Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Alterando o Destino
Alterando o Destino
Alterando o Destino
E-book383 páginas5 horas

Alterando o Destino

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Lynn estava no caminho de uma grande carreira – até que um dia tudo mudou. Depois de ser demitida por um roubo que não cometeu, Lynn descobre uma bolsa cheia de dinheiro... e em um impulso, foge com ela.


Logo, ela se encontra perseguida pelos dois lados da lei. Depois de descobrir no que havia topado inadvertidamente, Lynn percebe que não há como voltar e nenhum lugar para se esconder.


Nem os homens não identificados que a perseguem, e nem a polícia, podem permitir que ela revele ao público o que descobriu. Enquanto Lynn foge de seus perseguidos, as pessoas à sua volta se tornam peões em um jogo sem limites.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de dez. de 2023
Alterando o Destino

Relacionado a Alterando o Destino

Ebooks relacionados

Filmes de suspense para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Alterando o Destino

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Alterando o Destino - David P. Warren

    CAPÍTULO

    UM

    Lynn terminou de secar os cabelos e vestiu um terno cinza, com a saia longa e pregada chegando à altura da canela. As largas lapelas da jaqueta estavam cuidadosamente sobre uma blusa azul-marinho. Mona estava na cama gritando pelo seu café-da-manhã. Lynn deu uma olhada uma última vez no espelho, alisou seu terno e assentiu para seu reflexo.

    Ela seguiu até o armário da cozinha onde guardava a comida de Mona, e os miados ficaram mais altos.

    – Está bem, está bem. – Lynn disse para sua companheira impaciente. Quando pegou a caixa na mão, Lynn empurrou a cabeça de Mona para fora de sua tigela de comida para que pudesse enchê-la com a ração. Ela correu pela porta da frente e se sentou atrás do volante de seu Ford Taurus com cinco anos, que havia sido de um azul marinho, mas que agora estava mais para um azul-acinzentado.

    Lynn parou o carro no estacionamento da Prestige Company às sete da manhã. Ela destrancou a porta e olhou ao redor do escritório vazio, se sentindo confortável nesse ambiente familiar. Como sempre, era a primeira a chegar, e provavelmente seria a última a sair. Gostava dessa hora cedo na manhã, antes do telefone começar a tocar e dos problemas do dia aparecerem. Era a hora mais produtiva do dia.

    Lynn estremeceu com o frio de 7 graus da manhã, enquanto esperava pelo aquecedor funcionar e o café terminar de coar. Era uma manhã fria para San Diego, onde a temperatura geralmente variava entre 12 e 26 graus. Lynn ouviu os sons do fax funcionando, localizado perto da mesa da recepção. Ela colocou as mãos em frente à boca e as soprou, então as esfregou tentando encorajar a circulação. Caminhou até o fax, que havia cuspido a página impressa, e então uma série de sons anunciou que ela estava pronta novamente.

    Lynn pegou a página do fax. Era um formulário de uma companhia aérea confirmando um voo para a Cidade do México para alguém com o nome de Terry Shepherd. Não era ninguém que trabalhava na Prestige. Olhou a folha com mais atenção. Shepherd deveria partir do Aeroporto Internacional de Los Angeles no dia seguinte. Ela sacudiu a cabeça, se sentindo compelida a ligar para a companhia e dizer que eles haviam cometido um erro, para que então Terry Shepherd, quem quer que fosse, pudesse realmente receber sua confirmação antes de embarcar no seu voo em menos de vinte e quatro horas.

    Lynn pegou o telefone na mesa da recepção e discou o número da companhia aérea que estava escrito no papel. O telefone tocou até que uma mulher de voz aguda recitou prontamente:

    – American Airlines, aqui é Janice, como posso ajudá-lo? – o tom sugeria que a saudação havia sido pronunciada de maneira mecânica, sem muita vontade de ajudar.

    – Aqui é Lynn Kelly, Gerente Geral da Prestige Company. Nós acabamos de receber um fax de vocês confirmando uma reserva para amanhã em nome de um Terry Shepherd.

    – Sim senhora. Fico feliz que você recebeu. – a mulher falou, seu tom sugerindo que ela estava pronta para desligar.

    – Nós não temos nenhum Terry Shepherd, ou qualquer Shepherd, trabalhando aqui. – Lynn disse.

    – Só um momento. – Janice disse com um desinteresse marcado. Lynn sacudiu a cabeça, desejando ter enchido sua xícara de café antes de se envolver com essa ligação, e lembrando para si mesma que nenhuma boa intenção fica livre de punição. Depois de quase três minutos, Janice retornou ao telefone.

    – Nós enviamos para o número certo, senhora. – ela disse impacientemente.

    Lynn franziu o cenho.

    – Mas não há nenhum Shepherd aqui, Janice.

    – Bem, eu não sei o que lhe dizer. Talvez alguém tenha feito essas reservas para um amigo ou membro familiar. Eu não sei, tudo o que sei é que esse é o número que nos foi fornecido, então não há nenhum outro lugar para o qual posso mandá-lo.

    – Eu entendo. – Lynn disse resignadamente. Já era mais do que o suficiente. Hora de pegar sua xícara de café. – Você pode conferir mais uma vez, apenas para ter certeza.

    – Sim senhora. – Janice disse de uma maneira da qual não tinha intenção de fazer nada mais. – Tenha um bom dia.

    – Sim, você também. – Lynn disse, colocando o telefone de volta ao gancho.

    Lynn tirou seu casaco e caminhou até o closet escondido embaixo das escadas nos fundos do edifício. O uso do closet era desencorajado pela sua porta, que sempre ficava presa fechada, bem como sua localização inconveniente. Nos primeiros seis meses de emprego, Lynn pensou que esse closet era mantido trancado. Desde que soube que estava apenas emperrado, havia mantido isso em segredo, e era a única que o utilizava.

    Ela pegou um cabide do armário e o pendurou junto com outros dois que haviam sido esquecidos e estavam sempre ali. Deu um passo para frente e esticou seu braço para colocar o cabide de volta. Quando fez isso, seu pé chutou algo. Terminou de pendurar o casaco, e então se abaixou para dar uma olhada. Empurrando os outros casacos para o lado, Lynn viu uma parte protuberante de uma bolsa de couro que nunca havia visto antes. Ela a pegou e examinou. As alças pequenas pareciam fora de lugar em uma grande bolsa de couro. A sacola era volumosa e estava obviamente cheia. Ela a empurrou de volta para dentro do armário e se virou para sair.

    Então parou, de repente cedendo à curiosidade, e tirou a bolsa do armário. Colocando as alças uma para cada lado, encontrou um zíper que abria todo o comprimento da sacola. Ela olhou ao redor para se assegurar que ainda estava sozinha. Sem ver ninguém, abriu o zíper. Seus olhos se arregalaram em descrença. A bolsa estava cheia de notas de cem dólares perfeitamente arrumadas. Ela respirou fundo, então olhou ao redor furtivamente para ver se tinha alguém observando. Empurrou a bolsa para dentro do armário, fechou a porta emperrada e voltou à cafeteira. Enquanto caminhava pelo escritório, ficou olhando ao redor para ver se os outros haviam chegado. O escritório estava em silêncio. Ela conferiu os escritórios e cubículos, todos estavam vazios. Ainda estava sozinha.

    Enquanto Lynn colocava o café em sua xícara e a levava até a boca, ficou se perguntando sobre o dinheiro. A quem ele pertencia e o que estava fazendo ali? Ele não estava ali ontem quando saiu do escritório, mas ainda havia alguns funcionários no local, porque havia se comprometido em sair às seis e meia para o jantar familiar.

    Lynn retornou para seu escritório com sua xícara de café, tentando sem sucesso desviar seus pensamentos do dinheiro de volta para o trabalho que a esperava. Ela se sentou à sua mesa e olhou para as pilhas de papeis esperando sua atenção, e então levantou seus olhos para apreciar o ambiente deserto de manhã cedo. A grande área aberta em frente ao seu escritório continha onze mesas, todas pertencendo às pessoas que Lynn supervisionava. O escritório de Lynn tinha uma parede de vidro que dava para essa área aberta, implicando que ela estava de olho em todas as onze pessoas, enquanto telefonava, enviava fax e trabalhava em sua mesa perpetuamente cheia.

    Às oito da manhã, Lynn estava cercada pelos sons do escritório cheio. Telefones tocavam em cada canto. Os teclados dos computadores se juntavam ao coro, assim como as vozes elevadas e viradas de páginas de pedidos, formulários e relatórios.

    Periodicamente, cabeças pertencentes aos funcionários do escritório ou armazém apareciam na sua porta fazendo perguntas ou procurando instruções. Ela os despachava rapidamente com direção, e então retornava sua atenção para a montanha de papeis em sua mesa.

    Lynn observava com diversão enquanto Bob Silver, o Oficial Chefe Financeiro, caminhava até a área da recepção e olhava para a máquina de fax como se ela fosse uma nave alienígena. Ali estava um homem que podia recitar os relatórios de lucros e perdas da Prestige dos últimos oito anos, mas não tinha ideia de como fazer uma cópia frente e verso, enviar um fax ou colocar papel em alguma dessas máquinas. Lynn observou com um leve divertimento enquanto Silver encarava a máquina por vários segundos e falava algo inaudível para Annie, a recepcionista, que respondeu com um sorriso e deu a volta em sua mesa para providenciar uma resposta. Como muitos dos executivos que havia conhecido, a mente brilhante dele não se estendia ao prático. Sem seus ajudantes para traduzir seus pensamentos em ações, seu mundo ficaria completamente parado.

    Lynn saiu de seu escritório e caminhou em direção à mesa de Annie. Enquanto se aproximava, ouviu Annie dizer:

    – Como eu lhe disse antes, não chegou nenhum fax da companhia aérea essa manhã. – Lynn parou no meio do caminhou e escutou, fingindo interesse no armário. Annie continuou. – Se você quiser, eu posso ligar para eles e pedir que enviem outra confirmação.

    – Não. – Silver disse. – Eu mesmo vou ligar. – ele disse perturbado.

    Enquanto ele se virava para sair, Lynn disse:

    – Havia um fax de uma companhia aérea nessa manhã, mas não era para ninguém que trabalhava aqui. Um cara chamado Terry Shepherd. Você o conhece?

    Silver hesitou, encarando-a por alguns segundos antes de responder:

    – Sim, Shepherd é um amigo meu.

    Lynn disse:

    – Sem problemas. – ela foi até seu escritório e saiu de lá com o fax. O entregou para Silver, e o rosto dele mostrou imediato alívio.

    – Obrigado. – ele ofereceu. – Eu aprecio isso. – ele voltou sua atenção para Annie. – Me desculpe ter ficado tão agitado.

    Ela assentiu e disse:

    – Okay. – mas estava claro pelo seu tom que não estava tudo bem. Ele havia vindo muito firme e ela ficou brava. Lynn notou que Silver não havia percebido isso, e teria que ser ela a dizer alguma coisa para acalmar Annie.

    Às nove da manhã, Dan Marshall apareceu na porta do escritório dela e a convocou com um aceno. Ela o seguiu pelo longo corredor até o espaçoso escritório de canto que ele ocupava e longe do caos que a envolvia. Ele deu a volta em sua mesa e olhou para a janela externa em direção à extensão de cinturão verde que a cidade havia adquirido quando ele construiu a fábrica. Ele se virou lentamente em direção à Lynn, e com mais um aceno, sinalizou para ela se sentar em uma das cadeiras para visitantes. Ela obedeceu, e então esperou que ele falasse. A expressão de Marshall estava incomumente severa. Enquanto ele se sentava atrás da mesa, retirou seus óculos e esfregou a ponta de seu nariz com o dedão e o indicador. Esse era um hábito comum de quem usava óculos, mas sempre pareceu para Lynn que os óculos deviam estar muito apertados ou no mesmo lugar durante anos, para que tivesse tal efeito.

    – Então, o que aconteceu chefe? Você está muito sério? Qual é o drama?

    Marshall bufou e colocou suas mãos ao redor da boca.

    – Essa não é uma coisa fácil para mim, Lynn; eu quero que você saiba disso.

    Ela o encarou curiosamente e esperou.

    Ele falou suavemente:

    – Você sabe que eu sempre gostei de você. – ele parou, procurando pelas palavras, então continuou em um tom desconfortável que sinalizava más notícias. – Você fez muito pela companhia, Lynn. Você me ajudou a fazer esse lugar crescer e funcionar. – ele parou para passar a mão sobre a boca.

    – E? – ela perguntou, sentindo que havia entrado no meio da conversa e não tinha ideia do que estava acontecendo, mas sabia que não podia ser bom.

    – E, por causa de suas contribuições passadas, eu não vou seguir em frente com qualquer acusação criminal contra você. Nós vamos apenas desligá-la da empresa e deixá-la partir. Só é realmente desapontador que você tenha feito algo como isso. – ele desviou o olhar dela e inspirou fundo.

    Lynn sentia como se alguém a tivesse acertado com uma marreta.

    – O que você quer dizer Dan? Do que você está me acusando?

    Ele sacudiu a cabeça.

    – Eu não quero fazer isso da maneira mais difícil. Vamos apenas parar de fingir, está certo?

    Ela sacudiu a cabeça.

    – Eu não tenho ideia do que você está falando.

    – Okay, como você quiser. – ele se inclinou em sua cadeira. – Os envios têm desaparecido há seis meses. Levou muito tempo para que nós juntássemos as peças... – ele deixou sua voz falhar.

    – Você acha que eu tenho alguma coisa haver com isso? – ela perguntou incrédula.

    – Por favor, Lynn, você está além das negações aqui.

    Ela havia sido acusada antes mesmo de saber que era uma suspeita. Isso a deixou com raiva.

    – Do que você está falando? Eu nunca peguei nada. Por que você acha que fiz isso?

    Ele se inclinou novamente na cadeira, uma expressão de dor em seu rosto.

    – Cinco testemunhas no departamento de envios, todas apontaram você.

    – Os mesmo cinco que eu lhe disse que provavelmente estavam roubando mercadoria, certo? Todos eles bons amigos encobrindo uns aos outros.

    Ele assentiu.

    – Sim. Você realmente me falou sobre eles antes. E eu acreditei em você, Lynn. É isso o que me machuca. Eu quase os despedi.

    Ela ficou confusa e sua cabeça começou a doer. Não disse mais nada.

    – Até isso. – Marshall disse, seu tom transmitindo desânimo. Ele pegou uma ordem de compra com o que parecia ser a assinatura dela. – Um dos envios desaparecidos que você autorizou para entrega em uma companhia que não existe.

    De repente ela ficou com dificuldades para respirar. Nada disso fazia sentido. Ela olhou de perto a assinatura e percebeu que era forjada, mas uma muito boa.

    – Essa não é a minha assinatura. – ela disse. – É forjada.

    Ele a encarou com um olhar que dizia não acreditar nela.

    – É isso Lynn. Chega.

    Ela sentiu lágrimas se acumulando em seus olhos, mas se recusou a chorar.

    – Limpe a sua mesa. – ele disse em voz baixa.

    – Dan, como você pode acreditar nisso? Você me conhece. Eu nunca roubaria nada dessa companhia, ou de qualquer pessoa. – ela podia ver que sua súplica desesperada não teve nenhum efeito. – É assim? Depois de tudo o que eu dei para essa companhia. Sem nenhuma chance de defesa?

    Ele ficou mais determinado.

    – Não vamos deixar isso pior do que está. Como eu disse, sem nenhuma acusação criminal... – ele fez uma pausa, e então completou. – Mas não me use como referência. Eu não vou falar para um pobre bastardo tentando ganhar a vida, que você é confiável. E não tente o seguro desemprego. Nós vamos ter que brigar contra por que você trouxe isso para si mesma.

    Ela ficou de pé e acertou a mesa dele com o punho, assustando momentaneamente Marshall.

    – Seu filho da mãe. Eu nunca roubei nem uma borracha dessa companhia. Eu não consigo acreditar...

    Ele levantou as duas mãos sinalizando para ela parar.

    – Suas tiradas não vão ajudar, Lynn. Está acabado. Agora guarde suas coisas e vá embora. Bob Silver vai te acompanhar para fora das premissas assim que você tiver terminado de recolher suas coisas. – ele apontou para Bob Silver, que estava parado na porta. – E tenha certeza de pegar apenas suas coisas, nada que pertença à companhia.

    Estas últimas palavras de descrença e demissão repentina rasgaram através dela e ela encontrou-se lutando para reprimir as lágrimas. Ela olhou para ele com os olhos cheios de raiva. Queria se jogar para cima dele, se sentindo traída pela única coisa que a fazia continuar vivendo.

    Lynn vislumbrou a xícara de café em cima da mesa, em frente a ela, com uma foto de Marshall e da esposa sorrindo calorosamente. Em um impulso momentâneo, ela agarrou a xícara da mesa e a jogou pela janela atrás dele. Olhou a expressão de choque dele, então se virou e saiu da sala, com o som do vidro se quebrando ainda soando em seus ouvidos. Bob Silver saiu do caminho dela e a deixou passar, então a seguiu distante.

    Ela foi até sua mesa e começou a colocar suas fotos e pertences em uma caixa de papelão. Estava lutando uma batalha contra as lágrimas enquanto enchia a caixa e saía do escritório. Parou na porta de seu escritório e olhou para trás. Tudo o que havia feito desse escritório parte da vida dela cabia em uma pequena caixa. Isso era tudo o que havia das longas horas, fim de semanas perdidos e suor que ela havia dado nos últimos quatro anos. E agora o escritório parecia que podia pertencer a qualquer um, ou a ninguém.

    Ela saiu pela porta da frente carregando a caixa. Olhando para trás, viu Silver silenciosamente a seguindo até o corredor frontal, então se virar e ir embora.

    Ele estava apenas fazendo o trabalho dele, ela disse para si mesma. Assim como ela havia estado fazendo, até agora. Ela empurrou a porta da frente, e então parou, percebendo que havia esquecido seu casaco. Ficou pensando se devia voltar ou não. Talvez devesse voltar mais tarde, quando estivesse mais controlada. Não, iria fazer isso agora, então nunca mais teria que retornar para esse lugar. Ela colocou a caixa com seus pertences ao lado da porta da frente, e entrou novamente no edifício.

    Lynn caminhou até o closet embaixo da escada. Olhou ao redor, se sentindo desesperada e humilhada. Esperava chamar olhares, mas ninguém parecia estar observando-a. Lynn chegou até o armário e puxou com força a porta resistente enquanto abaixava a maçaneta. Na segunda tentativa ela se abriu. Ela esticou o braço para dentro do closet e pegou seu casaco. Seu pé então chutou algo. Imediatamente ela se lembrou. Sem hesitar, ela se abaixou e pegou a bolsa de couro marrom. Colocou seu casaco dobrado sobre o braço que carregava a bolsa, e caminhou até a porta da frente. Ela subitamente sentiu um terror que nunca havia sentido antes. Jesus, o que eu estou fazendo?,ela perguntou a si mesma. Cada passo era surreal. Seus movimentos pareciam em câmera lenta, e a porta parecia a quilômetros de distância. Esperava que alguém a agarrasse por detrás a qualquer momento, mas ninguém fez isso. Ninguém parecia sequer ter percebido.

    Lynn chegou à porta da frente e pegou sua caixa. Com a caixa, seu casaco e a bolsa de couro nas mãos, rapidamente caminhou até o carro. Jogou tudo no banco traseiro e sentou-se atrás do volante de seu Taurus. Ela vasculhou dentro da bolsa e pegou suas chaves, suas mãos tremendo visivelmente enquanto procurava pela chave da ignição dentre as seis chaves do chaveiro. Conseguiu encontrar e então ligou o carro.

    Atrás dela soou a voz alta de um homem.

    – Hey, espere um minuto.

    Ela pensou em acelerar no estacionamento, mas não se moveu.

    O homem se aproximou da janela do carro no lado do motorista.

    – Lynn, espere.

    Ela congelou, encarando o rosto de Bob Silver. A expressão no rosto dele era de preocupação, ou talvez simpatia, não raiva ou acusação. Ela soltou a respiração.

    Ele sorriu gentilmente e falou com compaixão.

    – Eu apenas não pude deixar você ir embora sem lhe dizer que sinto muito. Você é uma boa pessoa, Lynn, e não acho que tenha feito isso.

    Ela forçou um sorriso.

    – Obrigada, Bob. Realmente me ajuda saber que alguém ainda acredita em mim.

    Ele apertou o braço dela gentilmente e então se virou para ir. Ela observou enquanto ele se afastava, respirou fundo várias vezes em uma tentativa de reduzir sua pulsação de volta ao normal e então dirigiu para longe com a bolsa seguramente no banco de trás.

    CAPÍTULO

    DOIS

    Enquanto dirigia para casa, Lynn sentia uma estranha mistura de excitação e terror. Ela esticou o braço para o banco de trás e conferiu se a bolsa estava completamente coberta pelo casaco. Sentiu a transpiração começando a se acumular em sua testa. Estava apertando com muita força o volante e seus dedos estavam começando a doer. Lynn se recostou em seu assento e reviveu a manhã em descrença. Ontem, ela tinha certeza de estar no caminho certo dentro da empresa, seguindo em direção ao topo. Hoje, havia sido demitida como uma ladra. E depois de ser falsamente acusada, pela primeira vez em sua vida, ela havia roubado. De repente, percebeu a trágica ironia, e soltou um som estridente que supôs ser algo entre uma risada e um gemido.

    A mente de Lynn estava acelerada. De quem era esse dinheiro? O que ele estava fazendo naquele armário? Será que alguém já tinha dado pela falta dele? E qual era a quantia que havia lá? Ela olhou pelo espelho retrovisor procurando pela polícia, ou por alguém que pudesse estar seguindo-a. A inescapável paranoia da mente criminosa, ela disse para si mesma. Não havia ninguém atrás dela. Ninguém havia percebido. Parou o carro no seu estacionamento, cobriu a bolsa com seu casaco e caminhou rapidamente em direção ao seu apartamento.

    – Oi, Srta. Kelly. – uma voz baixa a chamou. Ela foi pega de surpresa e quase jogou a bolsa para o ar. Ela se virou e viu um pequeno menino loiro sorrindo para ela. Ele tinha o cabelo cacheado, um rosto redondo e com sardas e olhos que eram grandes e exploradores.

    – Olá, Nathan. – Nathan vivia em uma das unidades no outro lado da piscina depois do prédio de Lynn. – Como está a sua mãe?

    – Ela está bem. Está de dieta, você sabe.

    Lynn sorriu para o menino.

    – Eu não sabia disso, mas tenho certeza que ela vai ficar contente que você me contou.

    Nathan assentiu solenemente.

    – Diga a sua mãe que eu mandei um olá, okay?

    – Sim, senhora, eu vou dizer.

    – Desculpe Nathan, eu tenho que correr. Eu vou te convidar para comer biscoitos em breve, está bem.

    O rosto dele se iluminou.

    – Sim senhora. – a testa dele se franziu. – Você quer dizer hoje?

    Lynn sorriu calorosamente para ele.

    – Provavelmente hoje não, Nathan, mas em breve, okay?

    O menino deu a ela um sorriso, aceitando o adiamento.

    – Okay, srta. Kelly.

    Lynn bagunçou afetuosamente o cabelo dele, então subiu correndo as escadas, destrancou a porta e foi para seu quarto. Ela jogou a bolsa de couro marrom na cama, e então abriu o zíper. Virando a bolsa, jogou o conteúdo em cima da cama. Então começou a contar as notas e descobriu que estavam organizadas em maços de cem. Havia um maço de notas de vinte. Todos os outros eram maços de notas de cem. Ela fez as contas na cabeça. Dez mil dólares por maço. Depois de contar quatro maços para se assegurar que todos continham cem notas, começou a contar a quantidade de maços. Haviam oitenta e três.

    – Merda. – ela falou para o quarto vazio. – Oitocentos e trinta mil dólares.

    Ela olhou para os maços de dinheiro cobrindo sua cama. O que deveria fazer? Será que teria que dirigir de volta ao escritório e colocar a bolsa de volta no closet? Será que era tarde demais? Ela precisava de tempo para pensar. Em algum lugar que não pudesse ser encontrada até que soubesse como sair de tudo isso. Por que não tirar um ou dois dias e visitar a costa? Ela teria tempo, agora que sua carreira havia encontrado um fim tão abrupto e inesperado. O pensamento sobre como Dan Marshall a havia tratado a deixou com raiva novamente. Aquele filho da mãe. Pegou uma pequena mala de seu armário e rapidamente colocou o que precisaria para alguns dias. Então jogou os maços de dinheiro de volta na bolsa marrom.

    Lynn desceu as escadas e caminhou até o carro, jogando sua mala e a bolsa no porta-malas. Ela saiu do estacionamento e começou a dirigir, ainda debatendo se deveria ir embora, e se fosse o caso, para onde iria.

    Lynn sentiu o pânico começar a lhe dominar. O que estava fazendo? Para onde poderia ir? Ela iria para a cadeia. Eles logo a encontrariam, como se tivesse deixado uma trilha que pudesse ser seguida por um escoteiro. O dinheiro havia estado no escritório, e havia desaparecido na mesma hora que ela. Todos os outros ainda estavam lá. E se eles a pegassem? Ela respirou fundo várias vezes, tendo dificuldade para inspirar ar suficiente. Não conseguia imaginar ser interrogada pela polícia. Ela se acusaria em segundos. Devia ser a pior ladra de todos os tempos. Olhou novamente no espelho retrovisor e não viu nada de diferente, mas não tinha ideia se isso significava que não havia ninguém a seguindo, ou porque ela era uma ladra incompetente.

    Lynn decidiu que não havia nenhuma escolha real; tinha que devolver o dinheiro. Fez uma curva para a esquerda e entrou na Ranch Boulevard, a rua principal que levava de volta ao escritório. Enquanto dirigia, pensava nas maneiras de entrar com o dinheiro de volta no prédio da Prestige; talvez por uma janela dos fundos. Ela sacudiu a cabeça, lembrando-se que aquelas janelas eram protegidas. Tudo o que conseguiria seria somar invasão à sua lista de crimes.

    A cerca de um quilômetro do escritório, Lynn parou o carro no acostamento da estrada e olhou para frente. Tinha que haver um caminho imperceptível de volta ao prédio, para que pudesse devolver o dinheiro sem ser vista. Ela pensou sobre a porta lateral, que às vezes era deixada aberta durante o dia pelos funcionários que saíam para fumar. Um dos poucos refúgios restantes para os viciados em nicotina. Então, havia também a janela de um colega de trabalho que estava de férias nessa semana. Ambas eram possibilidades.

    Ela se afastou do meio fio e dirigiu em direção ao escritório. Então, em resposta ao seu segundo impulso incontrolável do dia, fez uma curva para a direita e entrou na Rodovia 5 sentido norte, voltando para a cidade. Ela podia ver o prédio do escritório na distância, sumindo da vista, enquanto se movia em direção à Los Angeles. O que ela estava fazendo? Sempre havia sido uma pessoa cautelosa e deliberada, nunca cedendo a impulsos súbitos e não práticos. Hoje eles tomaram conta de sua vida.

    Ao meio-dia, Lynn dirigia por Los Angeles. Pegando a Rodovia 101, ela continuou no sentido norte, ainda insegura sobre seu destino. Pouco antes das duas da tarde, ela passou por Ventura, e às duas e meia, parou em Santa Barbara, apenas o suficiente para abastecer e tomar um grande copo de café para se manter acordada.

    Enquanto caminhava de volta ao carro, ela pode ver o oceano à sua esquerda. A expansão infinita de azul falava sobre poder e tranquilidade ao mesmo tempo. Sua beleza era um escape momentâneo do medo obsessivo que havia tomado conta de si. Lynn olhou para o horizonte e sentiu como se estivesse a milhares de quilômetros longe de onde estivera, e de quem ela havia sido, quando começou o dia. Seu distanciamento da realidade começou a enfraquecer, e os pensamentos da bolsa voltaram à sua mente. Ela entrou no carro e voltou para a rodovia. Lynn seguiu novamente para o norte, bebendo o café e pensando nos horrores daquele pesadelo. Todos os seus pensamentos pareciam chegar ao mesmo lugar. Ela era uma ladra. Olhou novamente no espelho retrovisor.

    Lynn olhou seu relógio. Eram apenas quatro da tarde, mas mal conseguia manter os olhos abertos. Ela saiu da rodovia na Rua Price, em Prismo Beach, e então fez a curva para a esquerda em direção à fileira de placas de motéis. As placas chamavam qualquer viajante cansado. Elas gritavam para ela. Virou novamente à esquerda, e seguiu pela rua curva em frente a uma fileira interminável de motéis de frente para o oceano. Estava em uma terra de turistas. Ela seguiu a curva da rua para longe da rodovia até que chegou ao Pelican Shore Lodge. Ele parecia confortável e imperceptível. Era perfeito.

    Lynn entrou no lobby do hotel com sua pequena mala em uma mão, e a bolsa marrom na outra, com sua bolsa pendurada no ombro. Foi pega fora de guarda por uma escultura em cerâmica de tamanho real de um pelicano, logo após a entrada, e deu um gritinho. Houve risos atrás do balcão. O recepcionista era um adolescente com espinhas que parecia ter uns quinze anos.

    – Desculpe senhora. O Velho Parker assusta as pessoas de vez em quando. – ele falou com um sotaque sulista que fez Lynn querer voltar e ver se não havia entrado na Georgia, em algum ponto.

    – Parker? – ela disse, questionavelmente.

    – Sim madame. O Velho Parker é nosso boas vindas do hotel. É meio que um mascote.

    Lynn sacudiu a cabeça.

    – Essa é meio que uma recepção ao estilo de Stephen King, você não acha?

    – O que?

    – Deixa pra lá. – ela respirou fundo, ainda

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1