O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos
De Jorge Hilton
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O Respeitável Mercado Musical Mais Racista De Todos Os Tempos - Jorge Hilton
Quem tem olhos de ver que veja!
- Mais de 300 comprovações de que o mercado contemporâneo da música sertaneja é altamente racista
Quando se fala em negros no mercado da música sertaneja atual, quais os nomes que lhe vêm na lembrança? Para a grande maioria das pessoas, a dificuldade em responder essa pergunta revela o tamanho do problema, um fosso racial que separa brancos privilegiados dos socialmente vistos como negros e indígenas. Como artista e pesquisador, me insiro nesse processo. Até então, o único nome que me vinha em mente era o de João Paulo, que formou dupla com Daniel. Só em meio a este estudo descobri que Rick, que faz par com Renner é negro. Diante de uma infinidade de famosos do chamado sertanejo universitário
, nunca havia prestado atenção que tínhamos e temos um único nome dentre eles, que destoa fenotipicamente dos demais.
Ao realizar a pesquisa do cenário anterior ao gênero em sua versão embranquecida, tive muita dificuldade de parar. Uma descoberta puxava outra de modo incessante. Vi-me surpreendido e perplexo com esse novo-antigo universo que se descortinava, com cada artista não-branco que não parava de surgir. Fiquei muito impressionado ao contemplar a dimensão da segregação contemporânea. Talvez se não fosse a iconografia desta obra, principalmente no resgate e exposição das capas dos discos, muitos desacreditariam ou teriam uma ideia superficial do problema. A maioria das capas trazem fotos dos artistas, o que foi um facilitador. Sim, este é um livro com muitas imagens!
Com a ascensão de Daniel, após a morte de seu parceiro João Paulo, em 1997, deu-se início à era do sertanejo embranquecido, se consolidando a partir do surgimento do segmento segregado conhecido como sertanejo universitário, nos anos 2000.
O sertanejo embranquecido alimenta um público seleto, em parte, preconceituoso, seja de modo ativo ou neutro. Se manter indiferente a essa segregação é ser tão culpado quanto o que defende o pensamento de que não-brancos são sinônimos de feios e inferiores. Mas, outra parte desse mesmo público é inconformada e se manifesta principalmente nas redes sociais contra esse mal. Mostrarei um pouco dessa insatisfação em um capítulo específico.
Quero começar este livro com as imagens. Elas falam mais que qualquer argumento. Elas têm poder de causar impacto, como aconteceu comigo, e dar a real dimensão de como era a diversidade racial na música sertaneja antes da sua versão segregadora e embranquecida. Quando se contempla a multiplicidade de artistas não-brancos de antes e se compara com o cenário atual, em que há uma imensa dificuldade de se lembrar de um nome sequer que seja negro ou indígena, há um grande choque de realidade.
Para facilitar a contemplação, separei os artistas pelas seguintes categorias: solo, casal, dupla, trio feminino e masculino, quatro ou mais, e coletânea. Não estão em ordem cronológica, nem alfabética. A maioria das obras segue com o ano de lançamento, outras não encontrei nenhuma referência de quando foram lançadas. As datas dos discos não representam o primeiro lançamento dos artistas. Vários deles ainda estão em atividade, boa parte não mais com sua formação original.
Algumas imagens trazem o carimbo do site que as hospedam. Muitos desses sites prestam um relevante serviço de acesso a registros históricos, disponibilizando informações sobre as personalidades, obras publicadas, títulos, ano, biografia. Muitas faixas e álbuns completos podem ser acessados no Youtube. Várias são facilmente encontradas para compra em plataformas como o Mercado Livre.
Aqui considero negro não como cada artista se declara racialmente, mas aquele que em alguma medida foi, é ou possa ser reconhecido socialmente enquanto tal, baseado em seu fenótipo. Sigo o padrão do IBGE, que estabelece como negro tanto os pretos como os pardos. Insiro os pretos e os pardos de pele mais ou menos escura e cabelos mais ou menos crespos, complementados ou não por nariz e lábios grossos. Como no Brasil etnia é mais relevante que raça para os indígenas, sua identificação com base no fenótipo é mais desafiadora. Estarei considerando como pessoa de aparência indígena aquela que, em alguma medida, foi, é ou possa ser reconhecida socialmente enquanto tal, em função de sua pele mais ou menos morena, cabelos mais ou menos lisos, olhos mais ou menos esticados e demais feições próximas a de povos asiáticos da China, Coreia e Japão, complementados ou não por alguma indumentária e/ou adereço étnico. A variedade fenotípica dos indígenas é muito maior que a limitada pelo estereótipo social. Tratarei disso mais adiante, porém aqui precisava de uma referência mínima para ter como incluí-los. Em alguns artistas os traços negros e indígenas se misturam, em outros são mais demarcados. Nos casos das formações em duplas ou mais integrantes, às vezes tais traços só se referem a um deles, em outras, a mais de um ou a todos.
SOLO
CASAL
Esta categoria aponta apenas a parceria artística entre um homem e uma mulher, em que um ou ambos são reconhecidos socialmente como negros e/ou indígenas. Embora de fato alguns artistas sejam casados, a categoria não busca refletir a existência de relacionamento conjugal entre eles.