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Tem Wi-Fi?: o impacto da tecnologia na literatura
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Tem Wi-Fi?: o impacto da tecnologia na literatura
E-book188 páginas2 horas

Tem Wi-Fi?: o impacto da tecnologia na literatura

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Sobre este e-book

Neste ensaio reflexivo, a autora explora as questões éticas e ponderações em relação às novas inteligências artificiais. Apresentado como parte de sua tese de doutorado em Escrita Criativa, o texto combina o processo criativo com o romance "Laila", revelando a fascinação pela criação de personagens e a importância da alma humana na escrita. Uma reflexão profunda sobre o impacto da tecnologia na arte e na literatura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de ago. de 2023
ISBN9786525296548
Tem Wi-Fi?: o impacto da tecnologia na literatura

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    Tem Wi-Fi? - Vanessa Silla

    1. INTRODUÇÃO Literatura Na Internet

    O ensaio literário é um texto opinativo, em que se expõe ideias, críticas, impressões pessoais e, por que não, amostras avaliativas das inovações tecnológicas. Faz parte propor uma reflexão mais subjetiva, quando se trata de fazer um ensaio voltado para Escrita Criativa. Inicio, pois, amparada pelo pensamento de Michel Foucault, ao colocar a importância de responder à seguinte questão quando nos propomos a escrever uma tese: O que está acontecendo aqui?

    Bom, sou rápida na resposta! Acontecerá aqui um bate-papo ensaístico que permeou minhas atualizações, sobre tudo o que estava acontecendo em termos de tecnologia, enquanto eu escrevia o romance chamado Laila, coloquei o título deste ensaio de Tem Wi-Fi?. Pode soar um pouco estranho, mas você verá que é uma das perguntas mais importantes da humanidade. Exagero? O romance reflete algumas questões da vida online e esse ensaio responde com sim, temos wi-fi. Nós sofremos a pressão de uma força ininterrupta que, por enquanto, prefiro chamar de impacto, embora essa palavra traga uma ideia negativa. O que algumas linhas acima chamei de bate-papo é, na verdade, o conjunto de pesquisas e reflexões que me sustentaram a entender o impacto da tecnologia na literatura e como ele se alastrou para compor o romance. A proporção da literatura digital hoje, está muito integrada com a partícula espaço-tempo que temos como cidadãos, que passam seus dias na corrida frenética de multitarefas. A produção literária também se adaptou a esse sistema de linguagem nas novas mídias e é vedete, nas entrelinhas, da vida célere, que comporta leituras mais rápidas e facilitam a carreira de escritores que não dependem mais do livro impresso na editora para colocar seu texto no mercado.

    A ficção interativa e a realidade das humanidades digitais são o resultado da evolução que, no momento presente, atesta o perfil de aldeia global. A mesma tecnologia que hoje invade nossas semanas, corre e apressa nosso tempo, está datada e é vítima de um futuro diferente; daquele futuro que costumava durar muito tempo. A consagração do avanço tecnológico obriga-nos a refletir sobre questões já abordadas, mas ainda não totalmente respondidas: Como a nova tecnologia transforma nossos sentidos? De que maneira eu prefiro ler? De que modo me concentro melhor? Como mudou a maneira de se relacionar com a literatura? Se pensarmos no papiro, depois no livro e agora no tablet, qual nos aproxima de uma melhor qualidade de leitura?

    Pensar na definição de literatura já implicava análises complexas. Repensar a definição de literatura nos padrões atuais de influência e impacto das linguagens digitais é, no mínimo, multidesafiador. Romances de numerosas páginas, companheiros de longas viagens de trem, não são mais compatíveis com nosso escasso tempo de lazer - coisa que não acredito. Leituras mais curtas e interativas preenchem os rápidos vácuos dos leitores contemporâneos (dizem). Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Livro 4¹, no momento em que comecei a escrever o romance, nosso nível de escolaridade foi aumentando, mas, a forma de ler continua, pois, a maioria das pessoas ainda lê no papel.

    Esses tipos de dados são demarcações perigosas porque medem o que sempre temi me perguntar: Por que quero escrever? Contar histórias com que intenção? Nunca fui a fundo dessas perguntas, porque me gladiar com a dura realidade seria meu suicídio literário. Escrevo porque, se não escrevo, não falo, mal me comunico. A ficção é minha melhor amiga, é com ela que passo a maior parte do tempo. Passeamos por aí, enxergamos os detalhes juntas, fofocamos com milhares de palavras e, depois de reuniões intensas, às vezes, compartilhamos com os outros. Que outros? Os outros seres, os que nos leem, os que precisam ouvir outras verdades, os que aceitam passear de camelo pelas dunas poéticas.

    E de onde surgiu a ideia de fazer o doutorado beirando os 60 anos? Onde eu estava com a cabeça quando permiti-me desnudar dessa maneira? Por cima das dunas no deserto – o meu Marrocos, o espaço interno de extrema pureza e concentração. O deserto é um estado de escassa distração, um lugar de menor estímulo, é o canto de solver pensamentos, é da paisagem remota e previsível que extraímos algum silêncio – o caldo das palavras. A escrita tornou-se meu jeito de estar no mundo, ressignificou meus rumos e detalhou o plano mais eficaz para nortear esse terreno fértil. Dei-me conta que, para estar neste universo, eu precisaria estar entre as pessoas que estocam palavras, que trocam textos e fazeres literários. A varinha mágica fez sua parte, dando um empurrão na sorte, porque minha bagagem nunca foi das mais potentes, eu teria de me esforçar para além dos desertos conhecidos e me agarrar na determinação; essa, sim, tinha superioridade.

    Nunca tive tempo sobrando, e não gosto de falar muito, mas eu queria demais estar escritora. Foi com esse meu impulso inicial que avistei o doutorado como um excelente local de encontro entre desejo e coragem. Para estar escritora, tive que gritar ao mundo que eu conseguiria. Eu queria estar com os mestres da escrita, com os colegas criativos, no ambiente de experimentação da literatura. Cheguei aos trancos, quase cuspida por esta força absurda de me fazer feliz entre os escritores e hoje, estimo, ainda na espreita do medo, o se, gigante que me leva a ser, ao invés de só estar. Estar escritora, é apenas uma pessoa que escreve sem muitas metas, com poucas técnicas, mais instintivamente. Ser escritora é viver de escrita, dominar as formas, acreditar na potência de produção criativa, é aprender a descontruir e montar o novo com absoluta harmonia entre espírito e racional. Essa é a materialização que busco.

    Evidente que ninguém é escritor só com um certificado, mas, agora me sinto equipada. Tenho algumas etapas cumpridas e novos aparatos nas mãos. Sinto-me avalizada a seguir a carreira, a construir uma voz autoral, estou deixando de lado o receio de ser medíocre, porque é preciso trilhar na lama para alcançar o lugar de destaque. Ainda me falta tanto, ousaria dizer que até me falta tudo, mas, a diferença reside na segurança. Me sinto apta! É hora, pois, de contar a minha história. Essa história veio de mansinho, sentou-se ao meu lado e me entregou o sonho. E como nada é por acaso, agrupei as pistas que a boa fada da literatura me entregou e anotei as senhas para chegar lá. Agora, com um pouco mais de maturidade na escrita, posso afirmar que as histórias nos alcançam.

    Eu já havia passado na seleção para cursar o doutorado quando inventei de ir para o Marrocos, lugar que sempre frequentou meio imaginário, como o cenário perfeito das Mil e uma Noites. Até o meio da viagem não havia nenhum elemento que tivesse me despertado a alma para escrever o romance Laila. Eu apenas escrevia meu diário de viagem, com anotações históricas e me deliciava nos recantos deste pequeno país que me marcou para o resto da vida.

    Quando reli a Arte de Viajar de Alain de Botton, conectei algumas justificativas do estilo desse ensaio, percebi como ele, através de seus escritos, desenvolvia, numa espécie de diário, ideias originais apoiadas na obra de grandes pensadores. Senti, pelo teor poético de Botton, que poderia transformar tudo que era absurdamente exótico, para mim, no Marrocos, em prosa poética. Eu estava nutrida por cores fortes, pela diversidade das paisagens que se exibiam através de mares, campos, areais e prédios, eu estava colhendo a exuberância do Marrocos, junto com a simpatia e a estranheza do povo, que aprendi a amar.

    Contudo, quem me trouxe o gatilho para a narrativa foi a guia espanhola que se juntou a nós antes de chegarmos no deserto. Prometo contar detalhes depois já que faz parte jogar a isca e depois pescar o regalo, o tal peixe que vem das profundezas do oceano letrado. Então, quando tinha a história na cabeça, só pensava em transcrevê-la, mas, nunca foi um jorro, ou uma ansiedade incontida, em nenhum momento acelerei esta ideia encubada: eu simplesmente me resignei a ler, a pesquisar, a fazer os trabalhos solicitados pelas disciplinas cursadas e ler mais, muito mais, e de todos os gêneros literários, porque quando você tem um desejo de compartilhar sua experiência ficcional com alguém, já vale tudo, já vale um livro, já vale toda sua vontade, e, aí sim, mesmo as estatísticas registrando a triste verdade de que as pessoas leem muito pouco, você vai contar sua história, porque ela já não te pertence mais.

    Bem, entre buscas históricas e geográficas sobre o deserto africano, segui observando alguns vetores indicativos de leitura, números que registravam a fatia que mais me interessava, e tristemente foi a que mais me decepcionou: os adolescentes. Foi um susto rápido, entretanto. Hoje sei que eles leem mais e de várias maneiras. Descobri que o livro não é a única forma de se ler e que meme também pode ser literatura.

    Gosto de pensar que os adolescentes sempre foram meus leitores imaginários, muito embora tenha sido surpreendida pela grande soma de homens, entre 40 e 80 anos, que leram alguns dos meus livros publicados, em especial os com apelo literário mais jovem; mais jovial no sentido de uma linguagem mais solta, com gírias, e formatos mais ousados do que estavam habituados a ler.

    Algumas outras revelações também me trouxeram espanto, a exemplo das crianças brasileiras, de cinco a dez anos, que formam a faixa etária cujo número de leitores cresceu em 2019, segundo Retratos da Leitura no Brasil. De acordo com o estudo, a maior queda foi registrada na faixa etária de 14 a 24 anos, o que me remete a um ioiô indisciplinado e foi assim que compreendi que a queda na leitura entre os adolescentes, muito provavelmente, estava relacionada às diferentes formas de leitura.

    Minha jornada rumo aos porquês desses números começou pelo futuro. Foi lendo "O Meio é a Massagem" que adentrei distintas maneiras de instigar a leitura e as novas possibilidades frente a uma cultura pop e tecnológica. Decisão tomada: vou escrever algo que se passe na vida online. Essa provocação de produzir um romance nas beiradas do avanço tecnológico, me fez experimentar as fronteiras mais flácidas, e as curvas das redes sociais se mostraram, a priori, graciosas. Depois se transformaram em serpentes velozes e traiçoeiras. Puxei a flauta e comecei a hipnotizá-las.

    Voltei o pensamento para a possível extinção do livro de papel, embora acredite na inserção de vários meios de escrita e leitura na simultaneidade do futuro. Marshall McLuhan, no livro O Meio é a Massagem, questiona: Será que o conceito de literatura vai mudar ainda mais? Naturalmente, essa discussão não contém considerações herméticas e, talvez só possamos entender o real impacto da Internet em 25, 40 anos, a partir de agora. Como, então, podemos fazer certas previsões sobre nosso destino literário? Estamos na cultura da conexão, do remix, da sinergia literária e da palidez do papel, mas, não é por isso que o extermínio do livro tem que ser aceito. O papel e a tela não transmitem a mesma narrativa? A história contada não capta e molda o apuro poético do mesmo modo? Estamos todos inseridos nas desfronteiras, nos entre-lugares, na ageless-life e na diversidade que contém o único, entretanto, que recebe o outro como parte do panorama da transpercepção.

    Vicente Gosciola nos seus estudos de Roteiro para as Novas Mídias, trabalha o conceito de destemporalização que nos coloca na diluição do passado, presente e futuro. O autor aborda também o conceito de destotalização que reconhece o fim das teorias e nos motiva a buscar explicações nas mais diversas fontes, condição ideal para sites de busca. Além disso, conceitua o termo desreferencialização, pois, tem a noção da falta de um mundo concreto, ideia diretamente ligada aos conceitos de realidade virtual e comunidades online. A partir desses atalhos rumei para o conhecimento dos novos formatos de produção escrita.

    As plataformas, os recentes softwares dedicados a roteiros, como Celtx, Final Draft e Movie magic & Screenwriter, juntamente com softwares que rodam na nuvem, como Youmescript e Writer Duet, são exemplos de recursos disponíveis que fazem a carreira do escritor, totalmente independente do aval de uma editora que demoraria mais para produzir o livro e aumentaria seu custo, sem falar nas dificuldades da distribuição. Quem poderia imaginar uma facilidade de produção para escritores e leitores assim? McLuhan fez. Dotado de enorme intuição

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