossa, e aquele corpo malhado, sarado de meses e meses de treinos na academia! Sim, é até desnecessário dizer que gostaríamos de criá-los e protegê-los, como se eles precisassem.

    Aliás, foi na academia onde o vi pela primeira vez. Eu sempre freqüentava a academia às tardes, pois estudava marketing pela manhã. Eu evitava o horário noturno para treinar, porque a quantidade de gente na academia era muito grande. Às vezes, tinha que dividir os equipamentos com mais de uma pessoa e tal. Ou seja, quando chegava a minha vez de fazer a próxima série, o corpo já estava frio. É o ó.

    Meu nome é Vogue, idéia da minha mãe, que é apaixonada por essa palavra. Sempre vai surgir alguém, em algum momento, com o nome estranho. Quando eu nasci, esse alguém fui eu. De onde a minha mãe tirou a idéia de me batizar com esse nome? Uma dica: Mainha é puta fã da tia Madonna. Meus amigos cresceram com suas mães ouvindo Roberto Carlos, Reginaldo Rossi, Julio Iglesias... Eu cresci vendo minha mãe dançar na sala ao som de Madonna. Pra ela, Madonna e Michael Jackson serão sempre os maiores. Quando eles vieram ao Brasil, em 1993, ela estava lá, com oito meses de gravidez. Ela sempre conta, com orgulho, que pulou e dançou no show de Madonna, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, minha irmã e eu nascemos. Nascemos no Rio de Janeiro, mas, na semana seguinte, meus pais voltaram pra Recife, onde sempre moraram.

    Quando percebi que sou gay, isso lá na adolescência, botei a culpa, ou a benção, sobre a Madonna. Afinal, minha mãe é puta fã dela, meu nome vem de uma música dela, minha infância foi ouvindo as músicas dela por causa de minha mãe. Não que seja necessário, longe disso, mas digamos que foi o motivo. Kkkk. Só pra dizer que teve um. Só não fui batizado com o mesmo nome dela porque nasci menino. Essa honra ficou pra minha irmã gêmea. Pelo menos a minha mãe não teve a brilhante idéia de me batizar Madonno. Aff! Pense na desgraça! Eu até gosto de algumas músicas da Madonna. Mas prefiro a Adele.

    Pro meu pai ficou relegada a escolha dos sobrenomes. Eu sou Vogue Dickinson, de Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden. Já a minha irmã é Madonna Harris, de Steve Harris, o fundador da mesma banda. Já viu, né, o que meu pai curte! É uma família doida. Mas é a minha família! A família que eu amo, com todos os seus prós e contras.

    E mesmo com um nome de artistas estrangeiros, pensa que minha irmã curte musica de fora? Que nada! O negócio dela é samba, brega, forró... tudo que é regional.

    Hora de voltar ao boy da academia, afinal, iniciei tudo isso com ele, né. No dia em que o vi pela primeira vez, foi fora do meu horário. Como não pude ir no horário habitual, decidi enfrentar a multidão noturna; é melhor do que ficar sem treinar. A única vantagem do treino à noite, é que têm muitos garotos bonitos. Papo de bicha novinha, fazer o quê? Acho que todos passamos por isso: por essa atração, por esse encanto de ver um boy bonito, sarado e, uh-lala, suado. Mas fui no início da noite, quando o movimento ainda ta menor.

    Mas ele se destacava. Não só pela carinha de bebê, mas por todo o restante. Ele era proporcional no corpo, ao contrário da maioria ali presente, que parecia um sorvete: largo em cima, fino em baixo. Ou eram musculosos demais, ou eram magros demais. Mas ele era calado, na dele, mal falava com alguém. Não parecia ser sociável. Naquele dia, ou melhor, naquela noite, ele chegou, treinou peito e tríceps, fez uns abdominais na barra e foi embora do mesmo jeito que chegou, falando apenas com os instrutores e recepcionistas. Sim, observei bem.

    Era um boy magia, um metro e oitenta e cinco, magro sarado, com músculos na quantidade e nos lugares certos, tatuagens por todo o braço esquerdo e na panturrilha direita. Tive vontade de perguntar o nome dele ao instrutor, ou na recepção. Mas, graças à Deus, o bom senso não me deixou cometer essa burrice.

    Enquanto ele treinava, vi um grupo de garotas a observá-lo e fazer comentários entre si. Sim, passei a vê-las como rivais. Olha só onde eu já estava! Ele até deu uma rápida olhada nelas num momento de intervalo entre as séries. Mas não me pareceu empolgado. Então passei a crer que ele tivesse uma namorada: uma rival para aquelas garotas, uma grande rival para mim. Sim, eu já estava aí. Rsrs. Também cri que seria mais fácil ele ficar com alguma daquelas garotas do que comigo. Isso me doeu, cara. É aquela sensação de querer uma coisa única, e saber que nunca a terá.

    Pronto, desde aquele dia, meu horário de treino mudou. Passei a malhar no início da noite só por causa daquele boy magia que eu sentia a obrigação de conhecer, e quem sabe, sermos, pelo menos, amigos. Amigos de fazer chamada de vídeo pra contarmos um pro outro sobre nosso dia, o que sentimos, o que desejamos, o que fazemos... e até falarmos sobre nossa vida amorosa, por que não. Apesar de que não seria nada agradável ouvir ele contar que estaria apaixonado por alguém. Alguém que não seria eu.

    Nas três noites seguintes, lá estávamos ele e eu, no mesmo horário. Mas a quantidade de pessoas e a diferença de planejamento de treino nos impediam de nos esbarrarmos. Salvo quando íamos ao bebedouro. Aliás, eu esperava ele ir. Bicha deslumbrada... o ó, aff! Mas não nos falávamos. Ele bebia enquanto eu admirava o corpo dele, depois ele se retirava sem mesmo me notar. Se eu tivesse a mentalidade que tenho hoje, eu o teria esquecido naquele momento com apenas um foda-se com o pensamento.

    Na quarta noite, ele não apareceu. Porra, fiquei triste e desesperado. Eu malhava pra manter meu corpo atrativo, porque gostava de malhar e porque é saudável. Mas mais porque ficava atrativo e gostoso. Mas eu ganhei mais um motivo: o boy magia. Quando ele não foi àquela noite, muita coisa passou por minha cabeça. Teria ele desistido de malhar? Teria ele trocado de academia? Teria ele trocado de horário? Eram muitos teriam! Não sei por que me deu aquele desespero filho da puta, mas me agarrei na possibilidade d’ele ter apenas ficado doente. E até treinei sem tanto entusiasmo. A mente é algo difícil de controlar, viu! Caralho!

    E chegou o sábado. Eu não treinava aos sábados. Preferia dar um descanso, relaxar e curtir. Mas eu acordava cedo nos domingos pra correr nas praias de Olinda. Se rolasse uma balada aos sábados, eu deixava pra correr no fim da tarde do domingo, porque de manhã era só pra eu dormir.

    E passei o final de semana na ansiedade pra que logo chegasse a segunda. Eu queria ver se o boy magia iria aparecer ou não. Mas, se não, eu descobriria o motivo, nem que eu perguntasse na recepção.

    No próximo e-mail eu conto o que aconteceu, Gabriel. Esse já está longo.

    E-mail dois

    03 de fevereiro de 2021

    E, finalmente, Gabriel, veio a segunda-feira! Durante a aula na faculdade, eu pensava naquele belo garoto e torcia pra ele aparecer na academia mais tarde. Foi durante aquela aula, aliás, que tive uma boa notícia: fui chamado pra uma entrevista pra estágio numa empresa no Recife Antigo. A entrevista seria na tarde do dia seguinte. À noite, fui malhar feliz da vida com a notícia do estágio. Eu só pensava nisso. Nem pensava mais no boy magia. Estava ansioso e me perguntava como seria trabalhar pela primeira vez. Até tive medo. Cheguei à academia, aqueci fiz a mobilidade como de costume. Os alunos do final da tarde já estavam vazando, deixando a academia vazia. Mas logo voltaria a encher quando chegasse o pessoal da noite. Quem freqüenta academia sabe como é. Cheguei cedo porque tinha que treinar peito e não queria pegar tráfego nos equipamentos. Parece que todos os homens decidem treinar peito no mesmo dia!

    Corri pro supino, montei tudo. Fiz uma série, um minuto de descanso: tempo pra pensar com que roupa me apresentaria na entrevista. Segunda série, mais u minuto de descanso pra decidir se era com aquela roupa que eu me apresentaria. Foi nesse momento que ouvi uma voz grave:

    - Falta muito pra você?

    Que voz! Chegou a me paralisar e a me aquecer ao mesmo tempo. Até me arrepiei. Me virei e dei de cara com ele, o boy magia com cara de bebê e tatuagem tribal no braço e o leão do Sport na panturrilha. Tinha que me referir a ele desse jeito, ou, o garoto da academia, pois ainda não sabia o seu nome. Ele falou comigo! Imediatamente esqueci o que ele havia perguntado.

    Espero não ter demorado um minuto pra responder:

    - O quê?

    Ele repetiu a pergunta com aquela voz de derreter geleira. Voltei a mim:

    - Falta só uma. – caralho, quase gaguejei.

    - Posso revezar com você? – ele pediu com um tímido sorriso suficiente.

    Se ele me pedisse pra eu ir embora naquele momento, eu iria. Acha que é brincadeira? Não duvide!

    Respondi:

    - Claro! Mas por que você não pega uma máquina livre? – tinham mais duas.

    Ele sorriu:

    - É que essa já está montada.

    - Ah, tá!

    Ele tava com preguiça. Hehe.

    - Você vai agora?

    - Não, pode ir!

    Já havia mais de u minuto que eu tinha feito a última série. Isso me preocupava aquele momento? Redundância responder.

    Ele colocou quase o dobro do peso que eu usava. Perguntei-me, como ele conseguia levantar aquilo tudo se tínhamos, praticamente, o mesmo porte físico. Só não tínhamos a mesma altura. Ele tinha uns 10 centímetros a mais do que eu. O peito dele pareciam dois travesseiros. Quando ele deitou no aparelho, sua camiseta subiu um pouco, deixando à mostra, o abdome definido e depilado, o umbigo com aquela carreirinha de pelos que desce até sumir dentro da bermuda. Eita, Deus é bom, viu; mas satanás gosta de competir. Confesso que não pude deixar de notar o volume por dentro da bermuda. Sinceramente, hoje penso o quanto isso é ridículo. Dar uma olhadinha qualquer tudo bem. Mas, olhar fixamente, desejar ver, pegar e chupar é ridículo. Mas logo desviei o olhar, com medo de alguém perceber e derrubar minha reputação. Pior: ele perceber.

    Ele fez três repetições e na quarta me pediu pra ajudá-lo. Estava pesado. Saí do meu torpor de admirá-lo a treinar, dei a volta e fiquei com a cabeça dele entre minhas pernas. Ele me pediu pra apenas acompanhar seus movimentos. Ele fazia careta por causa do peso e fazia o exercício olhando pra mim e expirando em meu rosto. Naquele momento, ele poderia mijar na minha cara que eu iria delirar. Nossa, como eu era o ó. Mas o sopro que saía daquele bocão já me causava prazer. Eu olhava pra ele, pro peso, pra ele, pro abdome, pra ele, pro volume, pra ele...

    Ele agradeceu pela ajuda. Ora, que é isso, foi um imeeeeeeenso prazer. Mas fiquei lisonjeado. Quando deitei pra fazer minha última série, ele se ofereceu pra me ajudar, já se posicionando onde eu estava ao ajudá-lo. Ou seja, agora era minha cabeça que estava entre as pernas dele. Onde eu estava? Nas nuvens, claro. E que pernas! Eram lindas, malhadas, torneadas e lisas com as veias disputando quem aparecia mais. Sinceramente, as pernas são o que mais me atraem num atleta. Quando vejo algum cara que treina, são as pernas o primeiro lugar pra onde olho. Eu fiz a série tentando não olhar muito pra ele. Eu não queria assustá-lo de alguma forma.

    Agradeci. Foi o máximo. Se bem que eu poderia ter feito sozinho. Kkkkkk. Mas não passou por minha cabeça dispensar a ajuda dele. Pensei em inventar uma série extra, só pra ficar mais tempo com meu mais novo amigo bonitinho. Mas a prudência falou mais alto e passei pro exercício seguinte, após ajudá-lo na sua segunda série. Sim, não esperei ele pedir. Ah-há. E ainda o ajudei na terceira e na quarta, ele fazia quatro!

    Foi no final dessa série que ele me perguntou, enquanto guardávamos os pesos:

    - Você é novato aqui? Eu nunca vi você por aqui!

    - Não, não. Eu era do horário da tarde. Comecei a vir a noite na semana passada.

    - Eu vi você aqui na semana passada.

    Porra, Gabriel, ele tinha me notado. Fiquei bestinha com isso. Então, retribuí.

    - Eu percebi você também. Menos na sexta.

    - Não pude vir. Fiquei ajudando no mercadinho do meu pai. Começo do mês o movimento é maior. Aí não deu tempo.

    Em seguida, nos separamos.

    Só voltamos a nos falar aquela noite, quando ele foi embora. Ele me procurou pra se despedir. Será que eu havia deixado uma boa impressão? Me deu um aperto forte de mão e me perguntou se eu voltaria no dia seguinte. E abriu um lindo sorriso quando respondi que sim.

    - A gente se fala amanha, então! – disse ele, com aquele sorriso de boca grande e sedutora.

    Quando ele deu dois passos, gritei:

    - Espera! – ele se virou – Como é teu nome?

    - Douglas.

    - Eu sou Vogue.

    Ele não entendeu. Repeti.

    - É diferente.

    - É. Se tem gente que se chama Cristal, Estrela, Rubi... por que não posso me chamar Vogue?

    Ele riu e disse:

    - É quente! Nunca conheci ninguém com esse nome.

    - Eu sou o primeiro. – rimos.

    - E talvez o único. Legal. Tamos junto!

    E então ele se foi. Legal mesmo, bota legal nisso! Mas, mais legal foi tê-lo conhecido. Douglas, agora sim, ele tinha um nome, era meu mais novo amigo, mais novo parceiro de academia. Douglas, não, Doguinho, era assim que eu o chamaria, um contraste ao tamanho dele. Queria que ele fosse mais. Queria que ele fosse meu crush. Mas já me contentava com a amizade. Mas não pude deixar de fantasiar com ele. Em casa, ou na rua, bastava pensar em Doguinho, e eu fantasiava. Ficava imediatamente excitado. Eu colocava os livros na frente, com medo de alguém perceber. Meu Deus, por que o Senhor faz coisas tão belas quanto Doguinho? Sei que o Senhor é perfeito, mas não precisa exagerar! É pra nos provocar? Pra nos testar? Pra nos tentar? Então não é só o diabo que nos tenta. Não estou blasfemando, né Deus? Sei que não. O Senhor compreende.

    Mas as minhas fantasias com Doguinho esfriavam quando vinha a minha cabeça que ele tinha alguém. Uma garota, claro. Ele não parecia gostar de meninos. Eu tinha certeza de que ele tinha alguém. Um cara como ele, lindo, gostoso e jovem não poderia estar sozinho. Fui dormir aquela noite pensando nele. Se não me controlasse, teria passado a noite acordado.

    E-mail três

    04 de fevereiro de 2021

    Então, Gabriel, no dia seguinte, após o meu primeiro contato com o boy magia, fiz tremendo esforço na sala de espera do entrevistador do estágio para não desviar meus pensamentos pra Doguinho. Já bastava eu ter perdido a concentração algumas vezes durante as aulas pela manhã, lembrando que ele já havia me notado na academia. Se eu o fizesse diante do entrevistador, ele pensaria que sou disperso. Como era minha primeira entrevista de emprego, pensei que o entrevistador era bem chato e assustador. Mas não foi ele, foi ela, uma entrevistadora, o que dificultava ainda mais a minha situação porque as mulheres enxergam mais detalhes que os homens. Bom, ela era experiente, claro, mas eu sabia fingir. Entenda-se bem: fingir, não mentir. Respondi a todas as perguntas que ela me fez, até a respeito da minha sexualidade, quando ela percebeu, em algum momento, ou eu deixei escapar de propósito, minha orientação.

    - Prefiro os meninos. Isso é uma desvantagem?

    Ela tomou um choque fingido e sorriu um pouco mais. Parecia ter gostado da minha resposta.

    - De forma alguma. Isso é irrelevante. É apenas uma conversa entre amigos. – respondeu sorrindo.

    Ela parecia bem curiosa e perguntou:

    - Você tem namorado?

    - Não, mas tem um boy que conheci ontem na academia. – eu ia responder que gostava dele, mas disse, apenas: - Mas somos amigos. Acho. Conversamos como amigos. Quer dizer, só o necessário... ele deve ser hétero.

    Sem perceber, estava eu contando coisas a mais. Sim, me enrolei nessa fala.

    Ela se encostou na cadeira, com um brilho no olhar. Até pensei que ela era lésbica. Mas vi uma foto onde ela aparecia com uma criança, provavelmente, filho; e noutra foto, com um homem. Com certeza, marido.

    - Pelo que entendi, vocês se conheceram ontem, você gosta dele, mas ele não sabe. E você tem medo de falar pra ele e perder a amizade.

    - Eu não falei que gosto dele. Quer dizer, eu simpatizei com ele porque o achei bem educado... e bonito, claro. Mas ele deve ser hétero. E isso dificulta um pouco uma amizade, porque muitos héteros acham que ter amigo gay é sofrer assédio deles.

    - Nem todo mundo tem a mente aberta. A única coisa que você deve fazer é tentar. Talvez ele seja diferente.

    - A única coisa que eu posso perder é um futuro amigo.

    - Exatamente. Ou pode ganhar um amigo. Ou mais do que um amigo.

    Aquela puta era esperta. Ela sacou direitinho, Gabriel. Ou ela já passou por algo parecido. Bom, eu só podia admitir que ela estava coberta de razão.

    Aquela conversa me deu a certeza de que a vaga era minha. Ficamos amigos, e eu comecei a estagiar no setor de Marketing Comercial às tardes. Meus dias estavam cheios: faculdade de manhã, estágio à tarde e academia à noite. A adolescência morria de vez. A vida adulta começava a abrir os olhos, com esperanças, com outros sonhos, com outras responsabilidades, com novos sentimentos. E eu estava disposto a experimentar todos eles, todas as sensações, tudo.

    E-mail quatro

    05 de fevereiro de 2021

    Dale, Gabriel! Nesse e-mail, vou voltar um pouquinho no tempo.

    "Foi por volta dos 12 anos que surgiu meu despertar verdadeiro para os garotos. Até então, eu só queria saber das brincadeiras na rua, dos passeios nos finais de semana, da TV e do videogame, sempre com Daniel, meu amigo de infância. Foi na sala de aula que minha natureza homoerótica despertou. Havia na sala um garoto chamado Robson, que por sinal, era o mais lindo da

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