Educação Ambiental e Universidade: Indícios de Sustentabilidade
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Educação Ambiental e Universidade - Maria de Lourdes Spazziani
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SUSTENTABILIDADE, IMPACTO, DIREITO, GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Aos meus pais, Dona Lourdes e Seu Constante (in memoriam), por aquilo que sou... pela existência!
Ao meu companheiro, Sardinha, por me ajudar a resistir e curtir!
Aos meus filhos, Yush e Lucas, por me permitirem transcender!
E na escola do futuro essas janelas estarão abertas de par em par, e o professor não só olhará, mas também participará ativamente dos ‘deveres da vida’. O cheiro de mofo e podridão em nossa escola devia-se ao fato de que, nela, as janelas para o amplo mundo estavam hermeticamente fechadas e, sobretudo, fechadas na alma do próprio professor!
(Lev Semyonovich Vigotski)
PREFÁCIO
Começar pela lição de casa
Devo começar as palavras que tenho a dizer (ou a escrever) sobre uma tese que agora é um livro: Educação Ambiental e Universidade: indícios de sustentabilidade, com a lembrança de uma amigo querido, Rubens Matuck, também um artista notável.
Quando estive em seu estúdio em São Paulo, ele não se preocupou em mostrar a sua coleção de aquarelas. Deveria ter procedido assim, porque afinal eu fui até lá para combinar com ele a ilustração de um livro meu.
Rubens levou-me, logo após me haver conhecido e feito entrar em seu estúdio, até um estranho móvel com inúmeras pequenas gavetas. Dentro de cada uma havia caixinhas ou envelopes que zelosamente guardavam… sementes. Eu sou o maior sementófilo que eu mesmo conheço
, foi logo dizendo, enquanto abria alguns envelopes e me apontava um punhado de sementes, e me dizia de que planta eram. Seu orgulho era uma coleção de semente de Baobá.
Ele não gostava de ambientalistas teóricos
, especialistas em comunicações por internet, e evitava criteriosamente participar de eventos sobre o assunto, sobretudo quando em universidades. Mas plantava árvores.
E então ele me levou ao pequeno quintal na parte de trás de seu estúdio. Ali eu me deparei com várias mudas de diferentes árvores, cuidadosamente plantadas em sacos plásticos. E havia também algumas cavadeiras e outros instrumentos para o plantio de árvores.
Ele tinha (espero que ainda tenha) uma dessas pequenas caminhonetes com um espaço aberto na parte de trás. Em finais de semana, ou mesmo em dias úteis
, ao longo de anos e anos ele colocava um punhado de mudas de árvores e mais instrumentos de plantio, e saía pela cidade. Parava em praças, ou em qualquer lugar onde havia alguma porção de terra pública e livre para plantar: um canto de uma praça, um lugar numa rua com uma pequena roda de terra na calçada, com uma árvore morta, ou já sem árvore alguma. E então ali, sem pedir licença a ninguém, ele parava a caminhonete, cavava a terra, plantava uma muda de árvore, regava… e ia embora. Quando nos conhecemos, há mais de vinte anos, ele me confidenciou que clandestinamente já havia plantado em São Paulo mais de mil árvores
.
E eu, antropólogo e professor universitário, fiz as minhas contas. Se cada um, cada uma de nós plantasse ao menos uma árvore ao ano em sua universidade (sem pedir licença a ninguém), ou em sua cidade (idem), quantas mil e mil elas seriam?
De fato, pensando bem, queremos salvar a Amazônia
, mas nos esquecemos de regar a planta no vaso diante de nossa janela. O que me faz lembrar que certa feita, escrevi um livro para o Ministério do Meio Ambiente. Aqui é onde Eu moro, aqui Nós vivemos
foi a primeira parte de um longo manual destinado a ajudar a criação de municípios educadores sustentáveis
. Mais uma boa proposta pública que, pensada por uma ministra demissionária, foi deletada
na semana seguinte pelo novo ministro.
Sempre pensei que a questão ambiental
pensada abstrata e teoricamente vale, na prática, muito pouco. Penso que a natureza
me toca não quando é abstrata e livrescamente: a natureza
, mas quando é a natureza de que eu sou
, ou quando é o mundo natural que é também
meu. E o seu maior valor é que ele é
meu na condição de que eu o possua, solidária e coletivamente, com outras pessoas. Mulheres e homens que vão de meus familiares ao meu departamento universitário (alunos e funcionários incluídos). E deles aos moradores da periferia de minha cidade. E deles então, aos
povos da Amazônia".
Assim, comecei o meu livro – que em nova versão tornou-se Minha casa, o Mundo – pela cama onde você dorme
. E a pergunta crucial do livro era: até onde vai o jardim de sua casa?
Afinal, refletia eu com quem me lesse, ele pode terminar no seu portão, na calçada de sua casa, na praça de seu bairro, na Mata Atlântica, na Amazônia… ou na Camada de Ozônio.
Lembro tudo isso porque penso que é exatamente por este começar por casa, e ir dela ao infinito
que de maneira, ao mesmo tempo crítica e esperançosa, trabalha Maria de Lourdes Spazziani em Educação Ambiental e Universidade: indícios de sustentabilidade, ao se envolver com uma questão já tão debatida, escrita e esquecida.
Como a universidade é acadêmica e curricularmente auto-referente, ela teima em esquecer um fato, entre outros fatos essenciais. E é uma vez mais desde minhas experiências e memórias – entre o estudante de 1961 e o professor de ainda agora, na beira dos oitenta anos – que eu deponho aqui. Como não cabem em nossos informes à CAPES e a outras instituições equivalentes, deixamos de fora em relatórios anuais algo sempre essencial. Uma boa parte, talvez a menos curricular, informal e, não raro, transgressiva do que se pensa, propõe, cria e realiza na universidade, está na esfera do que penso chamar de vida universitária
, a que fica fora dos relatórios. E está distante