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O poder da china: O que você deve saber sobre o país que mais cresce em bilionários e unicórnios
O poder da china: O que você deve saber sobre o país que mais cresce em bilionários e unicórnios
O poder da china: O que você deve saber sobre o país que mais cresce em bilionários e unicórnios
E-book384 páginas5 horas

O poder da china: O que você deve saber sobre o país que mais cresce em bilionários e unicórnios

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Sobre este e-book

Os Estados Unidos reinaram de maneira hegemônica como a superpotência mundial após a Segunda Guerra Mundial. Porém, com o aumento exponencial de poder e influência da China, é primordial entendermos agora o sonho chinês, dado que a economia da China já é a segunda maior do planeta e representa mais de 15% do PIB mundial.

Quando você lê que a China está desacelerando, é verdade. Em 2018, a China cresceu "apenas" 6,6%, seu menor índice de crescimento desde 1990. Porém, você consegue imaginar o que é a segunda maior economia do planeta crescendo 6,6%?! Simplesmente significa que, entre 2017 e 2019, mais de 35% do crescimento estimado do mundo inteiro virá da China, mas, infelizmente, a economia chinesa não fez parte da nossa pauta educacional.

Assim, o objetivo de Ricardo Geromel neste livro é ajudar você a aprofundar seus conhecimentos sobre a Nova China, a nova superpotência mundial que, desde 2009, é a maior parceira comercial do Brasil. Este livro nasceu para que você aprenda sobre a nova economia da China como um bilionário faria.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de out. de 2019
ISBN9788545203537
O poder da china: O que você deve saber sobre o país que mais cresce em bilionários e unicórnios

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    O poder da china - Ricardo Geromel

    CAPÍTULO 1

    AS FERRAMENTAS BÁSICAS PARA DECODIFICAR A CHINA

    SOMOS IGNORANTES EM RELAÇÃO À CHINA. FATO. AS DISCUSSÕES no Brasil e no Ocidente em assuntos relacionados à China como um todo tendem a ser superficiais. A China não fez parte da nossa pauta. Estudei em um excelente colégio em São Paulo, o Sion, e só aprendemos uma coisa sobre a China: a guerra do ópio, e ainda sobre o viés dos britânicos, que eram a superpotência da época. Não sei exatamente por que o país com a maior população do planeta e a civilização continuada mais antiga foi ignorado em nosso cânone escolar, conjunto de obras e sistemas de interpretação que é incluso no âmbito de uma prática de ensino. Não me restrinjo apenas à literatura ou à arte, ignoramos todas as facetas da China em nossa formação. Não temos o conhecimento básico que apresentamos sobre os Estados Unidos e a Europa.

    Uma das teorias para justificar tamanha ignorância é que no pós-Segunda Guerra Mundial, com o início da Guerra Fria, o comunismo foi decididamente evitado. Enquanto vários dos vilões dos filmes de 007 eram soviéticos, a China, que se tornou oficialmente comunista em 1949, foi categoricamente ignorada, largada como incógnita. Não é que aprendemos pouco sobre a China, não aprendemos quase nada. Outra teoria é que o país simplesmente não era relevante o suficiente, pois era um país extremamente pobre (durante todo o século XX até a década de 1990) e tínhamos outras prioridades em que investir nosso escasso tempo.

    Independentemente do motivo, o resultado é o mesmo: somos ignorantes em relação à China. O país começa a despertar interesse, mas a maioria da cobertura na imprensa nacional é surpreendentemente rasa. Vou deixar uma lição de casa para vocês: quantos veículos da imprensa brasileira mantêm jornalistas na China? Dê um palpite (vou deixar a resposta como lição de casa, mas o número final assusta). A China, que já é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, também é a segunda maior economia do mundo, e em algumas métricas já é a maior economia do mundo desde 2014 (aprofundaremos nisso no capítulo A China e o mundo). Antes de ler qualquer reportagem sobre a China, leia o nome do autor, faça uma breve pesquisa e descubra quanto tempo ele passou lá. A maioria das reportagens sobre a China no Brasil é ou tradução de veículos estrangeiros ou isca de cliques com conteúdo muito vazio.

    Como somos tão ignorantes em relação à China, preciso começar passando para você um conjunto de ferramentas básicas necessárias para nos aprofundarmos nesse assunto. Segue uma simples estrutura que vai lhe ajudar a decodificar a nova economia chinesa.

    ESCALA

    Parte fundamental da análise da China passa, necessariamente, pelo tamanho de sua população: estimada em 1,4 bilhão de pessoas, cerca de 20% da população mundial. De acordo com o Ministério da Indústria e Informação,⁶ 802 milhões de chineses usam ativamente a internet e 98% deles acessam pelos dispositivos móveis (celular, relógios, tablets etc.). São 802 milhões de pessoas na internet! Esse número é impressionante? Essa figura é maior que a população inteira combinada dos Estados Unidos (327 milhões), da Indonésia (264 milhões) e do Brasil (209 milhões) – os três países mais populosos do mundo, salvo os únicos com mais de 1 bilhão de habitantes, China e Índia.

    98% dos Usuários de Internet da China são via Celular

    Número de usuários de internet na China (em milhões)

    cap1graf1

    A China é tão vasta que não podemos pensar nela como apenas um país. O governo oficialmente reconhece 56 grupos étnicos e as Nações Unidas afirmam que mais de cem idiomas são falados no país. No Brasil, me contratam para palestrar sobre a China. Na China, dou palestras sobre o Brasil. Levaram-me para palestrar em Chengdu. Você já ouviu falar na cidade de Chengdu? Lar dos famosos pandas e uma das cidades mais turísticas da China, a capital da província de Sichuan é famosa por sua comida picante. A economia de Chengdu é maior que a da Noruega. Você já ouviu falar em Chongqing? A cidade tem uma população maior que a de Nova York, Los Angeles e Chicago combinadas, e é conhecida pelo seu hot pot.⁷ A economia de Chongqing é maior que a do Chile. Você já ouviu falar em Suzhou? Conhecida como a Veneza da China, com belos jardins chineses, que misturam edifícios tradicionais com a natureza (nove desses jardins são Patrimônio Mundial da Unesco). A economia de Suzhou é maior que a da Áustria.

    30+ CIDADES CHINESAS COM ECONOMIAS TÃO GRANDE QUANTO DE PAÍSES

    Não podemos ignorar nem diminuir sua importância. A impressionante escala da China é visível a olho nu. A maioria das pessoas que visitam uma grande cidade chinesa têm alguma história para contar sobre a concentração de multidões. A China tem mais de cem cidades com mais de 1 milhão de habitantes,⁸ os Estados Unidos tem apenas dez cidades com mais de 1 milhão de habitantes. McKinsey⁹ reporta que até 2025, mais de 221 cidades na China terão pelo menos 1 milhão de pessoas. É impressionante a velocidade desse movimento. Apenas em 2011 a China se tornou um país urbano, onde a maior parte da população vive em cidades.

    Antes mesmo de começar a ler este livro, creio que você já estava convencido de que a escala do mercado local precisa ser levada em consideração quando se analisa a China. O que preciso ressaltar é que nosso cérebro ocidental não foi treinado para interpretar números absolutos daquele país. Não estamos acostumados e nos impressionamos facilmente. Na era da informação, não é a informação em si que tem valor, é a interpretação da informação que gera riqueza. Ao encarar os números da China, o queixo cai, mas nem sempre sabemos como analisá-los. Você já possui a ferramenta extremamente simples e essencial para interpretar os números, só precisa lembrar de usá-la. É a tal regra de três. Vamos treinar!

    Em maio de 2019, o instituto de pesquisa Hurun¹⁰ revelou que a China possui 202 unicórnios. Unicórnios são as empresas que atingiram valor de mercado de 1 bilhão de dólares com capital fechado – ou seja, empresas com capital aberto na bolsa de valores não são chamadas de unicórnios. Para entender esse número, precisamos compará-lo com algo que conhecemos e que faça sentido. O Brasil tem uma economia em torno de sete vezes menor que a economia chinesa e uma população também por volta de sete vezes menor que a chinesa. Portanto, o número de unicórnios brasileiros deveria ser quantas vezes menor que o número de unicórnios da China? Mas é mais de vinte vezes menor. Conclusão: ou a China tem unicórnio demais, ou o Brasil possui poucos unicórnios. Lembre-se dessa regra de três, que parece básica, quando for discutir sobre a China.

    Aprofundando nos idolatrados unicórnios brasileiros: o número total varia – dependendo da fonte (por serem empresas privadas, nem sempre temos acesso à informação precisa) ou da data que você está pesquisando –, mas vamos dizer que existam dez unicórnios brasileiros. Estou sendo generoso, pois o número chinês me parece inflado e creio que teremos vários outros unicórnios brasileiros nascendo em breve. Seguem alguns unicórnios brasileiros:

    99 – Empresa de compartilhamento de carona. Primeiro unicórnio da história do Brasil, que atingiu valor de mercado de 1 bilhão de dólares após a aquisição de chineses da gigante DiDi.

    Nubank – Banco digital fundado pelo ex-sócio da Sequoia Capital – responsável por investimentos na América Latina. Recebeu centenas de milhões de reais em investimentos dos chineses da Tencent.

    Movile – Dona do iFood e de várias outras empresas. Entrevistei o fundador Fabricio Bloisi¹¹ em 2013 para a Forbes. Em 2019, Fabricio me contou que está aprendendo mandarim, viaja para a China frequentemente, contratou uma agência de relações públicas lá (aliás, um colega que estudou comigo em Paris trabalha na agência contratada pela Movile) e reconhece a chinesa Meituan-Dianping como a referência global em seu setor.

    Loggi – Plataforma que conecta mais de 25 mil motociclistas para entregas em mais de 35 cidades brasileiras. Um dos fundadores veio à China em missão organizada pelo meu time para entender o futuro da logística.

    Gympass – Serviço de assinatura para acesso a academias de ginástica. A primeira vez que ouvi falar da Gympass foi pelo Antoine Colaco, sócio da Valor Capital, fundo baseado no Vale que investe na empresa brasileira. Antoine levou os filhos para assistir ao jogo do meu SF Deltas e me disse que a Gympass era um belo exemplo de empresa brasileira expandindo globalmente.

    Quinto Andar – Plataforma que oferece imóveis para aluguel que dispensa a exigência de um fiador e um seguro-fiança. Ouvi dizer que se tornou um unicórnio por um amigo que estava trabalhando em fundo de Private Equity em Xangai e havia investido na empresa.

    As seis empresas citadas anteriormente são unicórnios brasileiros. Para chegar no generoso número de dez, consideramos a Brex, fintech fundada por dois brasileiros, nascida no Vale do Silício; em menos de dois anos da data de fundação, já possuía um valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares. E consideramos também a Stone, a Arco Educação e a PagSeguro – que não são unicórnios, por estarem listadas nas bolsas de valores dos Estados Unidos (Nasdaq e NYSE).

    Segue uma provocação: dos mais de duzentos unicórnios chineses, quantos você conhece? Se alguém que estiver lendo conhecer mais de 10% entre em contato comigo urgentemente, pois quero conhecê-lo. Não conheço nenhum brasileiro que não mora na China que conheça mais de vinte empresas na lista dos unicórnios chineses.

    Por que conhecer os unicórnios chineses? Grande parte deles começará sua internacionalização em breve, e arrisco afirmar que a maioria começará por mercados emergentes. Você vai aprender em mais detalhes que, quando empresas chinesas de tecnologia vão para o exterior, geralmente buscam parceiros em vez de seguirem o tradicional modelo das empresas do Vale do Silício, que majoritariamente apenas traduzem seus produtos/serviços para outras línguas. Se você está farejando oportunidade, somos dois.

    Outro ponto que preciso salientar é que investimentos de fundos de capital de risco focados em tecnologia (VCs) chinesa na América Latina foram 30 milhões de dólares em 2015, ano anterior à eleição de Trump. No ano seguinte a essa eleição, os investimentos de VCs chineses na América Latina saltaram para 1 bilhão de dólares. Enquanto Trump rediscute os acordos internacionais partindo do princípio "America First" (América em primeiro lugar), os chineses nadam nesse vácuo deixado pela superpotência yankee, usando dinheiro e investimentos para aumentar sua influência ao redor do mundo. O investimento estrangeiro direto chinês (FDI na sigla em inglês) na América Latina atingiu cerca de 200 bilhões de dólares em 2017, incluindo territórios com grandes setores financeiros offshore, de acordo com o Bureau Nacional de estatísticas da China. A região já é o segundo maior destino para o FDI chinês. No entanto, o comércio entre China e América Latina não está nem perto do seu auge. Xi Jinping¹² disse publicamente que até 2025 a China vai investir 250 bilhões de dólares na América Latina. Em 2018, oficiais chineses confirmaram o comprometimento verbal do presidente durante as reuniões da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

    Ressaltando a importância de aplicar a regra de três para interpretarmos dados da China: lembra dos 802 milhões de chineses na internet? Esse número é muito baixo! Vamos comparar à introdução da internet em outros locais: América do Norte, 95%; Oeste europeu, 94%; Norte europeu, 95%; Leste europeu, 80%; e América do Sul, 73%. Na China, apenas 802 milhões de pessoas têm acesso diário à internet; isso é muito pouco, pois representa menos de 58% da população.

    Compartilho a seguir alguns dados sobre a internet da China e do Brasil. Para mim, eles são essenciais, pois ajudam a fundamentar as discussões. Nessa era de informações abundantes, precisamos nos basear em dados; num mundo onde todos dividem tantas opiniões, fatos precisam ser nossas bússolas. "I trust in God, all others must bring data." Lembre-se de usar a regra de três para buscar entender os dados da China.

    Repare na taxa de urbanização da China. Do êxodo rural virá grande parte da lenha que será queimada para continuar o acentuado crescimento econômico da China. Mais de 40% da população chinesa ainda não tem acesso diário à internet. Os analfabetos do século passado não sabiam ler nem escrever. Os analfabetos deste século não estão na internet. Vale ressaltar que a velocidade de conexão é extremamente rápida em muitas regiões remotas da China. Mesmo assim, nem todos os chineses ainda têm acesso.

    Observe que há 3% mais homens do que mulheres na China. Pode não parecer muito. Mas lembre-se de que, num país de 1,4 bilhão, isso significa que quase 42 milhões de homens não se casarão com chinesas. Esse desequilíbrio está certamente relacionado à bizarra política do filho único, que durou cerca de trinta anos e acabou recentemente. Muitos mencionam esse dado como uma das principais fontes de potencial instabilidade para a sociedade local.

    O tamanho da maior população do planeta é tão expressivo que poucos se esquecem de considerar o aspecto da escala para entender a China. Entretanto, tamanho é apenas um dos fatores para começar a entender o país. Vejo muitas discussões começando, mas infelizmente também terminando no quesito tamanho. Meu objetivo supremo com este livro é que você tenha argumentos e ferramentas para pensar e discutir China de maneira mais profunda. Por favor, quando discutir o país não deixe ninguém querer mudar de assunto após mencionar o tamanho apenas. No Ocidente, isso acontece com uma frequência irritante. Se seu interlocutor insistir que apenas o tamanho da população explica o assunto em pauta, por favor, compare-a com a Índia. Segue o Produto Interno Bruto (PIB) per capita da Índia e da China.

    No começo da década de 1990, a China não era pobre, era miserável. E o PIB per capita da Índia era superior. O gráfico anterior revela o que aconteceu com o PIB per capita de cada um desses países. Apesar de a população da Índia (cerca de 1,361 bilhão de pessoas) ser parecida com a da China, apenas 41% dos indianos acessam a internet diariamente e mais de 30% dos indianos adultos com mais de 15 anos ainda são analfabetos. Nos últimos vinte anos, houve uma completa transformação na China, nunca antes vista na história da humanidade. A Índia, com uma população equivalente, ficou para trás. Portanto, a escala é importante, mas é só o começo. Se alguém quiser terminar a discussão nesse ponto, traga a Índia para a pauta e lute por uma discussão que saia da superfície. Vamos aprofundar agora outros fatores

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