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Educação: E a Hospitalidade, cadê? Educando com Hospitalidade
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E-book247 páginas2 horas

Educação: E a Hospitalidade, cadê? Educando com Hospitalidade

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Sobre este e-book

A hospitalidade sempre marcou presença na história da grande família humana. Há a
convicção de que, sem a sua presença, não haveria, como não há, como criar, manter
e ampliar laços sociais, essência da vida humana, tampouco como desenvolver a
educação. Assim sendo, já é possível vislumbrar quais são os desafios que "estão em
jogo" para as entidades educativas enquanto protagonistas da educação. Educação: e
a hospitalidade, cadê? já surpreende e instiga a partir do seu título. Trata-se de uma
provocação que mobiliza e provoca as entidades educacionais a "fazer o caminho
avançar" na busca da "educação, um tesouro a descobrir", no dizer de J. Delors.
Nessa busca, necessita-se do protagonismo de outro "tesouro", a hospitalidade. Daí a
necessária imbricação educação-hospitalidade. O caminho do amanhã da educação
demanda o educando com hospitalidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de dez. de 2023
ISBN9789893760338
Educação: E a Hospitalidade, cadê? Educando com Hospitalidade

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    Pré-visualização do livro

    Educação - Geraldo Castelli

    educacao-e-a-hospitalidade-ebook.jpg

    Agradecimentos

    Antonio Jorge Siqueira, com graduação em Filosofia e Teologia, mestrado em Ciências Econômicas e Sociais e doutorado em História Social, saberes e fazeres que comungam com o descortino da hospitalidade, deu-me o prazer de lançar seus pertinentes olhares sobre a temática proposta. Só agradecimentos.

    Ana Maria, minha esposa, que soube compartilhar, como espanhola que é, o pensar do seu compatriota A. Machado ao declarar: al andar se hace camino. Assim andamos, e al volver la vista atras foi possível perceber o legado construído, fomentador da cultura da hospitalidade.

    Prefácio

    Por uma Pedagogia

    da Hospitalidade

    Antônio Jorge Siqueira

    Professor emérito da UFPE

    Foi com imensa alegria que recebi o convite de Geraldo Castelli para prefaciar o recente e instigante texto de sua lavra, Educação: e a hospitalidade, cadê?. Gostaria, inicialmente, de agradecer-lhe por este convite generoso e, ao mesmo tempo, grávido de tamanha responsabilidade para mim pelo que representa a fértil, relevante e respeitável contribuição do autor nessa temática voltada para a educação, sob os signos e auspícios do que eu chamo uma pedagogia da hospitalidade. Confesso, outrossim, que foi e continua sendo uma bela oportunidade para me empenhar nas sendas e labirintos de uma reflexividade sumamente turva sobre o atual momento que vivemos: um mundo e uma civilização marcados pelos apelos e valores de nossa modernidade xenófoba, individualista, consumista, predatória, hipócrita e violenta. Um mundo que se recusa a viver em sintonia com a natureza, com a ética e principalmente com uma hospitalidade incondicional. Uma civilização que prima pelo discurso, pelas práticas e pelas políticas da desfaçatez que ameaçam a paz, a convivência, a liberdade, a democracia, privilegiando a força, as armas, as ocupações e as guerras. Vivemos um mundo e uma civilização em tudo e por tudo avessos aos parâmetros da hospitalidade ética e generosa da incondicionalidade.

    O presente Prefácio ao livro de Geraldo Castelli, Educação: e a hospitalidade, cadê?, por outro lado, dá a oportunidade de ir um pouco mais além dessa sincera confissão que acabei de esboçar, ela mesma um tanto quanto pessimista e sombria para a minha trajetória de vida e o espectro das minhas crenças, valores, princípios e referências pessoais. Falo, então, dessa hospitalidade incondicional que acalenta os meus sonhos, esperanças e convicções. Tudo isso se contrapõe a essa mundividência esgotada, que aponta para a necessidade de um novo Iluminismo a nos guiar para além de uma globalização polarizada, binária, oportunista, hipócrita e disfarçada na melancolia de um déjà vu interminável. Do que falo, então?

    Não é de hoje que filósofos, cientistas sociais, políticos, historiadores e economistas debruçam-se sobre um paradigma que seja contraponto a esta modernidade consumista, individualista e aética, tudo isso ao mesmo tempo. E essa busca reflexiva de novos paradigmas tem, no âmago de seus questionamentos, aquilo que Castelli vem ensinando e publicando há vários anos nos seus diversos livros: a fertilidade de uma pedagogia da hospitalidade, no mundo de nossas salas de aula, que, além de absolutamente não prescindir dos parâmetros da educação de qualidade, fomenta o conceito derridiano de hospitalidade incondicional. Essa fertilidade, por outro lado, nos sugere um novo convivialismo inspirado nas simbologias do acolhimento e da comensalidade que, numa dimensão humanística, generosa e civilizacional, brotam da poética bíblica – a hospitalidade abraâmica, entre outras -, e da Odisseia – hospitalidade mítico-poética -, sobre as quais ele vem trabalhando há anos. O presente livro é, em certo sentido, a reverberação e uma caixa de ressonância de um livro anterior de sua lavra, que foca a hospitalidade sob os signos da gastronomia, da hotelaria e da eficácia competitiva¹. No presente livro, o autor apresenta-se de corpo inteiro, sobressaindo-se um rosto de pedagogo, de humanista e de experiente empreendedor. O texto nos oferece conceitos que remetem a novos parâmetros históricos, humanos, sociais e políticos que, repito, com muita paciência e pertinácia, só a eles chegaremos pelos caminhos da educação e da sua imbricação com a hospitalidade.

    Jacques Derrida recolheu de Emmanuel Levinas, de quem foi atento leitor, uma afirmação que me parece memorável para fundamentarmos essa virada de paradigma. É ela que empresta um novo sentido ético à linguagem e ao diálogo – fundamentos basilares da pedagogia, da hospitalidade -, muito mais como resposta e acolhimento do que como pergunta. Inspirador, aliás, daquilo que, neste livro, Geraldo Castelli discorre como ética e pedagogia da hospitalidade. Segundo Levinas, na relação entre os homens, na qual têm preponderância a linguagem e a fala, "é preciso começar por responder". Ou seja, no Outro, na diferença do seu rosto, está a condição de sentido na medida em que a primazia da relação humana não está no Eu, que formula a pergunta e, sim, na confiança, na acolhida do Outro, que responde. Nas suas palavras, "o sentido é o rosto de outrem e todo recurso à palavra se localiza já no interior do face-a-face original da linguagem"². E, mais, Levinas acrescenta que a essa acolhida ao Outro, corresponde a responsabilidade do Outro, pois ela, a acolhida, é um incondicional na ética da hospitalidade. Como sintetiza André Farias, parafraseando Levinas, na afirmação "‘É preciso começar por responder’ é o mesmo que: é preciso começar por acolher, ou é preciso confiar. E conclui: confiança e hospitalidade são duas faces da mesma moeda da incondicionalidade ética levinasiana". Temos, assim, a hospitalidade como uma infinita abertura para o Outro, ao diferente, ao possível; um permanente fieri, suprema virtualidade e potencialidade: "sempre futura deve ser a ética do estrangeiro porque o encontro nunca termina de começar³. Sabe-se que Emmanuel Levinas se inspirou em Martin Buber, para quem o eu não é substância, mas relação. Daí porque, segundo ele, a essência da palavra não está no seu significado, nem no seu poder narrativo ou revelador do ser, mas originariamente no suscitar uma resposta, no seu derivar da relação EU-Tu, e ela só é verdadeira quando consuma essa relação". Em se tratando, pois, da hospitalidade incondicional, não é mera fatalidade que, para Levinas, haverá autêntico diálogo não apenas pela proximidade, mas pela absoluta alteridade ou transcendência do Tu diante do Eu. O que mais me encantou nesta nova obra de Castelli foi a maneira como as suas linhas e entrelinhas persuadiram-me da incondicionalidade da hospitalidade, no sentido de plenitude humana, que brota da sua leitura dialógica dos arcanos da poética abraâmica, mítico-poética e histórica, tanto como inspiração quanto fundamentação do seu livro e de sua pedagogia. Mas é um texto que não se restringe apenas à hospitalidade como um dos fundamentos da educação. Mais do que isso, é uma belíssima obra que mergulha fundo na maneira de abordar a hospitalidade para além humores e dos sabores meramente mercadológicos e burocráticos das fronteiras nacionais, algo que ele domina como ninguém posto que bem conhece o que é a hospitalidade condicional do mero civilismo. Quero ser mais preciso no que afirmo, procurando ser fiel aos propósitos do autor nesta obra.

    Jacques Derrida, também leitor assíduo de Beneviste como o foi de Levinas, franco-argelino, viveu plenamente a sua condição de estrangeirado em plena Europa ocidental. Viveu, pois, na própria pele a complexidade disso que tratamos como rostos da hospitalidade. De fato, a recorrente emergência dessa questão e a relevância desses novos paradigmas críticos e questionadores das dores e contradição dos tempos contemporâneos da modernidade capitalista e pós-modernidade neoliberal muito se deve aos intelectuais franceses, precursores especialmente no terreno da fenomenologia e da antropologia filosófica, na senda de Marcel Mauss, já com a sua teorização sobre o dom⁵.

    Diria que leio Derrida refletindo e teorizando o fenômeno da hospitalidade, não tanto a partir só de uma correlação linguística, caso de Levinas, mas relacionando o tema da hospitalidade com as antinomias civilizatórias do próprio cerne da nossa modernidade⁶, na qual o acolhimento dos estrangeiros/imigrantes vicejam as leis e os preconceitos xenofóbicos. Evidencia-se, desse modo, uma tensão entre o que ele e o próprio Castelli denominam de "hospitalidade incondicional, verdadeiro contraponto ao que sói acontecer com uma hospitalidade condicionante, gestada nas leis, alimentada na burocracia das fronteiras; sinonímia de imigração, senão de hostil-idade. Enquanto Levinas privilegia, na linguagem, a fertilidade daquilo que Octavio Paz denomina de otreidade que, aqui, chamo de hospitaleira, Derrida caminha na direção da escrita, louvando-se as simbologias mítico-poética da mundividência grega para dirimir o que os helenos quiseram significar, legal e institucionalmente, o que chamavam de ksenos". Ambos autores, no entanto, reconhecem a diferença que se estabelece entre um trivial estrangeiro, enquadrado nas leis, e, em umsentido diverso, a acolhida incondicional a um Outro, originada na hospitalidade absoluta, concebida segundo a ética da solidariedade e da responsabilidade humanas. Desse modo, afirma Derrida:

    [...] a hospitalidade absoluta exige que eu abra minha casa e não apenas ofereça ao estrangeiro (provido de um nome de família, de um estatuto social de estrangeiro, etc.), mas ao outro absoluto, desconhecido, anônimo que eu lhe ‘ceda lugar’, que eu o deixe vir, que o deixe chegar, e ter um lugar que ofereço a ele, sem exigir dele nem reciprocidade (a entrada de um pacto), nem mesmo seu nome⁷.

    Não resta dúvida de que, como afirmamos, os arcanos dessa hospitalidade se fazem compreensíveis nas esferas da totalidade e do infinito, dois conceitos tão caros ao autor.

    Que fique também claro ao leitor que essa remissão aos autores citados é para nos ajudar a entender com a devida clareza que a hospitalidade, suas práticas e sua aprendizagem decorrem, em primeiro lugar, de relações humanas dificilmente codificáveis e previsíveis, posto que acontecem no dia a dia da nossa faina, mormente no exercício da Política, quer no dinamismo de suas demandas, quer na superação de suas tensões ou mesmo na conciliação dos seus conflitos. Em um segundo plano, entendemos que é por meio do primado da práxis ética que a hospitalidade se torna uma vivência dialética e virtual. Além disso, todos nós aprendemos com Aristóteles que a ética é uma virtude da Política, exatamente porque os homens são naturalmente dionisíacos, o que os joga no infinito da fertilidade bacante dos excessos, dos exageros, das sobras – da "hubris" dos gregos. Nada mais conflitante do que os interesses de cada indivíduo, em especial no exercício da vida comum. Hobbes sabia bem disso. Obviamente que a hospitalidade, de modo algum, é restrita apenas ao campo da competição dos mercados, das fronteiras nacionais, da civilidade e até mesmo da hotelaria. Sob os auspícios da ética do acolhimento enquanto moderadora dos excessos, pode e deve falar de uma hospitalidade amparada nos princípios e valores axiais da comunidade de homens e mulheres. Daí que reivindicamos a ética, campo fértil dos valores humanos, entre os quais se destacam a liberdade, a solidariedade e a responsabilidade. Reiteramos, nesse contexto, o que há de mais importante na prevalência da ética: não sendo inata ao ser humano, ela passa pelo difícil aprendizado e, portanto, integra a economia dos impulsos pedagógicos necessários ao aprender e viver juntos. O homem político é um ator ético, é um ser humano livre, virtuoso, equilibrado, generoso e solidário. Podemos, sim, dizer também que é um ser hospitaleiro. Como bem enfatiza Castelli, "a hospitalidade não é algo fortuito para o ser humano. Sem a sua prática, provavelmente, a espécie humana já teria sucumbido"⁸.

    Retomo o que afirmei anteriormente no sentido que essa é a contribuição relevante da presente obra de Geraldo Castelli⁹. Antes de tudo, porque ele não dissocia a hospitalidade

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