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O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos
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O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos
E-book318 páginas1 hora

O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos

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Sobre este e-book

Há tempos que muitas pessoas vêm manifestando indignação diante de um fenômeno silenciado na grande mídia: a ausência de negros e indígenas de sucesso na música sertaneja. Após a morte do cantor João Paulo, que fazia dupla com Daniel, este mercado impôs uma barreira para os artistas não-brancos, promovendo uma exclusão sem precedentes no gênero, que em seu embrião e desenvolvimento é marcado por uma imensa e diversificada contribuição negra e indígena, ainda desconhecida pela maioria. Uma influência africana via instrumentos de corda que impacta a Península Ibérica, entre os séculos VIII e XV, desembocando no surgimento na viola. Na colônia portuguesa tal cordofone se abrasileirou servindo na catequese de indígenas, e embalando danças e músicas de origem afro-brasileira. Artistas negros brasileiros sacodem os salões nobres de Portugal e ecoam suas artes por toda a Europa. Lundu e a Modinha, se tornam, respectivamente, avô e avó da música sertaneja. A obra problematiza o que foi e o que está sendo a música sertaneja: de um gênero marcado pela diversidade étnico-racial, para uma versão completamente excludente aos não-brancos, principalmente após o advento do chamado “sertanejo universitário”. Vozes negras, brancas, indígenas de ontem e de hoje, ecoam em diferentes espaços, a denúncia ao racismo que até então se mantinha silenciado. As várias imagens propiciam um rico arsenal para o maior entendimento do tema central do livro. Contribui para a constatação da existência de uma supremacia branca no país, diferente da dos EUA. No atual mercado sertanejo se vê a mais profunda expressão do Habitus Racial da Brancura na promoção do privilégio branco. No chamado feminejo, mesmo sob fatores interseccionais de classe, gênero e estética, as artistas brancas gozam de oportunidades e destaques não acessíveis as artistas negras e indígenas. De fato, é um “respeitável” mercado musical onde a branquitude e o branqueamento atuam livremente como engrenagens reprodutoras de injustiças e desigualdades. E você, tem contribuído para manter ou abolir este espetáculo?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de jun. de 2023
O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos

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    O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos - Jorge Hilton

    Quem tem olhos de ver que veja! - Mais de 300 comprovações de que o mercado contemporâneo da música sertaneja é altamente racista

    Quando se fala em negros no mercado da música sertaneja atual, quais os nomes que lhe vêm na lembrança? Para a grande maioria das pessoas, a dificuldade em responder essa pergunta revela o tamanho do problema, um fosso racial que separa brancos privilegiados dos socialmente vistos como negros e indígenas. Como artista e pesquisador, me insiro nesse processo. Até então, o único nome que me vinha em mente era o de João Paulo, que formou dupla com Daniel. Só em meio a este estudo descobri que Rick, que faz par com Renner é negro. Diante de uma infinidade de famosos do chamado sertanejo universitário, nunca havia prestado atenção que tínhamos e temos um único nome dentre eles, que destoa fenotipicamente dos demais.

    Ao realizar a pesquisa do cenário anterior ao gênero em sua versão embranquecida, tive muita dificuldade de parar. Uma descoberta puxava outra de modo incessante. Vi-me surpreendido e perplexo com esse novo-antigo universo que se descortinava, com cada artista não-branco que não parava de surgir. Fiquei muito impressionado ao contemplar a dimensão da segregação contemporânea. Talvez se não fosse a iconografia desta obra, principalmente no resgate e exposição das capas dos discos, muitos desacreditariam ou teriam uma ideia superficial do problema. A maioria das capas trazem fotos dos artistas, o que foi um facilitador. Sim, este é um livro com muitas imagens!

    Com a ascensão de Daniel, após a morte de seu parceiro João Paulo, em 1997, deu-se início à era do sertanejo embranquecido, se consolidando a partir do surgimento do segmento segregado conhecido como sertanejo universitário, nos anos 2000.

    O sertanejo embranquecido alimenta um público seleto, em parte, preconceituoso, seja de modo ativo ou neutro. Se manter indiferente a essa segregação é ser tão culpado quanto o que defende o pensamento de que não-brancos são sinônimos de feios e inferiores. Mas, outra parte desse mesmo público é inconformada e se manifesta principalmente nas redes sociais contra esse mal. Mostrarei um pouco dessa insatisfação em um capítulo específico.

    Quero começar este livro com as imagens. Elas falam mais que qualquer argumento. Elas têm poder de causar impacto, como aconteceu comigo, e dar a real dimensão de como era a diversidade racial na música sertaneja antes da sua versão segregadora e embranquecida. Quando se contempla a multiplicidade de artistas não-brancos de antes e se compara com o cenário atual, em que há uma imensa dificuldade de se lembrar de um nome sequer que seja negro ou indígena, há um grande choque de realidade.

    Para facilitar a contemplação, separei os artistas pelas seguintes categorias: solo, casal, dupla, trio feminino e masculino, quatro ou mais, e coletânea. Não estão em ordem cronológica, nem alfabética. A maioria das obras segue com o ano de lançamento, outras não encontrei nenhuma referência de quando foram lançadas. As datas dos discos não representam o primeiro lançamento dos artistas. Vários deles ainda estão em atividade, boa parte não mais com sua formação original.

    Algumas imagens trazem o carimbo do site que as hospedam. Muitos desses sites prestam um relevante serviço de acesso a registros históricos, disponibilizando informações sobre as personalidades, obras publicadas, títulos, ano, biografia. Muitas faixas e álbuns completos podem ser acessados no Youtube. Várias são facilmente encontradas para compra em plataformas como o Mercado Livre.

    Aqui considero negro não como cada artista se declara racialmente, mas aquele que em alguma medida foi, é ou possa ser reconhecido socialmente enquanto tal, baseado em seu fenótipo. Sigo o padrão do IBGE, que estabelece como negro tanto os pretos como os pardos. Insiro os pretos e os pardos de pele mais ou menos escura e cabelos mais ou menos crespos, complementados ou não por nariz e lábios grossos. Como no Brasil etnia é mais relevante que raça para os indígenas, sua identificação com base no fenótipo é mais desafiadora. Estarei considerando como pessoa de aparência indígena aquela que, em alguma medida, foi, é ou possa ser reconhecida socialmente enquanto tal, em função de sua pele mais ou menos morena, cabelos mais ou menos lisos, olhos mais ou menos esticados e demais feições próximas a de povos asiáticos da China, Coreia e Japão, complementados ou não por alguma indumentária e/ou adereço étnico. A variedade fenotípica dos indígenas é muito maior que a limitada pelo estereótipo social. Tratarei disso mais adiante, porém aqui precisava de uma referência mínima para ter como incluí-los.  Em alguns artistas os traços negros e indígenas se misturam, em outros são mais demarcados. Nos casos das formações em duplas ou mais integrantes, às vezes tais traços só se referem a um deles, em outras, a mais de um ou a todos.

    SOLO

    CASAL

    Esta categoria aponta apenas a parceria artística entre um homem e uma mulher, em que um ou ambos são reconhecidos socialmente como negros e/ou indígenas. Embora de fato alguns artistas sejam casados, a categoria não busca refletir a existência de relacionamento conjugal entre eles.

    DUPLA MASCULINA

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