Manuscritos de um Suicida

De Thiago Santos

Imagine uma época aonde a liberdade impera. Tudo é aceito e permitido. Não há limites e poucas regras. Acreditou que o sofrimento passaria longe, não é? Enfim, a tal felicidade suprema e desejada seria alcançada.
Só existe um detalhe: o amor é o limite, o amor rejeitado, que não é correspondido, inalcançável. O personagem, livre e dono de si, esquece que a vontade do outro ainda subsiste. E mais, que ele é falho, erra e tem dúvidas que viram certezas, em um breve segundo (des) lucidez.
Mal sabia, tolinho, que sua alta confiança em si, em seus diplomas, na sua condição financeira invejável, sua gana pela liberdade propriamente dita, de nada adiantaria sem amor, ou melhor, sem amor recíproco, e que o levaria à depressão.
O personagem se perde nesse limiar entre liberdade e limite. A repetição, imposta pela rejeição e depressão, domina-o. A indiferença imposta pelo sentimento não correspondido irá destruí-lo? Será que ele entenderá que toda liberdade necessita de um limite previamente acordado?
O clichê se faz presente: precisamos perder para valorizar? Ao perder o amor, perdemos o nosso amor, que às vezes chamamos de próprio. Será que ele sairá dessa depressão profunda ao não ser novamente correspondido?
Nessas vinte e duas crônicas, descobriremos o desfecho, se ele conseguirá suportar a falta do desejo e o resultado de um ser angustiado por si e pelo outro.

• Idioma: Português
• Editora: Viseu
• Data de lançamento: 3 de abr. de 2023
• ISBN: 9786525448039

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Afirmativas

Sairei da escravidão sendo escravizado; no magma e enxofre terei que encontrar a saída, visto que pequenas mentiras geram grandes problemas. Contudo os corajosos assumem seus erros através do mar da história, este é agitado, e à medida que nos desesperamos, as águas se movimentam em direção à morte.

Meu mundo será salvo por Zafenate Panéia. Esqueço-me da pirâmide e te busco na procura incessante por iluminação, e você possui poderes mágicos, surge o talismã e sem ele não consigo adquirir a conversão.

Hoje escutei que é melhor comer o pão de Deus em vez de me alimentar do caviar do diabo. Fiquei meditando e cheguei a uma conclusão: e se meu amor for esse caviar? Deliciava-me e convidaria as torradas para apreciarem o banquete, mesmo que fosse o último. Sei que não há saída no ventre do peixe, e outra pergunta se eleva: e se as crenças que aceitamos por fé forem fatos?

Não acredito, apenas confio que no grande quarto escuro um dia dormirei no seu colo; ao fechar a cortina, não existirá diferença entre vida e morte, apenas verei o ceifeiro. Tomada uma decisão, aceite-a e siga em frente; mesmo que haja o fator medo, tome cuidado, pois este gera uma ação estimulante aguçando nossa capacidade de raciocinar.

Com isso esquecemo-nos que qualquer coisa feita ao alcance de um homem esclarecido está ao alcance de Deus.

Fiz-te muitas promessas, poucas cumpri, não tenho intenção de justificar nada, até porque uma palavra mal compreendida é capaz de reescrever toda uma história. Comigo não foi diferente, surgiram as expectativas, e as afirmativas não passaram de afirmativas.

Água

Está chovendo, relampejando, o céu está muito escuro e a meteorologia prevê dilúvio. A minha vida está como a tempestade que cai na terra encharcada. Não quero mais água nem palavras de que quando amanhecer estará tudo melhor, é balela. Começo a acreditar que relacionamentos, sejam de qualquer esfera, possuem validade. Começo e fim.

Tivemos momentos felizes, porém para você só o fim importa. Acabo em uma cascata perpendicular na zona não cadastrada do esquecimento. Quis dominar seu corpo, espírito e alma. Tentei ser seu sol – consegui por algum tempo –, esse tem uma dualidade meta, nele há uma indefinição entre o relembrar