Vozes Femininas À Asase Yaa
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Vozes Femininas À Asase Yaa - Carla Cintia Conteiro
Apresentação
Nosso Lar, a TERRA, enfrenta sérios problemas ambientais e grande parte deles ocorrem por ação da espécie humana, que desmata, polui e utiliza de maneira exagerada todos os recursos que o planeta oferece. Nosso mundo necessita de nossa ajuda para sobreviver e continuar a abrigar os seres humanos e todas as outras espécies viventes.
Medidas precisam ser tomadas já! Temos que evitar que a ganância, a irresponsabilidade, o desleixo e a alienação das pessoas continuem a destruir o nosso planeta. Este livro é sobre a Terra e o que precisamos fazer para garantir nossa sobrevivência nela.
Asase Yaa é a principal deusa da tradição dos Ashantis, povo de Gana, um dos que compõem o grupo étnico Akan, da África Ocidental. Essa deusa representa o ventre da Terra, de onde viemos e para o qual retornaremos. É Asase Yaa quem governa a fertilidade do solo de que todos os seres vivos dependem para sobreviver.
Assim, o título deste quinto livro da coleção Vozes Femininas, Vozes Femininas à Asase Yaa, é uma evocação simbólica à Mãe Terra.
Asase Yaa é, ainda, aquela que guia a busca por harmonia com os outros, com a comunidade e com a natureza. Por isso, também lembramos que o futuro é ancestral e que nosso objetivo, mais que sobreviver, é o bem viver.
Como senhora da morte e da regeneração, Asase Yaa é protetora das mulheres, cujos corpos são portais da vida, através dos quais a deusa envia as almas para formar os humanos.
A Terra é mãe. A Terra é mulher. A Terra é feminina.
As mulheres e sua atuação familiar, profissional, espiritual e política podem colaborar para que haja um porvir bonito e próspero para nossos descendentes e irmãos terráqueos. Afinal, tradicionalmente, são as mulheres que cuidam. É hora de tratar da nossa casa. Mas vamos precisar de todo mundo
¹.
Carla Cintia Conteiro
Adreana Cabral
De Três Rios-RJ, 56 anos, vivendo e aprendendo no Rio de Janeiro.
Onde isso te toca?
"Abacateiro / Acataremos teu ato /
Nós também somos do mato / Como o pato e o leão." ²
Ativistas protestam em prol da preservação ambiental.
Ambientalista é presa durante manifestação pacífica contra crimes ambientais.
Ativista é absolvida e faz nova manifestação após julgamento.
***
– Vô, lá perto de casa tem uns homens que levam os passarinhos pra passear. Só que eles deixam os passarinhos na gaiola e, pra piorar, cobrem as gaiolas. Os bichinhos ficam lá, cantando, sem nem poder olhar pra fora, e ninguém vê eles também. Qual a graça disso? Será que eles iam gostar de passear assim? Du-vi-do!
Todo ano era a mesma coisa, a menina ficava ansiosa aguardando as férias escolares para passar uns dias com o avô, no sítio no interior do estado. Garota criada na cidade grande, cercada de prédios e avenidas por todos os lados, nem sentia falta dos pais, do irmão pequeno e das crianças do condomínio, tamanha era a alegria daqueles dias com o avô. Era falante, curiosa e questionadora, e o avô, já sem a pressa da mocidade, tinha toda paciência do mundo para conversar e explicar sobre as coisas do mundo.
– Eles acham que assim os passarinhos vão ficar calmos e cantar melhor, mas esquecem que a alegria dessas avezinhas é voar por aí, espalhando sementes, cantando e alegrando a gente. Não podem viver presos.
– O passarinho preso canta é de tristeza, né, vô?
– É fácil entender isso, não é? E eu sou como eles, gosto do mato, de pisar a terra com meus pés, ver os bichos de perto, pescar no rio, pegar fruta no pé, verdura colhida na horta. Ah, isso é que é vida! E por falar nisso, amanhã é dia de pescaria. Vamos cedinho, que é pro sol não castigar.
– Oba!
***
Bem cedo a pequena pulou da cama. Mal conseguiu dormir, eufórica pelo dia de pesca com o avô. O amanhecer naquelas paragens era de uma beleza singular. Os primeiros raios surgindo por trás do morro, aquecendo suavemente o ar frio da noite e secando o orvalho, a revoada dos pássaros, tudo era encanto. Mas não naquele dia.
Naquela manhã tudo estava diferente. Os passarinhos estavam desarvorados. Todos os bichos, inquietos. Pareciam pedir ajuda, como um grito de socorro. Tomaram o café da manhã, prepararam um lanche para comer mais tarde, e partiram para a tão esperada aventura, caminhando em direção ao rio que passava ali perto.
De longe, o homem já percebeu que havia algo errado. O barulho das águas, sempre suave e tranquilo, tinha se tornado um ronco forte e abafado. Apressou o passo para ver de perto o que estava acontecendo, seguido pela menina, que quase corria, tentando acompanhar o mesmo ritmo.
– Me espera, vô! O que foi?
Os dois, esbaforidos, pararam, perplexos, bem antes da beira do rio. De cima de um pequeno monte, viram um rio de lama. Uma cena que parecia irreal, assustadora, impossível. A criança não entendia o que via, oscilava entre o pavor e a curiosidade. O velho chorava. A água que faltava no rio, jorrava de seus olhos e escorria pela face, molhando a barba. Um misto de tristeza e raiva invadia sua alma. Destruição. Desolação.
– Malditos! Cretinos! Como podem fazer isso? Como podem ser tão ruins? Acabaram com tudo! Por quê? Por quê?
– Vô, o que aconteceu? Cadê o rio? Que lama é essa? Pra onde foram os peixes? Fala, vô!
– Eu sabia que isso ia acontecer! Eu sabia! Só pode ser aquela maldita mineradora que fica lá pra cima. Despejaram todo o lixo no nosso rio. Quando eles se instalaram, juntamos os moradores da região e fomos falar com o prefeito, mas não adiantou. Depois procuramos a polícia, mas também não fizeram nada. Vieram os jornalistas, virou manchete de jornal, mas logo tudo foi esquecido, e agora, a tragédia se confirmou. Essa lama, filha, é contaminada. Nosso rio vai precisar de centenas de anos para