Vivências asiático-brasileiras:: raça, identidade e gênero
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Emigração, Imigração e Refugiados para você
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Pré-visualização do livro
Vivências asiático-brasileiras: - Juily Manghirmalani
Sumário
Apresentação: Série Favos
Introdução
Capítulo 01 - A construção de raça no Brasil
Raça e etnia
A branquitude ideológica
Capítulo 02 - As imigrações asiáticas
As migrações asiáticas ao Brasil
Chineses
Japoneses
Povos árabes
Capítulo 03 - A modernidade, as movimentações e a identidade cultural
O contemporâneo
A identidade na pós-modernidade
A comunidade como grupo social
Capítulo 04 - A identidade cultural da diáspoora
Protecionismo teórico
O orientalismo
O agenciamento
CAPÍTULO 05 - UMA HISTÓRIA DE MITOS
O perigo amarelo e o mito da minoria modelo
As denominações asiáticas
Povos marrons com falsa passabilidade branca
As gerações e o mito da meritocracia
Reconhecimento e autocrítica
CAPÍTULO 06 - POR UM FEMINISMO ASIÁTICO-BRASILEIRO
O on-line como possibilidade de encontro
Reconhecer a ferida como processo de cura e de ação
Solidariedade antirracista
Pertencimento e desterritório
Família, aculturação e autoestima racial
Objetificação e fetichismo
APÊNDICE - O encontro
Referências bibliográficas
Páginas mencionadas:
Sobre a autora
Créditos
Ficha Catalográfica
Capa do livro com o título, nome da autora e logos da Editora Mandaçaia e da Série Favos. O plano de fundo possui cor roxa e há uma imagem de mãos em poses de danças tradicionais indianas ao lado de flores de lótusfolhaderostoSérie Favos
A produção do mel é fruto de um processo amplo, em que as abelhas coletam e espalham o pólen de flor em flor. A polinização envolve trocas, misturas e evidencia a interdependência entre os seres que coabitam o planeta Terra.
Com os saberes não é diferente: eles não surgem de forma isolada, não são fruto de um punhado de mentes brilhantes, mas de um trabalho coletivo, em que perspectivas diferentes entram em contato e fazem brotar diversas reflexões.
Da mesma forma que a polinização é fundamental para manutenção e recuperação da biodiversidade, a produção e circulação de saberes fomenta a criatividade, enriquece a vida das pessoas e oferece possibilidades para uma existência intelectual, moral, afetiva e espiritual dignas.
Para tanto, o conhecimento não pode estar restrito a alguns círculos, contido nos portões das universidades; não deve ser encarado como um artigo de luxo destinado à ostentação, uma ferramenta para reforçar desigualdades e apagamentos. Deve, em vez disso, ser democratizado, entendido como um direito assegurado a todos.
É partindo dessa premissa que a Editora Mandaçaia criou a Série Favos, que tem como objetivo a publicação de textos que, em linguagem acessível, proporcionem o contato inicial com temas relevantes para compreensão e análise crítica da forma como o ser humano se relaciona consigo, com a sociedade e com o planeta.
O formato também foi concebido pensando a partir dessas premissas. Os livros são curtinhos, para serem facilmente transportados, e bonitos de se ver!
Esperamos que cada obra dessa série seja como um favo de mel, doce resultado dessas trocas, e que seu conteúdo favoreça a ampliação dos horizontes de nossas leitoras e leitores.
INTRODUÇÃO
A mobilização de asiático-brasileiros, tema ainda pouco mencionado nas discussões sociais e políticas, surge como uma nova vocalização de inclusão em pautas que vêm sendo sistematicamente excluídas de um debate tão necessário quanto os de gênero, raça, decolonização e direitos humanos. Nesse contexto, a formulação de um pensamento sobre asiático-brasileiros soma-se às mobilizações políticas que abordam recortes interseccionais que atravessam os corpos sociais e se colocam como resistência contra novas colonizações em tempos contemporâneos.
Como um levante muito recente e ainda distante de um movimento organizado e ativamente político, este pode ser pensado como um processo de organização de pessoas com interesses mútuos e dispostas a produzir reflexões acerca do debate racial brasileiro em relação às questões asiáticas.
Perceber-se racializado como organização política interna e externa, assumir a responsabilidade como tal, em vez da vivência pacífica e domesticada proposta pelo modernismo e pelo capitalismo, é um processamento recente de alguns grupos que foram cooptados pelo discurso da branquitude, ou que tiveram sua representatividade, enquanto possibilidade étnica, apagada.
Imbricadas em noções de acesso, as vivências asiáticas foram por muito tempo camufladas na falsa negação de uma identidade racial em campos sociais (em trabalhos, em rodas de conversas, por exemplo), que ocorreu em razão da grande aliança com a branquitude, muitas vezes em detrimento de um conforto de classe, esquivando-se de uma maior responsabilidade social na pauta racial. Esse cenário é resultado de pouco reconhecimento histórico das próprias etnias e da baixa autoestima étnica, que ocorre dentro do discurso neocolonizador da vivência brasileira.
Para mim, a possibilidade de um feminismo asiático foi uma porta de entrada para uma compreensão ainda maior e mais abrangente do que ocorre em nossos sistemas políticos e discursivos em tempos contemporâneos. Em um mundo conectado e globalizado, recém-saído de processos traumáticos como as colonizações, e que vive agora suas decorrências, pensar sobre as raças e etnias asiáticas torna-se uma poderosa ferramenta para entender em que momento estamos, o que ocorreu e o que falta ser feito.
Este livro tem como proposta organizar um pensamento crítico sobre a construção da ideia de raça no Brasil, olhar para o processo histórico da chegada de pessoas asiáticas, compreender alguns dos impactos das mudanças advindas da modernidade, globalização e processos diaspóricos para, em sequência, olhar para como foi produzida a ideia de mitos que regem muito do nosso imaginário como organização social e civil de asiático-brasileiros.
Para finalizar, irei adentrar no tema do feminismo asiático que, longe de uma compreensão fácil, requer maior contextualização histórica, teórica e até de propostas. Por ser um movimento pouco estruturado em formulações políticas, há uma lacuna enorme, o que demanda aprofundamento de cunho histórico, étnico e pós-colonial brasileiro.
Ainda estamos distantes de uma democracia bem implementada, de uma reestruturação inclusiva; de reparação histórica com os povos que foram sacrificados em prol de um movimento civilizatório, como o genocídio de comunidades indígenas e escravização e massacre de povos pretos; da emancipação e a autonomia desses e outros povos considerados minoritários que, por tanto tempo, foram reduzidos, em suas instâncias físicas, de direitos e psicológicas. Incluo aqui um grupo enorme de pessoas, considerando gênero, sexualidade, raça, imigração e outros dos muitos marcadores sociais que não compõem o seleto grupo de pessoas que nascem com camadas de prerrogativas em suas costas, passadas hereditariamente por um sistema simbólico: histórico, político, econômico e discursivo.
Ao perceber a necessidade de inclusão de polifonias nos debates que presenciei, compreendi que falar de pautas sociais é, na verdade, discutir um conjunto de micropolíticas de inclusão de possibilidades de vivências, com a pretensão de construir alguma possibilidade de horizontalidade. É, antes de tudo, reconhecer que há muito o que ser